Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Paulo Sérgio do Carmo, escritor. No episódio 21 da sexta temporada de Pornolândia elas conversam sobre a sexualidade indígena, prostituição, colonizadores e colonizados e sobre homossexualidade nas Grandes Navegações. Uma conversa esclarecedora que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Desde a época das caravelas, passando pelos índios, pelos escravos e pela declaração de independência, o sexo sempre esteve presente na vida do brasileiro. Mas, ninguém aprende isto na escola. E para corrigir este erro histórico, vamos conversar com o sociólogo e filósofo Paulo Sérgio do Carmo, que vai falar sobre os prazeres e pecados do sexo na história do Brasil. E a nossa brasileiríssima Xgirl termina a noite exuberante!
Paulo Sérgio fala sobre o sexo durante as Grandes Navegações
Vamos começar do começo! Como era o sexo no navio? Nos navios da Europa para cá?
Paulo Sérgio do Carmo: Já na primeira linha do meu livro eu trato desta questão. Como alguém que já me leu o meu livro e diz que ficou chocado na primeira linha que já tem uma cena forte de sexo. É a homossexualidade dentro dos navios, porque vinham e acontecia de não ter nenhuma mulher. E a viagem durava 2 meses, 3 meses, a vida era monótona, Às vezes não. E acabava que eles tinham que praticar ato sexual entre os companheiros. Alguns homossexuais que já existiam em Lisboa preferiam estas viagens de navio justamente porque encontrariam outros homens para manter relações sexuais.
A sexualidade indígena
NP: Eu queria saber das tribos indígenas, a sexualidade destas tribos antes e durante a colonização. Eu queria que você falasse um pouco sobre isso.
Paulo Sérgio do Carmo: Também os registros históricos, logo à primeira vista, já descobre que existia homossexualidade entre os indígenas. O primeiro registro da Inquisição, que é em 1595, os relatos tocavam à respeito já da prática da homossexualidade em algumas tribos indígenas. Eram casos esparsos assim, não era assim. Tanto é que eu falo que eu ia tratar de sexualidade indígena e acabei tratando de sexualidades indígenas, no plural tal a complicação. O sexo é complexo em qualquer….
NP: Em qualquer época, e tem gente que achaque só agora tem homossexuais, né. Mas, é em qualquer época, qualquer momento, em qualquer local. Vamos falar sobre homossexuais, os homens, mas e as mulheres?
PS: Também tem registros de algumas índias, Gabriel Soares de Souza tratado sobre a descoberta do Brasil e coisas assim. Talvez em 1550 ele já fala de algumas índias que cortavam o cabelo bem curtinho, saíam para guerrear junto com outros índios. Aí, no caso, é minoria, mas haviam registros.
Paulo Sérgio fala sobre o sexo entre colonizadores e colonizados
NP: gente, que curioso! Eu queria saber também sobre o comportamento sexual do colonizador com indígena, e o colonizador com o escravo.
PS: Quando se fala em colonizador, já se pensa nos Bandeirantes. Eu dediquei um capítulo, porque eu fiquei encantado com a vida dos Bandeirantes. Em mil quinhentos e pouco, a Câmara Municipal de São Paulo já registrava os religiosos combatendo esta prática dos Bandeirantes de abusarem sexualmente das índias. Mas, a Câmara Municipal ficou do lado dos Bandeirantes dizendo que eles eram povos conquistadores e os índios e as índias ainda não tinham aceitado a religião cristã. Então, podiam ser utilizadas. Aos poucos, foram trocando os índios pelos africanos. Eu pudo perceber no meu livro que, em algumas fazendas, 90% eram escravos homens, só tinham 10% de mulheres. Então, tinha escravo que nunca manteve uma relação sexual ao longo da vida.
A prostituição no Brasil
NP: vamos falar sobre a prostituição na história do Brasil.
