Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Imara Reis, atriz e diretor de teatro. No episódio 12 da quarta temporada de Pornolândia elas conversam sobre a carreira de Imara no cinema, sobre ser professora de teatro e sobre o nu em cena teatral. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Formada em letras e com uma intensa carreira no teatro e na tv. Vamos conversar com Imara Reis, que teve sua participação nos clássicos da pornochanchada. E fechamos a noite com a nossa xgirl maravilhosa, como sempre.
Demência
Imara Reis, eu sou a sua fã!
Imara reis: É recíproco, né!
NP: Você fez o filme que eu mais amei na minha vida! O filme “Demência”, do Carlão Reichenbach.
Imara Reis: É, é!
NP: Genial ele e genial o filme!
IR: Muito, muito inteligente! Mas tem uma história muito engraçada, por que, naquela época, as pessoas me enchiam a paciência, porque cada filme meu tinha uma cara. Aí, eu falei para o Carlão “vamos brincar com isso?”, ai ele falou “mas, como?”. Aí eu falei “tem uma personagem aqui que eu quero fazer, é uma cena que eu faço com uma cigana”, que não tem nada a ver com a Doris, é uma personagem completamente diferente.
NP: É que a tua personagem era a Doris, né?
IR: É, era a mulher do Ênio. Aí, falei “quero fazer aquela cigana da estrada”, aí ele falou “Então, vamos fazer!”. Era eu e a Alva Marta.
NP: Alva Marta. Linda, um amor de pessoa!
IR: A gente estava lá assim, aí do nada aparece um cachorro. Eu falei assim “Carlão, esses cachorros adoram roubar a cena, eles são desleais.”, aí ele disse “magina” aí eu”tem que parar esse cachorro, ele vai roubar a cena”. Dito e feito: toda vez que falava “ação”, o cachorro se colocava no melhor lugar do quadro! Depois diz que bicho não pensa! Tô falando isso porque você é cachorreira.
NP: Eu sou.
IR: Ele atravessava o set inteirinho, para e coçava, coçava e coçava!
NP: Ele aparecia querendo chamar atenção. Coisas de cachorro!
IR: Coisas de cachorro! Ele sabe qual o melhor enquadramento. Vou levar eles para o Wolf, para ensinar.
A Professora de teatro Imara Reis
NP: Você falou em Wolf Maya. Você deu aula lá ou continua dando? Gente, ela é uma grande professora de teatro, uma atriz incrível!
IR: Eu sempre fui interessada pelo fenômeno das coisas, como as coisas funcionam. Sabe aquela criança que desmonta?
NP: Sei!
IR: O trabalho de atriz eu peguei também um pouco por isso. Como é que você… Como é que funciona isso? Até para facilitar as inseguranças que a gente tem e tudo mais. Aí eu comecei a estudar o fenômeno e, com isso, eu comecei a ajudar s colegas, comecei a trabalhar com isso. Aí, o quando o Wolf abriu a escola, porque ele estava para abrir, o shopping ainda estava em obra, ele me convidou. Então, eu fiz parte da primeira turma, eu fui coordenadora, levei pessoas para lá, apresentei pessoas que inclusive estão até hoje.
Retrato falado de uma mulher sem pudor
NP: E falando nisso, nós trabalhamos juntas. Trabalhamos sob direção de Wolf Maya, na peça “Sauna”.
IR: Exatamente! Foi lá que a gente se aproximou.
NP: Foi em 1993, eu lembro bem. Fizemos também “Retrato falado de uma mulher sem pudor”.
IR: Esse filme é uma encrenca na minha vida! Eu usava certas substâncias na época que comprometeram a minha memória!
NP: Mas tinha Monique Lafond, Jonas Bloch, o grande John Herbert.
IR: Que figura, né?
Imara Reis e o cinema
NP: Que figura fantástica, né! Todos eles, né, a Monique, o Jonas Bloch também, né. Agora, como é que você foi parar no cinema? Porque você tem uma história anterior ao cinema.
IR: Tenho. Foi o seguinte… Na verdade, o cinema entrou na minha vida muito cedo. Eu tinha um grupo, na época dos anos 60, tinha um festival, Festival JB no Rio deJaneiro. Tinha uns cabeças, vanguarda, estavam tudo ali. Festival 16 milímetros, aquela coisa. Eu sempre adorei cinema, critério para escolher casa é ver os cinemas que têm perto. Eu sou público.
NP: Ah, é!?
