MC Carol no Pornolândia

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista MC Carol, cantora. No episódio 19 da sexta temporada de Pornolândia elas conversam sobre a carreira da MC, feminismo e sobre preconceito. Uma conversa esclarecedora que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

MC Carol ao lado de Nicole Puzzi

Nicole Puzzi: Ela nasceu e cresceu na comunidade. E agora, com a sua música cheia de atitude, brilha no Brasil inteiro. Hoje vamos falar com a MC Carol, a mulher que desafia os padrões e se diverte como ninguém. E depois, ficamos com a sempre ousada Xgirl.

A MC Carol

Eu tenho uma curiosidade de saber como foi a sua infância e como você se transformou neste mulher famosa, poderosa, MC Carol.

MC Carol: Eu sou poderosa? Não sei.

NP: Claro que você é poderosa, meu amor. O que a gente lê sobre você é tudo muito maravilhoso.

MC Carol: Então, cara, eu era uma criança popular na escola, aquela criança que quer ir lá na frente falar, quer ser ouvida, quer ser vista.

NP: Discutir com a professora que eu sei.

MC Carol: Discutir com a professora.

NP: Inclusive sobre Pedro Alvares Cabral.

MC Carol: Exatamente, eu queria ser mais inteligente do que a professora. Não, mas isso aqui não é isso. E eu era colocada para fora ‘Caroline, se retire”. Era isso. Mas, é isso. Eu era uma criança já artista.

A carreira de MC Carol

Nicole Puzzi, apresentadora do Pornolândia

NP: E como é que aconteceu a sua carreira, a MC Carol? Como é que aconteceu?

MC Carol: Vinho.

NP: Como?

MC: Estava rolando uma festa na minha comunidade, aí um cara chamou três meninas para dançarem no palco. Eu tinha, sei lá, uns 15 anos. Eu falei ‘vou subir, vou subir”, estava doidona de vinho. Aí peguei e ganhei. O meu apelido de criança é Carol Bandida, né. Eu ganhei a parada de dança lá e aí a comunidade inteira gritou meu nome “bandida, bandida”. Cara, aquela sensação ali, cara. Porque, era isso, eu era popstar na escola. Uma coisa é na escola, na minha sala ali e tal. Outra coisa é a minha comunidade inteira gritando o meu nome. E aquela sensação de ser vista “caraca, estão olhando para mim, estão me vendo”.

Cara, eu falei, eu quero isso para minha vida inteira. Dali eu comecei a escrever música e etc. Aí eu fiz uma música por causa de um cara, porque ele ficava me falando que ia me largar de barriga. Largar de barriga é engravidar a mulher e largar a mulher. O cara ficava falando isso para mim na rua “vou e largar de barriga”. Meus amigos ficavam rindo. Eu falei, cara, vou chegar em casa, vou escrever uma parada para revidar e quando ele vier falar, eu vou revidar. Aí quando ele veio falar, eu cantei. Não era uma coisa pequena, era uma música imensa…

“Não adianta tu fugir, tu vai pagar pensão”

NP: Canta um trechinho.

MC: Ele falava “vou te largar de barriga, vou te largar de barriga”. Aí eu inventei: “te meto atrás das grades, eu destruo a sua vida se me largar de barriga, se me largar de barriga. Vou na Maria da Penha, vou no Batalhão. Não adianta tu fugir, tu vai pagar pensão”. Aí a comunidade toda se amarrou na música. Era uma época que não tinha toda essa tecnologia que tem hoje em dia, os telefones só telefonavam mesmo, tinham aquele gravadorzinho. As pessoas me paravam na rua para gravar neste gravador, sabe.

Aí chegou um dia que falaram “o pessoal da comunidade tal quer que você vá lá e cante”. Aí eu falei pô, mas eu nunca fui em um baile funk e tal, não sei o quê. Aí minhas amigas falaram “não, a gente vai com você, nada vai acontecer”. Cheguei lá, tomei um vinho para dar uma coragem. Subi no palco, minha filha, dancei, rebolei, cantei e não quis saber de nada. Três meses depois me chamaram para gravar o DVD do Furacão 2000. Aí gravei o DVD, o DVD saiu e já me chamaram para a televisão e foi uma loucura. Até hoje não sei como aconteceu isso.

O papel do funk para as comunidades

MC Carol sendo entrevistada por Nicole Puzzi

NP: Qual o papel do funk? O lado positivo além da diversão? Claro, que a diversão é positiva, mas qual o papel do funk para as comunidades?

