Conheça como funcionam os sex shops, cinemas e banheiros públicos onde acontece sexo quase anônimo, principalmente entre homens

Cine Arouche - lugares públicos onde rola sexo fácil
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Chequei como rola, onde ir e quanto custa cada opção. Dentre outras coisas, descobri que assistir um pornôzinho e fazer sexo dentro de um sex shop pode custar apenas três reais. Investiguei também as salas escuras dos decadentes cinemas eróticos do centro de São Paulo. É só entrar e tocar uma? Além disso, tentei responder a questão: como conseguir bater um banheirão com sucesso?


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sexo entre três modelos alternativas
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Todos esses lugares públicos onde rola sexo fácil têm a marginalidade como característica em comum. Gente fina e descolada não frequenta – ou não se orgulha muito de contar. Mesmo em alguns meios gays, muita gente tem nojo de ir, ou falta coragem

Outra marca desses locais é que sua existência é bastante impulsionada pelos HSH, sigla para “homens que fazem sexo com homens”. É algo um pouco diferente de ser homossexual. Esse termo é usado principalmente por órgãos de saúde para classificar homens que às vezes transam com outros caras. Ou aqueles que fazem com frequência, mas não se envolvem emocionalmente. Locais onde é possível entrar e sair na moita, e onde as abordagens e conversas são mínimas, facilitando o anonimato buscado pelos HSH não assumidos.

Sexo no sex shop

Sexy Mundi - sexy Shop - Nos fundos desse sex shop na Amaral Gurgel é que a diversão acontece
Nos fundos desse sex shop na Amaral Gurgel é que a diversão acontece

A plaquinha “temos cabine erótica” nas vitrines de sex shops é velha conhecida da nossa memória visual. O que poucos sabem é que essas cabines guardam uma gama riquíssima de possibilidades sexuais. Mulheres, trans ou não, podem entrar numa boa, mas o território é dominado por homens gays. Basta pedir ao atendente uma ficha, cujo preço não costuma ultrapassar três reais, dando direito a sete minutos na cabine. Prepare-se para um pouco de constrangimento, tendo em vista que os funcionários não costumam ser muito simpáticos quando o cliente pede para ir às cabines.

Os velhos sex shops que dispõem de gloryholes não se parecem em nada com as lojas de artigos sexuais mais novas, voltadas para um público de  mulheres de classe média e alta. A pesquisadora Maria Filomena Gregori, em sua etnografia sobre sex shops¹, consegue explicar melhor:

“Quanto mais baixa é a estratificação social do público para quem a loja é organizada – e, na maioria dos casos, ela se localiza na região do centro antigo da cidade – maior é o segmento masculino, com índices expressivos de homens mais jovens ou bem mais velhos (é alta a incidência de senhores aposentados ou desempregados e motoboys, office-boys). Quanto mais alta a classe social do público visado pela loja, maior é o segmento feminino, seja do ponto de vista das proprietárias dessas lojas, como das vendedoras e das consumidoras.

Os desavisados podem pensar que a cabine é apenas um local para entrar e se satisfazer sozinho vendo um pornô ruim. No entanto, basta ter um pouco de sorte para olhar para o lado e ver um pau surgir pela fresta. As cabines minúsculas que visitei (uma na Rua Amaral Gurgel e outra na Consolação) têm cada uma o seu buraco, conhecido como gloryhole. No andar de cima do sex shop localizado próximo do cruzamento da Avenida Paulista com a Consolação, existem também opções sem o gloryhole. O atendente já dá a letra: “os casais que querem ficar mais sossegados, vão pras cabines sem o buraco”.

Observando o andar térreo, onde ficam os produtos, dá para concluir que a venda já não é o carro-chefe. Uma boa parte dos acessórios e DVDs parecem encalhados, enquanto as cabines são conhecidas pela ferveção no horário de rush noturno.

Infelizmente, um detalhe nas cabines impossibilita que o anonimato sugerido pelo fetiche do gloryhole se realize. Os buracos são uns quadrados enormes entre as paredes. Basta abaixar um pouco mais e inclinar a vista para conseguir ver o rosto do dono da piroca. E o espaço é suficiente para sacar um celular ou câmera e filmar quem está do outro lado, como tentaram fazer comigo (sem sucesso). Não sei se preciso falar da parte em que as cabines são apertadíssimas e os buracos não são revestidos, expondo os paus às farpas de madeira.

Era uma sexta-feira a noite, por volta das 20 horas quando fui ao sex shop da Amaral Gurgel. Sem me apresentar como jornalista, entrei na última cabine, coloquei uma ficha parecida com aquelas de fliper antigo, e a pequena TV na minha frente ligou. Estava acompanhada do meu namorado e foi difícil fazer nossos dois grandes corpos caberem naquele cubículo. Em segundos, apareceu uma piroca pelo buraco. Com um olhar, soube que eu e o patrão estávamos de acordo sobre ser uma senhora piroca. O cara começou a se punhetar, mas o pau ficou mole rapidamente. Quando eu estava prestes a pegar, ele apertou a cabeça com muita força e o pau subiu no mesmo instante. Tentei entender o truque estranho, e ouvi do meu namorado (que tentava segurar a risada) um “não chupa isso aí não”. Achei sensato. O cara repetiu a mesma magia torturante do “morto-vivo” umas cinco vezes e guardou o pau. Indo embora, percebemos que ele nos seguia e tivemos que despistá-lo. Parecia ter quarenta e tantos anos.

