Aqui segue entrevista que fiz via e-mail com a mulher que se denomina Patrícia Porno e tem MBA em Marketing, entenda o porque e o que existe de putaria e arte envolvido nisso. Afinal de contas, nem só de punhetagem a pornografia é feita.
1. Olá Patrícia, primeiro gostaria de saber um pouco mais sobre você. Sua idade e de onde é?
Tenho 38 anos e sou do Rio de Janeiro/ RJ. Sou formada em Publicidade, com MBA em Marketing e pós-graduada em Comunicação Corporativa. Atualmente estou em vias de me tornar artista plástica, fotógrafa e pornógrafa, entre outros desafios menores e não menos importantes.
2. De onde surgiu sua ligação com o conteúdo pornográfico? Pode nós contar qual foi seu primeiro contato com pornografia?
O primeirão eu devia ter uns 14 anos. Uma amiga achou uma fita VHS do irmão. Era gay porn. Que aliás, curto mais do que qualquer tipo de pornografia. Por sinal, acho que falta no mercado mais filmes de gay porn masculino voltados pro público feminino. Fica o apelo. Risos.
Depois disso, sempre tive aversão e repulsa pela pornografia. Pra consumo próprio eu não curtia e quando rolava de estar com um carinha que gostava de assistir eu perdia o tesão total.
Depois de muitos anos trabalhando na área de Comunicação Corporativa de uma grande empresa, resolvi fazer uma mudança radical e começar a estudar pintura. Em 2009 fui atrás da melhor escola de Artes Visuais do Rio e levei o tema “pornografia” pra sala de aula. Comecei a ver vídeos e fotos na internet pra pesquisar o tema e imagens. Tinha curiosidade de entender o que me causava tanta repulsa. Descobri. A repulsa era pelo o padrão da pornografia tradicional, de controle e dominação. E também a falta de estética da maioria das produções. Estética de “roteiro” – quando existe – , estética da direção, da produção, dos atores. Numa indústria tradicionalmente com os meios de produção dominada por homens, não tinha como ser muito diferente. Esse mesmo padrão é reproduzido em filmes gays, lésbicos, de dominatrix, e claro, S&M. Ah, e MUITO importante: evito colocar fotos de close em que claramente os envolvidos não estão usando preservativo. Já deixei de postar fotos MARAVILHOSAS porque eram de penetração sem camisinha. Uma lástima!!!
3. Veio desse momento sua inspiração para produzir coisas também ou não? Tem ideia de onde essa vontade de produzir algo apareceu?
Já gostava muito de literatura erótica – Anïs Nin, por exemplo, e o erotismo de um modo geral. O que me incomodava mesmo eram as imagens muito explícitas, mesclada com a questão do padrão de controle principalmente machista, como eu mencionei acima e a baixa qualidade estética das imagens. Comecei a criar um banco de imagens pornôs com a estética que eu me agradava no meu computador. Em um determinado momento, senti a necessidade de criar um produtos usando essas imagens. Fui expulsa do facebook em maio de 2011 quando postei algumas delas no meu perfil. Criei um novo perfil e nesse processo me indicaram o tumblr. Criei o hotcabaret.tumblr.comonde coloco minhas pesquisas de imagem e de conteúdo porn.
Em paralelo, comecei a pintar pornografia também. Meus primeiros quadros eram de gordas se masturbando. Depois passei a pintar vulvas e “extreme close-ups” de vulvas se masturbando. Depois passei pros falos. Quando senti que eu estava madura comecei a criar uma série de fotos chamada “Private Spaces x Public Spaces”, em que eu me fotografava em casa, sozinha ou com um parceiro, ou em lugares públicos – banheiros de restaurantes, ônibus, praia, etc. Assim eu criei o meu patriciaporno.tumblr.com.
4. Vemos, ás vezes, ligações externas influenciando pessoas a produzirem pornografia, e algumas vezes isso está ligado diretamente com a geografia por uma questão cultural mesmo, que seja no caso de mulheres de regiões mais tradicionais que fazem algo para fugir da rotina ou para produzir algo inovador, mulheres de regiões onde questões masculinas são mais valorizadas produzindo como meio de questionar e movimentar uma participação ativa das mulheres no quesito sexo. Existe alguma relação dessas no seu trabalho?
