Conversei com uma mulher que é especialista em perfurar e eletrocutar pênis e bolas, conheci dois caras que amam tortura genital e ballbusting e entrevistei uma psicóloga para comentar tudo isso

Quando você pensa em uma pessoa masoquista, imagina o quê? Gente que curte ser estapeada, chicoteada? Venho através deste informar que para algumas pessoas a coisa é bem mais embaixo… Existe quem considere o chute no saco, versão masculina da dor no parto, o tipo de foda mais extasiante que pode haver, no fetiche conhecido como ballbusting.

ATENÇÃO: ESTA MATÉRIA CONTÉM IMAGEM EXPLÍCITA DE TORTURA PENIANA, PARE DE ROLAR A PÁGINA SE NÃO QUISER VER

Outros preferem ter seu pênis espetado com agulhas (needle play), ou introduzir varetas na uretra (urethral play). Os mais radicais sonham em ter o pênis cortado ao meio, extirpado, ou ainda em ser totalmente castrado. No meio disso, existem também mulheres que apreciam sentir dor nos lábios vaginais e aquelas que gostam de infligir no parceiro torturas impiedosas. Toda essa “coragem” rende histórias de vida únicas, muito interessantes.

Não foi fácil encontrar pessoas realmente envolvidas com práticas extremas de CBT, sigla para cock and ball torture, termo mais popular entre os fetichistas para designar diversos tipos de tortura genital em homens. Tive que olhar centenas de perfis no Fetlife para poder separar o joio (posers e masoquistas “leves”) do trigo. Mas quando encontrei algumas pessoas com suas fotos de paus quase implodidos senti que estava no caminho certo, apesar de parecer um lugar muito obscuro da internet.

MULHER-MARAVILHA PERFURATRIX 

A primeira entrevistada foi Wonder Womyn, uma neozelandesa de 51 anos especialista em torturar paus, bolas e até algumas bocetas. Ela se intitula a única pessoa em seu país que faz tortura genital e ballbusting em nível avançado e de forma artística. Confira:

— Quando eu era adolescente costumava imaginar qual seria a sensação de chutar as bolas de um cara, embora eu ainda não soubesse nada sobre ballbusting. Então, quando eu tinha 36 anos de idade, vi uma foto de CBT em uma exposição de Robert Mapplethorpe e fiquei paralisada, aquilo era tão bonito… Eu pensei sobre a obra muitas vezes e quando eu descobri o BDSM a tortura nos genitais foi uma das primeiras coisas que quis tentar. Ou seja, descobri não só que gostava de CBT, mas também de tortura vaginal.

As fotos de seu perfil são chocantes até para pessoas calejadas em BDSM como eu. Numa delas havia cerca de 20 agulhas grossas enfiadas até o fim nos testículos, além de amarrações apertadas em toda a extensão do pênis. Tudo isso sangrando e ligado num aparelho de eletrocussão.

Já auxiliei em uma sessão de um cara que cortou o testículo de seu submisso, fazendo-o pular para fora e depois colocou de volta e costurou por cima – Wonder Womyn

TORTURA PENIANA EXTREMA

Imagem de tortura peniana com agulhas e eletrochoque do acervo de Wonder Womyn

Mesmo tendo sido o carrasco em sessões bastante elaboradas de tortura, Wonder Womyn tem metas ainda mais ambiciosas:

— Quero encontrar alguém disposto a que eu possa colocar ganchos no pênis, bolas e também perfurá-las, além de cortá-las ao meio, abrir o escroto e torturar os testículos lá dentro. Também quero explorar mais a tortura vaginal com ganchos, eletricidade e agulhas internas.

Ela coloca suas habilidosas mãos em serviço cerca de uma vez por mês e diz que em nenhuma das vezes sentiu culpa ou confusão sobre a tortura genital.

— Vejo como algo bonito, uma prática que traz alegria e descobertas. É uma forma de arte e uma provação para aprendermos sobre autoconhecimento, sobre a humanidade e o universo.

