Acompanhei e fotografei do começo ao fim a transa entre uma esposa chifradeira dominadora, seu marido corno manso e o primo dele. Confira essa fotonovela e conheça mais sobre o fetiche cuckold, que faz a cabeça dos brasileiros.
A tara por ser consensualmente chifrado pela namorada ou esposa não é o tipo de discurso sobre o sexo que os homens gostam de ostentar diante de outros homens. Apesar disso, nas conversas em casas de swing, nas imagens e textos de punheta que povoam tumblrs, blogs dedicados ao assunto e classificados de sites de relacionamento fica bem claro que o brasileiro ama ser corno manso. Ou, em inglês, cuckold, para quem prefere um termo que soe mais ameno.
A ideia de ver a mulher amada, que muitas vezes é a esposa dedicada e mãe, transando intensamente com outro homem é um fetiche que corrói os machões que habitam o interior de muitos pais de família por aí. Nelson Rodrigues que o diga.
Uma história real de corno manso e sua esposa
Resolvi descobrir quem são os casais que colocaram essa fantasia em prática. O que fazem? E o que deixam de fazer em relação aos próprios desejos? No meu caminho apareceu Venice, dominatrix que curte manter o marido sob rédea curta. Recentemente ela decidiu transformá-lo em um corno manso. Quando marquei de entrevistar o casal, não imaginei que iria conhecer uma história que foge tanto do enredo mais típico entre adeptos do cuckold.
Com a fala mansa e seu jeito comedido, mas já regado a cerveja, Venice me explicou que Casper é mantido em castidade há dois anos e meio. Diferentemente da maioria dos cornos mansos, ele nunca precisou convencê-la a transar com outros homens. Ela faz o que bem entende e ainda por cima controla toda a vida peniana do marido, mantendo-o trancado num cinto de castidade. Ele usa o acessório em casa, no metrô lotado de segunda a sexta e no churrascão aos finais de semana. Casper não pode penetrar sua própria esposa, nem pode atingir o orgasmo, salvo em raras ocasiões em que ela esteja de muito bom humor. E isso tudo, deixa os dois cheios de tesão.
Como contar que sou corno manso?
O casal vive sob o mesmo teto há nove anos, mas a realização dos fetiches só rolou numa conversa depois do sexto ano de casamento:
— Assim que nos assumimos como domme e submisso, tudo melhorou, não foi só o sexo. Nossos desentendimentos diminuíram muito e agora que o Casper é um homem casto não brigamos quase nunca. Ele está ficando cada vez mais manso.
Casper explica que sofre de verdade com toda essa situação, que é muito difícil para ele. Mas ao mesmo tempo adora:
— Sempre gostei da ideia de ser um submisso, mas nunca imaginei que chegaríamos nesse nível de praticar a castidade e o cuckold. A verdade é que eu fui superando meus limites e desejando cada vez mais satisfazer todos os desejos dela. O prazer da Venice é o ápice do meu próprio prazer.
Às vezes o comedor está mais perto do que se imagina
Se a história parasse por aí, o casal não abalaria nem um pouco minhas impressões cansadas sobre fetiches depois de tantas reportagens e documentários sobre sexo. O grande trunfo da vida insana que eles levam é o relacionamento paralelo que Venice mantém com o primo de seu marido. Sim, o primo!
Ela o apelidou de Slave Nets e é com ele quem transa na frente de Casper em média uma vez por semana. E apesar de haver outro comedor nessa relação, como manda o protocolo de qualquer situação cuckold, o papel do macho alfa foi completamente substituído pelo da submissão e engolido pela realização de todas as ideias cruéis que se passam pela cabeça de Venice. Nets achou tudo muito maluco no início, mas acabou se entregando:
— Não vou negar que sempre achei a Venice gata e que vivia de olho nos pés dela, mas o respeito pelo meu primo e pela minha esposa era bem maior, então eu ficava na minha. Mas acho que por instinto mesmo ela percebeu que eu curtia podolatria, até que um dia me fez uma proposta “indecente” que não tive como recusar. Quando eu soube do que se passava entre eles dois acabei topando, porque vi que era tudo do conhecimento do meu primo.
Corno manso e comedor em família
Além disso, a esposa do primo não sabe de nada e ainda mantém um bom relacionamento típico da família tradicional brasileira com todos eles. Ninguém no círculo social de Venice desconfia de que ela tranca as cuecas do marido, muito menos de que Slave Nets faz parte da vida íntima deles. Venice vem inclusive ensaiando controlar quando o primo pode transar com a esposa e quando pode gozar — igualzinho acontece com o Casper.
O affair é recente, mas a sintonia é grande; quem vê os três juntos não imagina que ele é um submisso iniciante — com as vantagens de também ser o “comedor” da relação, de poder “fumar um” e tirar sarro com a cara do primo nos intervalos disso tudo.
