Venha explorar os porões do jornalismo, em reportagens sobre fetiches inimagináveisA primeira coisa a dizer é que eu estou aqui para satisfazer um dos prazeres TOP 3 da minha vida: xeretar e experimentar o que é considerado sórdido. Mostrar para os leitores algumas das loucuras praticadas entre quatro paredes vai satisfazer outra fantasia que me persegue: a de desfazer algumas amarras e “pés atrás” que temos diante do inusitado. Um desejo da Xplastic absolutamente compartilhado comigo é o de investigar as batalhas travadas no limite do nosso corpo.
A Xplastic está possibilitando a existência de algo inédito no jornalismo brasileiro, um jornalismo sexual, libertário e, claro, alternativo. Planejei uma série de reportagens sobre fetiches que vão dizer mais sobre assuntos que poucos abordariam na sala de jantar. E onde podem ser colocados em prática, quanto custam, que tipo de preconceito os adeptos sofrem – e às vezes até que gosto têm. Não prometo experimentar sempre, mas quase sempre.
A meu ver, a experiência direta é a base de um jornalismo investigativo mais gostoso. Ela permite a observação de sutilezas que não podem ser captadas quando o repórter se coloca como um estrangeiro presenciando um freak show em um lugar exótico. Vale acrescentar que, excluindo a elite e os caretas, penso nas pessoas como meus pares, e é esse o olhar que dirijo a elas quando faço minhas matérias. As fantasias sexuais estranhas costumam esconder uma dimensão de grande semelhança com os desejos que habitam as pessoas “normais”.
Ainda neste mês estará no ar a primeira reportagem, sobre lugares de São Paulo e outras grandes cidades onde pode ser encontrado sexo fácil e anônimo (ou quase) entre homens (quase sempre) – e sem precisar gastar quase nada. Vou explorar alguns cinemões do centro, sex shops com gloryhole e entrevistar frequentadores de banheirões em parques, mercados ou shoppings, além das famigeradas saunas. Entre outros temas de matérias que serão publicadas nos próximos meses, estão alguns fetiches mais desconhecidos, como o dos devotees e pretenders, a vida dupla das crossdressers casadas com mulheres, os porões das comunidades de sexo no Facebook, o fetiche da dominação financeira e algumas coisas sobre BDSM, meu assunto predileto.
Por trás da investigação de todas essas matérias sobre sexo está uma forte crença na perversão da raça humana. Para falar de sexualidade convém citar Foucault, ou algum antopólogo da moda, mas prefiro citar uma frase que não faço a menor ideia de onde veio, mas seu sentido me atinge em cheio: “o grau de liberdade sexual de uma sociedade é sempre um medidor importante”. Alguém disse isso em um grupo feminista do qual faço parte, e percebi que a frase define bem o meu interesse obsessivo por sexualidade. Também dá para pensar na frase de uma professora da faculdade com quem tive um semestre inteiro sobre oficinas de prevenção da AIDS: “vocês estão aqui, porque gostam de foder. Ninguém estuda coisas chatas sobre sexo sem ser tarado. Eu adoro pau, não vivo sem pau e isso me trouxe até aqui”.
Além de ser uma jornalista que gosta de pau e inventa desculpas pra estudar sacanagem, eu também acredito na capacidade transformadora das coisas colaborativas – como orgias – e um jornalismo no qual o leitor pode meter o dedo na escolha dos temas. Será um prazer saber o que os leitores gostariam de ler e em que tipo de furadas vocês querem que eu me meta (juro que é sempre mais legal quando o jornalista se fode). Também juro que vou tentar diminuir a quantidade de trocadilhos por texto. Resumindo, serei toda ouvidos às sugestões. Para trocar uma ideia, vocês podem me adicionar no Facebook.
Nesses poucos anos de jornalismo, tentei algumas vezes emplacar essa visão de mundo em veículos que trabalhei. A coisa está tão limitada nas empresas, que chega ao cúmulo de um grande site de jornalismo de saúde me proibir de levar adiante uma pauta sobre parafilias. Tive que escutar algo como “você gosta dessas bizarrices, né? Mas a gente não gosta de falar sobre sexo, só quando tem a ver com saúde. E fetiche estranho não tem nada a ver com isso”. Proibir o discurso é uma das maneiras de perpetuar a patologização da sexualidade. Ainda bem que a polifonia é uma das qualidades daqui.
E eu sou sentimental. Por mais que o blasé seja mais limpinho, para mim não rola. Eu me envolvo, gosto da coisa com intimidade. Ainda estou falando de jornalismo, hehe. E um jornalismo pretensamente neutro, que não se posiciona, está fadado a ser dominado por Sheherazades cagando em rede nacional.
Beijos ansiosos!