RELATO DE UM HOMEM QUE AMA BALLBUSTING

Adam, coincidentemente outro habitante da Oceania, também abriu seu coração para esta reportagem. Ele é um australiano, que do alto de seus 64 anos de vida se considera um transgressor.

— Crescer como um homem sempre significa crescer dentro de uma cultura que nos leva a valorizar o pênis e acredito que isso torna a violação dele algo tão emocionante. Por volta dos seis anos de idade, comecei a inserir tachinhas no meu ânus e mais ou menos na mesma época comecei a imaginar tetas de vacas sendo abertas ao meio — por incrível que pareça isso me provocava um tesão imenso. Muito rapidamente essa fantasia começou a migrar para o meu pênis e aos dez anos eu já estava fantasiando com flagelações e aos doze anos tentando convencer um amigo a brincar de nos amarrarmos a uma árvore para arremessar objetos no pênis um do outro. 

E como a maioria dos fetichistas, Adam também começou ainda na adolescência:

— Na adolescência, comecei a introduzir objetos na minha uretra — quanto mais áspero, mais largo e mais longo fosse, melhor. Na mesma época, quando eu ouvia histórias de tortura de guerra, com testículos sendo eletrocutados e tubos de vidro inseridos neles e em seguida sendo quebrados e eu ficava muito excitado, enquanto os outros jovens ficavam aterrorizados.

PROBLEMAS RELACIONADOS AO BALLBUSTING

Assim como Adam, a maioria dos fetichistas extremos sofrem com a incompreensão e a solidão. Ele até conseguiu algumas namoradas que toparam conduzir as sessões de ballbusting e CBT; uma delas deixou a cicatriz que enfeita a cabeça de seu pau até hoje. No entanto, na maior parte do tempo ele foi obrigado a se divertir sozinho ou desembolsar uma grana para conseguir o desejado martírio.

— Eu invejo quem tem na companheira amorosa uma adepta do CBT, mas comigo não rolou. Decidi pagar uma dominatrix profissional e só aí eu tive minhas necessidades totalmente satisfeitas. No entanto, houve uma sessão de surra nos testículos que me deixou com graves sequelas, pois a cicatrização interna fez com que minha produção de testosterona passasse a ser quase nula, o que me obriga a usar suplementos. Hoje em dia combinamos sessões apenas a cada dois meses. Além disso, ela me impôs outra tarefa: de manter castidade total entre uma visita e outra.

Apesar da séria complicação causada em sua produção hormonal, Adam garante que vive bem com os suplementos e consegue ter ereções até nos momentos de tortura. Assim, ao contrário do que alguns podem pensar, ele não odeia o próprio pênis.

GOSTAR DE SER TORTURADO PODE SER UM PROBLEMA?

— Eu nunca me senti culpado ou sido triste sobre a necessidade de tortura genital, nem sinto raiva do meu pênis. Às vezes meu pau fica duro quando os testículos estão sendo perfurados. Além disso, ocasionalmente tenho orgasmos quando minha senhora esmaga minhas bolas com os pés, usando todo o peso de seu corpo.

Apesar de valorizar o próprio dito-cujo, Adam sonha com estragos ainda maiores, para mostrar sua bravura e devoção.

— Uma das minhas maiores fantasias é chupar uma mulher enquanto outra aperta e puxa meus testículos o mais forte possível. Tenho fantasiando com coisas mais radicais, que mostrem que tenho devoção à minha senhora e que finalmente atingi um estado de castidade. Espero que em algum momento no futuro minha Mistress remova pelo menos um de meus testículos de forma bem lenta e dolorosa. Não sei dizer se quero ter a cabeça do meu pênis cortada completamente ao meio, mas se minha Senhora definir que isso deve ser feito, eu também aceitaria.

UM CARIOCA PRATICANTE DE BALLBUSTING

Difícil imaginar que por trás desse nickname cheio de ginga esteja um submisso talentoso, que já foi torturado por sete mulheres ao mesmo tempo. A aparência de Karioca também não colabora: negro, alto, voz grossa e mãos grandes, ele conta que sempre gerou expectativas nas mulheres de que ele as dominasse e até mesmo batesse nelas. No entanto, as suas demandas internas eram desde muito cedo bem diferentes disso.