No sex shop da Consolação, o perfil é bem diverso; homens mais velhos predominam, mas também é possível ver garotos com estilo do Baixo Augusta. Na Amaral Gurgel, só vi os mais velhos e um casal, de uma garota de programa e seu cliente. Pesquisando na internet, achei blogs de casais swingueiros héteros que adoram de frequentar esses gloryholes. Vi mais de um relato dizendo  que o público GLS não é muito amigável quando se depara com uma mão ou boca feminina no buraco – fato que eu mesma pude conferir. De tão difícil que é a busca, alguns casais até anunciam que têm interesse em marcar encontros com homens ou outros casais para se divertir nos gloryholes.

Fernando é casado com uma mulher e curte o negócio. “Eu me atraía muito pela pornografia envolvendo os gloryholes e isso me motivou a ir. As cabines de sex shop são uma opção barata, uma alternativa aos swings que têm gloryholes. E eu nem queria colocar o meu pau lá, queria mais ver minha mulher em ação. Foi estranho, porque a forma como é feito aqui no Brasil não privilegia o anonimato, bem diferente da pornografia que vi. E não existe uma etiqueta, as pessoas são meio afobadas pelo sexo”.

Pode-se dizer que, apesar de pequenas, as cabines funcionam como motéis ou casas de swing muito baratos, ainda mais tendo em vista que o limite de tempo é mera formalidade. Nas duas cabines, fiquei cerca de dez minutos a mais do que o permitido e nenhum funcionário veio me chamar de volta. Os locais eram bem limpos.

Abate no banheirão

Bainheirão
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“A prática de ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público, é passível de pena de detenção de três meses a um ano”. Se você estiver em um banheiro masculino e avistar um placa com o artigo 233 do Código Penal, saiba que muito provavelmente ali é ou já foi um ponto de pegação.

A primeira vez que eu soube da existência de sexo fácil em banheiros públicos foi através do tio Calixto, da família de um ex-namorado de adolescência. Entre uma Itaipava e outra, ele contou que recebeu de um cara a proposta de “dar uma chupadinha” enquanto usava o mictório de um salão de festas, no meio de um casamento. A história foi repetida incansavelmente em todos os churrascos. Na minha cabeça era sempre um choque pensar que ser um homem gay te proporciona vantagens lindas como transformar um banheiro em playground sexual.

Infelizmente, nunca pude conferir um banheiro masculino para relatar o que se passa. Tudo o que sei sobre sexo em banheiros se resume à certeza de que nos banheiros femininos a marcação dos seguranças é cerrada, pelo menos em baladas. Para saber como a coisa acontece de verdade, ouvi um especialista no assunto: Adriano, dono do blog Modos de Macho, que graças ao banheirão já chegou a gozar em três dias seguidos de uma semana, entre uma viagem e outra de metrô.

Gozar é bom. Gozar com uma dose de adrenalina e perigo é melhor ainda – Adriano

Para quem quer começar a se aventurar sem perder a ternura, a iniciação não é muito complexa: “quando entrar no banheiro, veja quem está no mictório de cabeça levantada e olhando para os lados. Se tiver coragem, pare no mictório exatamente ao lado. Se não, pare próximo, mas tente comunicar seu interesse pelos olhares“. Além do olho no olho, a comunicação também é feita por balançadas no pau, exibição dele duro, um “tá a fim?”, ou algo mais direto como “chupa”. Além do mictório, outra boa oportunidade está nas cabines onde alguém abriu um buraco na divisória. Acho que não preciso dar maiores explicações sobre a utilidade dos buracos…

Essa linguagem é tão universal que até na Índia acontece de maneira parecida. Entrevistei também Alexander, um indiano de Bangalore que frequenta banheirões. “É sempre uma sessão muito rápida, nada de mais. Geralmente você começa batendo na parede do cara ao lado. Se perguntarem o que você quer, responda que quer uma chupada. Anal é algo muito perigoso na Índia, melhor evitar”.

No Brasil, a lista de points é imensa. Banheiros de supermercados, parques, shoppings, rodoviárias e estações de trem e metrô são boas possibilidades. Melhor ir sempre quando há menos movimento, de manhã bem cedo, ou no final da noite. Claro, o público varia: “eu gostava dos banheirões da Linha Esmeralda. São mais limpos e as pessoas de lá são acima da média no quesito beleza. Das estações que conheço em São Paulo, indico a Hebraica-Rebouças, Vila Olímpia, Berrini e Cidade Jardim. Banheiros de rodoviárias, como o Jabaquara e o Tietê também costumam ser locais de caça, mas já são de gosto mais duvidoso. E tem o Extra da Avenida Brigadeiro, tradicional point de banheirão, mas já bem manjado”, conta Adriano.

