Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Jean Wyllys, político. No episódio 16 da segunda temporada de Pornolândia eles conversam sobre a vida política de Jean, sobre o reality show do qual foi campeão e sobre sexualidade. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
NP: Ele é jornalista, homossexual, político. Eu admiro ele demais, mas ele é um dos brasileiros mais polêmicos da atualidade. Ele pode tanto ser muito amado, quanto muito odiado. Amado e odiado tudo ao mesmo tempo. A carreira dele não é convencional, não. Eu gosto disso! Jean Wyllys saiu de um reality show e hoje está em no Congresso Nacional, mexendo com um monte de gente. Nós vamos conversar com ele depois da nossa Xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Lolla, uma mulher de cabelos curtos e azuis que ficou nua em um ensaio sensual que revela as delícias do que há de mais rotineiro!
A carreira de Jean Wyllys
NP: Jean, estou tão feliz com você aqui!
Jean Wyllys: Eu fico muito feliz por você ter me convidado. Eu aceitei de imaediato o convite! Sou seu fã!
NP: Obrigada! E eu su fã também.
Jean Wyllys: Obrigado!
NP: Eu torci por você no…
Jean Wyllys: No big?
NP: Sim. Eu torci muito para que você ganhasse e você ganhou!!!
JW: Ganhei!
NP: Mas, nunca imaginei que a sua carreira fosse para estes lados. Eu falava, nossa, esse cara é inteligente, porque dava para perceber. Mas, nunca imaginei!
JW: Na verdade, o Big Brother que é um desvio na minha vida. Eu sempre fui um cara ativista, desde a minha adolescência. Eu fiz parte do movimento pastoral da Igreja Católica, Pastoral da Juventude estudantil, Pastoral da Juventude do Meio Popular. E depois, quando eu iniciei a minha vida universitária, eu entrei no Movimento Gay, que na época ainda não se chamava Movimento LGBT+. Como jornalista, sempre fui ativista de direitos humanos, professor universitário também.
Eu criei uma pós graduação em jornalismo e direitos humanos na Faculdade Jorge Amado, onde eu dava aula. Coordenei um núcleo de mídia e cidadania que trabalhava com educação pela mídia para a mídia com os alunos de comunidades pobres de Salvador. Então, o Big Brother foi uma mudança nessa rota, porque eu entrei no programa com interesse acadêmico, para estudar e acabei saindo de lá como uma celebridade instantânea. Ganhei o programa. Então, foi um desvio da rota. E a candidatura, quer dizer me filiar a um partido e me candidatar, foi uma maneira de conciliar estes dois momentos da minha vida. Minha história até entrar no Big Brother e a minha história depois do Big Brother com a popularidade e a fama que o programa me deu.
Preconceito
NP: É, pois é, que coisa boa! Sabe, você falou de antes como eram os movimentos, outros nomes, né. Uma vez eu tive que recorrer ao GAPA. Lembra do GAPA?
JW: Lembro! Grupo de Apoio a Prevenção a AIDS.
NP: Era o único movimento na época que defendia os homossexuais.
JW: Na verdade, o Movimento Gay se organiza de uma maneira mais consistente a partir da tragédia da AIDS. O que veio para um bem, digamos assim.
NP: Eu tinha uma babá, mais pro final dos anos 80, uma babá que era travesti, a babá da minha filha.
JW: Qual era o nome? Você lembra?
NP: Juliana. Ela não gostava que eu falasse o nome dela que foi registrado.
JW: Está certíssima Juliana. A gente é o nome da gente, né. A gente é o que a gente escolhe ser na vida, como a gente se posiciona. E as pessoas deveriam respeitar isso.
Violação
NP: Mas, você sabe que nesta época, invadiram o meu apartamento, porque queriam colocar ela para fora. Só que esperaram eu sair, né. Invadiram e queriam colocar ela para fora a porrada. Ah, Jean, eu era atriz de Pornochanchada, eu tenho o maior orgulho de ter sido atriz de Pornochanchada nos anos 70. Quando eu voltei você não sabe! Eu quase que botei os dois para fora do prédio e me apoiei no GAPA.