PS: Os primeiros registros são as índias, as primeiras a serem prostituídas. Era característico da tribo, o chefe da tribo oferecer a filha ao estrangeiro. Dava Status, eles se sentiam muito bem fazendo isso. Então, ao longo da história, chego até o século XIX, um antropólogo conta no séc. XIX que ele chega em uma tribo, primeira coisa: ou eles trocam a mulher por cachaça ou então os próprios índios oferecem em troco de qualquer outra coisa, qualquer bugiganga, qualquer badulaque que encantavam eles. Não havia o pudor da virgindade, isso é picaretes da tribo indígena. Mas, os brancos, os colonizadores se aproveitaram muito disso. Agora, as negras também foram contratadas, muitas vezes foram compradas para serem escravas. Quando o navio chegava no Rio de Janeiro, alguns cafetões ou cafetinas já procuravam a negra mais bela para levar para o bordel.
A Revolução Sexual
NP: E a Revolução Sexual?
PS: A Revolução Sexual, na década de 1960, ouvia falar na Europa, aqui no Brasil muito pouco. Depois saiu um livro sobre a geração que viveu a década de 60/70. Esse livro, agora não me lembro o nome, entrevistava algumas pessoas. Aí eu pensei, poxa, nos Estados Unidos tem tanto documento sobre tudo, o Brasil precisa ter algum registro da Revolução Sexual, a fraqueza da Revolução sexual, mas que tenha depoimento de algumas pessoas. E nesse livro tem lá, você percebe que a Revolução Sexual foi tênue, foi fraca e era praticada mais assim: primeiro as notícias que vinham de fora, depois eram os setores estudantis das universidades, jovens de classe média, média alta. Então, eles praticavam certa liberdade sexual, mas foi muito fraca a nossa Revolução.
Agora, a partir dos anos 80, quando as pessoas começam a se abrirem mais veio a AIDS que é um banho de água fria, que faz com que a sociedade fique mais conservadora, moralista demais. E, de novo, nós estamos vivendo uma novidade, eu coloco que estamos vivendo uma nova Revolução Sexual talvez muito mais radical e complexa. E agora sim, é um desdobramento, um resquício daquele início de revolução dos anos 60. Hoje as pessoas tem toda a liberdade. Quando eu digo que os setores conservadores estão agindo contra as liberdades sexuais, eu coloco como reagindo. Agindo menos e reagindo, porque esta revolução é uma onda, é uma vaga que vai passar por cima dos setores moralistas. Ninguém consegue segurar esta revolução.
O processo de pesquisa de Paulo Sérgio
NP: Professor, como é o seu processo de pesquisa de escrita? Como é que você trabalha nisso?
PS: Comecei muito rapidamente estudando Gilberto Freire “Casa Grande e Senzala”, mas sobre trabalho escravo. E o livro do freire está abarrotado de temas sobre sexualidade. E eu comecei a perceber que pouca gente havia estudado à respeito deste tema instigante assim e que tivesse liberdade. Eu pego 500 anos. Se fosse uma tese de mestrado ou doutorado, eu teria que me fixar em um único tema. A minha questão, o meu método de trabalho, é abordar a sexualidade a partir dos indivíduos, das pessoas, com sua concretude na cama, no prazer e menos em abstrações psicológicas, sociológicas e coisas assim. Não que isso seja errado, mas pegar o dia a dia das pessoas. É a mesma coisa dizer assim, ao tratar de uma guerra falar mais dos soldados do que da cúpula dos oficiais.
Encontre Paulo Sérgio
NP: Professor, como que as pessoas fazem para entrar em contato com o senhor e para adquirir o seu livro?
PS: O meu livro, essa editora distribui bem, a editora Senac Sesc. E tem na estante virtual, tem no Kindle, na Amazon, tem nas livrarias. E pela internet logo a pessoa vai ver que tem um distribuidor, porque parece que está bem divulgado, bem distribuído.
NP: Olha, agradeço muito a sua presença.
PS: Eu também agradeço e eu como disse em outra entrevista, o ato de escrever é muito solitário. Eu tive uma solidão danada, e conversar sobre isso depois do livro pronto me deixa muito feliz. E o tema sexo é instigante. A minha ideia era escrever um livro de mais prazer e menos pecado, mas também o pecado impera. Mas, espero que ele contribua para essa nova Revolução Sexual que estamos vivendo aí.
NP: Eu vou devorar o seu livro! Eu achei muito, muito bom!
PS: Eu agradeço.
NP: Obrigada, Professor. E agora nós vamos para a nossa Xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Bruna in Reverse, uma ruiva de de corpo tatuado que ficou nua em um ensaio sensual delicioso!