Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Sérgio Savian, um psicanalista especializado em relacionamentos. No episódio 4 da sexta temporada de Pornolândia eles conversam sobre o futuro dos relacionamentos, a aproximação dos humanos das máquinas, impessoalidades e a métrica para encontrar um parceiro. Uma conversa deliciosa que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: As mudanças nos modelos de relacionamentos estão cada vez mais rápidas e difíceis de entender. A fluidez de gêneros, novas configurações familiares, o papel do sexo e um questionamento fundamental: o que é e para que serve o amor? Essas mudanças nos afetam de forma estrutural, mudam tudo que costumávamos ver como verdade e nos joga em um novo mundo sem que expliquem o que está acontecendo. Para nos ajudar a buscar um explicação para essa loucura deliciosa que já podemos chamar de futuro, convidamos Sérgio Savian, um psicanalista especialista em relacionamentos e ele vai nos ajudar a entender os caminhos par onde estamos indo. E nesse caminho tão difícil, merecemos uma pausa para admirar a nossa contemporânea Xgirl.
A carreira de Sérgio Savian e o interesse por relacionamentos
Sérgio Savian, eu gostaria de saber um pouco sobre a sua carreira e por que esse interesse que você tem em relacionamentos humanos?
Sérgio Savian: Acho que começa eu muito pequeno e muito perceptivo. Porque, eu olhava para a minha família, a forma com que as pessoas se relacionavam, os vizinhos, todo mundo, e pensei “ou eu estou louco, ou esse povo está tudo doido”. Eu não me conformava com o jeito que as pessoas se relacionavam umas com as outras. Eu me dediquei a esse assunto, à questão da inteligência emocional. A gente vê, assim no geral, as pessoas são muito burras para se relacionar, sofrem muito nos relacionamentos.
NP: Eu nunca consegui entender isso, é muito sofrimento. A pessoa quer sofrer parece!
Sérgio Savian: É, isso é uma questão do masoquismo, esse desejo de sofrer.
NP: Mas, talvez exista algo de masoquista na pessoa que, vamos supor, que termina um relacionamento e ela sente prazer em estar sofrendo. As pessoas estão sofrendo bastante, é verdade, mas parece que algumas sentem mais prazer!
SS: O bom da conversa é que existe a perspectiva de você aprender a se relacionar com menos sofrimento, mais prazer, as coisas fluindo muito mais. É que você aprende a sofrer com seu pai, com sua mãe, com seu avô e todo mundo. Você compreende de onde você veio, quais são esses modelos e que é possível sair desses modelos para ter outro padrão.
As mudanças na forma de se relacionar
NP: Para ter a sua vida! Depois, o sofrimento, às vezes, parece que é confortável. Mas, não vai nessa, não, porque não é não. Eu gostaria de saber quais foram as mudanças nos relacionamentos dessas últimas décadas e qual você acha mais surpreendente, mudança de relacionamento, e por que você acha que isso está acontecendo justamente agora?
SS: Olha, acho que na área dos relacionamentos, o que me chama bastante atenção nos últimos 50 anos é que, há 50 anos atrás, nós vivíamos uma repressão sexual muito forte. As pessoas tinham que obedecer regras, andar sempre na linha. Há mais ou menos 50 anos atrás, houve uma libertação disso tudo, pílula anticoncepcional. As pessoas viam aquilo tudo de uma liberdade sexual tão grande e entendiam que fazendo um sexo mais livre, seriam mais felizes.
O que acontece é que hoje não tem tanta repressão, portanto não tem tanta neurose advinda da repressão sexual. Porém, estamos entrando em uma cultura de narcisismo. O grande problema da humanidade hoje é uma questão de não vínculo afetivo, de não intimidade. As pessoas estão isoladas, ensimesmadas. Você não precisa nem perguntar o nome da pessoa que você está fazendo sexo. Mas no que se refere à intimidade psicológica, está cada vez menor. Você tem intimidade física, mas não tem intimidade psicológica.
Como as novas dinâmicas afetam as pessoas?
NP: E o que isso afeta as pessoas? Isso de ter só intimidade física, como afeta as pessoas?
SS: As pessoas, também pela influência das tecnologias, estão ficando muito robotizadas. A gente está muito influenciado pelas tecnologias e a gente vai aprendendo a pensar como a tecnologia, de uma forma binária e classificatória. Tanto que, quando você entra em sites de relacionamento…
NP: ah, eu não entro! Estou tão cansada dessas coisas. Mas, as pessoas entram, sim!
