O BDSM na Xplastic é algo essencial; uma de nossas maiores paixões! Ele está sempre presente em nossos filmes, artigos e reportagens. Neste post explicamos o universo fetichista e reunimos diversos conteúdos sobre BDSM e outros fetiches.
O que é BDSM?
Apesar de parecer super literal e óbvia, a sigla é fonte de dúvidas e surpresas para muita gente. Ela pode ser dissecada em pares de fetiches. “B” e “D” são de bondage e disciplina. O “D” também pode significar dominação, que vem acompanhada pelo seu “par”, o “s” de submissão (as letras minúsculas nesse universo designam o fetiche do lado submisso). Além disso, o “S” e o “m” remetem a sadismo e masoquismo.
As palavras que compõem o significado de BDSM nos ajudam a entender o principal recheio desse bolo que tem muitas — mas muitas — camadas. Aliás, ele é conhecido por ser um termo guarda-chuva (conceitos que abrigam diversos outros) e nele estão incluídas muitas possibilidades e fetiches.
Neste texto, iremos abordar diversos aspectos para que você entenda essa prática envolta em tabus. Durante a leitura, você irá encontrar diversos posts linkados sobre assuntos relacionados ao BDSM na Xplastic. Assim, quem sabe você não descobre algumas coisas que gosta e nem sabia que eram BDSM?
Sem dúvida há algo em comum a tudo aquilo o que o BDSM representa: as práticas sempre envolvem algum tipo de jogo de poder, que rola entre duas ou mais pessoas. Ou seja, em linhas gerais significa mandar e obedecer; sentir ou provocar dor.
História do BDSM: uma pitada
Antes de tudo, vale citar que a parte mais “famosinha” do BDSM é o SM — em português, o termo “sadomasoquismo” é muito usado para falar do assunto. Tapas, chicotes e mordaças é o que nos vêm primeiro à mente quando pensamos em masoquismo. No entanto, isso é apenas uma parte do BDSM.
A palavra sadomasoquismo, de acordo com algumas versões, tem origem no nome do escritor Leopold von Sacher-Masoch, conhecido pelo livro de literatura erótica A Vênus das Peles. A obra de 1870 é considerada precursora do BDSM e narra a história de um homem que escolhe ser escravizado por uma mulher.
Assim sendo, as historinhas sobre sexo pervertido começaram bem antes de Christian Grey, dos 50 Tons de Cinza, outra obra que ajudou muito a popularizar as práticas fetichistas. O termo sadismo teve origem em Marquês de Sade, nome que causa arrepios em muita gente. Ele foi um escritor francês do século 18 que misturou sexo e literatura e escreveu obras recheadas de perversões sexuais que chocariam muita gente ainda hoje. Diferente do livro de Masoch, Sade preferia expor situações sem consentimento, em que as vítimas eram sequestradas e mantidas presas para satisfazerem as taras mais extremas de homens ricos.
Conceito de fetiche
O conceito de fetiche sexual é super importante para entendermos o BDSM. Fetiches acontecem quando o desejo sexual deixa de ter como alvo o sexo tradicional. O tesão passa a ser dirigido a uma parte do corpo específica, a um objeto ou a uma atividade que não tem necessariamente cunho sexual, como, por exemplo, o fetiche por pés. É o fetiche conhecido como podolatria. Ele geralmente é feito com mulheres dominadoras em contextos de femdom. No entanto, é possível praticar podolatria sem ser um submisso, ou seja, sem ser um praticante de BDSM. Todo BDSMer é um fetichista, mas nem todo fetichista é um BDSMer!
Por mais que no BDSM tudo tenha que ser consensual e bem combinado entre as partes, para a psicologia e medicina a prática é considerada um transtorno da preferência sexual. Ele consta na CID-10, o manual de Classificação Internacional de Doenças. A partir de 2022, quando entra em vigor a nova CID-11, o termo “sadomasoquismo” deixará de figurar no manual. Apesar disso, continua sendo super importante desabafar com um profissional de saúde, caso suas preferências sexuais estejam te causando algum desconforto.
