Sue Nhamandu no Pornolândia

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Sue Nhamandu, filósofa, psicanalista e tarapeuta orgástica. No episódio 7 da sexta temporada de Pornolândia elas conversam sobre a pornografia alternativa, sexualidade feminina, sirirca molhada e, claro, orgasmos. Uma conversa orgástica que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

Nicole Puzzi e Sue Nhamandu sentadas em uma poltrona cor de rosa

Nicole Puzzi: A pornografia gay e lésbica produzida por essas subculturas, não para o público de massas, sempre esteve restrita a nichos muito pequenos. Mas, com o aumento da preocupação com a ética e produção de conteúdo adulto, essa situação começou a mudar. Para saber mais sobre este assunto, vamo falar com a filósofa e psicanalista Sue Nhamandu, uma mulher que também produz pornografia para todos os gêneros. Depois, a nossa versátil Xgirl encerra a noite com a gente.

A Carreira de Sue

Sue, me conta um pouco sobre a sua carreira com filosofia e psicanálise e como está relacionada à pornografia.

Sue Nhamandu: Eu comecei com a faculdade de filosofia e comecei a estudar feminismo, gênero e cheguei no pós-pornô, com o trabalho da Diana Torres. E foi a partir daí que eu comecei com os laboratórios de Siririca Molhada, então eu comecei a ensinar masturbação para as mulheres.

NP: O que? Ensinar, mas ensinar mesmo?

Sue Nhamandu: Ensinar mesmo.

Masturbação feminina

NP: Mas a mulher não sabe se masturbar?

SN: Não existe muito uma cultura da mulher poder se masturbar. O menino quando é jovem, todo mundo já incentiva ele a se masturbar e a menina não. “Tira a mãozinha daí”, “fecha a perninha”.

NP: “É feio”.

SN: “Isso é feio, não faz isso”. Então, muitas mulheres chegam à vida adulta sem familiaridade com o próprio corpo, sem segurança de se tocar. Eu tenho amigas que trabalham com temas de pornografia no teórico e nunca tocaram a própria vagina.

NP: Gente! E aí você começou com a Siririca Molhada, é isso?

SN: Foi. Eu comecei a fazer os labs de siririca por conta do trabalho da Diana Torres.

NP: Diana Torres?

SN: Diana Torres, la porno terrorista.

NP: La porno terrorista, gostei!

SN: Ela é formada em filologia hispânica, ela é poeta, mas ela tem um trabalho na pós-pornografia como performer. E ela é a primeira professora de siririca molhada que eu conheci.

Professora de Siririca molhada

Nicole Puzzi, apresentadora do Pornolândia

NP: Aí você resolveu trazer isso para o Brasil?

SN: Foi. Quando eu comecei a desenvolver os trabalhos de siririca molhada, eu senti uma necessidade de estudar psicanálise por conta do teor afetivo que os laboratórios levantavam. É um espaço de confiança para as mulheres, onde elas se sentem à vontade para abrir, para falar. Aí, acaba saindo nessas falas coisas muito delicadas. Eu costumo dizer que, infelizmente, eu nunca dei um lab de siririca molhada na minha vida, em que uma mulher não tivesse pelo menos uma mulher que não foi violentada.

NP: Explica um pouquinho melhor.

SN: No precesso de começar a falar sobre sua sexualidade, quanto mais à vontade as meninas vão se sentindo, eu costumo dar o lab com 3 a 10 meninas em média, sempre uma garota comenta que sofreu algum tipo de violência sexual e foi aquilo que levou ela até aquele lab.

NP: Ter o receio de fazer algum toque na vagina…

SN: Até um sentimento de culpa, em alguns casos. Aí, eu fui fazer psicanálise para dar suporte a essa demanda afetiva que os laboratórios traziam.

Altporn x mainstream

NP: Eu queria saber a diferença entre a abordagem do pornô mainstream – é assim mesmo que fala, né? Eu sou ruim no inglês – e a pornografia alternativa.

SN: Eu acho que uma das marcas mais fortes é esse personagem mulher que tem força, que tem desejo e autonomia sobre o próprio corpo. Então, eu acredito que o pornô não mainstream, o que ele tem de mais interessante, é a construção de escrituras sociais do corpo feminino, onde ele possa exercer força e poder. E do corpo masculino, onde ele pode não querer exercer força e poder.

Depoimento de Lívia Cheibub

Lívia Cheibub: Eu acho importante fazer pornografia hoje, porque é um ato de resistência e afirmação da sexualidade feminina não binária e LGBTQ. Agora, nós, mulheres, produtoras, artistas e diretoras, podemos criar um discurso contra-ideológico na pornografia. E isso é muito forte e transformador. Pornografia também é arte, também pode ser um meio para a gente falar abertamente de sexualidade e gênero de um modo não normativo. E a sexualidade e o desejo, é importante a gente falar isso, estão intimamente ligados ao senso de identidade de um indivíduo. E são de particular importância para nós mulheres dada a repressão histórica à nossa sexualidade, aos nossos corpos e do nosso desejo.

