Conheci o sexo em lugares públicos nos points de dogging sem carro na cidade de São Paulo; saiba onde onde casais transam por aí e alguns homens solteiros interagem com eles

Sempre encarei as histórias sobre casais que fazem dogging como uma realidade muito distante de mim e com aquele saudosismo de algo que larguei na adolescência, quando eu e meus namorados conseguimos ter moedas suficientes para ir num drive-in de dez reais ou num motel de 50. No Brasil o termo é sinônimo de um rolê de casais, conhecidos como a esposinha e o corno, que transam dentro de seus carros em lugares ermos da cidade com o objetivo de apenas se exibir ou chamar outros homens, os gaviões, para a farra. Outra parte considerável dos doggers são gays solteiros que curtem um lance rápido, e às vezes grupal, ao ar livre.

Aos 24 anos, sem carteira de motorista, morando com meu namorado que passou por uma cirurgia de fratura no tornozelo recentemente, — e mal consegue andar, muito menos dirigir — decidi me aventurar no dogging. Não foi uma ideia muito brilhante, assim como visitar lugares públicos onde rola sexo fácil, mas o resultado é um pequeno guia de como praticar dogging sem carro aqui na cidade amiga do pedestre (não?).

Antes de qualquer coisa, um aviso. Art. 233 – Praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público: pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. Avisados?

DOGGING SEM CARRO NO PARQUE DO IBIRAPUERA

O que pode ser melhor do que assistir ao Programa do Silvio Santos em uma noite fria de domingo? Sem dúvida é dar um passeio com seu namorado pelo Ibira e procurar locais sombrios no parque mais famoso da cidade. Primeiro tentamos uma rua estreita que fica entre uma parte do lago infestada de gansos barulhentos e a Escola Municipal de Astrofísica que, de acordo com os doggers que conheci na internet, era um dos pontos de ferveção do parque. Ali avistamos um grupo de dez adolescentes jogando bola e um casal sentado num banco. Ficamos mais à frente e em vinte minutos nada rolou. Hora de ir para o próximo point.

Quando dobramos a rua que fica depois da ponte do lago, um sujeito com roupa esportiva resolveu nos seguir. O local estava deserto e, por precaução, tateei a faca que estava na minha bolsa, afinal eu não tinha certeza se ele queria travessuras ou um B.O.. Por alguma razão ele desistiu quando chegamos perto do ponto 1, mas na sequência um cara de boné branco passou por nós com aquele olhar de desejo. Ele sumiu pela mata escura e continuamos adiante, em busca de um ponto onde pudéssemos observar antes de nos misturarmos.

Fomos ao ponto 3, famoso pelo público gay. O local, que tem certa iluminação, fica rente à grade de um dos estacionamentos do parque e alguns caras ficam encostados no carro só manjando o movimento. A maioria fica andando e se entreolhando e a variedade é grande: homens novos, velhos, esportistas, corredores e sarados de academia. Não vi interações, ninguém nos mediu e saímos de lá 100% incólumes.

Voltamos ao ponto 1, que parecia ser o mais movimentado. Pude ver com muito esforço o tipo de boné branco junto de duas pessoas, uma delas agachada e a outra encostada em uma árvore. Uma viatura da GCM passou veloz justo nessa hora, então fingimos ser frequentadores normais do parque e sentamos num banquinho em frente ao ponto 2, que na verdade é um bosque quase idêntico ao 1, apenas cortado por uma passagem de terra. Vi alguns homens sozinhos andando para lá e para cá, mas nada de ação.

DOGGING NO BOSQUE DO IBIRAPUERA

Finalmente entramos no bosque e o ambiente foi ficando muito escuro, de fato bem escondido da movimentação. Mal eu havia dado dez passos, cinco homens já estavam amontoados em volta da gente — e um deles já batia uma bronha arfante. Eu estava tão nervosa que não consegui olhar diretamente para ninguém, simplesmente saí e sentei em um banco na frente do bosque, mas aparentemente inconformado, um dos caras parou a cinco metros de nós e ficou esperando “sei lá o quê” sem nem disfarçar.

