A Mostra de Cinema da Boca do Lixo foi o assunto retratado no episódio 25 da temporada 5 de Pornolândia. Nossa ilustre apresentadora Nicole Puzzi não só entrevistou figuras como Ivan Cabral, David Cardoso e Lucia Camargo, como foi homenageada na mostra que resgata os sucessos da pornochanchada. Um episódio saudoso que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Hoje é o dia da Mostra EU, Nicole Puzzi, possuída pelo prazer. Daqui a pouco, esse espaço lindo da Cinemateca vai receber todos os meus convidados. Eu estou muito feliz, porque é a primeira vez que uma atriz da Boca tem uma mostra de cinema em todo o Brasil. O respeito está começando!
Boca do lixo e curadoria
Nicole Puzzi: Marcio Aquiles, fala como foi fazer a curadoria dos meu filmes?
Marcio Aquiles: Olha, foi um imenso prazer. Eu fiz a curadoria ao lado de Ivan Cabral e do Rodolfo Garcia Vasquez. E coincidiu, foi imediatamente um convite para ser curador da mostra, após eu assistir o espetáculo “Transex”, que está em cartaz com Os Satyros, com você como atriz deslumbrante. E aí a gente tentou fazer um recorte temático que mesclasse um pouco das características dos filmes. Então, escolhemos filmes do Khouri, que são mais densos, com aquela psicologia mais pesada, com um pouco de pornochanchada, com o terrir do Ivan Cardoso. Então, a gente tentou mesclar fases distintas da sua carreira e características estéticas diferentes.
NP: Vocês fizeram um trabalho maravilhoso, um trabalho lindo! E o cartaz está muito bonito. Está tudo muito lindo. As fotos que vocês escolheram. Muito obrigada!
NP: Cris, como a Cinemateca recebeu uma mostra do cinema dos anos 70, a conhecida pornochanchada?
Cristina Ikonomidis: Para a gente da Cinemateca, que preserva a memória do cinema brasileiro, da boca do lixo, é uma honra. Nós temos aqui 240 mil rolos de filmes, desde 1920. Se ter a pornochanchada, que é uma memória, a importância disso para a difusão do cinema brasileiro é muito importante. Nós recebemos isso com muita alegria e é uma honra para a gente.
NP: Eu estou muito agradecida a vocês, porque a gente foi tão carregado de preconceito. E eu acho super interessante que a Cinemateca se preocupe com este acervo. E falando em acervo, eu queria saber como está acervo aqui, você me falou dos filmes. Mas como está o acervo da Cinemateca, o apoio, tudo isso?
Cristina Ikonomidis: Nós temos aqui 8 câmaras, climatizadas, com 240 mil rolos de filmes do cinema brasileiro preservado. Temos acervo de acetato, de nitrato, enfim. A Cinemateca tem a missão de preservar e difundir essa importância e memória do cinema brasileiro.
A importância da Boca do Lixo
NP: Lucia… Ahh, eu amo essa mulher!
Lucia Camargo: Eu também amo essa mulher!
NP: Eu queria saber qual a importância do cinema dos anos 70. O cinema da boca do lixo.
Lucia Camargo: Importantíssimo. E é interessante, porque eu pertencia à Secretaria de Cultura de Curitiba e quem tinha que dar a licença para os filmes para os filmes brasileiro, porque tinha aquela portaria, era eu. Então, se não tivesse vocês, o que eu ia fazer? Então, é muito importante e eu acho muito legal o resgate que se está fazendo dessa época. Porque esse pessoal, vocês batalharam muito contra tudo e contra todos.
NP: Flávio, me fala um pouquinho do seu, quer dizer, do nosso filme que vai passar hoje na abertura da mostra.
Flávio C. von Sperling: Bom, é o “Lembranças de Maio”, que é na verdade uma pequena declaração de amor ao cinema da Boca, né. E é uma singela homenagem assim que me inspira muito, acho que é um dos cinemas mais vivos e livres da história dos cinemas, né. Bom, e tive a honra de filmar duas figuras que são importantes para mim, que é Claudio Cunha, figura central do cinema da Boca com autor, diretor, produtor. E a outra é essa pessoa que está aqui me entrevistando e que teve a generosidade de me deixar fazer um pouco parte dessa história sua tão linda que está sendo homenageada aqui nessa mostra.
