Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Luiza Prado, fotógrafa. No episódio 13 da segunda temporada de Pornolândia elas conversam sobre a arte da fotografia, de dramas pessoais e sobre a recepção da arte de Luiza no Brasil e m comparação com outros países. Uma conversa densa que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Ela é uma jovem fotógrafa que usa o corpo e cenários decadentes em seu trabalho. Ela tem só 26 aninhos! Lindinha, gente, lindinha! Mas, a mulher é poderosa, ela já vendeu suas obras para o Museu de Bogotá, já participou de uma feira na Alemanha, feira de arte né. E eu estou falando da Luiza Prado. Ela tem uma cinturinha deste tamanho, é toda bonitinha! E ela vai conversar com a gente sobre fotografia, é claro, performance, música e, obviamente, nudez e sexo logo depois da nossa Xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Ágata de Barros, uma loira skatista maravilhosa que que traz a sensualidade em seu ensaio nu com vibe street.
A carga dramática da fotografia de Luiza Prado
NP: Luiza, nome lindo eu acho! De onde vem toda a carga dramática da sua obra?
Luiza Prado: Bom, eu acho que, inicialmente, foram experiências tanto minhas como de pessoas próximas que eu tive contato. Bom, experiências geralmente negativas, óbvio, que ficaram…
NP: Por que óbvio negativa?
Luiza prado: Porque, se você está feliz, não precisa de um drama, a não ser que você queira dramatizar a felicidade. Então, com familiares e comigo mesma. E, geralmente, foram experiências que ficaram guardadas durante um tempo, porque fotografar eu não fotografo desde sempre, eu comecei com ilustração. E fotografar, eu fotografo há 4 anos, então ficou guardado durante muito tempo essas experiências para eu começar a dramatizá-las através de uma catarse. Eu considero que o meu trabalho é uma catarse para mim e é uma coisa que eu estou tentando executar com outras pessoas.
As experiências
NP: Tão novinha, você falando assim parece que você teve uma vida muito trágica!
Luiza Prado: De certa forma foi, foram situações difíceis.
NP: Que tipo de situações?
Luiza Prado: Eu tive contato muito cedo com violação sexual, vim de uma parte materna em que todas as mulheres também sofreram violação sexual. Então, desde muito nova eu tive contato com mulheres feridas de certo modo. E por aí vai. Esse tipo de história também, por parte de pai tive muito contato com pessoas com deficiência mental que era boa parte da família. Então, essas situações assim que poderia não ser tão trágico se não fosse tão desordenado. Se não fossem tantas pessoas desordenadas com seus problemas e não sabendo o que estavam fazendo com aquilo.
Então, você criança no meio daquilo tudo, você vai assimilando. Só que, naquela época, eu assimilava com desenho. O desenho era a minha válvula de escape, tanto é que eu desenhava o que eu via, o que eu sentia. Eu aprendi a desenhar com um destes meus tios que sofria de esquizofrenia. Ele falou assim “você tem a capacidade de criar um mundo só seu”, porque ele era esquizofrênico e ele realmente criava um mundo só dele.
A religião na obra de Luiza Prado
NP: Do caos nasceu a ordem. Do caos que você demonstrou que tinha na sua família nasceu a ordem na sua cabeça e você mesma se conduziu. Parabéns! E a religião? Até que ponto a religião é importante na sua criação artística?
LP: Eu tenho alguns problemas com religião. A minha família sempre foi muito católica, muito cristã no geral. E foi uma família que se converteu. Então, meus pais eram dois loucão e de repente… Eu vivi essa transição do profano para o sagrado. E foi um baque para mim, porque eu fui praticamente obrigada a participar destes ritos e tal. Tanto é que eu tenho muito costume de estudar religião e falar. Por exemplo, a Bíblia eu já li várias vezes, já participei de muita coisa dentro da igreja. Então, quando geralmente eu entro em discussão por causa de alguma foto, por eu trabalhar alguns elementos católicos ou evangélicos alguma pessoa se sente ofendida. Então, começa aquela discussão e parecem dois religiosos conversando, porque da mesma forma que a pessoa sabe eu também sei.
Polêmica
NP: E dessas obras religiosas que eu sei que você fez, tem alguma especificamente que provocou uma polêmica muito grande?