JW: Então, o meu maior orgulho de estar aqui com você é exatamente por isso, porque você sempre foi uma atriz com orgulho do que você fazia! E as Pornochanchadas tem um papel tão importante para o cinema brasileiro. Antes elas eram mais desprezadas, hoje há um resgate. A importância das pornochanchadas para o cinema brasileiro, para o audiovisual brasileiro, e você está no nosso imaginário. Então, é um prazer estar aqui. E a sua coragem, porque de alguma maneira, não conscientemente você já estava ali firmando os direitos sexuais das mulheres.
A fiscalização do sexo alheio para Jean Wyllys
NP: As pessoas se incomodam demais com o sexo dos outros. Eu costumo dizer que muita gente se autointitula fiscal da vagina, fiscal do pênis, do ânus dos outros. Na verdade, eu falo com outros nomes, mas né.
JW: Com aqueles nomes que a gente usa sempre.
NP: Mas, por que isso? Por que as pessoas têm uma fiscalização em cima do sexo dos outros?
JW: O sexo sempre foi alvo de muitos discursos, né, Nicole. Desde muito cedo o sexo é alvo de discurso. Se a gente pegar a história do Ocidente, da civilização ocidental, e formos para as fundações desta história, as narrativas que fundam esta história… Então, por exemplo, a Bíblia que é uma narrativa fundadora da civilização ocidental, a gente vê que a Bíblia investe pesadamente no discurso de controle sobre o sexo. Considerar o que Onã fez, que é a masturbação, um crime. O crime de Onã, o onanismo, já é um controle sobre o sexo.
Os discursos acerca do sexo
NP: Existe um personagem bíblico bastante importante que ele buscava meninas para dormir com ele, porque ele estava velho.
JW: Sim. Basta ler a Bíblia para ver casos…
NP: Isso é pedofilia.
JW: Do que a gente chama hoje de pedofilia. A gente vai ver casos do que a gente chama hoje de pedofilia, poligamia, porque era típico de uma tribo patriarcal de 3 mil anos. Então, a gente não pode pegar aquele código de 3 mil anos e aplicar hoje. Mas, o que eu quero dizer é que o sexo é alvo de discursos há muito tempo. Depois, com o passar dos séculos e a modernidade, o que a gente chama de modernidade ocidental, que surge ali por volta do século XVII/XVIII, o sexo passa por um investimento, um discurso medicalizante, higienizante.
Esse discurso permanece e está entranhado nas pessoas. As pessoas se preocupam muito com o sexo alheio, porque o sexo é uma força poderosa. O sexo é contrário à escravização pelo trabalho, porque nos humaniza. O sexo feito com prazer nos humaniza. E nós somos uma sociedade que somos uma força de trabalho, o corpo a serviço de um trabalho, de uma produção de riqueza. O sexo é contrário a isso, então, talvez por isso o sexo incomode tanto.
Liberdade sexual
NP: Meu amor, isso aconteceu comigo muitas vezes! Mulheres que faziam coisas, elas vinham me contar as coisas que elas faziam, que eu jamais faria. Elas faziam, mas quem era a dita “prostituta” era eu, porque eu fazia cinema nacional.
JW: Porque você era liberada! Porque você era uma mulher liberada sexualmente…
NP: Eu fiz pornochanchada porque eu quis fazer!
JW: Sim, claro. Você era uma atriz de pornochanchada, você era liberada sexualmente e a liberação sexual da mulher que é dona do seu corpo, da mulher que faz suas próprias regras, você é uma espécie de Madonna, Madonna foi dos anos 80… Essa mulher é invejada, é julgada. Ela é sobretudo invejada, porque as mulheres que não podem viver isso e tem vidas infelizes porque não gozam com seus maridos, porque não conseguem dar vazão a suas fantasias, elas atacam.
