Índio no Pornolândia
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e diretor e ator Índio para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Índio, diretor de produção de pornochanchadas. No episódio 7 da segunda temporada de Pornolândia eles conversam sobre a Rua do Triunfo, sobre a pornochanchada e sobre a invasão do sexo explícito no cinema nacional. Uma conversa nostalgica que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay

Nicole Puzzi e Índio
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e diretor e ator Índio para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

Nicole Puzzi: Eu confesso que estou emocionada! Emocionada, porque eu vou conversar com uma pessoa que eu gosto, e gosto há muito tempo. Ele é uma figura fantástica da Pornochanchada! Ele trabalhou atrás das câmeras e na frente das câmeras também em muitos filmes que todos nós gostamos, todos nós adoramos. Ele é uma pessoa querida por todo mundo da Pornochanchada, todo mundo que conhece ele se apaixona, ele é um amor de pessoa. Vocês vão conhecer esta pessoa simpaticíssima, esse cara bom caráter, boa pessoa, boa gente que é o Índio. Mas, Índio, primeiro nós vamos até a nossa Xgirl de hoje e voltamos para a gente conversar bastante!

A nossa Xgirl

Xgirl Luellen

E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Luellen, uma morena linda e gostosa que ficou nua em um ensaio sensual que revela sua mais natural forma de expressão: a nudez.

A Rua do Triunfo para Índio

NP: Índio, cara, eu nem acredito que eu estou aqui com você! Estou muito feliz mesmo. Vamos começar falando da Rua do Triunfo, o que significou para você?

Índio: Eu quero começar agradecendo você, Nicole, que é uma pessoa maravilhosa. Aceitei este convite por você, porque te adoro! E linda é você, minha linda! Bom, a Rua do Triunfo. Eu cheguei na Boca mais ou menos… É Boca, porque é boca, mas é Rua do Triunfo. Esse negócio aí de Boco, eu me sinto feliz em falar da Boca.

NP: Eu também!

Índio: Cheguei na Rua do Triunfo mais ou menos em 64. Foi no filme do Sganzerla “O Bandido da Luz Vermelha”.

NP: Nossa! Você trabalhou no filme como ator?

Índio: Como ator, como ator. Quer dizer, uma coisinha assim, mas estava lá.

Os filmes de Índio

NP: Estava lá! Quantos filmes mais ou menos? Você lembra? Porque eu não contei os meus.

Índio: Olha, eu não conto não, mas eu acredito que uns 80 mais ou menos. E você, Nicole, como eu, que convivemos muito naquela Boca, bons momentos, bons filmes. Hoje eu vejo falarem de filme nacional e eu não vejo nada de diferença.

NP: Não!

Índio: Aliás, na Boca teve filme que ganha desses de hoje de 10 a 0. Porque, não tinha só Pornochanchada, tinha coisa séria, tinha o bang-bang, tinha o policial.

NP: Tony Vieira.

Índio: Tinha o Tony Vieira, meu amigo.

NP: Você trabalhou direto com o Tony, né?

Índio: O Tony era meu amigo já há muitos anos. Nós nos conhecemos no canal 9 e ele foi fazer um filme com o Mazzaropi, com o qual eu também trabalhei como ator. E daí o canal já estava indo á falência, ele acabou indo parar lá na Rua do Triunfo através de uma cara, que eu não sei se você conheceu, que era um bom técnico, bom diretor. Eduardo Freud, lembra do Freud?

NP: Sei, nossa! Eu lembro do Freud, magina!

A Boca está acabando

Nicole Puzzi, entrevistadora do Pornolândia
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e diretor e ator Índio para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

Índio: Uma pessoa maravilhosa. E, infelizmente, tudo foi acabando, a Boca foi acabando, as pessoas foram sumindo, muitos morreram e os que não morreram estão para morrer.

NP: É, a Boca está acabando mesmo.

Índio: Está acabando.

NP: Gente, tem que valorizar muito as pessoas da Boca, porque daqui a pouco vocês vão fazer homenagens póstumas. Aí, vão se fuder fazer homenagem póstuma da gente. Tem que valorizar agora, né!

Índio: Com certeza! E, às vezes… eu sou falador, você sabe.

NP: Pode falar!

Índio: E eu fico muito louco, porque o nosso cinema era cinema. Chamava-se cinema nacional.

Os filmes hoje

NP: E hoje, os filmes de hoje, sem desmerecer, são cheios de tecnologia, baseados em uma proposta americana de tecnologia. Mas, a gente está vendo que muitos estão copiando a Pornochanchada também.

Índio: Olha, eu acho que já estão copiando faz tempo em tudo, sabe.

NP: Verdade!

Índio: Em tudo, no geral. É pornô, isso é pornô, tá de pornô para tudo quanto é lado. É em teatro, em televisão, é circo, em tudo lugar é pornô. E antes nós éramos classificados como Pornochanchada, coisas imorais e eu não achava nada imoral. Aliás, eu não acho nada imoral, o imoral depende da mente de cada um.

NP: A mente que julga, né. A mente que julga é uma mente imoral.

Índio: Exatamente.

As marcas da Pornochanchada

NP: A gente fez o que quis. E quem te marcou mais na época da Pornochanchada?