LP: Sim, algumas. Porque, uma especificamente que foi uma amiga que participou de um reality show. Era uma foto dela vestida de freira, uma coisa meio fetichista, com os seios e ela segurando, ela tem os seios muito grandes. E a gente fez aquilo para ser escrachado, mas também não foi em uma questão de ofender a religião. Foi uma coisa mais feministas, uma coisa mais da opressão, usando o fetichismo, porque eu adoro usar fetiche nas minhas fotos. E daí foi complicado, teve convento que queria tirar estas fotos da internet, porque foi uma afronta e realmente foi isso.
Autorretratos de Luiza Prado
NP: Você atua também como modelo, inclusive em autorretratos. Você acha que esses seus autorretratos, que são maravilhosos, você acha que facilita com as outras modelos no set?
LP: Sim, sem dúvidas. Assim, eu comecei com autorretrato foi a primeira coisa que eu fiz quando eu tive contato com a câmera, foi tirar a roupa e tirar um autorretrato. E isso eu fiz durante muito tempo, até eu assumir que eu fotografava demorou um pouco. Isso ajuda muito, porque principalmente quando é um trabalho mais comercial que as meninas estão mais nervosas, eu acabo posando junto praticamente. Todo fotógrafo faz isso, de se jogar no chão se precisar. Então, sim, isso foi uma coisa que facilitou bastante.
Os Homens na fotografia
NP: E com os homens? Você fotografa homens também. Você acha que eles são mais tímidos? Como é que eles ficam vendo uma mulher fotógrafa?
LP: Eu acho muito curioso homem posando, porque eu comparo o ato de fotografar com o ato sexual, acho que é muito parecido. Com a mulher, geralmente, tem uma preliminar, ela fala que ela está nervosa e você vai no processo até que ela se solta e é maravilhoso. Com homem, ele demonstra que está seguro da situação, que não está nada acontecendo, mas no fundo ele está se cagando de medo.
O brasil e os outros países na recepção das obras
NP: E a sua experiência no exterior? Me fala um pouco da diferença entre o Brasil e os outros países.
LP: Eu fiz uma residência em Bogotá na Colômbia, justamente com o tema de violação sexual e fotografia. Em Bogotá, eu senti que era um pouco mais… apesar de ser um lugar mais machista que o Brasil e ter mais problemas em relação a mulheres sofrendo algum tipo de violação e não ter a quem recorrer, porque foi muito difícil trabalhar com este tema lá, eu acho que elas ficam tão presas nisso que elas querem. Elas gostam de posar nua, parece que é uma transgressão àquilo que aconteceu com elas.
Aqui no Brasil, com relação a isso, demorou um pouco para alguém me levar a sério, as modelos. Porque, você chega, chama, a pessoa me olhava torto, achava que eu estava dando em cima. Isso não acontece só com homens. E eram situações engraçadas, hoje eu considero engraçadas. Então, quanto a isso eu achei um pouco mais simples. O Museo de Arte Contemporânea de Bogotá adquiriu uma obra minha que aqui no Brasil foi super censurada, já foi expulsa de exposição. Já foi censurada em uma exposição contra a censura.
Censura
NP: Qual obra é essa?
LP: É a obra da melancia, “A gula” que eu fiz com uma amiga minha que é performer. E as pessoas aqui, por exemplo tenderam para outro lado, que foi uma foto que a gente usou bastante para o tema fetichismo e mercadoria, os dois pesos, a visão de que cada peso desse é referente a quem está olhando o cenário. Para Miami foram três obras que aqui eu também tive muito problema. Eu mandava para publicação em revista e voltava. E também foi uma foto que foi expulsa junto com essa da gula, que é a menina da máscara de gás. Essa também foi para Miami para um feira considerada extremamente comercial. E essa da máscara de gás foi para a Alemanha.
NP: Querida, muito obrigada!
LP: Obrigada você!
NP: Eu adorei, você é ousada. Você é pequenininha, mas é inteligente. Gostei muito!
LP: Obrigada!
NP: E nós vamos encerrar como sempre, indo ver o talento da nossa cozinheira!
Cozinha ao Ponto
E o programa termina com a saborosa receita da bebida Rabo de galo, preparada pelas deliciosas tatuadas Sweetie Bird e Grazzie.