Edy Star no Pornolândia


Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Edy Star, um artista corajoso. No episódio 15 da quinta temporada de Pornolândia  eles conversam sobre preconceito, a relação de Edy com Raul Seixas e sobre os os projetos de Edy.  Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

À esquerda, Nicole Puzzi de vestido estampado preto e, à direita, Edy Star de camisa bege e colete azul

Nicole Puzzi: Ele nasceu em 1938. Ele conheceu Raul Seixas, nunca escondeu a sua sexualidade e participou ativamente dos movimentos culturais da década de 60. Hoje Edy Star vem brilhar com a gente. E aproveitando o brilho dessa grande estrela, fechamos a noite com a nossa xgirl.

Nasce uma estrela

Edy, você nasceu artista.

Edy Star: Ahn, não sei não. Não acredito nessas coisas. Essas frases feitas “eu nasci artista, ai quando eu chorei, eu chorei cantando”. Tudo mentira! Eu fui aos poucos me formando artista. Aos dez, doze anos aí eu já sabia que eu seria um artista.

NP: Foi quando você percebeu que seria um artista.

Edy Star: Foi aí que eu percebi que seria artista.

Edy e Raul Seixas

NP: Queria saber de Raul Seixas na sua vida.

ES: Raul eu conheci com 15 anos de idade. Morávamos praticamente na mesma rua, no bairro da Boa Viagem em Salvador. Eu morava ali. E ele com o Waldir Serrão, que está vivo, fundaram o Elvis Rock Fã clube. E aí, mostraram um monte de fotografias lá, fiz lá. Não estou documentando nada, já está tudo escrito, tudo já documentado. Aí no cine Roma. E, ficamos amigos.

Eu ia nos ensaios do Elvis fã clube, porque tinha uns ensaios que o Waldir inventava no cine Roma, e outros cinemas ali nas cidades mais perto, mais perto de Salvador, e nós fazíamos o nossos shows ali. E ainda não tinha Os Panteras, era o Raul que cantava, né. Eu me mudei dali, mudei para outro bairro, mas continuei frequentando. E tinha alguns ensaios que eram em frente a minha casa, porque a minha casa era uma das poucas que tinha vitrola.

Depois disso, nos encontramos de novo nos anos 60 e ele já tinha Os Panteras. Aí fomos trabalhar… ele já trabalhava na rádio Cultura da Bahia, um programa que tinha aos sábados, que era de auditório. O programa tinha diariamente, mas aos sábados que era feito no auditório. Chamava “só para mulheres”. E aí eu fui o cantor convidado do programa. E o Waldir… como eles estavam ali pelo conjunto, eles tinham que me acompanhar. Aí eles me acompanhavam.

Raul me odiava porque “acompanhante de viado”, não sei o quê. Porque eu botava para quebrar. Cantava la bamba, já chegava balançando os ombros, a plateia ia aos pítalos. Ai depois nos tornamos amigos e fomos amigos até a sua morte.

Nicole Puzzi abraçada a Edy Star

Descoberta da sexualidade

NP: Você fazia esses show, já entrava assim toda maravilhosa. E quando você descobriu o homossexualismo, porque não é fácil.  

ES: Ahhhh… aaahh… aos 13/14 anos eu já…

NP: Aos 13/14 anos já. Mas como você assumiu? Naquela época era muito difícil.

ES: Mas não assumia, não. Mas eu não era assumido não. Eu vim assumir no Rio de Janeiro. Porque aí nesse tempo, era muito difícil ser gay. Ser gay era apontado na rua. Não se tomava porrada, mas era apontado na rua. “VIADO”. Então, quando juntava um grupo, nao gosto da palavra gay não… vamos falar um grupo de bichas, de viado, a gente fazia o diabo. A gente dava pinta, a gente conversava, contava piada. Mas fora dali, junto do povo mesmo, a gente tentava manter uma certa aparência de macho.

O preconceito

NP: Você é mais patrulhado hoje do que nos anos 70?

ES: Muito mais, muito mais, querida. Hoje eu não posso…

NP: Sério?

ES: Eu acho… a.. a… a minha rebelião, meu assumir, uma coisa política. Mas hoje você não pode ser mais político. Tem gente que me liga na minha casa e fica meia hora no telefone me falando impropérios.

Europa

NP: E agora.. E Paris para você?

ES: Eu morei 25 anos em Madri.

NP: Em Madri.

ES: Em Madri. Desde 92 até 2013 eu morei em Madri. Vinha ao Brasil todo ano, né. Mas ai..

NP: Mas você tem cara de Paris.  

