Ouvi homens que gostam muito de brincar com merda e uma mulher que pratica toda semana com o marido. No final desta matéria, confira entrevista em vídeo com uma atriz que faz scat – e um pouquinho do que ela sabe fazer de melhor 

O fetiche conhecido como scat pode abarcar o tesão por cuspe, suor, chulé, vômito, mijo, peido e merda – ou tudo isso misturado. É até comum encontrar quem goste de levar umas cuspidas durante aquele sexo louco, no entanto manusear cocô, ou idolatrar os gases de alguém é algo para poucos. Com o tesão por merda é assim: o mesmo cu que é penetrado torna-se abominável quando defeca.

“O caráter excretor do ânus é esquecido, o que é um exemplo claro do processo histórico em que, durante séculos, fomos treinados a ignorar nossas secreções e tratá-las como inimigas do corpo e, principalmente, inimigas do bom gosto e da educação. Na mídia e na pornografia, o sexo anal é diretamente aceito quanto mais ‘limpinho’ ele for, ou seja, sem possibilidades de odores, gostos, tato ou visões associadas às fezes e urina”. As aspas são do pesquisador Jorge Leite Jr., doutor em ciências sociais com quem conversei para entender melhor o scat.

No livro Das maravilhas e prodígios sexuais: a pornografia “bizarra” como entretenimento Jorge explica que ainda na passagem do século XIX o sexo oral era associado ao masoquismo, tendo em vista a proximidade dos órgãos sexuais com a urina e as fezes. Ou seja, boquetes, chupadas e beijo grego eram considerados tão dignos da perversão de um Marquês de Sade quanto o sexo com excrementos é considerado hoje. Alguns praticantes de scat realmente associam sua preferência à humilhação e ao sofrimento – e gostam desse sofrimento para ter prazer na hora do sexo. Porém, isso não acontece com nenhuma das pessoas que entrevistei. Relatam que seu prazer reside na intimidade máxima envolvida no ato de defecar, ou simplesmente porque apreciam a textura, o cheiro e o gosto das fezes.

No paraíso chove marrom

Para fazer esta matéria, contatei os entrevistados via sites especializados em scat, ou em comunidades do Fetlife. Apenas um dos participantes é um amigo pessoal, que me mandou uma mensagem privada ao saber da pauta e me revelou altos segredos. Todos eles usam nomes fictícios, porque, caso contrário, seriam condenados e zoados pela gentalha.

Perguntei a todos os entrevistados qual a primeira lembrança que tinham sobre gostar de scat. Em todos os relatos é possível perceber que é uma experiência positiva para eles, não associada ao prazer pela humilhação (que não seria também algo necessariamente problemático):

Silvia: me lembro que quando era criança gostava de brincar com xixi. Eu morava em um sítio e fazia em lugares diversos, em potinhos… Eu fazia no banho e passava no corpo.

Poopy Pants: eu tinha doze anos e fiz cocô nas calças enquanto olhava uma revista Playboy. Me masturbei pela primeira vez naquele dia, sentindo minhas calças cheias de merda.

Rickyb58: eu comecei com 14 anos. Li uma carta na Revista Penthouse de alguém que gostava de colocar bananas no cu e cagá-las para fora. Quis tentar. Como eu tinha dificuldade em colocar bananas descascadas na minha bunda, então eu apenas comecei a cagar nas calças e amei a sensação.

Léo Scat: desde criança, com 7 ou 8 anos de idade, tenho lembranças de gostar de merda. Nessa idade, inclusive, cheguei a cheirar a bunda de um amiguinho meu e só confirmei que adorava cheiro de cu sujo e de cocô.

Cezinha: com uns 14 anos de idade, no meio dos meus pornôs “normais” que eu baixei, veio um de uma japa que vomitava numa panela, mexia e comia de novo. Ela repetia isso por uns 10 minutos, era uma panela grande, parecia que ela estava cozinhando algo do jeito que ela mexia. Era muito foda e isso me deixou extremente excitado.

Vivo Clarotim: meu gosto por scat veio tarde. Há dois anos, vendo um site de pornô gay, me deparei com esse vídeo de scat. Achei interessante, não sei bem a princípio o que me chamou atenção, mas gostei. Logo segui vendo mais vídeos, até que encontrei no mesmo site outro vídeo desse mesmo cara e gostei mais ainda.

Em busca

O scat lover Wet, que gosta de sentir suas cuecas bem sujas

Em que momento da relação deve-se propor aquela brincadeira com merda ou vômito? Encontrar parceiros que gostem de scat, principalmente do sexo feminino, não é fácil. Silvia é uma das poucas sortudas que pratica scat na rotina de seu casamento. Ela convenceu o marido, com quem é casada há menos de um ano, a se tornar também um adepto. “Hoje em dia, ele curte mais do que eu, mas não foi fácil. Comecei sujando o pau dele no anal e ele não se importava, então fui sujando cada vez mais e também fazia xixi no pau e ele não reclamava de nada. Um dia no banho pedi pra ele fazer xixi no meu corpo e ele ficou meio sem jeito, mas fez e aos poucos foi ficando cada vez melhor. Um dia deixei o notebook aberto no blog do Vivo Clarotim e hoje não fica um dia sem ver os vídeos.

Léo Scat, que também tem um blog sobre scat, é casado há 4 anos e a esposa soube de seu fetiche ainda na época em que eles namoravam, mas nunca quis fazer. “Ela acha que é uma humilhação para ela, mesmo que quem receba seja eu. No entanto, ela sempre permitiu que eu procurasse e fosse atrás de quem pratica e quem possa fazer comigo. Somos felizes assim. Hoje, o amor fala mais alto, mas não sei se resiste para sempre. Dá muita vontade de ter uma companheira que faça, mas também é muito difícil achar uma mulher assim. Se achasse, aí seria complicado…”.

