Nós sabemos que existem inúmeros fetiches inusitados por aí, e muito provavelmente você também tenha algumas fantasias sexuais que não tem coragem de contar para ninguém.
Todo mundo tem fetiches estranhos, não é exclusividade sua.
Mas um deles chama a atenção por ser diferente e carregar um grande tabu na sociedade: O fetiche conhecido como SCAT – que nada mais é do que sexo com cocô. (sim, você leu isso mesmo). Já falamos sobre isso numa outra matéria sobre scat.
Para entendermos um pouco mais sobre o que se passa na cabeça de um adepto a coprofilia – aquele que sente tesão em merda – fizemos algumas perguntas para Gustavo Scat.
Gustavo Scat tem 24 anos, é bissexual e mora em São Paulo capital.
Ele é criador, autor e produtor de conteúdo do mais completo blog no Brasil sobre o Fetiche Scat, Chuva Dourada (mijo) e Fart Fetiche (peidos). O blog é o QueroScat.
Vamos as perguntas:
1) Você pode me contar um pouquinho da origem dos seu fetiches e como você foi desenvolvendo ao longo da vida?
Eu acredito que todos nós somos influenciáveis sobre os nossos gostos. Me lembro da primeira vez que vi uma revista pornô, eu era muito pequeno e foi a primeira vez que vi sexo na minha vida.
Foi o primeiro contato, a descoberta e muito provavelmente a primeira vez que senti tesão. Curiosamente eu estava vendo as imagens da revista enquanto fazia cocô.
Acredito que de algum modo isso marcou meu subconsciente e associei as duas coisas, o prazer e o cocô, mesmo que “sem querer”. Por coincidência, a primeira vez que eu vi uma garota nua ao vivo foi uma amiguinha da época que fez xixi na minha frente. Tempos depois surgiu o clássico vídeo 2 girls 1 cup, o divisor de águas na minha vida.
Este é o vídeo de Scat mais famoso do mundo e se tornou viral em meados de 2007 (Eu já tinha lá os meus 13 anos de idade).
Confesso que não foi amor a primeira vista – inclusive pela parte do vômito, não curto – Mas a curiosidade e o tesão me despertaram algo muito além do nojo. Foi a partir desse vídeo que conheci de verdade o que era o Fetiche Scat.
Anos depois descobri os significados dos fetiches e suas siglas, a difícil batalha de achar conteúdo com qualidade, se masturbar e conhecer o próprio corpo
incluindo scat, experimentar o gosto do cocô pela primeira vez (e sentir culpa depois), intermináveis (e quase impossíveis) buscas por parceiras, e enfim.
Tudo um pouco frustrante e confuso, por parecer estar sozinho neste mundo.
2) Essa prática é tabu para muitas pessoas, que falam que “tem nojo” ou que não é “normal”. Desde o começo você já aceitava esse seu fetiche como natural ou foi um processo de aceitação? Você precisou ler bastante coisa sobre o assunto ou foi de uma forma mais fluida, como foi isso?
Eu passo por essa auto-aceitação até hoje, e isso demorou e vai demorar anos.
Scat não é popular. Scat na verdade é um fetiche escondido, onde a sociedade nem comenta sobre, e se comentar 90% das vezes é pra julgar e falar mal.
É um fetiche tabu absurdo, talvez o maior deles. Eu não sou hipócrita de falar que é algo normal e cotidiano, por que não é. Mas eu não ligo pra isso, de verdade.
Pra mim é como se eu pudesse aproveitar o sexo e a intimidade ao extremo. Dentre varias pesquisas que fiz sobre o tema, a maioria delas mencionam a infância como a principal aliada para a formação de fetiches. Não é fácil admitir (nem pra você mesmo) um tesão por cocô, xixi e peidos.
Mas para me auto-tranquilizar, faço-me as seguintes perguntas:
- Estou fazendo algum mal pra alguém?
- Estou infringindo alguma lei ou obrigando alguém a gostar de algo?
Como a resposta é “não” para todas as perguntas, sei que sou uma pessoa normal, mas que apenas tem fetiches diferentes.
3) Como você encontra adeptos do scat para realizá-lo?
Essa é a parte difícil. Por um bom tempo eu tentei me contentar sozinho por duvidar em achar alguém que
gostasse.
Foi então que anonimamente eu confessei os meus gostos excêntricos para uma garota em um bate-papo na internet e ela disse que também gostava. 5 minutos depois ela fechou a janela da conversa e eu perdi o seu contato pra sempre.
Mas aquela idéia de que poderiam existir muitas outras pessoas com gostos em comum me fez criar um perfil no Tinder especificamente para conversar e conhecer pessoas com interesses em comum. Aí então vieram outras redes sociais, mas sempre partindo do anonimato para depois abrir minhas contas reais.
