Elisabete Oliveira no Pornolândia

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Elisabete Oliveira, doutora pela USP. No episódio 13 da quarta temporada de Pornolândia elas conversam sobre assexualidade, a construção social e descoberta da sexualidade. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

Nicole Puzzi ao lado de Elisabete Oliveira, doutora pela USP

Nicole Puzzi: Em um mundo onde o sexo ajuda a vender de brinquedos sexuais a remédios e cirurgias plásicas, ser assexual é uma heresia! E hoje, a Doutora Elisabete Oliveira, da USP, conta tudo sobre não gostar e nnao fazer sexo. Fechamos a noite com a nossa hipersessual xgirl.

O que é ser assexual?

Elisabete, meu amor! Você é uma pessoa que eu admiro tanto, tanto!Agora, eu quero que você fale o que é ser assexual.

Elisabete Oliveira: A admiração é mútua. Ser assexual significa que a pessoa não sente atração sexual por outras pessoas.

NP: E como assim? Não sente atração sexual, mas tudo isso é normal?

Elisabete Oliveira: Então, a gente tem uma construção de sexualidade, que é até histórica, né? Eu costumo dizer que o ser humano se define pela sexualidade.

NP: Exato!

EO: Ele se define pelo que a gente chama de libido, né, que é uma coisa vulcânica, incontrolável. Então, por mito tempo, sei lá, por séculos, se pensava que essa libido fosse inerente aos seres humanos e que todos deveriam sentir desejo e atração sexual pelas pessoas. Então, a partir de muito recentemente, no século 21, é que temos esse conceito e esse grupo que tem surgido para nos dizer que nem sempre todas as pessoas do mundo se sentem assim.

E fazem sexo?

Nicole Puzzi com vestido longo florido vermelho, cabelo com coque baixo e lateral.

NP: Elas não querem fazer sexo?

EO: Não sentem atração sexual por outras pessoas, o que não necessariamente significa que levam uma vida celibatária. Porque, quando falamos de assexualidade e celibato, são coisas diferente. Podem se interpor, mas são diferentes.

NP: O homem tem tração pela mulher, Vice versa o hétero. O bissexual tem atração sexual por ambos os sexos, o homossexual tem atração pelo mesmo sexo. O assexual então, não tem. Desculpe a minha ignorância neste assunto, mas ele namora?

EO: Apesar de não sentirem atração sexual, eles sentem atração amorosa. Então, existe por parte da maioria dos assexuais um desejo de uma formação de parceria romântica. Então, existe uma atração que não é sexual, mas é uma atração que pode ser intelectual, pode ser estética, ela pode ser de várias formas, que é o que leva a pessoa até a outra. Mas, a partir daí, não aflora o desejo de fazer sexo com aquela pessoa.

NP: Eu li em uma revista sobre a Lady Francisco. Aliás, Lady Francisco, um beijo, eu te amo e você sabe! Ela está seis/sete anos sem fazer sexo e ela continua assim uma pessoa maravilhosa, super alto astral, super alegre como sempre foi.

EO: Isso mostra que cada pessoa coloca a sua sexualidade em um nível de importância na vida. Não é importante para várias pessoas e para outras é extremamente importante. Mas nós vivemos em uma sociedade que exige isso. Exige que você seja sexual, que você esteja buscando por sexo, principalmente os homens, e aí existe uma diferença grande. Mas aí a gente percebe que é muito diferente o lugar que cada um coloca de importância a sexualidade.

Assexual x assexuado

NP: assexual e assexuado, nada a ver uma coisa com a outra?

EO: Costumo dizer que assexuado é um boneco, uma boneca que é assexuada e não tem genitais. Ou quando a gente fala de organismos unicelulares, como a ameba, que se reproduzem de forma assexuada, não precisa de outra ameba. Então, assexual é a palavra que a gente usa para definir a orientação dissexual de pessoas que não sentem atração sexual. Então, assim como falamos homossexual, bissexual, heterossexual, vai seguir no mesmo sufixo, assexual e não assexuado.

Quando nasce a sexualidade

NP: E a sexualidade surge quando? Na infância? Como é que é?

EO: Entre os meus entrevistados, eu entrevistei na minha pesquisa de doutorado 40 pessoas assexuais do Brasil todo. Então, as pessoas me deram seus depoimentos contando que, em geral, começam a perceber algo diferente em sua sexualidade a partir da puberdade, a partir da adolescência e da interação com os pares, né! São colegas de escola que sempre estiveram lá brincando e de repente chega a puberdade, aqueles amigos começam a se desinteressar por brinquedos e brincadeiras e começam a se interessar por relacionamentos amorosos e sexuais. Então, é nesse momento que eles percebem, de forma mais clara, que existe diferença, porque eles não sentem o mesmo interesse.