SIM!!! Apesar do Rio ter fama de uma cidade sexualizada, é uma cidade EXTREMAMENTE conservadora. Acho o Brasil de um modo geral MUITO conservador. A não ser no cenário alternativo ou underground, onde as dinâmicas são um pouco diferentes, o “brasileiro médio” é machista demais. Ainda se divide as mulheres entre “putas e santas”, “pra casar e pra trepar”. Esse aspecto social hipócrita sempre me incomodou muito. Se você é mulher e não está na categoria “puta”, assumem que você não pode ter desejos. A minha “saída do armário” juntando pornografia e arte foi extremamente libertadora nesse sentido. A escolha do meu trabalho em si já mexe nas estruturas das pessoas que eu conheço, homens e mulheres. E sinto cada vez mais que as mulheres que me cercam são influenciadas por esse movimento libertário que eu criei. Agumas se afastam, porém outras são atraídas e atraem outras. É delicioso.
5. Sobre a sua idade, você parece ser bem bonita, tem percebido algum fetiche especial em seus parceiros, homens que preferem mulheres acima de 25 anos, que já sabem o que quer e como fazer, ou acha que essas questões não fazem muito sentido quando o assunto é sexo?
Eu já passei dos 25 há 13 anos, então já estou lááá na frente. Risos. Obrigada pelo “parece ser bem bonita”. Eu ultimamente acho que se há tesão a idade não importa. Já tive parceiros de 20 e poucos e já tive de 60. O que importa é o desejo e o interesse. Claro que uma mulher que já passou dos 30 tem tendência a ser muito mais bem resolvida com sua sexualidade. Já sabe o que quer, o que gosta, como ter prazer. E isso atrai muito os homens para o sexo.
6. Você tem filhos? Estou perguntando porque existe uma parcela de pessoas interessadas em MILFS (sigla de “Mom I’d Like To Fuck” em português, “Mãe que eu gostaria de foder”). Você como mulher o que acha desse fetiche e até mesmo do fetiche por grávidas?
Eu gosto de categorias em geral, mas não tenho filhos nem sei se vou ter. Mas se fosse pra usar uma categoria, seria “woman”- ou seja “mulher. Não sou mais menina, muito menos teen, mas também não me considero “mature”, como o que vejo na internet. “Mulher” é uma boa categoria pra me definir. Quase óbvia. Risos.
Acho que as mulheres maduras bem resolvidas são muito mais sexualizadas do que as mais jovens. Sabem o que querem. Tenho amigas de 50 e poucos namorando rapazes de 20 e poucos. Não acho um fetiche. Acho uma realidade sexual. Existem mulheres querendo sexo e homens querendo sexo. A idade não importa.
Quanto às grávidas, não tenho nada contra o fetiche. Até hoje, que eu me lembre, nunca postei uma mulher grávida no meu Hot Cabaret. Não curto muito. Mas talvez não tenha visto uma foto que considerasse realmente erótica. As grávidas em geral têm as taxas hormonais muito elevadas e podem sentir muito tesão durante a gravidez. Mas existe a possibilidade de as minhas retinas estarem impregnadas com o estereótipo de “mãe e santa” e eu não consiga ver erotismo nas fotos.
7. Colocaria imagens relacionadas a esses fetiches em sua página?
Se a achasse realmente erótica e que estivesse dentro da minha linha editorial, sim.