Além disso tudo, vale citar que é possível praticar BDSM sem fazer sexo. Por exemplo, existem sessões de bondage “terapêuticas”. Nessas sessões, a pessoa é amarrada sem tirar as roupas e sem ter suas partes íntimas tocadas pelo outro.
Decifrando os termos do BDSM
Como você pôde perceber, o BDSM é recheado por termos em inglês. Quem detém o poder, ficando “por cima”, é conhecido como top e quem está na escala inferior de poder é o bottom. Os sádicos, considerados tops, são aqueles que curtem aplicar punições físicas para sentir prazer. Os masoquistas, que são bottoms, gostam de sentir dor. Por sua vez, os submissos também um tipo de bottom e preferem obedecer o parceiro. Os dominadores, que também são tops, curtem mandar.
Aliás, muita gente se pergunta se existe um jeito certo de ser submissa ou submisso. A resposta é não. É possível ser submisso sem ser masoquista, assim como é possível ser um dominador sem ser sádico. Também é possível variar: um top pode gostar de ser bottom de vez em quando e vice-versa. Essas pessoas que preferem de trocar de papel são conhecidas como switchers.
Roleplay é uma parte super importante do BDSM e significa encenação. Na cena é que os praticantes irão exercer seus papéis. Muitos iniciantes, para descobrir suas preferências, fazem um teste de BDSM, que irá apontar suas maiores afinidades dentro desse universo. A internet está cheia desses testes, o mais conhecido é o BDSMTest.org.
Lista de fetiches do BDSM
Assim como já demos um breve spoiler no tópico acima, os fetiches são uma parte essencial do BDSM. Se você tem mais tesão em algum detalhe não necessariamente sexual do que no sexo propriamente dito, você talvez seja um fetichista. E se esse fetiche envolve dominar ou ser dominado, infligir ou sentir dor na hora do sexo, você também pode ser um adepto do BDSM! Ou será que você é um baunilha ou “vanilla”, que não curte nada que o BDSM tem a oferecer? Abaixo estão explicados os fetiches mais comuns:
Bondage, CBT e dogging
Bondage: qualquer tipo de restrição de movimento ou de sentidos aplicada ao parceiro pode ser chamada de bondage. Normalmente são utilizadas cordas, algemas, fitas mordaças, vendas e o que mais a imaginação e a segurança permitirem. O prazer está na sensação de vulnerabilidade que a restrição irá provocar. O shibari é como ficou conhecido o bondage japonês, que tem técnicas de amarração mais elaboradas com cordas específicas para a prática, como vemos no vídeo acima. No Brasil, o shibasrista Toshi San é uma referência na prática. Uma tendência mais recente no mundo da pornografia gay masculina é o bondage com super-heróis; o submisso se veste como um personagem e é amarrado e humilhado pelo dominador, que pode estar também caracterizado como vilão.
CBT, ou Tortura genital: CBT é a sigla para “cock and ball torture”, ou seja, “tortura de pinto e bolas”. As punições podem ser aplicadas com pregadores ou grampos, restrição da ereção, chutes no saco, socos, cera de vela (wax play), até choques e agulhas. Portanto, é um fetiche considerado mais extremo e cuja preocupação com a segurança precisa ser maior.
Dogging: praticar sexo ao ar livre pode fazer parte das práticas BDSM desde que inclua dominação ou sadismo com o parceiro. Pode ser prazeroso mandar no sub para que ele aceite transar em lugares públicos ou obrigá-lo a te observar se exibindo e transando nesses locais, que muitas vezes incluem pessoas dentro e fora de carros, em drive-ins ou na rua. No Brasil existem diversos lugares “manjados” para fazer dogging, como ruas ermas, parques e praças. O exibicionismo e o voyeurismo (o prazer em observar outras pessoas fazerem sexo) são fetiches que andam de mãos dadas com o dogging.