Índio: Ah, foram várias. Eu gostava de todo mundo! Trabalhei com o Tony Vieira, como ator com quase todos, David Cardoso… O Tony Vieira era uma pessoa que, se tinha filme do Tony Vieira, eu estava lá. Então, a nossa Boca, como você sabe, era uma família, as pessoas se uniam, se davam. Ninguém tinha inveja de ninguém, se você estava fazendo um trabalho, que maravilha, né! Não tinha essa coisa de querer podar ninguém.

Índio pro trás das câmeras

NP: E como é que funcionava o seu trabalho atrás das câmeras? O que você fazia atrás das câmeras? Você fez muita produção, né?

Índio: Olha, eu fiz cinema, porque eu amo cinema. Eu fiz tudo! Fui assistente de câmera, eu puxei cabo, eu fui doas efeitos especiais, inclusive os efeitos especiais do “Beijo da mulher aranha”.

NP: Foi você que fez?

Índio: Fui eu que fiz. Então, fiz produções, mas eu nunca gostei, como te falei, que me chamassem de diretor de produção. Eu sei que o diretor de produção é uma coisa a parte, é aqueles caras que elaboram tudo. Você fala assim “Índio, vamos fazer um filme, o que é que precisa? Precisa disso e disso. Qual a grana que tem? Isso. Dá pra fazer e é isso e acabou”. E vai sair o filme.

O Índio é índio?

Índio, diretor de produção da Pornochanchada
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e diretor e ator Índio para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

NP: E agora, você é índio mesmo? Sua família descende de índios, como é que é?

Índio: Descende, descende. Eu sou neto de índio e…

NP: Índio de que tribo, você sabe?

Índio: Olha, a minha família fala que é dos Carajás. Os Carajás saíram de Goiás, foram descendo, foram parar na divisa de Minas com a Bahia, aquela coisa toda. Na verdade, eu só sei que eu nasci.

NP: Mas, você parece mais índio americano.

Índio: Eu fiz muitos comerciais como índio americano.

Sexo explícito no cinema nacional

NP: Quando a Pornochanchada começou a decair, aí entrou o sexo explícito. Como é que ficou a sua carreira?

Índio: Nicole, o sexo explícito, eu não condeno ninguém, acho que trabalho é trabalho. E você sabe que o sexo explícito veio depois do filme “O Império dos sentidos”.

NP: O Império dos Sentidos!

Índio: Foi o que incentivou outros a ir.

Incentivo

NP: E “Último tanque em Paris” também incentivou.

Índio: Embora, você sabe disso, que na Europa já se fazia filmes de sexo explícito há muitos anos. E eu não ignoro ninguém que fez, não. Acho legal. Precisamos sobreviver, tem que comer, tem que beber, tem que ter uma cama para dormir. E se não fizer nada… te que fazer alguma coisa.

NP: Não, verdade. Mas, os filmes de sexo explícito, esses dias a gente comentou sobre isso, é que o sexo explícito, assim que terminou a Pornochanchada, tinha uma história, tinha toda uma coisa que acontecia, tinha drama, não sei o quê e depois o sexo explícito. Hoje, os filmes são mais explícitos, vamos dizer assim.

Índio: Em outras palavras: não têm nada, só tem trepação mesmo.

NP: É o que as pessoas querem, é o que as pessoas compram e compram muito.

Índio: E na verdade, eu acho muito bonito uma mulher nua, um nu artístico. Agora, tem uns nus que não dá. Mas, a mulher nua é uma coisa lida e maravilhosa. Eu não sei quem é que não gosta! Eu adoro ver uma mulher, eu acho uma obra de arte! Mas, aquele nu decente, uma mulher tomando um banho numa cascata, aquela água caindo, aquela silhueta… é maravilhoso! Agora voltando, vamos falar do antigo. O único prêmio importante que nós temos no cinema nacional, o filme é da Boca! Do Massaini!

NP: O Massaini sempre foi da Boca.

Índio: Ele pegou Palma de Ouros, “O pagador de promessas”. E como é que vai falar mal de uma Boca? Eu acho, Nicole, não me lembro a data exata, mas foi de 80 para 90, nós produzimos 106 filmes na Boca. Então, dava emprego para todo mundo, todo mundo ficava feliz! O maquinista, o eletricista, o ator, a atriz, todo mundo trabalhava. Agora, hoje, eles pegam 12 milhões, 15 milhões e dão na mão de um cidadão sozinho, que até o faxineiro é deles.

NP: É verdade!

Índio: Então, pega esses 12 milhões divide entre cinco diretores da Boca e eles fazem com 2 milhões e meio um filme que talvez seja melhor do que muitos por aí.

Despedida

NP: Com certeza! Olha amor, eu adorei te receber aqui. Você não sabe como eu te gosto e te respeito! Eu te adoro, eu te respeito.

Índio: Muito obrigado, Nicole! Um prazer estar junto contigo e nos veremos…

NP: Nos veremos. E o pessoal do Canal Brasil vai assistir você em muitos e muitos filmes desses 80 que você fez!

Índio: Beijão!

NP: E agora nós vamos ver o que a Sweetie Bird está aprontando com a sua companheira lá na cozinha! Vai daí Sweetie.

Cozinha ao Ponto

E este episódio termina com a receita de cookie, preparado pelas deliciosas tatuadas Sweetie Bird e Grazzie!