Conheça o slave money, fetiche no qual mulheres ganham até milhares de reais por mês, além de presentes e favores, para maltratar seus escravos financeiros

slave money

“Eu tenho tesão em me sentir trouxa, otário, totalmente escravizado por uma mulher poderosa. Amo pagar presentes para ela, saber que estou sendo traído, humilhado e xingado. Não recebo nada em troca além disso. Nada de sexo, muitas vezes nem vejo a rainha pelada. Não exijo nada, dependo totalmente da vontade dela”. A fala enfática de Paulo Manso, um submisso do Rio de Janeiro, serve para explicar o fetiche da dominação/submissão financeira, também conhecido como FinDom, money slavery, ou mais popularmente, no Brasil, como slave money.

Inserido dentro das práticas do BDSM, esse fetiche mistura o dinheiro à submissão. Ele é majoritariamente praticado em contextos de Femdom, com as mulheres mandando e os homens obedecendo. Fácil imaginar a quantidade de tretas surgidas num meio que mistura grana, sexualidade e emoções, certo?

Anne McClintock, pesquisadora de questões de gênero e sexualidade, faz uma analogia interessante entre o poder social público que os homens exercem, em oposição a essa submissão privada. Para ela, o BDSM criou uma “economia da conversão”, que transforma dor em prazer, escravo em mestre, homem em mulher… Ao estudar as dominatrix profissionais, ela conheceu homens que pagavam muito dinheiro para fazer tarefas comumente delegadas às mulheres, como lavar roupas sujas, limpar o chão e esfregar vasos sanitários usados pela rainha. E sabemos que trabalho doméstico tem, muitas vezes, um significado degradante para quem o faz; assim, inverte-se a lógica homem-mercado e mulher-lar.

A participação das dominatrix

O slave money é diferente da situação das dominatrix profissionais (também chamadas como Pro-Dommes), tendo em vista que as FinDommes não se consideram prestadoras de serviços, mas sim fetichistas dispostas a dar e receber prazer. Elas ganham roupas, sapatos, favores de diversos tipos e até dinheiro vivo. Os escravos gostam de ver as fotos da rainha se divertindo por aí em festas, ou fazendo sexo com um homem que consideram superior a eles. Outros preferem ser xingados, pisados, ou tratados como animais. Enfim, as possibilidades são muitas.

Uma mulher que esteja com pouca grana para os gastos do dia a dia não irá resolver seu orçamento ao se iniciar na dominação financeira. Madeline Walton, mistress de São Paulo, me explicou isso em detalhes: “por ser o centro de poder, a dominante não pode necessitar do dinheiro como ajuda de custo, pagamento de aluguel, ou escola das crianças. Uma mulher poderosa e independente não precisa daquele dinheiro. Ela o recebe de forma indiferente, humilhando o escravo. A money slavery é, para o escravo masculino, um elemento de anulação da masculinidade, que usurpa seu papel histórico de provedor”.

Como encontrar sua dominadora financeira?

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Madeline, dominadora financeira de São Paulo

Paulo Manso, o entrevistado que abriu esta matéria, é um tanto quanto exigente para um escravo. Sua rainha dos sonhos deve ser magra, ter um rosto bonito, roupas de látex e sapatos caros, além de um bom nível intelectual. “A maioria esmagadora dos escravos financeiros que conheço gostam de servir belas mulheres, que sejam firmes, criativas e inteligentes para nos maltratar. E mesmo com dinheiro, presentes e favores, não está fácil encontrar uma verdadeira FinDomme”.

Seu fetiche já dava sinais desde cedo, ainda na infância: “tinha uma professora muito bonita que me despertava fantasias de ser castigado. Claro que aquilo só ficava na minha imaginação e quando eu me masturbava. Mais tarde, tive namoros ‘normais’, mas eu era sempre o cara obediente, que pagava tudo pras mulheres e não reclamava de nada. Só que eu precisava de algo mais, de humilhações mais fortes. Aí fui atrás do BDSM, ou ele veio atrás de mim, não sei exatamente como foi…”

O papel do dinheiro

O dinheiro é apenas um elemento do meu desejo, eu gosto de ser dominado por completo. Por isso que não basta ser interesseira; a mulher deve ser totalmente poderosa para ter um bom escravo – Paulo

Leonardo Ramos, um submisso de Salvador, também aprontava suas “escravices” na escola. “Eu adorava fazer a lição de casa das amiguinhas. Mesmo sem saber o que era fetiche, eu me imaginava aos pés delas”. Seu sonho? Servir completamente duas mulheres que sejam mãe e filha, sustentando-as e obedecendo-as.

Paulo já fez tarefas árduas para suas senhoras, como limpar a casa toda, comprar lingeries super caras que foram usadas com outros homens, digitar trabalhos de faculdade e até depositar mil reais todo mês para uma das Dommes gastar com futilidades. “Quando encontrar uma verdadeira Domme, farei de tudo para que ela aceite morar comigo. Eu tenho a sorte de ganhar bem, ser solteiro e sem filhos; logo, nunca me vi quebrado por causa desse verdadeiro vício que é o slave money. Mas já conheci homens menos abastados que não conseguiam sustentar o próprio vício”.