Dominação feminina ou Femdom
Dominação feminina ou Femdom: as dominadoras, também conhecidas como dominatrix, dommes ou mistress fazem a magia acontecer com parceiros que a idolatram e reconhecem sua superioridade. Existem muitos homens submissos adeptos da prática, mas também existem mulheres submissas que curtem as dominadoras mulheres, inclusive a prática de podolatria lésbica é bastante comum. Além de ordens e punições, as dominatrix podem explorar outros fetiches.
A podolatria, da qual vamos falar mais para frente é popular no femdom, que também pode incluir pisoteamentos (trampling). Alguns subs gostam que a dominadora os proíba de ter ereção, de se masturbar e de fazer penetração, seja somente por meio de ordens, seja com cintos de castidade. Há ainda os fetichistas conhecidos como cornos mansos, que gostam que a dominadora faça sexo com outras pessoas. Isso tudo pode ser combinado dentro de um relacionamento pessoal ou profissional, que neste caso é exercido pelas pro dommes, que realizam os fetiches de seus slave money mediante pagamento. O facesitting, a feminização e a inversão também estão bastante relacionados ao femdom, mas falaremos deles mais para frente.
Facesitting, feminização e fisting
Facesitting: o fetiche é largamente praticado no contexto de femdom, mas também pode acontecer em outros. Nele, a parceira literalmente senta no rosto do parceiro para receber sexo oral e, no BDSM, a brincadeira geralmente inclui um pouco de asfixia. Se a pessoa que está em cima tem pênis, o sub pode ser obrigado a fazer garganta profunda. O facesitting pode evoluir para outras “partes” e incluir asslicking. Na internet é bem comum encontrar o facesitting com ilustrações do artista japonês Namio Harukawa, que retrata mulheres volumosas dominando submissos bem menores que elas.
Feminização e Inversão: elas fazem parte do universo femdom explicado anteriormente. Na feminização, o submisso recebe ordens para se vestir como mulher, usando roupas, lingerie, maquiagem, perucas, sapatos… Alguns chamam a feminização de sissification ou crossdressing, que também pode ser praticada em contextos não sexuais. Além disso, inversão pode fazer parte desse jogo ou não; nela o submisso é penetrado, seja por um parceiro com pênis, seja por uma strap-on (ou “cintaralha”).
Fisting: receber um fist fuck, ou seja, ser penetrado pela mão inteira, pulso ou antebraço, é uma preferência comum entre masoquistas. Acho que nem preciso mencionar que deve ser feita com muito cuidado e consenso, certo? Ele pode estimular áreas até então desconhecidas pela pessoa que o recebe, seja na forma vaginal ou na prática de anal extremo, e potencializar a sensação de fragilidade diante de quem está penetrando.
Infantilismo e humilhação
Infantilismo ou Age play: nesse fetiche quem está na posição bottom vai agir e/ou se caracterizar como uma pessoa mais jovem, seja criança ou adolescente. O roleplay acontece com obediência a uma “mãe” (mommy domme), “pai” (daddy dom) ou a qualquer figura caracterizada como pessoa mais velha e experiente. Essa pessoa será educada ou disciplinada a obedecer ordens variadas do dominante, como arrumar uma bagunça ou comer um alimento. Aqui vale comentar sobre brats, que são os bottoms rebeldes, que desobedecem seus tops e usam birras para conseguir punições. Sabe a típica cena de uma pessoa apanhando no colo de outra? Ela representa bem a essência brat.
Humilhação: o fetiche, também conhecido como humiliation, envolve expor o sub a situações degradantes, que podem ter outras pessoas na plateia para aumentar a sensação de vulnerabilidade. Na pornografia é muito comum encontrar vídeos de submissas mulheres sendo humilhadas e expostas em situações variadas, como caminhar ou andar de quatro em um local movimentado usando pouquíssima (ou nenhuma) roupa. Ou ainda ser tocada ou ser obrigada a transar com várias pessoas, a realizar gangbang (sexo com três homens ou mais). Além disso, outro fetiche muito presente na humilhação é o bukkake (receber sêmen de vários caras).