— Os primeiros desejos surgiram na minha infância, quando eu via Flashman e Changeman, esperando que as personagens atingissem os testículos dos vilões, o que infelizmente era raro acontecer. Minhas primeiras experiências de fato com tortura genital e ballbusting foram com minhas primas, vizinhas e colegas da escola. Eu as provocava para me baterem e a coisa chegou a um tal ponto em que elas sabiam que eu curtia e me chutavam, davam joelhadas ou apertavam meu saco de propósito.

CONVENCER A NAMORADA A CHUTAR SUAS BOLAS

Karioca teve que ser sagaz para conseguir o que queria, afinal poucas namoradas estão dispostas a torturar justamente o brinquedinho mais valioso que seu amado pode oferecer.

— Eu ficava bem ansioso para contar sobre meu fetiche, com medo da rejeição ou de ficar estigmatizado como louco, mas o tesão e a vontade de apanhar faziam com que eu criasse estratégias. Eu começava com o pretexto de ensinar defesa pessoal às minhas amigas, primas, namoradas e colegas de turma, aí eu me focava em golpes no saco. Interessante notar que por mais que elas tivessem medo, era uma prática que curtiam muito. Minhas namoradas acabavam entrando na brincadeira ao verem a ereção.

Em meio a todo esse processo de aceitação dos próprios desejos rolou culpa e tristeza no coração do carioca, mas a internet tirou-o desse poço. Ainda no início do anos 2000, ele descobriu um fórum virtual de adeptos de ballbusting no Brasil e viu que não era o único. Atualmente ele faz parte de outros grupos e se sente mais aceito e menos julgado por causa do CBT. Apesar disso, ele ainda tem suas questões.

— Eu sempre me questionei sobre a origem dessa minha fantasia. O mais próximo que cheguei foi o problema que tive depois que operei a fimose com uns quatro ou cinco anos de idade. Senti muita dor, tive que operar novamente e talvez aí tenha surgido um trauma de infância, acho que um psicanalista poderia falar melhor sobre isso.

CBT  NO DIVÃ

Falar sobre tortura genital erótica não implica em falar apenas de “são, seguro e consensual”. Pode haver quem discorde disso, mas a categoria “seguro” deve abarcar práticas que não causem danos permanentes à saúde e integridade do praticante. Acontece que mesmo quando é feito com assepsia e diversos cuidados, o CBT pode oferecer riscos para o funcionamento da uretra, ereção, produção de testosterona e do esperma. Então, como definir se é seguro para a saúde física e mental do masoquista?

Para colocar um pouco de luz sobre essas questões, conversei com Mirian Lopes, psicóloga especialista em sexualidade. Ela me contou que a regra básica para avaliar se os limites do fetiche estão aceitáveis é a exclusividade: caso a tortura seja fonte de estimulação exclusiva e repetitiva, tornando outras práticas fracassadas, pode haver diagnóstico de transtorno de preferência sexual.

Ela também me explicou sobre as possíveis motivações que levam um homem a desejar causar danos ao próprio genital. Enfim, fica nítido que entre o corpo e o racional há mais caminhos do que imaginamos.

— A tortura recebida pode não ser um tipo de superação e demonstração de merecimento de atenção, mas uma maneira de o sujeito visar a parte íntima do outro, se submetendo ao seu capricho. Desta forma, ele se agarra ao parceiro, oferecendo seu corpo como objeto de gozo para evitar a experiência trágica do desemparo. No ato de buscar a tortura extrema dos próprios genitais é possível que esteja o controle e o domínio onipotente, bem como uma forma de negação do próprio corpo. Também pode haver tentativas de conter angústias e experiências mais profundas de vazio. E ainda a obtenção de prazer através sofrimento, desenvolvendo nesses jogos eróticos de dominação e humilhação formas de controle do gozo.