May Medeiros entrevistou a banda La Carne banda da cena “underground” de Osasco.
O La Carne é uma banda de amigos. Como se conheceram e se
tornaram “La Carne”?

Nos conhecemos desde os tempos do Ensino Médio (na época, se chamava 2º Grau), aqui em Osasco. Tinha uns festivaizinhos de rock na escola, e começamos a formar nossas primeiras bandas. Aí, o tempo foi peneirando tudo e todos. A maioria das pessoas faziam 2 ou 3 shows e paravam, iam fazer outras coisas da vida. E nós quatro fomos ficando, ficando… e eis-nos aqui.

Quais são as influências da banda? E o que toca na Playlist
dos integrantes?

Alternativo, funk, hardcore, reggae… E muito rock´n´roll tosco, tipo Mudhoney, The Fall,… O playlist aqui é bem variado. P.J. Harvey, Husker Du…

Quem escreve as letras das músicas e como é o processo de
criação de um track?

Nosso sistema é assim: ficamos dentro do estúdio tocando horas e horas, até que um riff, um bassline, uma batida, uma frase… Algumas vezes as coisas aparecem juntas, e vamos cercando, lapidando, até virar música. É tudo na base do improviso, entende? Depois, eu (Linari) vou lá e escrevo alguma coisa que encaixe bem no instrumental. Mas isso não é regra, às vezes acontece de outro jeito.

Algumas letras são bem “politizadas”. Tem alguma intenção nessas mensagens?

Na verdade, nunca gostei desse negócio de “mensagem”. Escrevo sobre as coisas que me despertam interesse, coisas que acho engraçadas ou tristes, coisas que vejo na rua, no trabalho, nos sonhos, no bar, na escola, no trânsito… Não me preocupo com uma “mensagem” específica. Cada um entende as letras de um jeito muito particular. Acho mais legal assim.

Estamos na era de downloads gratuitos, música livre, internet mobile.
Como o La Carne sobrevive diante das filosofias contemporâneas onde a
distribuição da música é livre de qualquer restrição? Como e onde
disponibilizam as músicas?

Nossas músicas estão em vários sites de downloads, e a maioria não fomos nós quem colocamos. Pessoas que nos ouvem e gostam do som, divulgam as músicas, as imagens e a gente faz questão de não ter controle nenhum sobre isso. Nos nossos shows, tentamos vender uns cedezinhos, umas camisetas, mas geralmente não pagam nem o que nos bebemos.  Mas tudo bem, é o caminho que escolhemos, tocar só nossas músicas estranhas, não músicas conhecidas do grande público. Se a gente quisesse ganhar mais grana com música, iríamos tocar “covers” de classic rock em algum bar bacana – como muitas bandas fazem pra pagar as contas e viver honestamente. No nosso caso, temos outros empregos pra pagar as contas, por isso podemos nos dar ao luxo de ter liberdade criativa total na hora de compor.

Nos shows vemos um total entrosamento entre a banda e o público
com as letras na ponta da língua. Quanto tempo de estrada?

Neste ano completamos 15 anos de estrada, é uma vida né? Sobre o público, tenho a dizer o seguinte – e me desculpem as outras bandas, mas: o público do La Carne é o melhor que existe. E gostam da gente por razões que a gente ignora, e faz questão de ignorar, entende? São o nosso termômetro.

Já rolou alguma história peculiar para contar para a posteridade?

Já rolou muita coisa, mas o melhor ainda está por vir…

Qual foi o melhor show que já fizeram? E o que de pior pode acontecer
em um show?

Olha, sem querer sacanear a pergunta, mas, o melhor show é sempre o próximo. Sempre.

Na música ‘Decida’, Marcos Linari canta: ‘Amor, tenho 40 anos e acho
que não aprendi nada’, então o que o La Carne não aprendeu ainda?

Não aprendeu a fazer um bom marketing próprio, fazer assessoria de imprensa, contatos com gente influente na imprensa, no mercado, ir em festinhas hype, essas merdas que toda banda tem que fazer se quiser aparecer. Nesse quesito, sempre fomos um fracasso. Nosso anonimato é culpa nossa – disso temos certeza.

Vocês já participaram da trilha sonora do filme Getsemani do Mario
Bortolotto e do Documentário Pixo de João Weiner e Roberto Oliveira. A
XPLASTIC é uma produtora de filmes altporn e uma das propostas é incluir
boas músicas em seus filmes. O que acham das trilhas de filmes pornôs,
eróticos e afins do mainstream? Colocariam uma música de vocês em um filme
pornográfico?

 

Acharíamos lindo, desde que fosse um bom filme. Somos admiradores das boas
produções nacionais. Os diretores estão cada vez mais profissionais, cada
vez mais cuidadosos com a fotografia, com o elenco. Pouca gente sabe, mas
o pornô brasileiro “goza” de admiração e respeito no mundo todo. Seria uma
honra pra nós ter uma música do La Carne num filme bem produzido. Só não
dá pra encarar essas produções toscas, de banca de jornal, tipo :”3 horas
de sexo”, “Anal Total das Ninfetas”, etc, que os caras fazem só com sobras
de outros filmes. São muito ruins. Sexo com animais também não rola.

Algumas músicas são a reprodução perfeita de galanteios e desculpas
deliciosamente esfarrapadas. Tem alguma que surgiu de uma história real?
Não escondam nada.

“Jukebox” eu escrevi pra uma garota, que hoje é a minha mulher. Eu ficava ligando do telefone público da rua pra ela, e quando ela atendia, eu ficava gemendo e desligava. Coisa de tarado, né?

O show geralmente tem uma boa parcela de mulheres bonitas. Pergunta
pulsante: Já houve muita jam session particular depois do show, fruto
dessa parcela?

Não, nós somos caras certinhos, monogâmicos, românticos, casadinhos… O Jonas Brothers nos copiaram na maior cara de pau…

Em ‘Blues dos seus Absurdos’ La Carne ameaça “Pode começar a se
preocupar comigo, pode começar a se cuidar…”. O que La Carne ameaça
para nossa agenda?

Na verdade, por tudo o que disse acima, foi uma grande e grata surpresa o convite de vocês para nós tocarmos na entrega desse prestigioso prêmio do Cinema “X” Nacional. Esperamos poder fazer um bom show, distribuir alguns preservativos e depois aplaudir os vencedores.
(Ele se refere ao Erotika Video Awards)

VOCÊ ENCONTRA O SOM DOS CARAS AQUI: www.lacarne.com.br