Juliana é atriz e colaboradora do coletivo que colocou em prática o primeiro filme de pornô terrorista no Brasil, o filme dela participou do PopPorn Festival 2012, festival pornográfico que rola em São Paulo.
1. Qual sua formação? Você trabalha com o ramo audiovisual mesmo?

Vou começar com um esclarecimento: eu vou responder esta entrevista, mas eu não sou a diretora. (As perguntas 3 e 6 quem responde é a Violácera – uma das aglutinadoras do projeto e diretora da filmagem em São Paulo). Eu sou a atriz (Juliana Dorneles/ Picorella) e enchedora de saco profissional dos amigos. Esse filme não tem assim, essas coisas normais, um diretor, um produtor, ele é uma realização coletiva feita com amigos parceiros nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Somos parte de uma rede bastante ampla de artistas. Todos resolvemos entrar numa aventura com este filme, e cada um fez o que queria dentro da sua área de criação.

Somos fotógrafos, cineastas, diretores de arte, psicólogos, antropólogos, turismólogos, agentes culturais, cenógrafos, professores de inglês… Alguns trabalham com o ramo audiovisual, os câmeras, dois lindos, um talento sem tamanho. As montadoras, geniais, loucas, cineastas gostosas. A equipe de São Paulo especialmente tem muita gente que trabalha com audiovisual. A Violácera faz cinema; o Lorean faz trilhas, o Gabi trabalha com cinema e animações… Já eu, sou doutora em psicologia clínica e atriz. Ja tinha feito algumas filmagens, mas este, sem duvida, é diferente de tudo que eu fiz.

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2. E como começou seu interesse por vídeos eróticos e pornôs.
Quando li Freud. O pornô é uma forma de fantasia sobre a intimidade dos outros.

3. Conte-nos sobre surgiu a ideia de gravar esse vídeo?
(quem responde essa é a Violácera): Em um grupo formado por mulheres, em sua maioria artistas, começamos uma discussão sobre o movimento pós-pornô na Europa em contraposição às representações estereotipadas da sexualidade feminina que estávamos acostumadas a ver na pornografia mainstream. Gêneros estáticos, papéis recorrentes de submissão / dominação, fetiches comuns, a falta de gozo, de fluídos, de uma atitude mais autêntica das mulheres nos filmes da indústria, assim como uma estética padronizada, nos incomodavam. E as novas experiências, subversão de gêneros e de papéis, experimentações estéticas e de linguagem na pós-pornografia nos interessavam.

Começamos a investigar a pornografia dentro do grupo, compartilhando filmes, preferências, falando de coisas que nos excitavam ou não nesses dois terrenos. Então nasceu um outro grupo, de mulheres e homens com a vontade de criar e de produzir pornografia fora dos padrões de mercado.

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4. Como realizou este trabalho? Verba pública, privada, que equipamentos usou?
Verba? Usamos uma camera 5D.

5. Seu vídeo está em uma mostra onde parte da renda vem do apoio de pessoas que gostam da ideia. Você acredita que essas novas ferramentas de financiamento baseadas na internet (Crouwdfunding) podem contribuir para o seu trabalho? Isso tem
te ajudado diretamente?

Acredito totalmente. Ainda não fiz nenhuma produção diretamente financiada com essa ferramenta, mas temos alguns projetos que podem chegar aí sim.

6. Qual a sua opinião sobre produzir filme no Brasil e aquilo que tem sido produzido?
(Quem responde esta é a Violácera): O cinema Brasileiro na maioria das vezes parece carecer de ousadia, de inventividade e de incentivo. As produções independentes tentam respirar, mas ainda falta fôlego, estrutura material, ambiente criativo. Por outro lado, com as tecnologias cada vez mais acessíveis, o cinema está deixando de ser algo para poucos, e isso deve abrir espaço para novos criadores, novas ideias.

(Agora a Juliana também fala): Cinema é algo que envolve muito dinheiro para as vezes sair algo esdrúxulo. Mas tem tantos afetos envolvendo esse fazer… um ajudando o outro porque gosta da idéia, porque quer estar no palco, porque amao diretor, porque acha que vai para Hollywood… eu venho do teatro, gosto muito da coisa coletiva, da junção de pessoas. Essas coisas envolvem uma multidão. E envolvem os desejos dessa multidão, envolve expectativas e frustrações, medos… ver funcionar essa máquina para mim é um dos maiores aprendizados. Somos cafetões de desejos.

7. Gostariamos de saber mais detalhes sobre o seu roteiro.
O roteiro da filmagem em são Paulo: Minhocão (Viaduto Costa e Silva), Praça das estátuas (embaixo do Minhocão), bar na Santa Cecília, Viaduto Santa ifigênia, e terminamos de gravar na Praça da Sé. Em porto alegre: Escadaria da rua Duque de Caxias, Catedral e Praça da Matriz,
viaduto da Borges de Medeiros, bar Tutti Giorni, Gazômetro e Mercado público. Na edição feita pela Carol e pela Luiza, o roteiro bagunça essa trajetória e vem encontrar a poesia concreta da cidade.

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8. O que pretende com este vídeo?
Chocar o meu pai.

9. Quais suas influências?
A subjetividade da matéria, as coisas que as coisas nos dizem, as forças vulvânicas da Lygia Clark, os quadrinhos eróticos do Manara, a Diana pornoterrorista, as perras espanholas, o público e o privado. Nietzsche, Deleuze, Bataille, os exagerados.

10. Onde encontrar outros trabalhos?
É o nosso primeiro trabalho juntos. Mas recomendo vivamente o BMG, Banco Mundial da Genitália, trabalho que a Carol Barrueco, a Luiza Só e o João Kowacs fazem: http://www.genitalia.me/

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