Cezinha usa uma tática peculiar para avaliar se vai rolar um scat com a mulher que ele está pegando: “o esquema é a mina que está apaixonadinha, porque mesmo que ela não curta acaba topando ‘pra agradar’. Aí eu dou uma mijada na coxa dela durante o banho, só para ver a reação”.

Vivo Clarotim curte apenas homens e ainda não achou o cara ideal para realizar sua maior fantasia com scat, que envolve uma caganeira. Enquanto este dia não chega, ele vai fantasia muito, até em momentos que poucas pessoas achariam sexy. “Quando eu vou a banheiros públicos, fico alucinado vendo os caras entrarem nas cabines. Chego às vezes a entrar na cabine ao lado e tentar ouvir algo e logo em seguida entro para ver o cesto de papel higiênico, ou se ficou algo na privada. Uma vez fui no banheiro da faculdade e tinha uma cueca no cesto do lixo, indicando que o cara que a usava estava com uma caganeira daquelas que me pira o cabeção, tirei fotos e acho que postei no blog. Sempre que vou em banheiros públicos e vejo algum resquício de que o cara estava com caganeira já é motivo para ali mesmo eu gozar”.

O simples ato de imaginar o cara de calças arriadas, sentado na privada, cagando, pra mim isso me excita demais, demais mesmo, ainda mais quando eles ficam de pau duro, pois sim, isso acontece com muitos homens – Vivo Clarotim

Ninguém quer entendê-los

Se você resolver fazer um pornôzinho com merda nos Estados Unidos, poderá ter que enfrentar os homens da lei. No Brasil, isso não acontece, mas também não é muito recomendado falar sobre o assunto com amigos e familiares. Eu já comentei algumas vezes aqui sobre parafilias – vale lembrar que o scat é uma das parafilias mais estigmatizadas. Aprendemos muito cedo que cocô é algo nojento, então é difícil entender que aquele toroço pode ser algo extremamente agradável para algumas pessoas.

Léo já ouviu diversas afirmações preconceituosas, mas não se abala. “Uma entrevista que dei a um outro site foi um termômetro sobre esse assunto. Recebi pouquíssimos comentários positivos com relação à prática. Muita gente sente nojo e até aí tudo bem… O problema são os que nos julgam e chamam de doentes, débeis mentais. Eu sou extremamente normal, me considero inteligente, sou jornalista, apareço em TV, escrevo textos, saio com amigos para tomar uma cerveja, gosto de cinema, pizza, vinho, etc…”

O ânus é uma parte escondida do corpo, é preciso que, pelo menos, as nádegas da pessoa sejam abertas para que possa ser visto. Freud, pai da psicanálise, diz que nesse caso o cocô seria uma espécie de presente. Algo que a pessoa oferta à outra – Léo Scat

Jorge Leite Jr. ressalta que em tempos passados o espanto em torno do scat talvez tenha sido diferente. “Pode ter acontecido que outras épocas históricas, onde o contato com os excrementos não era tão baseado no medo higienista de doenças, nem na sensibilidade enojada do próprio corpo, por exemplo, o cheiro de urina nos genitais ou as fezes saírem durante o sexo anal não fosse algo tão constrangedor e broxante como é para a maioria das pessoas hoje em dia”, explica.

Saúde

O biólogo estadunidense Ralph Lewin, em seu livro Merde: Excursions in Scientific, Cultural, and Sociohistorical Coprology fala principalmente sobre a coprofagia (hábito de engolir fezes) entre animais como coelhos e cães. Em alguns parágrafos, cita também os humanos, afirmando que o consumo de fezes de camelo é recomendado por beduínos como um remédio para disenteria bacteriana. Sua eficácia foi confirmada por soldados alemães na África durante a Segunda Guerra Mundial.

Os riscos da ingestão de fezes podem incluir doenças como a hepatite viral e infecções intestinais parasitárias como a giardíase, amebíase, criptosporidiose, desinteria bacteriana e infestação por lombrigas. O contato com os olhos também é perigoso, podendo causar desde irritações, até infecções mais graves.

“Quando as pessoas me perguntam sobre a ingestão de fezes, eu procuro sempre dissuadi-las disso, pois tenho medo das doenças”, diz Vivo. Léo Scat gosta de colocar a merda na boca, mas não engole. O gosto, geralmente é amargo, mas pode acontecer de ser adocicado. Ele nunca teve problemas, mas recomenda cuidados: “para quem engole bastante, tomar vermífugo antes e depois da prática é algo que ajuda a combater possíveis doenças”.

Trabalho “de merda”

Barbara foi apresentada ao mundo da pornografia com scat por Marco Fiorito (você com certeza conhece esse cara) . Desde então, ela faz gravações toda semana, e consegue multiplicar seus ganhos mensais graças à merda. Toda segunda-feira, ela também vende um pouco de seu cocô a um cliente, que paga 100 reais em cada potinho cheio.

Os filmes são produzidos apenas para consumidores estrangeiros, o que permite às atrizes ter família e trabalho sem maiores dores de cabeça. Barbara está do lado considerado mais fácil das cenas, pois atua apenas como “fornecedora”, ou seja, não coloca as fezes de outras atrizes na boca.

Veja também nossos outros documentários sobre sexo. E uma entrevista que fizemos com um praticante de Scat que mantem um blog sobre o assunto.