Petplay ou animal play
Pet play ou animal play: os praticantes agem e/ou se caracterizam como animais, geralmente cachorros, gatos e cavalos. Nesse fetiche, as roupas de látex e acessórios, como coleiras e dildos que imitam rabos, costumam reforçar a aparência animal. As brincadeiras podem incluir andar em quatro “patas”, beber e comer em tigelinhas, pegar objetos com a boca e até mesmo ser “montado” pelo dominador. A menção honrosa aqui vai para o fetiche furry, no qual as pessoas se caracterizam como bichos usando fantasias de pelúcia e que vem ganhando popularidade. Entretanto, vale lembrar que os fãs de furry podem ser fetichistas ou não. No caso do BDSM, os “bichinhos” geralmente assumem o papel de um submisso fofo ou de um predador dominador.
Podolatria e scat
Podolatria: a adoração de pés é uma possibilidade mais comum no universo femdom. Uma sessão de podolatria pode, inclusive, não ter nenhuma outra atividade envolvida, sendo o submisso permitido tocar somente até os tornozelos da domme e idolatrar seus belos pés. Os viciados em pés podem preferir pezinhos pequenos ou grandes, com ou sem sandálias de salto, limpos ou sujos (inclusive podem gostar de limpá-los com a língua), cheirosos ou com chulé ou de receber footjob (masturbação com os pés).
Scat: esse fetiche estranho é o mais polêmico dessa lista e não inclui somente fezes, como muitos costumam pensar. Os adeptos de scat podem curtir golden shower (chuva dourada), engolindo ou não o xixi do parceiro, assim como outras possibilidades, como vômito e outros fluidos corporais.
Spanking e Sugar Daddy
Spanking: pode ser feito com a mão, palmatórias, chicotes ou outros objetos. A prática é a mais comum na rotina de pessoas baunilha. Para que seja considerada BDSM, tudo vai depender do contexto e intensidade . Nos relacionamentos BDSM, o spanking é como as preliminares: fundamental. O bottom pode receber tapinhas como forma de disciplina, ou uma longa e intensa sessão de spanking como forma de punição.
Sugar Daddy ou Sugar Baby: vale a menção nessa lista justamente por ter ficado mais popular nos últimos anos com a crise econômica o crescimento de comunidades dedicadas aos relacionamentos sugar e pornôs dessa categoria. Na maioria dos casos é composto por uma mulher na posição de baby e um homem na posição de daddy, mas também é comum ver relacionamentos assim entre dois homens. Quando um relacionamento sugar também envolve BDSM, o top, além de bancar financeiramente a relação, também irá curtir mandar, disciplinar ou punir o baby.
O contrato BDSM
Parece burocracia, mas é bastante comum que um submisso assine um contrato antes mesmo de fazer sexo pela primeira vez com seu dominador. As regras de uma relação casual ou de um relacionamento mais sério no BDSM podem ser combinadas em um documento minucioso, redigido pelo top e assinado pelo bottom, no qual os dois se comprometem a cumprir o que está escrito.
O contrato do livro Cinquenta Tons de Cinza, apesar de ser bastante criticado pelos praticantes reais de BDSM, é um instrumento que, se for bem-feito, pode ser útil para as pessoas envolvidas evitarem roubadas no BDSM.
A regra mais importante para um contrato de sucesso é que ele seja apenas uma formalização de um diálogo super aberto e honesto com o parceiro. Claro que é muito mais gostoso falar sobre o que nos dá prazer, mas é fundamental que casal fale também sobre seus limites. Parece contraditório, mas o bottom tem um grande poder nas mãos!
O dominador pode controlar tudo?
Alguns dominadores sentem tesão em controlar diversos aspectos da vida do bottom, como horários em que ele estará disponível, roupas, amizades, permissão para se masturbar, até o uso de pílula anticoncepcional. Se qualquer um desses aspectos parecer abusivo para você, é porque ele é! E se você, por outro lado, quiser alguém mandando na sua vida pessoal, certifique-se de que essa pessoa irá te respeitar caso você mude de ideia e que não agirá com violência psicológica ou física. É o tipo de coisa que só percebemos após conhecer uma pessoa mais a fundo. Assinar qualquer contrato logo de cara pode ser precipitado e perigoso.