8. Percebi em sua página Patrícia Porno, que você mesmo se fotografa. É isso mesmo ou é fotografada por outras pessoas? Como funciona isso, pode explicar para quem está lendo a entrevista e também quer fazer??? rs
Quando comecei a pesquisar pornografia pras pinturas me deu uma enorme vontade de produzir conteúdo pornográfico também, dentro do que eu considerava “bonito”. Dentro do meu círculo de amizades a maioria ficava chocada com as minhas pinturas, quiçá me dar abertura pra convidar pra realizar um ensaio erótico ou pornô. Também não queria me infiltrar num circuito underground porque não fazia sentido pra mim. Resolvi me usar como modelo. Nem tinha câmera. Fazia com o iPhone mesmo. Com o passar do tempo, fui conhecendo outros artistas, fui fazendo outras amizades e alguns amigos foram abrindo a cabeça. Um dos meus projetos pra esse ano é fotografar amigos meus em ensaios eróticos e pornôs. Já comecei. Comprei uma câmera semi-profissional, parcelada em 10 vezes – risos. Fiz um ensaio com um ex, outro com um amigo e já tenho duas amigas marcadas pra próxima semana. Meu tagline é “Reinventing Porn”. Ou seja, reinventando a pornografia. Pra quem quer fazer, sugiro estudar ângulos que lhes favoreçam e a luz tb é importante. De preferência luz suave e ou contra-luz. E estudar fotógrafos conceituados que trabalhem o tema, como Helmut Newton, por exemplo. Há livros da Taschen muito bons também sobre Erotica e a Nova Pornografia, a maioria editados pela Diane Hanson.
9. Essa prática de se fotografar e colocar na internet teve grande repercussão com os FOTOLOGs, você era uma das adeptas do site ou de algo do tipo? A quanto tempo sua página existe? E a vontade de se exibir existe a quanto tempo?
Tive um fotolog mas usava para postar a HQ que eu produzia artesanalmente há anos atrás – Gatas de Tamanco. Meu patriciaporno.tumblr.com existe há pouquíssimo tempo, desde janeiro desse ano. Antes eu me fotografava e guardava no meu HD. A vontade de se exibir foi surgindo aos poucos. Comecei pesquisando as imagens e comecei a me fotografar. De tanto pesquisar comecei a achar muito natural exibir o corpo. É um movimento muito mais artístico que fetiche.
10. A internet viabiliza muitas ideias e projetos, assim como o seu e a custo quase zero. Porém cada vez mais vem rastreando tudo que fazemos, como também órgãos regulamentares criando ferramentas de controle. Hoje basicamente acessamos Google, Facebook, Gmail e alguma rede social nova, como Twitter e Tumblr, também existe a proposta do ECAD de cobrar blogueiros que postam vídeos do YOUTUBE. Qual sua relação com tudo isso, acredita que isso pode influenciar seu trabalho de alguma forma?
Talvez possa atrapalhar um pouco a minha pesquisa de imagens, dependendo do nível de restrição que coloquem. Mas o meu trabalho é autoral e artístico. Vai continuar existindo com ou sem internet, que dá grande visibilidade, claro. Mas acho que é um caminho sem volta. Depois que as pessoas aprenderam que podem se comunicar com velocidade e de graça, acho muito difícil que haja um nível de controle realmente eficaz. Felizmente.
11. No mundo da internet existe uma luta diária pelo posto de nova web celebridade. Em algum momento alguém já se ofereceu para aparecer na sua página só para se tornar conhecido? E quais os seus planos em relação a ser uma celebridade da internet?
Nunca ninguém se ofereceu. Só amigos, de brincadeira. Risos. Sou muito low-profile nesse aspecto. Meu Hot Cabaret tem menos de 300 seguidores e meu Patricia Porno deve ter menos de 50. Pra mim reconhecimento só faz sentido com um trabalho consistente por trás, com estudo, pesquisa, leitura e arte, principalmente. Ficar conhecida por ficar não me traria realização.
12. E em outra posição… Algum voyer já se ofereceu só pra ver os seus encontros? Rolou algo de “te fotografo”?
Tenho alguns amigos fotógrafos que já me perguntaram. Mas sou um pouco mais tímida pra estar na frente da lente dos outros. E também tem um fator importante – peso. Estou 8kg acima do meu peso ideal. Apesar de achar as gordinhas lindas, tanto esteticamente quanto para serem pintadas e fotografadas, eu perco muito minhas proporções quando estou acima do peso, e me prefiro na casa dos 60kg. Me sinto mais bonita e fico mais a vontade pra posar pra quem seja.
13. Entre os fotógrafos, existem os profissionais que enxergam sua função como trabalho de fato e aqueles que aproveitam a função para fotografar alguém que eles queriam se aproximar mais, ou algo do tipo. Você acha que isso é um abuso ou que rola um fetiche da modelo ou do modelo em ser olhado e desejado?
