Jorge Leite Jr. no Pornolândia

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Jorge Leite Jr., escritor. No episódio 6 da primeira temporada de Pornolândia elas conversam sobre pornografia, gênero e sexualidade. Uma conversa deliciosa que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

Nicole Puzzi entrevista Jorge Leite Jr.

Nicole Puzzi: Hoje nós estamos assim bem intelectuais. Nós vamos conversar com um professor de sociologia da UFsCar, Jorge Leite Jr. Ele é sociólogo, ele é professor, ele é maravilhoso. E ele vai contar para a gente essa loucura que as pessoas tem por sexo anal. Ele vai explicar toda esta loucura de uma maneira brilhante, eu tenho certeza. Mas, antes, vocês vão se deliciar com uma xgirl.

A nossa Xgirl

Xgirl Jully DeLarge

E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Jully DeLarge, uma morena tatuada pornográfica e deliciosa!

Jorge Leite Jr. explica o show de horrores sexual

NP: O sexo não convencional, né, é sempre tratado como uma coisa horrorosa. Todo mundo faz, mas todo mundo diz que é uma coisa horrorosa, que é um show de horrores. Por que você acha que o sexo é tratado desta forma? Por que as pessoas pensam assim?

Jorge Leite: Sim, a pornografia não é uma instituição sem fins lucrativos, é exatamente o contrário. Quando ela surge, surge junto com a cultura de massas e a cultura do entretenimento. Ela surge junto com o que, no século XIX, era chamado de Freaky Shows, shows de aberrações humana.

NP: Ah, tá!

Jorge Leite: O homem Elefante, a mulher barbada, etc. A pornografia como um negócio surge neste meio. E ela vai tratar especificamente, ela vai aproveitar este filão de mostrar coisas que teoricamente ninguém via ou que ninguém conhecia. Da mesma maneira que num circo você ia ver a mulher barbada, na pornografia você ia ver um sexo teoricamente diferente, dito bizarro, aquilo que era convencional e não se fazia em casa.

A risada e o sexo

NP: Por que as pessoas dão risada de sexo?

Jorge Leite: Primeiro, porque o discurso da ciência é sempre um discurso da seriedade. Quando se fala de de sexo, é sempre aquela ideia de que sexo é uma coisa muito séria, esse é um assunto sério. Cuidado, ou você pode ficar doente, contrair alguma IST ou correr o risco de uma gravidez indesejada. Muito das produções sobre sexo, o foco não são os perigos do sexo, as ISTs ou uma gravidez indesejada, é justamente o prazer. É pensar em sexo como brincadeira, como diversão, como lazer.

Mas, eu penso que estas pessoas que têm esta reação de quando veem determinados filmes, ouvem determinadas músicas, entram em contato com determinadas obras e têm aquela risadinha, eu diria que esta risdadinha aí está mais para uma defesa. Tem um filósofo francês da primeira metade do século, chamado George Bataille, ele dizia “se você ri, você está com medo”.

Jorle Leite Jr. explica a diferença entre pornografia e erotismo

Nicole Puzzi, apresentadora do Pornolandia

NP: Eu não estou com medo não, mas eu gostei. Agora, você falou em pornografia. Tem o erotismo. Erotismo parece um termo mais chique. Qual a diferença?

JL: Comumente, na nossa cultura, as pessoas separam a pornografia e o erotismo ou arte erótica, vamos dizer assim. Eu diria que estes dois conceitos não são obras em si, são formas de classificação. Determinadas obras você classifica como pornografia ou como erotismo. E eu diria que a diferença é a legitimidade social que estas obras têm para quem classifica. Por exemplo, se determinada produção, um filme ou uma música, vai a favor dos valores morais, religiosos, éticos, estéticos, é fundamental, associados à sexualidade, se aquilo está de acordo com esses valores, normalmente o termo que as pessoas usam para classificar a obra é erotismo. Quando ela vai contra estes valores, a pessoa classifica como pornografia.

A busca por travestis e a sociedade brasileira

NP: Agora, eu quero te fazer uma outra pergunta. Um amigo meu me disse que a busca que mais se realiza na internet é a busca pelo termo travesti. Por que esta fixação do brasileiro? A gente percebe que os homens gostam muito de travesti. Por que?

JL: Além de elas evocarem um histórico deste ser transgressivo, acredito eu que elas ainda tenham essa questão de transgressão, de ser uma mulher com pênis, ou o que é na cabeça do senso comum, o que é esta pessoa. Mas, eu acredito também que elas evocam, elas deixam claro o quanto o machismo no Brasil ainda vai muito bem obrigado e é extremamente hipócrita. Ao mesmo tempo que uma das palavras mais procuradas na internet é travesti, elas continuam sendo violentadas e assassinadas cotidianamente nas nossas ruas.

Sexo anal e a visão de Jorge Leite Jr.

Jorge Leite Jr.

NP: E falando em sexo anal, tem gente que gosta, tem gente que não gosta. Tem gente que gosta muito, mas diz que não gosta. Como você vê isso?

JL: Essa noção de que se for uma prática heterossexual, achar que sexo é pênis e vagina, isso ainda é intimamente relacionado à ideia de reprodução. E o sexo anal é o sexo que visa unicamente o prazer. É distinto de qualquer lógica reprodutiva.

NP: Olha, professor Jorge, muito obrigada por sua presença aqui.

JL: Eu que agradeço, Nicole!

NP: Vu assinar depois meu livro para você!

JL: Obrigado!

NP: E agora nós vamos com a Sweetie Bird para mais um lanchinho delicioso!

Cozinha ao Ponto

E este episódio termina com a receita de Dadinhos de Tapioca, preparado pela deliciosa tatuada Sweetie Bird!