NP: Eu queria saber também, de todos os filmes relacionados aqui na mostra, qual o seu preferido?
Flávio: Provavelmente o “Ariela”, muito muito por causa de você. Eu acho uma das suas melhores atuações, acho um filme incrível. É difícil pegar um, mas eu fico com “Ariela”.
Resgate da pornochanchada
NP: Olha, o nosso primeiro longa a ser apresentado é “Damas do prazer”, que foi escrito pelo roteiro de Ody Fraga, um dos maiores nomes da boca do lixo. E você foi um grande amigo de Ody Fraga.
Mário Vaz Filho: Não, do Ody eu não fui só amigo, eu me considero um discípulo do Ody Fraga, porque o que eu escrevo tem muito a ver com três pessoas do Brasil, que é: Nelson Rodrigues, Plínio Marcos e Ody Fraga. Então, tu imagina como é a minha linha.
NP: Você é um grande cineasta da Boca do lixo. Qual você acha que é a importância da gente estar fazendo movimento, a primeira mostra de cinema da pornochanchada? Dita pornochanchada, para a gente é cinema da boca, eu sei. A primeira mostra de cinema da boca do Brasil.
Mário Vaz: Eu acho muito legal! Uma coisa que esse negócio de Boca, que ficam falando boca de cinema, para mim que vivi lá por 30 anos é Boca do Lixo. E nunca vou deixar de ser!
Amigos de cena
Nicole Puzzi: Ele é a única pessoa que eu me arrependo de não ter dado.
David Cardoso: Tem tempo ainda, gente. Calma aí! Eu não vou olhar muito para você senão sai um beijo bem estalado, então…
NP: Pode olhar, pode sair o beijo.
David Cardoso: Não vou beijar, não. Uma das maiores promessas das atrizes do cinema brasileiro. Nicole Puzzi, você está no meu coração e no coração de milhares de brasileiros. Quem está chegando aqui? Pô, Cabral, me interrompeu, eu ia dar um beijo agora nela aqui!
Ivan Cabral: Tá bom, você vai dar um beijo nela quando eu falar quem é esse cara. ~ele aponta para David. Ele está falando de uma grande atriz e eu quero falar de um grande ator. Duas pessoas fundamentais para a história do cinema brasileiro juntos, eu tive que vir aqui tirar uma casquinha. Vamos dar um beijo nela?
NP: Olha, gente, que pornochanchada gostosa que seria! Nossa!
A volta por cima
David Cardoso: Era uma coisa tão pura na época, nós éramos tão mal falados e hoje viramos cult. Graças a pessoas como você Ivan, que massageou nosso ego, você viu que nós fizemos alguma coisa para o cinema brasileiro, principalmente pelo cinema paulista.
Ivan Cabral: Vocês são divisores de águas, antes e depois.
David Cardoso: É, porque não era o sexo explícito, era uma coisa pura. E essas atrizes ela, Helena Ramos, Matilde Mastrangi, uma série… Patrícia Scalvi, Zilda Mayo…
NP: Vanessa Alves.
David Cardoso: Uma série, Mary Machado. Nunca se prostituíram, nunca! Esta moça fez dois filmes comigo e eu nunca a beijei fora de cena. Estamos planejando alguma coisa diferente aí depois.
Ivan Cabral: E eu vou entrar no meio, tá bom? Nós três…
NP: E “Possuídas pelo pecado” está na mostra, né?
Ivan Cabral: Claro!
NP: Nossa!
David Cardoso: Parabéns, Nicole, parabéns para a Cinemateca. Ivan, que ideia sensacional, você e a direção todinha e todo aqueles que, de certa forma, contribuíram para voltar os ídolos do passado.
Ivan Cabral: Tamo Junto, David e Nicole.
NP: Ai, gente, assim recebendo esse amor… carinho de 1975 quando a gente se conheceu. E o carinho de 2018, quando eu comecei a trabalhar com Ivan Cabral. Olha, duas pessoas tão parecidas, tão lindas e maravilhosas! Ai… Estou muito emocionada.
David Cardoso: Chega! Estou quase chorando. Vou voltar para o Pantanal chorando.
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