A Partir daí, os meninos me contavam, que havia um interesse muito grande dos colegas em pornografia. Então, levavam revistas pornográficas para a escola, para compartilhar, para ver com os amigos. Aí, esse entrevistados dizia “eu olhava tudo aquilo e não queria dizer nada, porque eu não vejo a pessoa como parte de corpos”. Então, falavam que o bumbum era interessante, o peito da outra era interessante e ele olhava para as pessoas como um todo. Não via como partes de um corpo. Para ele é difícil entender o que aquelas pessoas estavam sentindo.

A masturbação e assexualidade? Responde aí, Elisabete Oliveira

Nicole Puzzi entrevistando Elisabete Oliveira

NP: Eu queria saber sobre masturbação e assexualidade. Uma coisa está separada da outra?

EO: Certo! Estão separadas. A gente costuma definir assexualidade como orientação sexual, na qual as pessoas não sentem atração sexual por outras. A questão da masturbação não entra em contradição com o conceito de assexualidade. Isso porque nós costumamos ver a masturbação como uma prática que é infantil, imatura e preparatória para o sexo com o parceiro. Ou substitutiva, quando você não tem um parceiro aí você pratica a masturbação. Os assexuais não veem a masturbação desta forma. A Masturbação pode ser um fim em si mesma. Uma prática, por exemplo, mecânica, muitas vezes, desprovida de fantasia. Uma prática mecânica, porque não tem nada de errado com o corpo do assexual. Funciona da mesma forma, consegue responder a estímulos. A única coisa é que ele não compreende esses estímulos como uma abertura para buscar um parceiro.

NP: Você já presenciou algum casamento?

EO: Não, nunca. Inclusive é muito difícil. Para você ter uma ideia, das 40 pessoas que eu entrevistei identificadas por assexuais, mais de 80% não está em um relacionamento no momento.

Sites de Elisabete Oliveira

NP: Você tem um site de relacionamentos assexuais também?

EO: Eu fiz um blog, na verdade, na época, no começo da pesquisa, porque eu estava tendo muita dificuldade de achar assexuais dispostos a me dar entrevistas. Então, quando eu fiz o projeto, inclusive, eu prometi para a universidade que eu faria uma observação das comunidades existentes e, a partir daí, eu tentaria estabelecer uma descrição, quais eram os temas que eles estavam conversando, quais eram as dificuldades que eles tinham. Foi só o que eu prometi: observação das comunidades. E aí, posteriormente, a maior parte destes grupos estavam no Orkut e o Orkut acabou.

Aí eu falei “e agora, o que eu faço, como é que eu vou encontrar e como vou observar as comunidades?”. E aí, então, eu tive a ideia de começar um blog, para aí nesse blog, blog científico, né. A ideia era trazer resenhas, trabalhos que estavam sendo feitos nos Estados Unidos, Canadá e na Europa à respeito da sexualidade. E como eu tinha que ler sobre tudo isso, obviamente, por conta da pesquisas, eu já fazia uma resenha em português e trazia para o blog. A partir do momento que eu comecei a divulgar a pesquisa do blog e publicando as resenha, começaram a aparecer assexuais do brasil inteiro dispostos me dar entrevista.

Nicole Puzzi sentada em uma poltrona exibindo suas belas pernas

NP: Qual o nome do seu blog?

EO: Assexualidades. Esse blog, inclusive, foi criado como ferramenta de pesquisa. Então, quando eu terminei a pesquisa, eu parei de escrever neste blog. Eu tenho planos de criar um outro blog um outro espaço, onde eu possa estabelecer contato com assexuais. Mas, hoje em dia, no Facebook existem muito e muitos grupos e eu faço parte de praticamente todos.

NP: Ai, querida, amei te receber.

EO: Eu gostei muito de estar aqui, muito obriga da pela oportunidade.

NP: Eu que agradeço você ter vindo aqui.

EO: Porque esse tema não é muito conhecido e quanto mais pessoas conhecerem vai facilitar muito mais a vida dos assexuais, sem dúvidas.

NP: Muito obrigada, Elisabete, obrigadão mesmo! E agora, assexuais e sexuais, nós vamos ver a nossa lindíssima xgil. Você vai gostar!

A nossa Xgirl

Xgirl Bia Prado

E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Bia Prado, uma morena linda e gostosa, que ficou nua em um ensaio sensual cheio de aventura, ela é daquelas que você nunca sabe o que está por vir.