Vale lembrar que nem sempre rola uma empatia. O cara pode se satisfazer e te deixar literalmente na mão. É uma boa para que procura pouca abordagem e nenhum envolvimento. No máximo, uma troca de telefones.

Chupando drops de anis

Quem estiver passando pelas Avenidas Ipiranga e São João e quiser sentir alguma coisa acontecer no coração e dentro das calças, basta entrar em um dos cinemas intitulados “24 horas” ou “eróticos”. Alguns prédios são da década de 1940, quando a região era conhecida como a Cinelândia Paulistana. Hoje mais do que decadentes, abrigam os cinemas pornôs, os famigerados cinemões.

Vi um policial fardado entrar lá e levar sexo oral. Já vi homem entrar de roupa normal e ter só lingerie por baixo, já vi padre…”

Fui sozinha a um cinema pornô sem nome da Avenida São João, às duas da tarde de uma quarta-feira. Queria primeiro entrevistar algum funcionário que pudesse me contar boas histórias. Abordei o segurança do local. “A gente não tem autorização pra contar nada não”. Fui tentando dobrá-lo na conversa quando, descendo as escadas, veio o barman anunciar o milagre: “fala comigo, que eu conto tu-doooooooo”.

Todo o papo deles girava em torno de como o local era “diferenciado”. “Aqui não rola a vulgaridade que tem nos outros cinemões”, disse Roberto, o segurança. Ele diz que já levou muito safado porta afora. “Nesses dez anos que estou aqui, já dei jeito em muita gente. Quem não se comporta, é rua”.

Depois de mais um pouco de conversa, Marcos, o barman, contraria o colega e confessa o óbvio: rola sim pegação forte lá dentro. “Vi um policial fardado entrar lá e levar sexo oral de um garoto de programa. Já vi homem entrar de roupa normal e ter só lingerie por baixo, já vi padre…”.

Enquanto entrevistava a dupla, um garoto entrou no cinema, aparentando dezoito anos, bem mais novo do que a média do local. Não ficou nem cinco minutos lá dentro. Mais à frente, entrou na Galeria do Rock. Cliente insatisfeito? “Muita gente aqui entra desavisada, achando que vai ter muita mulher. Mas só tem as garotas de programa mesmo. E a maioria é travesti“, explica Marcos.

Voltei à região uma semana depois, de noite depois do expediente. Dessa vez entrei no Cine República, pagando 13 reais. Por esse preço, achei que o negócio seria badalado. Na entrada, uma placa avisava: cuidado com os darkrooms.

Havia duas salas de cinema. Na primeira, onde passava um filme hétero, não estavam mais de três pessoas. O lugar é muito escuro, foi impossível captar uma foto decente. No chão, camisinhas fechadas espalhadas pela sala. Na segunda sala, onde uma orgia gay era exibida na tela, uns cinco caras estavam sentados. Outros dois permaneciam em pé no fundo, manjando quem passava. Todos de meia idade. Nenhuma foda acontecia.

Desci as escadas que levavam ao darkroom. As paredes pintadas de preto e vermelho e o cheiro de mijo me lembraram alguma balada gótica, cujo ingresso é o mesmo preço. O fedor era tão forte, que cheiro de esperma envelhecido seria uma opção bem melhor. Enquanto eu descia, dois caras subiram, mas não me deram nem uma olhadinha. Cheguei a uma salinha muito escura, com o mesmo cheiro de mijo e com a temperatura de uma sauna. A pessoa tem que estar em um dia bem frenético pra manter o tesão ali. Não havia ninguém se pegando quando cheguei.

Subi até o terceiro andar, onde fica o bar. Em um dos corredores, um rapaz sem camisa secava todo mundo que passava por ele. Lá dentro, só estavam os dois atendentes e um rapaz de uns trinta anos. Ele parecia estar fazendo uma pausa na ferveção, assistindo Jornal Nacional em na pequena TV do bar. Percebi que ali era ainda mais quente que o darkroom e decidi ir embora.

Marcos ressalta que os cinemões são lugares propícios para quem está com os com contatos em baixa. “Rende muita coisa aí dentro, os homens que vêm geralmente não tem amigos gays no mundo lá fora. E eles sofrem discriminação dos próprios gays às vezes. Eu também sofro preconceito por trabalhar aqui. Teve homens que conheci que iam me julgando de promíscuo”. Ele conta que uma vez um idoso “de bengala e tudo” ofereceu dinheiro para que “cuidasse” dele. “Recusei, porque velho não é minha praia”.

Já Roberto nunca teve problemas com ciúmes da esposa. Ele diz que a mulher não liga, até porque “ver esses filmes é que nem ver qualquer outro na TV, eu já perdi aquela curiosidade que tinha no começo. Estou calejado”.

1 – Mercado erótico: notas conceituais e etnográficas. In: Gênero, sexo, amor e dinheiro: mobilidades transacionais envolvendo o Brasil. Adriana Piscitelli, Gláucia Oliveira de Assis e José Miguel Nieto Olivar organizadores. Campinas, SP: UNICAMP/ Pagu, 2011.