SS: Tá todo mundo no Tinder. Você vai numa festa e está todo mundo no Tinder ou em outro site ali, ninguém olha o que está na frente. Isso tem acontecido bastante. Mas, para você entrar no site, é tudo classificatório: altura, peso… É tudo métrico.
NP: Matemático.
SS: Matemático. E a relação humana é muito mais do que isso, muito mais do métrica. Você acha que você conhece uma pessoa, porque você tem dados sobre ela. E não é assim, porque nós somos muito mais do que isso.
NP: Eu estou pensando aqui que nos anos 70, eu vivi intensamente, e o relacionamento era, realmente, sem tecnologia nenhuma, era um relacionamento de olhar. E olhar traz a profundidade do seu ser, eu acredito. E você não estava preocupada com o corpo da pessoas, você estava preocupada se você amava aquela pessoa. Quase ninguém tinha o corpo definido. Só lembro do David Cardoso, aquele corpão definido. Essa mudança tecnológica está afetando demais as pessoas.
matemática e as relações
SS: Eu chamo de métrica essa coisa classificatória, de pesos e medidas, você fica muito materialista, você não vê outros aspectos da outras pessoas. Tem o olho verde, mas e o olhar? O Olhar você não passa pela internet, que é a energia que você está passando. Mas, a gente deixa de usar todos os nossos sentidos, né, a gente fica muito racional, a gente fica racionalizando tudo. E, você estava dizendo que, há um tempo atrás, você tinha que olhar, perceber.
NP: A gente dava piscadinha assim, ó!
SS: Tinha um mistério, você não sabia quem era a pessoa. Hoje em dia, não, tem um nude, já manda a foto lá. Então, vai acabando o mistério. O mistério é tudo. Na sedução, o mistério é tudo, você não saber o que vai acontecer, o desconhecido. O desconhecido é maravilhoso, você conhecer a outra pessoa.
NP: Não é? O toque na mão, a gente demorava para dar a mão…
SS: A pessoa tirar a roupa e você ver essa geografia que eu não conheço. Agora não, já mostra tudo, vai parar na internet e acaba todo o mistério. Então, essa coisa muito rápida que você acaba não sentindo gosto. Essa ansiedade muito grande de chegar no objetivo e o processo é muito legal, do conhecimento, de ir chegando pouco a pouco. E eu acho que a sabedoria da vida é você curtir o processo, cada processo. Em tudo, nas relações principalmente. Não tem um lugar aonde chegar, tem um caminhar junto.
Sérgio Savian, e daqui a 20 anos?
NP: Eu quero que você me dê um aspecto otimista e um pessimista sobre o relacionamento daqui a 20 anos.
SS: A visão pessimista é as pessoas se tornarem cada vez mais robotizadas, mais parecidas com o computador, de não ter mais sentimento nenhum, e o outro é que se dane, essa indiferença com os outros, essa falta de conexão. Acho que essa é a visão pessimista, já estamos nessa linha. Então, se isso continuar, vai piorar mais ainda. A visão otimista é cair a ficha, eu vejo que em algumas pessoas está caindo a ficha, e não se conformam em estar nessa coisa sem graça, de não ver graça na vida, de ser tudo normal, indiferente. As pessoas estão acordando e “pô, quero sentir de novo, quero me apaixonar, eu quero amar, quero sentir”, basicamente. Criar intimidade, não quer mais ficar isolado.
Encontre Sérgio Savian
NP: Agora, me diz como é que a gente faz para te encontrar?
SS: Para me encontrar é fácil, meu nome é Sérgio Savian. Eu tenho redes sociais, eu tenho canal no youtube, Facebook, Instagram. Sérgio Savian e você me encontra. Tem o meu site que é sérgiosavian.com.br. Tem o meu blog, que é o que eu mais gosto que é relacionamentoamoroso.net.br. Ali tem os textos, todo dia eu me inspiro, escrevo um texto e coloco nesse blog.
NP: Tá bom, querido, muito obrigada!
SS: Foi um prazer estar aqui contigo.
NP: O prazer foi meu! E agora, uii, a nossa Xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Victoria Haizen, uma morena, que ficou nua em um ensaio sensual com estilo ousado que realça aquele corpo tatuado delicioso.