ES: Sim, querida. Mas, Madri foi meu grande primeiro amor. Você chega na Europa, desembarca em Madri e já toma aquela porrada “acorda, Alice, isso é Europa”. Aí você se apaixona por Madri. Eu adoro Barcelona, gosto das pessoas, Andaluzia toda, lá em cima, o pessoal da Galícia, de Santiago de Compostela. Mas ali de Madri, dá para você viajar pela Europa toda… Então, Paris eu ia assim “ai, hoje eu vou para Paris”, aí passava 15 dias em Paris. Gente, é uma cidade como qualquer outra, mas é Paris. É Paris. Você recebe aquela energia… VOCÊ ESTÁ EM PARIS. Não adianta, é Paris. Passar por aquelas ruas, adoro me perder pela cidade.

A família de Edy Star

NP: Pera ai, você tem filho?? Neto?

ES: Tenho. Eu tenho os dois: filho e filha. De mulheres diferentes.

NP: Mas então… Então você não é tão gay assim…

ES: Depois de tanta bacanal na minha casa, depois de tantas pessoas… fui monógamo também, né, com casos de 6 anos, 7 anos, 4 anos… sempre fui monógamo. Numa dessas coisas de circo, trabalhei uns anos no circo, tive duas mulheres.Tive outras mulheres, mas essa que foi para a cama e…

NP: E ficou grávida.

ES: Ai depois disso “Aí, tô grávida”, aí eu disse “tá bom”. Aí, a outra também, tudo bem. Eu só conheci meu filho quando ele tinha 18 anos, eu achei maravilhoso. E até hoje a nossa amizade é muito grande. Ele nao me trata como pai e não trato como filho. Acho maravilhoso, temos uma grande amizade, mas ele nem me chama de pai, me chama de Edy. Somos grandes amigos. Ele já está na terceira mulher… na terceira mulher e eu tenho um neto chamado Matheus.

Sonhos e projetos

NP: Eu quero  perguntar para você se ainda tem algum sonho que você quer realizar, um projeto, o que você tá fazendo no momento?

ES: Minha filha, o meu projeto era fazer pelo menos um show por mês. Isso que eu queria fazer. Você estava lá no lançamento do meu disco, né.

NP: Tava no lançamento do seu disco.

ES: Foi um show lindo que eu consegui levar até Odair José, que não vai no show de ninguém para cantar. Botei ele para cantar.

NP: É, eu fiquei encantada com o Odair.

ES: Eu vou tirar você desse lugar para poder cantar… Mas hoje, queria, o meu sonho é fazer um show por mês, remontar uma peça de teatro, quem sabe ainda ter um grande amor, o que eu não acredito mais.

NP: Ainda dá tempo!

ES: Não, na minha idade não. Na minha idade eu não estou afim de… mas, bom… amor. Eu não fui criado que ninguém me ame, quero que as pessoas me aturem. Basta me aturar…

NP: Tá bom.

ES: Ah, tá ótimo, pelo amor de deus. Vou fungar no cangote e dizer “gosto de você”, tá ótimo.  

Nicole Puzzi sentada ao lado de Edy Star

Encontre Edy Star

NP: Como é que a gente pode te encontrar?

ES: Para me encontrar?

NP: Para te contratar para shows, essas coisas.

ES: Ah, liga para mim, gente. Call me, la ra ra ra. Então, no 96733-35… como diria no meu tempo, meia mole, meia dura.

NP: Então é…

ES: É 96733-3595.

NP: E nas redes sociais?

ES: Edy Star Staredy no Face. Edy Star Staredy.

NP: Amor, eu amei.    

Mas eu nem falei de pornô

ES: Eu que amei ficar aqui com você! E conhecer esse pessoal divertido que te acompanha, que faz a sua equipe. É uma pena que o nome do programa é Pornolândia e a gente não fala nada de pornô.

NP: É só o nome.

ES: Eu não tirei a roupa, não mostrei minha perna, minha bunda, que merda.

NP: Mas se quisesse podia mostrar.

ES: Eu quero voltar e vou vir de biquíni de strass. Obrigadísima, vocês todos. Foi muito legal.

NP: E agora..

ES: E agora…

NP: a nossa…

ES: A nossa… voces vao ficar…

NP: isso.

ES: Não é isso? com a nossa…

NP: A nossa descompromissada…

ES: Descompromissadíssma…

NP: Xgirl.

Es: Xgirl.

A nossa Xgirl

Xgirl Alice Alcântara nua em uma pista de skate à noite


E o programa terminou com a maravilhosa xgirl Alice Alcântara, uma loira maloqueira, ficou nua em um ensaio sensual que revela os prazeres da rua.