É só você lembrar que a masturbação feminina e o desejo lésbico, por exemplo, só foram tolerados como estímulo para o olhar masculino. Eu acho que o que torna o meu trabalho diferente da dita “pornografia tradicional” é a experimentação de linguagens do cinema, as representações do sexo no cinema e a diversidade de protagonistas. É claro que a manifestação do nosso prazer, do prazer feminino que é tão plural e tão diverso, que é isso que me motiva, pelas milhares de possibilidades, de temas que a gente pode explorar e produzir. Mesmo com todas as dificuldades de produção e divulgação, isso é o que mais me motiva.

Inspirações de Sue

Nicole Puzzi sentada na poltrona rosa

NP: Eu queria saber a sua fonte de inspiração para você criar as suas histórias.

SN: Quando eu estou trabalhando com pornografia, eu trabalho muito com o que eu quero ser e aquilo que eu tenho em mãos. Trabalho muito com o desejo de quem está comigo, quem está fazendo comigo, o que a pessoa quer fazer. E trabalho no meu, na criação do meu personagem, com as pessoas que eu queria ser assim. Então, vou tentar trazer assim para a construção do meu erotismo, o pornô que eu produzo, à maneira amadora, para a pessoa que está comigo coloque as suas vontades para fora. E um lugar onde eu me pareça mais com a mulher que eu quero ser.

As grávidas e a siririca

NP: Agora, só uma curiosidade sobre isso Lábios de Siririca Molhada. Gente, eu amei isso. Eu queria saber assim, mulher grávida participa?

SN: Mulher grávida pode participar e acho importantíssimo mulheres grávidas participarem. É muito interessante até para falar da pornografia. A gente vê no pornô mainstream a mulher grávida como um objeto do homem, o homem venceu ela está grávida! Então, tira um pouco essa mulher do lugar de passiva, né.

Outra coisa foi o meu próprio trabalho de parto. Eu fiquei 12 horas em trabalho de parto e eu lembrei que o cheiro do pai, porque a minha obstetra… Eu tive meu filho em uma casa de parto, trabalho de parto natural, sem anestesias, sem hormônio sintético. E a minha obstetra queria me dar ocitocina, porque eu já estava há 12 horas em trabalho de parto e acasa tem regras. Você pode ficar 60 horas em trabalho de parto se não tiver sofrimento fetal. Mas, como a casa era pelo SUS, eles têm algumas normas que elas precisam seguir. E ela queria me dar ocitocina sintética e eu pedi mais uma hora. E a minha parteira tinha um poder de escuta muito bom e ela me deu mais uma hora, ela respeitou o meu parto.

Aí, eu comecei a cheirar o sovaco e o saco do pai do Pablo, porque eu sabia que ali tinha muito ferormônio, ia aumentar a minha ocitocina, ia aumentar a minha lubrificação vaginal, ia aumentar a largura do meu quadril e ia acelerar aquele processo de parto que estava estancado nos sete dedos. Em meia hora de sovaco, eu ganhei três dedos de dilatação e começou o meu trabalho de parto.

NP: Gente, eu não tinha nenhum homem ali para cheirar.

Parto orgástico

SN: Mas, hoje, tem muito parto orgástico…

NP: O que? Parto com orgasmo?

SN: Parto com orgasmo.

NP: Na próxima encarnação eu vou ter um parto orgástico. Nessa não dá mais. Agora, eu queria que você me passasse como as pessoas podem te encontrar, se você tem algum projeto para o futuro, o que você anda fazendo, porque você não para né, menina!

Projetos de Sue

Sue Nhamandu e Nicole Puzzi sentadas lado a lado

SN: É. Bom, eu estou nesse processo de terminar o mestrado, então estou entre Brasil-Toulouse, porque eu estou fazendo um mestrado duplo. Então, eu estou nesse processo de volta, mas eu tenho atendido esses labs agora em São Paulo, ao longo desse próximo semestre. Eu publico bastante informação no Canal do Bucétika do Youtube. Tem o pornoklastia WordPress, que é um blog que eu mantenho sempre atualizado com todos os textos que eu publico, mesmo os que estão nos livros tem gratuito lá para quem quiser. Os labs de siririca eu marco tanto para coletivo, quanto para individual. E as massagens orgásticas e as terapias também são coletivas e individuais pelo meu telefone que é (11)972270617. Mas também, se mandar mensagem no Bucétika ou no Pornoklastia eu recebo.

NP: Eu tenho certeza que o Bucétika vai ser muito procurado, viu.

SN: Ah, tomara!

NP: Adorei.

SN: Eu também!

NP: Bom, nós somos amigas, né. Gostei muito. Quem sabe eu faça ainda uma.. Ah, gostei do nome, Lábios de Siririca Molhada.

SN: É legal.

NP: Acho que eu vou fazer. E agora, você vai assistir a nossa Xgirl.

A nossa Xgirl

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