MC: Eu acho que o funk é um grito, né. Eu acho que começou assim. É um grito, é um pedido de socorro, é para contar o que está acontecendo. O funk conta o que a gente passa lá dentro, o que a gente vive lá dentro.

A afronta de MC Carol

NP: Eu queria saber, a sua presença, a sua pessoa, o que mais incomoda nos outros? Nos outros e nas outras, né. O fato de você ser negra, o fato de você ser gorda, ou de você ser mulher, ou de fazer sucesso?

MC: Ih, é complicada esta pergunta! Eu acho que de fazer sucesso sendo eu.

NP: Sendo tudo, sendo você!

MC: Sendo tudo isso. É isso. Sendo mulher, negra, pobre, gorda, favelada, entendeu. Acho que é isso.

MC Carol ensina para os homens

NP: Eu queria perguntar para você também se você pudesse, se existisse um curso sobre o homem no século XXI e você fosse a instrutora, o que você ensinaria para os homens do século XXI?

MC: Eu ensinaria a eles que a gente é igual. A parada mais bizarra que eu vejo é que o homem se acha no direito de agredir a mulher, porque ele é homem. E sei, assim, as pessoas perguntam “ah, Carol, como você se descobriu feminista?”. Cara, eu nasci feminista, porque desde pequenininha, eu nunca aceitei.

Eu lembro que na época da escola, a quadra, só os meninos podiam usar a quadra. As meninas tinham um desenho de amarelinha no chão que a gente ficava pulando o recreio inteiro e os meninos com vários jogos na quadra e tal. Aí eu pedia para jogar e não. Mas, por quê? Porque você é menina. Eu ouvi esta frase a minha vida inteira, sabe. Tudo era não, mas eu perguntava por quê. Porque você é menina. De tudo isso que rola, acho que a parada mais bizarra é o homem se achar no direito de bater, né.

NP: Agora, vamos falar sobre sexo?

MC: Sim.

Sexo 9 vezes por dia

Nicole Puzzi sentada no chão e apoiada em um sofá verde

NP: Eu li em uma entrevista, curiosa entrevista, que você fala que você faz 9 vezes sexo por dia. É isso?

MC: Então, eu deixei escapar em um reality que eu fiz, aí eu comentei e tal. Mas, era uma fase em que eu estava casada. E uma fase que você está casada, tipo, o tempo está chuvoso, você fica dentro de casa, aí vai vai vai. Quando você foi ver já foi 9, 6, 7. Mas, agora estou solteira, estou tranquila, não estou mais 9 vezes por dia. Quem dera!

NP: Mas, você é uma pessoa que assumidamente ama sexo, né?

MC: Sim!

NP: Você se assume e eu acho legal, porque tem um pessoal que tem toda uma…

MC: Acho que todo mundo gosta, né?

NP: Todo mundo gosta, mas poucos admitem, né. Nem todo mundo admite.

MC: Ah, eu acho que é importante sabe. Ah, mas funk fala disso e fala daquilo. Beleza, mas eu acho importante a gente falar na música. Acho importante também para quem está ouvindo “pô, se ela está falando abertamente, eu também posso falar com as minhas amigas, com os meus parentes, falar mais sobre isso”. E é isso.

Encontre a MC Carol

Nicole Puzzi apresentadora do Pornolândia

NP: Meu amor, se eu quiser encontrar você, onde eu te acho? E eu quero saber dos teus planos para o futuro.

MC: Aonde você me acha?

NP: É, seu Instagram, suas redes sociais.

Projetos

MC: Ah, estou pensando que é na rua! Eu já ia falar, então lá no mototáxi, estou sempre lá com meus amigos. Meu Instagram é @mccaroldeniteroioficial. O meu twitter é @mccarol, página MC Carol. A gente está fazendo um álbum que está demorando bastante e vai demorar mais um pouquinho.

NP: Muita músicas! Feministas, informativas.

MC: Com certeza. Conteúdo sexual.

NP: Conteúdo sexual. É bom, né. Eu vou dar uma ouvidinha, tá?

MC: Tá bom!

NP: Amor, gostei muito de você. De verdade.

MC: Obrigada! Eu também gostei muito!

NP: E agora nós vamos para a nossa Xgirl.

A nossa Xgirl

Xgirl Nittie

E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Nittie, uma morena linda e artística que ficou nua em um ensaio sensual que tem uma composição completa e sublime sobre a nudez!