Entrevistei homens e mulheres que praticam o infantilismo sexual; curtem imaginar que são bebês para relaxar e gozar. Babygirl ou daddy? Escolha seu papel

— Minha namorada me veste com uma fralda muito grossa, que, junto de uma camisola, é minha única peça de roupa nesta tarde. Na minha boca, ela enfia uma chupeta para que eu me acalme enquanto assistimos a alguma animação da Disney juntos. Eu fico apoiado em seu colo, ouvindo seu coração, nós dois cobertos por uma manta e, momentos depois, adormeço e ela pausa o filme para me preparar um lanche. Ao me acordar, me oferece a refeição e, por precaução, coloca um babador em mim, que eu acabo inevitavelmente e involuntariamente sujando. Ela lava meu rosto, voltamos ao sofá para acabar de ver o filme e ao final, ela percebe que eu molhei minha fralda. Neste momento, ela começa a acariciar meu pênis com a mão e transamos sem ela me tirar a fralda. Ficamos um tempo abraçados e ela me leva para tomar banho, me despindo e me banhando delicadamente, enquanto eu brinco com a água. Após me secar e colocar meu pijama, jantamos ouvindo música ambiante, jazz seria perfeito. Arrumamos a cozinha e nos recolhemos. Apoiado em seus seios, sugo minha chupeta e, embalado pelo ritmo pontual de seu coração, eu adormeço.

MAIS UM DIA COMUM NA VIDA DE UM ADULT BABY

A cena, que exceto por alguns trechos não é muito diferente da ideia de um momento relax para qualquer pessoa, é a descrição de um dia ideal na vida de Felipe, um infantilista de 23 anos que mora na região do Alentejo, em Portugal. Os infantilistas, também conhecidos pelos termos em inglês “babygirl“, “adult babies” ou “diaper lovers são adultos que sentem bem-estar, desejo sexual, ou as duas coisas ao mesmo tempo quando comportam-se como bebês, ou simplesmente quando usam acessórios infantis.

Felipe me contou que quando está com seus objetos de bebê, imaginando ser cuidado por uma mulher, sente-se tranquilo e longe dos problemas da vida adulta. Além disso, todo esse cenário desperta fortemente seu tesão.

RELAÇÃO DO INFANTILISMO COM TRAUMAS DE INFÂNCIA

Tetsuo, outro entrevistado, é duas décadas mas velho que Felipe, mas na cama também é uma criança. Todas as noites o paulistano coloca uma fralda de pano com calça plástica por baixo de seu pijama. Ele relaciona as origens desse fetiche a um episódio de sua infância:

— Quando comecei a pesquisar mais sobre infantilismo, concluí que o meu caso está ligado a um trauma: com seis meses de idade minha mãe simplesmente tirou as minhas fraldas. Quando completei três anos, comecei a ter muita vontade de usá-las novamente com calça plástica por cima e, percebendo isso, ela deixou. Desde então não parei mais.

Atualmente, Tetsuo está solteiro, mas sonha em ter uma companheira que seja sua “mommy”, termo usado pelos infantilistas para designar as mulheres cuidadoras. Ele lembra com carinho de uma ex-namorada com quem conseguiu, após algumas umas boas doses de convencimento, dividir seu fetiche:

— Todos os finais de semana ela cuidava de mim, dava banho, me secava, passava pomada anti-assadura, talco e colocava fraldas. Algumas vezes nós trocávamos de lado, eu pedia para ela colocar uma fralda, amarrava-a na cama e transávamos assim.

PEDÓFILO? DOENTE?

Neste momento o alerta de “pedofilia” pode estar ecoando na cabeça de alguns leitores. Vale ressaltar que o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, a Bíblia da normatização de saúde mental, separa claramente o transtorno de pedofilia das práticas que envolvem infantilismo — estas ficam classificadas juntamente de outros transtornos parafílicos, como zoofilia, necrofilia, coprofilia e urofilia (scat). A quinta edição, a mais recente do manual, vai além e pontua que grande parte das pessoas com fetiches incomuns não tem um transtorno mental:

“Para haver um diagnóstico de transtorno parafílico, o DSM-5 requer que a pessoa com interesses sexuais atípicos sinta angústia pessoal sobre o seu interesse sexual, não apenas sofrimento resultante da desaprovação da sociedade, ou tenha desejo ou comportamento sexual que envolva o sofrimento psicológico, lesões ou morte de outras pessoas, ou prática sexual que envolva pessoas que não querem ou que sejam incapazes de dar o seu consentimento legal”. *Fonte*

INFANTILISMO PRECISA SER TRATADO COM PSICÓLOGO?

Quem possui parafilias e tenta buscar tratamento psicológico ou psiquiátrico provavelmente vai se deparar com a falta de conhecimento que paira sobre o tema. Marcos, de 35 anos, sempre foi muito ligado às fraldas, tão ligado que sua mãe o pegou em flagrante mais de uma vez. Não demorou para que ela associasse o infantilismo à homossexualidade e quando ele completou 15 anos, decidiu levá-lo a psicólogos:

— Eu era jovem, estava confuso quanto à minha sexualidade e acabei sendo convencido de que era gay, porque gostava de fraldas e o tema nos consultórios foi abordado nesse sentido. Na época eu buscava uma cura que nunca veio, pelo contrário, meu desejo por fraldas só aumentou com o passar dos anos.