Outros praticantes usam o contrato como uma maneira de obter prazer, sem levá-lo muito a sério. Nas cláusulas podem constar coisas que o casal fantasia em fazer, mas não tem coragem. Essa situação é mais comum em relacionamentos de pessoas curiosas com o BDSM ou com casais que praticam BDSM virtual.
Como escolher um bom contrato
O fato é que um bom contrato sempre contém a safeword, ou seja, a palavra de segurança que o bottom irá pronunciar caso não queira mais obedecer ou levar castigos. Ela precisa ser uma palavra que normalmente não é dita durante o sexo. Palavras como “pare” e “não” são péssimas ideias de safeword. “Pudim” e “alerta”, por exemplo, são ideias melhores. O contrato também pode conter uma safeword intermediária, que é uma palavra que indica que o submisso chegou perto de seu limite. Aliás, a safeword também pode ser usada pelo dominante, nesse caso para indicar que está ele cansado ou que aquela cena já foi longe demais.
Um contrato de submissão também deve ter uma lista de obrigações do dominador, como respeitar limites, se preocupar sempre em buscar novas formas de proporcionar prazer, zelar pelo aftercare, que são os cuidados com o bottom após uma sessão BDSM, dentre outros compromissos.
BDSM no dia a dia e monogamia
Também é importante definir se o relacionamento BDSM será 24×7, ou seja, se o casal estará encenando seus papéis todo o tempo ou se assumirão suas posições somente em momentos íntimos. Vale lembrar que muitas pessoas que gostam de mandar na cama detestam ter que tomar decisões rotineiras e, por outro lado, muitos submissos são verdadeiros líderes em tarefas cotidianas. E aí, vai encarar o 24×7?
Em relação ao contrato de exclusividade, o BDSM pode estar presente em relacionamentos monogâmicos ou não monogâmicos, como no poliamor. Essa definição sobre ter outros parceiros sexuais e para praticar cenas BDSM também pode estar no contrato. Alguns submissos aceitam o sexo a três com “irmãos de coleira”, como são chamados os outros bottoms que obedecem um mesmo dono. E se um submisso quiser obedecer mais de um dominador? Também é possível, basta combinar. O termo “empréstimo” é usado quando um dominador permite que outro exerça práticas BDSM com seu sub.
BDSM e abuso
Como uma continuação do tópico acima, apesar de os modelos de relacionamento fetichista variarem bastante, é fundamental que o BDSM seja feito dentro de uma relação saudável e que nenhuma das partes demonstre ter um comportamento abusivo. Misturar obediência e dor a um relacionamento abusivo tem tudo para dar errado.
Um dos conceitos mais importantes do BDSM é o SSC, são seguro e consensual. O termo ganhou popularidade em Chicago e Nova York nos anos 1980 entre a comunidade gay masculina após alguns episódios de abusos entre dominadores mais experientes e submissos mais novos.
O conceito de “são”, ou seja, saudável, nos lembra que a atividade BDSM deve acontecer entre pessoas conscientes da distinção entre realidade e roleplay, bem como preocupadas com a saúde física e mental de todos os envolvidos na prática. O “seguro” é sobre o conhecimento e estudo das noções de segurança das práticas e dos apetrechos usados. O “consensual” reforça a ideia essencial de que qualquer tipo de abuso não é BDSM.
Os limites do “são, seguro e consensual”
Mas a sigla SSC não é unanimidade entre os praticantes de BDSM. Muitos criticam o fato de ela ser uma simplificação, que só tem o papel de fazer a comunidade parecer “normal” aos olhos do mundo baunilha. Algo como “olhe, nós fazemos tudo de forma consensual, então nos deixe em paz”. Gary Switch, um praticante de BDSM, levantou outro conceito que acabou sendo bastante difundido nos anos 2000: o RACK, que significa risk aware consensual kink, algo como “fetiche consensual e consciente dos riscos”.
