Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Duna Rodríguez, criadora do projeto Pornutopia. No episódio 23 da primeira temporada de Pornolândia elas conversam sobre a objetificação da mulher na pornografia, sobre o machismo e sobre o projeto que visa criticar e subverter o pornô. Uma conversa engajada que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Sabe aquele sorriso maravilhoso? É o sorriso dela, um sorriso delicioso. Ela é o máximo também, né. Eu acho que ela é a cara desse programa. Ela criou um projeto para subverter e criticar a pornografia. É um projeto… A gente vai conversar com ela daqui a pouco sobre a Pornutopia. Mas, antes, você vai ver a nossa pornográfica Xgirl. Depois a gente volta.
A nossa Xgirl
E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Patricia Kimberly, uma loira deliciosa que fez um ensaio sensual para lá de pornográfico!
Projeto Pornutopia
NP: De onde veio essa ideia do seu projeto Pornutopia? Você criou um projeto sobre pornografia para subverter a pornografia e criticar?
Duna Rodríguez: Tudo começou no meu projeto final de curso, projeto final do curso de produção multimídia no Instituto Europeu de Design. A gente tem que escolher um tema e, dentro deste tema, criar um produto. Eu escolhi a pornografia, porque é um tema muito polêmico até mesmo dentro do feminismo. Sou feminista há anos.
NP: Eu também sou feminista.
Duna Rodríguez: E a minha intenção era criar formas de mostrar que a pornografia não era feita para mulher. Essa foi a minha ideia inicial.
A pornografia não é feita para mulheres
NP: Pornografia não é feita para mulher?
DR: Não, não é feita para mulher. Você vê dentro da pornografia que até os enquadramentos cortam o rosto do homem para ficar só o corpo da mulher. Ela é feita como um objeto sexual para satisfazer a necessidade sexual daquele homem que está lá que, na verdade, é um pretexto para que o espectador se coloque naquele lugar. Então, não tem as expressões de prazer dele, é muito difícil, é muito raro. Isso a pornografia mais tradicional.
Preconceitos
NP: Eu sei que você sempre lidou com preconceitos, travas no seu trabalho e na sua vida. Claro, você é feminista, claro que vai lidar com preconceito.
DR: Sim. Eu lido com o preconceito desde sempre por ter ascendência negra e ascendência indígena, por não usar o cabelo liso, por ter tatuagem, por não ter o corpo padrão. Eu sou magra, mas tenho umas sobrinhas aqui, não tenho o peito enorme e tal, não sou padrão. Mesmo na minha página no Facebook ou no meu site, eu recebi críticas, mas não críticas tão pesadas quanto se eu fosse gorda, se eu fosse transexual, se eu fosse negra. Assim seria muito mais pesado. Talvez eu não tivesse chegado até aqui para fazer esse projeto, teria desistido antes.
Sexo é sobre poder
NP: Todo na vida é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre poder, né?
DR: Sim. Você vê que a própria publicidade é uma indústria que se auto-alimenta. Ela venda sexo e ela mesma gera o desejo de se comprar sexo. Você não compra um carro. Você compra um carro que vai arranjar sexo com aquela mulher. Você compra uma cerveja, porque tem as mulheres em torno. Então, a indústria vende o sexo para você comprar sexo. Você compra sexo, você quer poder para conseguir o sexo e o sexo você quer para conseguir poder. É um ciclo.
Pornutopia e as faces da pornografia
NP: É um ciclo. E qual você acha que é o pior lado da pornografia? E você acha que a pornografia ajuda as pessoas de alguma maneira?
DR: Eu acho que o pior lado da pornografia é a objetificação. Você é um corpo, você não é um ser humano. Você está lá, mas não está se expondo como pessoa, está apenas expondo o seu corpo. Esse é um dos principais lados da pornografia. Essa objetificação você vê, principalmente, com as mulheres, o que causa muita misoginia, muito machismo. Você vê que a mulher que fez pornochanchada ou que faz pornografia é vista e é julgada, não tanto quanto o homem.
NP: Não, o homem parece que é privilegiado, porque trabalhou com a Nicole Puzzi, trabalhou com a Helena Ramos na pornochanchada. Agora, estou falando sobre pornografia e estou aqui com os meus pernões. Olha aqui o meu pernão. Gente, e daí? O problema é meu, quero mostrar a minha perna, posso mostrar. Se eu não pudesse, eu não mostrava. E estou feliz.
DR: Isso também tem a ver com o meu projeto. O Pornutopia é a minha utopia não só na pornografia, mas também como sociedade. Você poder mostrar as suas pernas, eu poder mostrar o meu corpo independente de quem somos, sem sermos julgados.
Nua no site do Pornutopia
NP: Você aparece nua no seu site. Como foi essa experiência de mostrar o seu corpo para atingir os seus objetivos? Você atingiu o seu objetivo?
DR: Ainda não, mas estamos atingindo, né. O projeto é a campanha para eu poder viabilizar, com financiamento coletivo, o meu filme, o filme coletivo. Eu apareci nua nestas fotos, essas fotos são do meu corpo mais por uma questão de tempo. Eu queria já colocar no ar e não tinha como, não tinha fotos. Eu falei, estou aqui, por que não? Coloquei e a experiência é bem interessante. Recebi críticas falando que eu sou “uma vadiazinha querendo aparecer”. Mas, muita gente veio me elogiar, veio me agradecer e veio me perguntar como é que fazia para conseguir tirar fotos, não só para o meu projeto, mas para si mesma. Esse empoderamento que eu busco. Esse meu projeto é o caminho de empoderamento, não só meu, mas tentar ajudar outras pessoas. Essa é a ideia. Mas, isso é um começo. Eu não sou 100% liberada sexualmente, nenhuma mulher consegue ser.
NP: Muito difícil ser 100% liberada sexualmente. Eu costumo dizer que sou morna na cama. Obrigada! Agora, eu com as minhas perninhas, vou deixar vocês com as pernas mais lindas do que a minha! As pernas da Sweetie Bird se lambuzando!
Cozinha ao Ponto
E este episódio termina com a receita de Suco detox, preparado pela deliciosa tatuada Sweetie Bird!