Era perto do horário de fechamento do parque quando decidi que aquele rolê não era para mim — pelo menos naquele dia.

Marcos, um gavião experiente que costuma se aventurar pelas ruas de Moema, teve uma impressão bem melhor que a minha sobre o dogging no Parque do Ibirapuera. Em uma segunda-feira depois do almoço ele saiu do trabalho de roupa social mesmo e foi dar uma volta:

— Me deparei com um casal que a esposa estava com um vestido curtinho e acabei percebendo que ela queria se exibir, mas o marido estava meio constrangido. Resolvi chegar bem próximo e a mulher sentou na minha frente, mostrou que estava sem calcinha, me olhou fixamente e beijou o marido. Deixei eles perceberem que gostei da brincadeira e mostrei discretamente que estava de pau duro. Com um olhar e um balançar de cabeça me aproximei e convidei-os para ir às árvores. Bastou uma pegada na minha pica para o casal me convidar a ir até o apartamento deles, onde o sexo rolou solto.

DOGGING SEM CARRO NO MIRANTE DA LAPA

Eu, aguardando um bom dogging cair do céu

Entre os moradores dos casarões próximos ao Mirante, cujo nome oficial é Praça Waldir Azevedo, a frase de ordem é “ninguém sabe, ninguém viu”. O movimento ali é grande e descarado, mas tem o consentimento velado da polícia, como conta Samara, frequentadora do point há sete anos:

— Já vi um PM fardado, abordando um carro de casal no Mirante, mas não era para enquadrar, entende? O PM entrou no carro deles e saiu dez minutos depois. Meu marido comentou que podia ter sido no nosso, porque ele era grandão, tinha jeito de pirocudo.

Fomos no Mirante em um dia de semana às dez horas da noite. Para quem não tem carro, uma boa opção é descer no metrô Vila Madalena e pegar um ônibus → https://goo.gl/Mll6y6. As ruas por ali são desertas e o índice de assaltos é grande. Na praça, encontramos homens fazendo um trottoir semelhante ao do Ibirapuera e próximo ao anfiteatro do Mirante havia uma fila de carros, alguns vazios, outros com um homem só. Aparentemente a encenação só precisava de um ou mais casais para acontecer.

MELHOR POINT DE DOGGING DE SÃO PAULO

Não tivemos que enfrentar a afobação que rolou no Parque, muito provavelmente porque ali os casais a pé costumam ser apenas jovens que frequentam a praça para “fumar um”. Lá no mirante, conversei com Fábio, que considera que o Mirante da Lapa é o melhor point de dogging de São Paulo, mas é muito importante manter a cabeça no lugar:

— Na maioria das vezes aqui um cara sozinho vai conseguir só ficar olhando os casais enquanto bate uma. E fim. Aí, quando o casal abre o vidro, é porque já está mirando em um cara específico, geralmente alguém que já viram antes. Aqui é muito complicado você conseguir interagir com um casal sem ser “do meio”, muita gente já vem de encontro marcado, eu mesmo já faturei uma esposinha que conheci pela internet. Ter a pica grande ajuda a criar uma boa fama, até porque a maioria pede para ver a “ferramenta” antes.

OUTROS POINTS DE DOGGING SEM CARRO 

Prédio da IBM — acesso pelo metrô Paraíso. O movimento acontece entre a lateral na Rua Tutóia e a Rua Achilles Masetti principalmente de madrugada. O local está manjado e vem sendo alvo de muitas rondas da PM →  https://goo.gl/Lxi0eS

Praça do Pôr do Sol — acesso pelo metrô Vila Madalena e uma agradável caminhada de vinte minutos. Não colhi nenhum depoimento sobre dogging na praça, mas existem muitos comentários na internet → https://goo.gl/4V04lf

Drive-ins em frente ao Campo de Marte — acesso pelo metrô Santana e mais de dez minutos de caminhada. O trunfo deste local é um drive-in na Avenida Santos Dumont que, se pedir com educação, aceita casais a pé nas cabines, onde rola a interação com outros casais e com os gaviões https://goo.gl/bHPRqb