Independentemente da sigla adotada, o mais importante é que o RACK traz a noção de que, sim, algumas práticas BDSM são arriscadas e que necessitam ser sempre dialogadas, refletidas e repensadas para não caírem em situações perigosas e abusivas. Não é só porque um BDSMer adotou uma prática há muito tempo que ela será boa para sempre e com todos os parceiros. Ou que ele não possa mudar e pensar se aquilo ainda tem a ver com sua personalidade.
Culpa, tabus e áreas sombrias do BDSM
A sexualidade humana é historicamente fonte de culpa, tabus e preconceitos. Nossa relação com o sexo, até mesmo fora do BDSM, principalmente no caso das mulheres, é marcada pela falta de consentimento e pelo desconforto. O BDSM não deve ser assim. Refletir e repensar no que realmente te faz bem e no que é verdadeiramente consensual deve vir antes de qualquer ato sexual, seja fetichista ou não.
Vale mencionar uma prática bastante polêmica e popular na pornografia, o rape play (encenação de estupro), que é um fetiche extremamente sensível e que confunde as noções adquiridas no SSC e RACK. Antes de encará-lo, a conversa precisa ser longa. Para o rapeplay acontecer, deve ser feito dentro de uma relação mais íntima, com alguém que te faça sentir bem — e o bottom deve e pensar cuidadosamente se a sensação após a prática será realmente prazerosa. Por outro lado, o dominante deve se assegurar que o bottom está preparado, elencar situações em que a “surpresa” poderá acontecer, até mesmo combinar algum código, como uma peça de roupa, para que o bottom saiba que aquilo é se trata da encenação combinada.
Outra prática que exige uma maior intimidade é a hipnose associada ao BDSM, sobre a qual já falamos nesta reportagem. Alguns dominadores se especializam em hipnotizar seus bottoms para incrementar a sensação de entrega e relaxamento.
O BDSM na internet
Boa parte do conhecimento teórico sobre BDSM pode ser adquirido na internet. O assunto é objeto de reportagens, documentários, blogs, e um até um “Facebook do BDSM”, o Fetlife. Nessa rede social, praticantes do mundo inteiro se conectam e conseguem se encontrar por preferências em comum, fetiches e localidade. Para quem gosta de fotos e vídeos amadores, o Fetlife é um prato cheio. Além isso, muita — mas muita — gente do Brasil está lá.
Documentários são uma forma interessante de conhecer o estilo de vida das pessoas que já incorporaram o BDSM ao seu dia a dia. Documentários sobre fetiches e BDSM podem ser encontrados aqui na Xplastic e em outras boas produtoras, como a Extreme Love.
Para quem gosta de ler, uma boa dica são livros consagrados, como A Vênus das Peles e A história de O (que também tem uma versão em HQ).
Para quem prefere textos mais “cabeçudos”, o Google Scholar é a melhor forma de encontrar trabalhos acadêmicos sobre diversos aspectos do BDSM.
Pornô de BDSM
Os pornôs sobre BDSM também podem ser usados como uma forma de aprender técnicas, ver o funcionamento dos equipamentos e ter novas ideias. Das produções nacionais, você encontra nesta listinha alguns pornôs de BDSM. Se além de BDSM e fetiches, você curte pessoas tatuadas e com piercing e pornôs feitos por mulheres, essas sugestões são uma excelente pedida. Na gringa, a produtora Kink é uma referência no BDSM.
Até nos seriados é possível conhecer mais sobre BDSM. Neste texto aqui, você encontra uma resenha sobre o seriado Bonding (em português, Amizade Dolorida).
Nossa safeword
Enfim, como conclusão desse extenso guia sobre BDSM, vamos recapitular alguns pontos super importantes para que você esteja preparado para lidar com o tema: conhecer conceitos e história, descobrir sua posição e a de seus parceiros dentro do BDSM, saber quais são os fetiches com os quais você se identifica, optar (ou não) por um contrato BDSM, colocar tudo dentro de limites consensuais, explorar materiais sobre o tema e, claro: se divertir!
Apesar do processo ser um pouco trabalhoso, a sensação de sair dele conhecendo melhor sua sexualidade será impagável. E é esse conhecimento que trará a leveza e a diversão que devem estar presentes em todo sexo que se preze. Uma salva de “palmadas”!