Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Paula Ferrari, fisioterapeuta. No episódio 19 da terceira temporada de Pornolândia eles conversam sobre a sexualidade das pessoas com deficiência. Uma conversa libertadora que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Pessoas com deficiência podem sentir prazer? Quem deve decidir sobre como essas pessoas podem desenvolver a sua sexualidade? Para responder a estas perguntas e muitas outras vamos conversar com Paula Ferrari, que vai dividir com a gente sua experiência como cadeirante e falar sobre a sexualidade das pessoas com deficiência. E a nossa Xgirl será a magnífica Haone.
Referindo-se a
Paula, a primeira pergunta é o seguinte: qual a forma mais adequada, mais educada e mais correta para nos referirmos a uma pessoa com problema cognitivo ou algum tipo de deficiência?
Paula Ferrari: Olha, Nicole, eu costumo dizer que a nomenclatura politicamente correta é “pessoa com deficiência”. A gente se referir dizendo é uma pessoa com deficiência, mas eu acho que o mais educado e mais correto é aquilo que você fala com naturalidade, independentemente de qual seja o politicamente correto. Porque, muitas vezes, eu posso me referir a você com certa ironia e usar um termo que teoricamente estaria correto, né. Ao passo que muitas pessoas mais antigas usam termos mais pejorativos, mas de uma forma educada, de uma forma carinhosa. Então, para mim, a coisa funciona daquilo que flui de você com naturalidade, mas o politicamente correto é pessoa com deficiência.
Paula Ferrari e o GoodBros
NP: Você tem um projeto chamado “GoodBros”, não é isso? Como é que você começou a participar deste projeto?
Paula Ferrari: Na verdade, a GoodBros é uma empresa que trabalha com acessibilidade, todo tipo de acessibilidade. Eu sou fisioterapeuta e trabalho na área de sexualidade desde que eu me formei, há 10 anos atrás. E como o Rodrigo, que é um dos idealizadores da GoodBros, já era uma parceiro, amigo meu, a gente sentou e conversou. Ele teve interesse também em seguir esse caminho voltado para a questão do sexo e da sexualidade. Juntos temos feito um projeto voltado para a sexualidade da pessoa com deficiência, mas de uma forma um pouco diferente. Hoje, mesmo os projetos voltados para a sexualidade têm um certo assistencialismo. E a gente quer fazer algo sem assistencialismo, uma coisa mais direta, mais escrachada, falar de sexo mesmo. Colocar a pessoa com deficiência em todos os aspectos da sua sexualidade, explorar bem isso em todas as áreas possíveis.
Paula sobre rodas
NP: Paula, como é que você se tornou uma cadeirante?
Paula Ferrari: Então, eu me tornei cadeirante por conta de uma infecção medular há quatro anos atrás, em 2012. Eu já era fisioterapeuta, já trabalhava com sexualidade da pessoa com deficiência, já atuava na área de reabilitação neurológica. E eu tive uma infecção na medula que me resultou em uma lesão medular incompleta. Então, eu tenho parte da minha sensibilidade preservada, também tenho parte da minha capacidade de ficar de pé e de andar por poucas distâncias. Então, se a distância é curtinha, eu consigo ir segurando…
NP: Nossa, mas é chocante! Você lidava com a sexualidade de pessoas com deficiência e de repente você se viu nesta situação.
PF: Pois é. E não só com a sexualidade, eu trabalhava como fisioterapeuta na reabilitação de pessoas com déficit neurológico! E hoje, graças a Deus, eu retomei o meu trabalho, tanto referente a sexualidade quanto a fisioterapia propriamente dita. E tem sido uma experiência bem interessante, tanto para os paciente, quanto para mim enquanto pessoa e profissional.
Paula Ferrari e a sexualidade
NP: E quando é que você voltou a pensar em sexo? E quando você voltou a pensar em sexo, como é que isso mudou na sua vida?
PF: Eu acho que para mim, talvez a coisa funcionasse um pouco diferente. Porque eu já trabalhava com isso, já era uma coisa bem estabelecida na minha cabeça. Então, foi algo fluido, não foi algo que teve uma interrupção e eu tenha falado “olha, agora eu não penso mais nisso” e voltasse a pensar em outro momento. Foi algo ininterrupto.
NP: Ah, e você participaram da Erotika Fair. E como que foi para o público, de repente, em uma feira de sexo, eles encontrarem pessoas em cadeira de rodas, com a perna amputada…?
PF: Eu acho que foi uma experiência sensacional. Eu já trabalho na Erotika Fair com a Kika de Castro pela ONG Essas Mulheres há alguns anos. E esse ano, a gente tem também uma empresa de staff de pessoas com deficiência para eventos. E a gente foi trabalhar na Erotika Fair. A gente teve duas meninas trabalhando nas atrações, que é contato direto com o público. A gente teve uma cadeirante tetraplégica e uma amputada que usa muleta trabalhando nas atrações em contato direto. E as reações foram sensacionais. Acho que assim, desde a interação delas e das outras meninas que também trabalhavam nas atrações, a forma como elas se inseriram até a reação do público que estava ali participando das brincadeiras. Eram brincadeiras de bastante contato… E, em nenhum momento, nenhuma delas sentiu qualquer tipo de rejeição.
A atração por pessoas com deficiência
NP: Tem algumas pessoas que sentem atração, fetiche mesmo por pessoas com deficiência. Como você encara isso?
PF: Olha, esse é um assunto muito polêmico para as pessoas com deficiência. E penso nisso exatamente como você diz. Eu acho que existem pessoas que gostam das gordinhas, tem pessoas que gostam das magrinhas, de pessoas mais jovens, mais velhas, das loiras, de negros. E qual é o problema de alguém gostar de uma pessoa com deficiência? Qual é o tabu nisso? Afinal de contas, a gente é gente!!! O que tem de tão tabu, de tão diferente??? Eu penso nisso como algo positivo, eu acho que é a nossa inclusão na sociedade. É um olhar sobre a pessoa com deficiência diferente daquele olhar de coitadinho, de incapacitado. Pô, é um olhar de alguém que está te vendo e te querendo, sabe.
NP: E como a gente faz para encontrar você nas redes sociais?
PF: Tem o meu Facebook pessoal, qualquer um pode me encontrar como Paula Ferrari. E tem também a página no Facebook da GoodBros que todos podem entrar em contato, mandar sugestão de projeto e saber mais sobre o andamento deste projetos que a gente tem realizado.
NP: Olha, gostei muito, tá!
PF: Eu adorei! Quero agradecer o convite, é uma oportunidade estar tocando neste assunto que é tão polêmico fora deste círculo de pessoas com deficiência. Eu quero realmente agradecer a oportunidade.
NP: A gente que agradece, querida!
E agora nós vamos para a nossa Xgirl!
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Haone, uma mulher maravilhosa que ficou nua em um ensaio sensual repleto de liberdade e poder.