Acho que abuso rola em qualquer setor comercial e econômico. Imagino que deve existir modelos ingênuas e abusivas e idem em relação aos fotógrafos, que também podem ser usados eventualmente.
14. Uma outra página sua é o HOT CABARET, por quê o nome? Quais os quesitos que uma imagem deve atender para que seja postada ou para que você dispare o “reblog”?
Ótima pergunta. O “Cabaret” é uma referência ao burlesco, às casas noturnas do início do século passado na Europa e ao musical de Bob Fosse – pra quem não assistiu, recomendo. A idéia é de um palco erótico e picante, muitas vezes pornográfico, onde circulam imagens que eu gostaria que mexesse com as fantasias e imaginário de quem vê. O “Hot” é porque a proposta é sedutora mesmo.
Meu critério de seleção tenta incluir fotos que não se limitem ao padrão da pornografia misógina, criada e produzida somente por homens até bem pouco tempo atrás. Imagens que tenham uma luz estudada, um olhar generoso, poético. Evito imagens com mulheres muito novas, sem pelos pubianos, louras, muito silicone, padrões de submissão muito explícitos, violência explícita, S&M hardcore, objetos que estejam ligados ao S&M clássico como algemas, chicotes, bondage, escatologias e zoofilias. Tento fazer uma ode poética ao erotismo e ao corpo.
15. Tem algum ou alguns (rs) tumblrs que você indicaria? Rola de fazer um top 3, dizendo no máximo uma frase sobre o conteúdo?
De quase 700 tumblrs que eu sigo, consegui fazer uma “escolha de Sofia” Claro que mesmo assim, cometi muitas injustiças.
http://soulexhibitionism.tumblr.com/ – é de um rapaz de 23 anos, alemão. Gosto muito da seleção de fotos que ele faz, dos ângulos, da luz, algumas mais cruas e sem glamour.
http://sabrina-dacos.tumblr.com/ – é uma brasileira que se fotografa também. O material dela é bem mais explícito do que as fotos que eu tiro de mim mesma mas eu gosto.
http://theclassypolaroid.tumblr.com/ – fotos de polaroid, ou simulando polaroid, com conteúdo erótico, porn e diversificado. Meio hipster, mas eu curto.
16. Voltando a ideia de se auto fotografar e publicar as próprias fotos na internet, como você desejaria ser vista e em que situação? Tem alguma fantasia com o internauta que te vê chupando?
Gostaria muito de fazer um ensaio erótico, fotografado por uma mulher, com uma produção de figurino mais burlesca, com rendas, corseletes, espartilhos, cintas-liga – com referências mais vintage. Não tenho nenhuma fantasia com os internautas. Gosto de intimidade no sexo. Minha exibição é artística e profissional, como eu mencionei.
17. Já atraiu alguma roubada depois que criou a página? Como foi?
Não atraí! E espero que continue assim!
18. Já atraiu uma “bem dada” com a página? Pode contar?
Ainda não, infelizmente. Mas acho que é uma questão de tempo – risos. Os amigos e conhecidos ficam bem empolgados com as fotos. E claro, eu tenho alguns “alvos” em mente. Risos.
19. Antes de terminar, explica pro leitor por que você se auto denomina Patrícia Porno?
É um trocadilho com o nome verdadeiro, que gostaria que permancesse em sigilo, e também uma forma de me apropriar de um tema que carrega muito estigma, preconceito e mitos. Temos 4000 anos de sexualidade extremamente reprimida e a internet traz hoje na pornografia as marcas dessa repressão. Positivas, no caso da arte erótica e da pornografia artística, e negativas, a meu ver, quando o corpo sofre muita violência e há completa ausência de afeto e poesia.
20. Quais são seus planos para a página, pretende tornar algo maior, agregar pessoas, ou acha que está ok? Conte-nos suas ideias! 😉
Quero fazer MUITOS ensaios, temáticos, com fotógrafos e modelos convidados, fotografar amigos, ser fotografada e profissionalizar cada vez mais, transformar em um negócio sustentável.