Estudo de casos

É exatamente esse o caso de Leonardo, que atualmente está dando um tempo no slave money para se reestruturar financeiramente.“Eu fali a minha loja de cosméticos e roupas, porque dava dinheiro e presentes para rainhas e até para amigas que nem eram dominadoras. Cheguei a gastar seis mil reais com isso”. Ele, que tem apenas 27 anos de idade, afirma ter sido enganado algumas vezes, quando fazia compras e depósitos para as Dommes que conhecia pela internet, e que simplesmente sumiam depois disso, sem dar nenhuma comprovação de que eram reais.

Paulo Manso frisa que o escravo e Domme fazem parte de um jogo que tem suas regras e contrapartidas: “não faz sentido pagar um centavo sequer para pessoas que não são comprovadamente mulheres dominadoras… A dica que eu dou é que os escravos marquem um encontro presencial, ou ao menos conversem pela webcam. Nosso tesão é ser o trouxa de uma rainha, não de um golpista qualquer na internet”.

Ao visitar as comunidades brasileiras de slave money do Facebook, notei que havia uma quantidade imensa de mulheres pedindo aos quatro ventos presentes e depósitos em dinheiro. Em grande parte dessas postagens, algum submisso dava uma resposta com o sentido de “calma, não é bem assim que funciona”. Cheguei inclusive a ouvir boatos de que supostas rainhas se exibem na webcam em troca de créditos para o celular. Também vi postagens sobre escravos que pediam sexo em troca de depósitos, o que tem mais a ver com o trabalho de garotas de programa do que com práticas fetichistas. Aparentemente, no cenário virtual, as FinDommes não estão reinando com facilidade…

Como encontrar seu slave money?

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Sehora Naja Ziion, domme de São Paulo

Madeline, que se define como uma “mulher cara e de gosto sofisticado”, tem experimentado bons momentos com escravos financeiros. Ela já teve quatro capachos, que deram a ela desde sapatos caros, até férias na Espanha. “Um deles me cedeu seu barco permanentemente e, quando eu lhe perguntei o que aconteceria se eu afundasse o barco, ele respondeu que compraria outro”.

Sua primeira experiência com FinDom veio por acaso, com um escravo que insistia em pagar coisas pequenas, como manicure e massagens. “Ele tinha uma ereção cada vez que via minhas unhas feitas com a manicure que ele tinha marcado, e eu percebi que o controle sobre aquilo me dava muito prazer. Então comecei a explorar o lado erótico do dinheiro”.

Senhora Naja Ziion tem 25 anos de experiência com sadismo e dominação. Por ser mais sádica do que dominadora, ela gosta mesmo de ver o sofrimento do escravo, seja ele físico ou emocional. “Lesar o sub ou escravo mesmo que superficialmente me dá prazer. Não sou boa em explorar, faço como parte da satisfação do submisso. Já ganhei mimos como cinco mil reais, um Rolex e um tour pela Europa”.

A Dominante é uma mulher forte, poderosa, que subjuga tudo que é relacionado à masculinidade do escravo: sua potência sexual, sua liberdade, seus orgasmos, suas vontades e seu dinheiro – Madeline

Alguns métodos e dicas para o slave money

Achei válido elencar alguns dos “métodos” de Madeline, que podem servir como dicas para quem tem interesse em mergulhar na dominação financeira, mas não sabe muito bem como fazer:

  • Se considerarmos o homem na dualidade sexo e dinheiro, uma vez que essas duas variáveis estão em controle, controla-se a vida do escravo. O meu tesão é o poder;
  • Os tributos, presentes e mimos  que o escravo me entrega são dados a mim pela minha existência como Dominante, e por ele me reconhecer como essencial e como centro do poder;
  • É bobagem pensar que se pode chegar para o escravo num primeiro momento e exigir uma viagem de compras para Nova York. O tamanho do tributo acontece de acordo com o poder exercido pela Dominante e esse poder só é adquirido com a vivência e com a experiência;
  • Eu tomo cafés, converso muito com o submisso, vou tecendo minha teia. Paciência e planejamento: quando ele chega para me servir, serve de fato.

Dominatrix profissional

Ela garante que só começou a cobrar pelas sessões, devido à falta de bons escravos na região onde mora: “só comecei a dominar profissionalmente, porque não há submissos bons no Nordeste no Brasil. Eram tão ruins, que eu só aceitava fazer uma sessão mediante tributos. Ser idolatrada, endeusada é sempre a melhor parte, mas quem não tem essa capacidade, tem mais é que gastar mesmo. Acabou que se tornou maior do que eu e hoje tenho ganhos consideráveis; é minha profissão. Normalmente sou procurada por homens importantes, a maioria empresários. Homens que passam o dia dando ordens, mas adoram serem tratados como cadelas”.

Fabrício Santos prefere se relacionar com Pro-Dommes do que com as FinDommes fetichistas, porque ele já teve problemas no casamento por causa do slave money. “Quando você vai a uma profissional, basta entregar o dinheiro a ela e ser humilhado em troca, ou levar presentes. As fetichistas se envolvem mais, porque amam o que fazem e sempre querem ir além… Querem que eu vá ao shopping pagar e carregar suas compras, às vezes querem que eu passe o dia inteiro com elas. Sou casado e no momento não dá, infelizmente, pois minha mulher já desconfiou de valores na minha fatura. Torço para um dia ela ter a mente mais aberta para conversar sobre meus desejos”, desabafa. Estamos torcendo por isso também, Fabrício.