4) E nos seus relacionamentos, você costuma contar sobre o seu fetiche pras pessoas que se relaciona? Como é a reação? Ou geralmente você já se relaciona com pessoas que também curtem?
Nunca tive coragem de contar pessoalmente pra alguém que me relacionei por medo da reação. Já ouvi tantos comentários maldosos pela internet que morro de medo da reação.
Apenas uma vez contei para uma garota por Whatsapp, ela pareceu reagir bem, mas no dia seguinte não me respondeu mais.
Acho que o melhor a se fazer para tentar um relacionamento que exista a prática com Scat é partir do mais difícil: Conhecer a pessoa pelo fetiche e aí então buscar ter um relacionamento.
Ou então ter muita, mas muita confiança para poder contar pra alguém e esperar que esta vá me entender do jeito que eu sou sem julgamentos. E isso leva tempo.
5) O seu círculo social sabe desses seus fetiches? Você acha importante que saibam ou não?
Nem desconfiam. E nem quero que eles saibam, eles não entenderiam. Fora que isso poderia catastroficamente acabar com minha carreira profissional.
Trabalho na área artística, então o meu cuidado é ainda maior. Acho que só entenderia quem tem mesmo fetiche, quem é muito mente aberta ou quem no mínimo tem alguma vontade diferente também.
As pessoas acham que nós somos pessoas nojentas, sujas e que não se importam com a saúdes. Só que na maioria das vezes isso é totalmente o contrário – Tanto é que sou uma pessoa com vários toques de limpeza.
Quem possui esses fetiches são pessoas como todas as outras, que tem cuidado com a higiene pessoal, andam normalmente por aí, vivem em sociedade, tem amigos, trabalho e relacionamentos.
6) Você acha que esse fetiche é muito importante na sua identidade? Por quê?
Scat pra mim é como se fosse um mundo paralelo. Não é uma ideologia de vida. É uma vontade única e exclusivamente no sexo, então meio que divido entre minhas personalidades e identidades. Quase que duas identidades diferentes. Faz parte de mim, mas não dependo dela para ser eu mesmo.
7) Você é adepto a alguma prática do meio BDSM? Tem interesse em conhecer e praticar alguma outra?
Na verdade sou muito leigo sobre o mundo BDSM. O pouco que conheço são práticas relacionadas a dor, dominação e submissão, e apesar de achar muito interessante não consigo associar dor e humilhação ao prazer. Teria dó em bater em alguém e não sentiria tesão apanhando… Tanto que minhas vontades com Scat não tem nada haver com humilhação.
É difícil pensar desse outro modo, mas é como se eu “ganhasse um presente intimo”.
Vou citar o que um amigo scater – e também autor do blog – escreveu uma vez: “Algo que a maioria das pessoas tem repulsa nos vira um objeto de prazer diferente pela descoberta de apreciar o que foi rejeitado pelo outro, o mistério de descobrir o que é esse novo objeto.
O ato de ir banheiro fazer o nº2, por exemplo, é sempre feito sozinho e dentro de uma total privacidade, não costumamos nem anunciar abertamente que vamos cagar e nem comentar depois, é sempre algo muito secreto, e poder ver a outra pessoa durante esse ato e dividir esse momento de mistério talvez instigue o prazer e o tesão”.
Eu por exemplo amo fazer sexo oral e a sensação de receber uma mijada na boca essa hora, é como se “transborda-se prazer”. Posso sentir o gosto e sua temperatura literalmente escorrendo e envolvendo ainda mais.
Existem milhares de fetiches por aí (lugares públicos, sadomasoquismo, ménage, pés, e até mesmo fetiche por bexigas!) e de verdade me interesso em ler e saber um pouco sobre todos eles. Sou um curioso nato.
“Sendo seguro, consensual, prazeroso e dentro da lei, todas as práticas são válidas. Pois não há nada pior do que viver sexualmente reprimido”.
8) Você acha que sofre preconceito dentro do próprio meio BDSM por possuir um fetiche tabu? E fora do meio, pode me contar um pouco as reações que ouve?
Olha, preconceito todos nós vamos sofrer em todos os lugares, independente do assunto. Mas com toda certeza sofro bem menos dentro do meio, por que a maioria dessa galera pelo menos respeita, né? E é esse o ponto bom!
Fora do meio eu já ouvi as clássicas reações do tipo “Você é doente!”, “Você precisa se tratar”, ou “Isso é coisa do diabo!” (risos). Algumas são até divertidas, mas descarto todas elas.
Será que as pessoas que nos julgam de forma maldosa não tem também nenhum tipo de gosto
sexual?
De uma coisa eu tenho certeza: Eu não preciso de ajuda nenhuma se não dependo disso pra viver. E como eu já disse ninguém escolhe gostar de algo, e todos nós temos uma origem para nossos gostos. Então esta tudo bem.