Jean Wyllys fala da hipocrisia
NP: Eu apanhei na rua. Eu nem estava na televisão, foi do cinema. Se a mulher que me bateu na rua sabia quem eu era, é porque ela assistiu meus filmes. Não tinha outra maneira de ela me conhecer, só assistindo os meus filmes. É a hipocrisia!
JW: Os gays são muito invejados neste sentido, né. A maneira como os gays lidam com a sua sexualidade, a tranquilidade com que os gays trocam de parceiros e tem relações menos duráveis de maneira geral, claro que tem gays que têm relações duráveis de 20 anos. Óbvio, tem todo tipo, mas estou falando aqui da média, da regra que os gays são mais livres em suas relações. As lésbicas não. As mulheres lésbicas casam e tem relações mais duráveis. Mas, os homens gays, não. E isso é uma conquista da da cultura gay urbana. Isso desperta muita inveja! Os homens héteros acusam de promiscuidade por causa disso, embora…
Promiscuidade
NP: Eles não são promiscuos!
JW: Isso que eu ia dizer! Embora, eles pratiquem uma promiscuidade. As casas de swing estão aí, as traições estão aí. Mas, os homens héteros disfarçam a sua promiscuidade na opressão sobre a mulher.
NP: Na opressão. Como disse John Lennon “The woman is the negro of the world”. Desculpe o meu inglês é péssimo, mas a mulher é o negro do mundo.
JW: A mulher é o negro do mundo, exatamente. Então, o homem tem uma namoradinha ou uma esposa com quem ele mantém uma relação higiênica e saudável, mas ele está ali traindo ela com a amante, vai em casa de swing, mas ele não considera isso promiscuidade. Mas, como os gays tem isso de maneira aberta, tem relações menos duráveis, que trocam de parceiros com mais facilidade e continuam amigos dos seus antigos parceiro, isso desperta uma certa inveja.
Deputado Jean Wyllys x Diversão
NP: O que você faz para se divertir como deputado?
JW: Olha, ficou difícil para mim hoje.
NP: Eu imagino!
JW: Eu tento manter a minha vida comum assim. Mas, agora fica difícil, porque as pessoas estabelecem outra relação comigo hoje, de respeito, de admiração. Eu sou representante delas, então, às vezes à noite eu só queria tomar um drink e dançar e a pessoa vem falar comigo sobre política. E eu não posso falar para ela “olha, eu estou me divertindo”, eu tenho que conversar sobre política com a pessoa. Acaba que eu converso um tempo ali e depois vou embora, porque não dá. Ficou difícil, mas eu me divirto desta maneira. Eu vou à boate quando eu posso, não danço tanto, porque com essa onda de internet, vídeos, todo mundo quer filmar tudo. E eu me policio, fico muito atento à difamação, enfim.
NP: Eu sei, eu…
JW: Mas, eu gostaria de fazer tudo o que eu faço, gostaria de ir à saunas gays, ir nas baladas, mas eu não posso, não dá para fazer isso!
Convites
NP: Mas quando você quiser dançar… Olha eu cantando o Jean Wyllys. Quando você quiser dançar pode me chamar que eu vou com você.
JW: Gosta de música brasileira, gosta de samba?
NP: Gosto de tudo. Adoro música brasileira, adoro Rock, adoro tudo.
JW: Então, a gente pode ir numa festa de Rock, porque eu gosto de rock, a gente vai de música brasileira, samba.
NP: Acabou. Vão falar mal da gente.
JW: Paciência.
NP: Ele é roqueiro e inteligente!!! Vou fazer uma coisa com você que eu só fiz com um médico que eu amo demais e com uma menina que era lésbica. Eu vou dar um beijo em você!
JW: Ah, quero! Você é maravilhosa!
NP: Te adorei. Que bom que você veio no meu programa!
JW: Eu viria sempre. Me convide sempre que eu venho sempre. Adoro você!
NP: Obrigada!!! E agora a gente vai para a Sweetie Bird. É com você Sweetie.
Cozinha ao Ponto
E o programa termina com a saborosa receita de Bolinho de Abobrinha, preparada pelas deliciosas tatuadas Sweetie Bird e Grazzie.