Hoje Marcos não está nem aí para a opinião alheia; é casado, sua esposa topa satisfazer seus fetiches pelo menos uma vez por semana e ele anda livremente de fraldas pela casa. E ainda provoca:

— Tenho percebido um lado exibicionista em mim. Me excita ir a um shopping center nas proximidades de minha cidade, onde ninguém me conhece, usando fraldas bem volumosas.

O FILHO NÃO É MEU

Os infantilistas têm problemas semelhantes a todas as pessoas envolvidas com a sexualidade alternativa, um deles é a falta de compreensão dos parceiros amorosos. Os relatos se encontram no ponto em que a maioria dos companheiros sente desconforto em atuar como “pais” e “mães”. As arestas a serem aparadas pelos casais discordantes vão muito além do sexo, como me explica Carlos, um “bebê de 27 anos”:

— O infantilismo para alguns é um estilo de vida. Nós alcançamos satisfação plena pelo simples ato de vestir fraldas, chupar chupeta, receber uma mamadeira, uma troca de fralda ou um colo de nossos parceiros. Eu me sinto muito mais aconchegado quando durmo de fralda, então posso dizer que boa parte do infantilismo extrapola os limites do fetiche.

Dani, infantilista há mais de 20 anos, usa fraldas diariamente para dormir, mas o marido mantém-se tácito, finge que não vê. A situação em que ela se encontra é angustiante:

— Estou com meu marido há nove anos, mas ele não me aceita como infantilista. Contei pra ele há dois anos, no primeiro momento ele disse que não via problemas, mas reforçou que não queria me ver de fralda, nem participar. Resolvi criar um perfil infantilista no Facebook, mas ele ficou muito irritado quando viu uma conversa minha com um dos meus amigos desse meio. Quase terminamos, mas ao final da briga ele disse que aceitaria cuidar de mim como meu papai. Infelizmente ele só colocou isso em prática uma vez e nunca mais tocou no assunto. Amo-o muito, mas não posso ser uma pessoa “normal” como ele quer.

MOMMY COM MAIS DE UM ADULT BABY

Lady Vulgata é “mommy” de uma menina e um rapaz, que recorrem a ela para tudo, incluindo situações profissionais e familiares. Mesmo tendo uma personalidade que emana poder, suas primeiras fantasias relacionadas ao infantilismo não foram totalmente livres de encanações:

— Com 15 anos me excitava pensar que meu namorado era meu protegido, mas briguei muito com esse sentimento, porque ao mesmo tempo carrega minha inocência e o despertar da minha luxúria. Gosto de ser a detentora de toda a confiança do mundo, fonte de toda a segurança emocional e até física dos parceiros. Estar com um infantilista traz uma sensação de controle e poder plenos.

INFANTILISMO: ESPOSA E BABYGIRL

A meiguice de lyna¹ começa no armário; seu arsenal infantilista inclui shampoos e colônias de bebê, além de meias, calcinhas e pijaminhas fofos. Quem vê a ruiva de 27 anos, um metro e sessenta e pernas esguias não imagina que sua personalidade abriga uma “criança de 5 anos, obediente, carente e que adora receber colo e cuidados” — palavras exatas que usa para descrever quem ela é dentro do universo infantilista.

“Gosto de coisas fofas e amo ser chamada de princesa pelo papai” – lyna

— Quando eu era adolescente me masturbava imaginando que transava com diversos homens mais velhos. Alguns anos depois, um dos meus primeiros namorados era um homem da minha idade, mas muito maior do que eu fisicamente; quando ele me abraçou de conchinha pela primeira vez, me senti como uma criança muito pequena, aquilo me excitou muito e nunca mais saiu da minha cabeça.

Seu auge como garotinha aconteceu no atual casamento. Ela e o marido têm uma relação BDSMer de dominação-submissão e no começo da relação os dois “brincavam” apenas de mestre e escrava — mas ele já dava algumas indiretas sobre seu interesse em introduzir uma relação fetichista de “pai para filha”:

— Eu sempre desconversava, pois tinha muita vergonha de gostar disso, até que no dia das crianças de 2012 ele decidiu me tratar como filhinha pela primeira vez. Fiquei um pouco resistente, mas logo me soltei, foi como perder minha virgindade de novo. Hoje somos casados e o infantilismo está incorporado à nossa rotina, tornou-se algo tão espontâneo que, muitas vezes, minha voz e linguagem corporal mudam completamente. Acontece inclusive em público, mas sempre na presença do Papai.

  1. lyna, assim como boa parte dos praticantes de BDSM que ficam em posições submissivas, prefere ter seu nome grafado com a inicial minúscula.