Eu também tenho repudio de tanta coisa nesse mundo… Então eu entendo quem sente nojo.
A diferença é respeitar e seguir em frente buscando seus valores e gostos pessoais, e assim o mundo será cada vez melhor
Mas dentre tantas reações ruins que já recebi, uma reação boa me marcou de uma forma especial. Foi uma mensagem de uma garota que escreveu para o blog:
“Imagine acordar amanhã e descobrir que ao invés de cagar cocô está cagando açaí? O cheiro seria bom. O gosto, também. E aí, será que você não comeria? Eu sim, tranquilamente. A questão é que todo mundo peida, caga e mija. Será que isso deveria ser um tabu tão grande? Eu achei interessantíssimo. O que realmente me chocou foi descobrir que também existem pessoas que julgam esse tipo de fetiche como errado, sujo e proibido. Errado é não ser feliz”.
9) E quando e por que surgiu a ideia do blog? Qual a importância de se ter um blog tão completo sobre o tema?
O blog é um verdadeiro ponto de encontro dessas pessoas tão carentes de conteúdo, informações, experiências sobre o tema e claro, um bom pornô.
Lá tem uma galeria de imagens, contos eróticos, matérias, vídeos, entrevistas, meus textos próprios, e também textos criados por autores parceiros que são o Renan Ryuji (30 anos, gay), o CP (25 hétero) e a Lily (19 anos, hétero).
Ou seja, um blog criado pra unir pessoas de todas as orientações sexuais, adeptos ao Fetiche Scat e afins, como também uni-los para debates com curiosos (do bem).
10) Você recebe muitos comentários e relatos no blog? Quantos acessos tem em média?
As pessoas são um tanto tímidas quanto interação (mesmo que em anônimo), o que é uma pena. Mas sou super aberto em receber e-mails com dúvidas, mesmo que em anônimo mesmo, por que entendo e sinto os mesmos medos e receios que essas pessoas sentem.
Mas fico feliz que o blog está informando uma galera. Em média cerca de 1.500 visualizações de páginas por dia, o que já é bastante pra esse tipo de
conteúdo.
11) Quais os cuidados que se deve fazer quem vai fazer e quem vai receber o cocô e o xixi? É necessário alguma mudança na alimentação ou coisa assim?
Um dos principais comentários é: “Ah, mas e os riscos? Eles existem!”.
Sim, existem. Como fumar, transar sem camisinha e beijar todo mundo no carnaval também.
Claro que eu não quero fazer um grau de comparação, mas quero mostrar que praticamente tudo na vida se corre riscos e muitas vezes por que agimos com o emocional, e não com o racional.
Os riscos existem e nós sabemos. O que vale é o bom senso e reconhecer o limite do seu corpo, indo por partes e vendo como o seu corpo reage. Assim como quem bebe uma taça de bebida alcoólica mesmo sabendo que esta pode lhe fazer mal.
É interessante também estar sempre visitando médicos regularmente, e claro, não praticar sem antes ter uma boa conversa, saber se a pessoa é saudável, confiável, fazer testes regulares de DST’s e usar camisinha (entre outros).
Lembre-se: Um praticante de Scat não necessariamente come cocô! Eu não faço e nem recomendo.
O Fetiche como todos os outros tem suas vertentes, até mesmo em sentir prazer com coisas mais leves, como gostar de ver ou fazer xixi no banho com a (o) parceira (o) ou até mesmo apenas ler contos e ver vídeos sobre. Já esta valendo.
Quanto mudanças na alimentação, vai de cada um…
Pra finalizar, digo que estou sempre disposto a conversar, e que pessoas que sempre gostaram e tiveram vergonha de assumir, ou que estejam curiosas sobre o tema, venham falar com a gente para tirar suas dúvidas e visitar o blog, compartilhar suas experiências e expor suas opiniões. Permita-se.
Descubra o que te faz bem, o que te faz feliz e o que te proporciona tesão. E se aceite como você é.
Contanto que não seja ilegal e que não faça algum mal para outros, seja feliz! Se conheça! Ninguém sai perdendo, muito pelo contrario, é mais uma ferramenta de prazer pra você.
Faça tudo sempre com bom senso, consenso e segurança.
Muito obrigado pela oportunidade a toda equipe da XPlastic, um abraço com carinho, Gustavo.
Onde encontrar o Gustavo Scat
O blog de Gustavo contém informações, curiosidades e textos autorais sobre os temas, além de uma galeria de imagens completa e contos eróticos de Scat.
Aos adeptos e curiosos do fetiche Scat, vale a pena dar uma passada por lá pra matar todas as suas duvidas e conhecer um pouco mais afundo sobre o mundo do Sexo com merda, mijo e peidos.
Endereço do blog: QueroScat.blogspot.com.br
Contato: [email protected]