Um pouco descrente dessa história surreal, fui acompanhar o trio numa noite de safadezas em São Paulo. As cenas têm muito a dizer sobre essa relação de amor e putaria completamente fora do comum. Para conferir a fotonovela, clique na primeira foto e vá clicando na setinha lateral:
Manual do cuckold
Mesmo estando situado dentro de um universo de casais liberais e swinguers, o fetiche cuckold é um queridinho entre os adeptos das relações que envolvem dominação e submissão, podendo estar inserido no universo do BDSM. Nesses casos, a dor e a humilhação só intensificam o prazer em ser deixado de canto pela parceira, ou de ficar em casa enquanto ela sai à caça.
Elias, um BDSMer que namora Judith há sete meses, consegue explicar bem os meandros dessa prática:
— Há muito de dominação e submissão no cuckold, é uma brincadeira com a desigualdade da situação. Isso porque duas pessoas vão transar e outra não. Há um certo masoquismo emocional em agredir a masculinidade do corno, afinal crescemos ouvindo que as mulheres são a fonte da honra dos homens.
Casal procura comedor
Ele e sua parceira estão buscando por homens (e até mesmo mulheres) que topem transar com ela desde que aceitem a condição de deixá-lo completamente de lado:
— Fizemos anúncios em sites de relacionamento e estamos de olho em alguns spotted de lugares que frequentamos. Apesar de não nos importarmos com o gênero da pessoa que participará, ainda não apareceu muita gente interessada e quem apareceu tinha algumas características de homem abusador, machista, o que obviamente não é desejável.
Um especialista em chifres
Para entender melhor o que o corno manso médio têm na cabeça além de chifres, entrevistei Sheriff, dono do blog Brasil Manso. O site mistura fotos NSFW, contos eróticos e classificados sexuais com textos motivacionais para cornos e aprendizes. Ele costuma fazer pesquisas entre os leitores — tipo um Data Corno — e garante que 85% dos homens fantasiam em ver a companheira com outro.
“Todo corno que conheço é apaixonado. Se a esposa infiel deixá-lo seguro de seus sentimentos, ela o fará de gato e sapato”.
Ele e a esposa vivem um relacionamento liberal com outros homens e casais, mas a brincadeira predileta de Sheriff é ser chifrado:
— Me considero um corno muito bem-sucedido, após anos de uma luta muito difícil para trazer a minha esposa para o meio liberal. Ela foi criada com os avós no interior do Rio Grande do Sul, veio de uma criação rígida. Assim como eu sofri um dia, muitos homens penam para convencer suas amadas a realizarem esse fetiche. Basicamente ser corno exige paciência, é como reconquistar sua mulher novamente.
Como encontrar a hotwife perfeita?
Uma constante busca do corno manso é pela chifradeira perfeita. Ou seja, a companheira que goste de dar para outros caras e ao mesmo tempo tenha amor e carinho pelo corno manso. Entretanto, encontrar a parceira não é a maior dificuldade; o bicho pega mesmo quando surge a oportunidade em que tudo aquilo que o corno fantasiou durante anos pode se concretizar. Quando o comedor dos sonhos entra em ação, muitos cornos mansos virtuais se transformam em machões briguentos, fecham a cara e deixam a esposa ainda mais longe de aceitar seus desejos.
Então, como desapegar de anos e anos de educação monogâmica e patriarcal, que nos ensina que mulheres e, sobretudo, esposas, são propriedades do marido e que devem ser puras e dóceis? Uma possível resposta está nos conselhos de Sheriff:
— Antes de se lançar no mundo dos chifres, o casal deve conversar muito e entender os limites de segurança de cada um; esse diálogo também é importante depois das experiências sexuais. O ciúmes pode surgir em todas as relações, com mais ou menos frequência, com maior ou menor intensidade, mas a capacidade de conversa do casal pode afastar qualquer situação que supostamente traria insegurança a eles. Todo corno que conheço é apaixonado, e se a esposa infiel deixá-lo seguro de seus sentimentos, ela o fará de gato e sapato.
Atenção, mulheres liberais
Para as mulheres que estão a fim de ter prazer com outros caras enquanto o companheiro assiste, Sheriff recomenda que fiquem atentas a uma prática comum no meio liberal:
— Deixe claro quais são suas vontades e fantasias, porque muitos homens inserem a companheira no ménage com a promessa de liberação sexual, mas na verdade a usam para fazer sexo com outra, porque nesse meio o bi feminino é muito bem aceito, então a esposa vira uma moeda de troca. Aí quando ela manifesta interesse pelo ménage com um homem, o cara diz que não consegue abrir mão do ciúmes e deixa todas aquelas fantasias que prometeu cumprir só na imaginação. Isso cria uma situação desigual que vai desgastando o relacionamento.