IR: Ah, é. Eu moro na Paulista, porque quantos cinemas tem? Bom, o cinema, naquela época, era uma coisa muito distante de mim. E, eu sou de uma família de classe média média da zona sul, ser atriz era uma encrenca. Então, eu fui fazer Letras em Niterói, fiz Francês e Português. E na faculdade a gente montou uma grupo de teatro. Eu comecei a trabalhar, a fazer teatro universitário, aquelas coisas. Quando eu vim para São Paulo, eu fazia uma peça que chamava :Lição de anatomia”, que naquela época…
NP: Peça maravilhosa!
IR: É! Agora as pessoas falam assim ” o que você acha do nu no teatro?”. Gente, em 75 a gente fazia, em 76 a gente fazia uma cena que ficava 12 minutos pelado em cena.
NP: Ao vivo!
“Não era eu”
IR: É! Herson Capri, Cassilda Lanuza, Geraldo Del Rey… Raul Cortês fez essa peça. E os produtores de elenco iam assistir as peças. Produtores de elenco de comercial. Aí eu fiz o meu primeiro teste para comercial. Era margarina, tcharannn!!!! E na época, eu era mega macrobiótica, só comia orgânico. Coca-cola era guerra química. Fiquei naquela crise e não sei o quê! Aí, eles arrumavam a gente para o teste, a moça me arrumou, não sei o que, eu era mega alternativa.
Quando eu olhei no espelho, não era eu, era outra pessoa. Quando eu entrei na frente da câmera para falar texto, o diretor falou assim “dona Ivone Brito, por que a senhora usa a margarina tal?”. Eu virei a tal da Ivone Brito, comecei a falar da margarina, não tinha mais nada comigo, era uma personagem. Quando o comercial foi ao ar, o Raul Cortez estava fazendo a peça na época, ele falou assim “Imara, como você ousa usar Stanislavisk para vender produto?”. Porque naquela época, tinha aquela coisa mega purista.
NP: Mega purista mesmo, nossa!
IR: E eu tinha composto um personagem. Ahh, o cachê era bom, não fui eu quem vendi a margarina. Só que nisso vingou, por conta disso de eu mudar de cara. Aí, eu comecei a fazer um monte de comercial. Por conta de um comercial fui parar no cinema!
O primeiro filme de Imara Reis
NP: Qual foi o primeiro filme que você fez?
IR: O primeiro mesmo que eu fiz foi um do Alberto Salvá chamado “Inquietações de uma mulher casada”.
NP: Que nome bom, hein!
IR: Com o Jonas Bloch, com o Otávio Augusto. Era uma cena que tinha uma cena de cama, de suruba, imagina. E era um filme mega cabeça, de crise existencial, a gente transava na piscina e era uma coisa muito louca assim. Depois, eu vim para São Paulo, vim fazer mestrado aqui, né. Ainda bem que eu não concluí, porque, enfim, coisas da vida. E aí, eu fiz algumas participações. Agora, o primeiro filme que eu fiz como protagonista foi “Flor do desejo”, direção do Guilherme de Almeida Prado.
Foi por conta deste filme que o Carlão me conheceu e me convidou para o filme “Demência”, porque foi um filme bastante visto pela classe. Eu ganhei governador do estado com esse filme. E a gente foi para Gramado com esse filme e o Carlão também estava lá com outro filme. A gente ficou amigo e foi aí que ele me chamou para fazer o filme “Demência”.
Confiança
NP: O que você anda fazendo, os planos para o futuro, o que anda rolando aí, muita aula?
IR: Eu não sou uma pessoa assim de ter planos. Eu tenho situações que acontecem. Estou em uma peça agora que me chamaram para fazer, vou começar a dirigir um espetáculo que chama “grito de partida”, que é inspirado em duas peças do Guarnieri, o “Grito parado no ar” e “O ponto de partida” com um grupo de São José dos Campos chamado “Laminicac”.
NP: Eu vou mandar um texto que eu escrevi para você avaliar pode ser?
IR: Ah, claro, por favor!
NP: Porque eu acredito… acredito não, confio muito em você, no seu trabalho.
IR: Ah, que bom!
NP: Gostei muito, eu ficaria aqui horas conversando contigo!
IR: Um tricô aqui danado!
NP: Adorei, adorei muito falar com você, viu!
IR: Eu também!
NP: Obrigada por você ter vindo!
IR: Obrigada você por ter me convidado!
NP: Acho muito importante ter alguém do seu gabarito aqui com a gente.
IR: Fora que eu vou estar pegando uma carona de vários gabaritos que já estiveram por aqui.
NP: Obrigada, viu!
IR: Obrigada você!
NP: E agora, depois desta entrevista maravilhosa, vamos para a nossa Xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Patti, uma loira bailarina, que ficou nua em um ensaio sensual que vai te fazer flutuar.