Heitor Werneck no Pornolândia
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e Heitor Werneck para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Heitor Werneck, estilista e produtor cultural. No episódio 20 da segunda temporada de Pornolândia eles conversam sobre a moda atualmente e sobre fetiches. Uma conversa divertida e poética que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay. 

Nicole Puzzi entrevista Heitor Werneck
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e Heitor Werneck para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

Nicole Puzzi: Ele foi o responsável por uma das iniciativas mais ousadas no mundo da moda nos anos 90. E é também um grande divulgador da modificação e suspensão corporal. Ele organiza umas festas que vêm há bastante tempo, uma das festas mais duradouras e mais interessantes do mundo do fetiche. Vocês vão conhecer, estou falando do Heitor Werneck. Logo depois da nossa Xgirl.

A nossa Xgirl

Xgirl Miyuki

E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Miyuki, uma mulher de cabelos curtos e encaracolados, revelando a beleza de ser simples!

Capricornianos

NP: Heitor Werneck, eu vou te confessar: você é muito interessante!

Heitor Werneck: Eu também acho! E não sou leonino!!!

NP: Olha que bacana. Que signo você é?

Heitor Werneck: Capricorniano.

NP: Ah, meu deus, tinha que ser! É o signo da minha filha, meu deus do céu, amo!

HW: Eu sempre falo que o mundo seria muito melhor se produzissem mais capricornianos.

A formação de Heitor Werneck

NP: Agora, me fala da sua formação e do seu trabalho no mundo da moda que eu sei que foi revolucionário.

HW: Eu tenho as faculdades mais absurdas umas das outras, sabe. Quando eu era pivete, eu morava em uma fazenda e eu gosto muito de terra. Eu queria estudar botânica, mas naquela época, não existia faculdade de botânica. Naquela época ontem, né. Não existia faculdade de botânica e você tinha que fazer uma parte na Alemanha para depois vir para o Brasil. E eu achava isso um absurdo. Aí fui lá e fiz primeiro tecnólogo em agropecuária. Aí eu vim para São Paulo e estudei Publicidade. Aí, logo depois, eu fiz a marca e fui o primeiro aluno da Anhembi Morumbi de moda, no primeiro curso. Aí depois eu fui para a Puc, fiz teologia e fiz pós em ciência da religião. E este ano estou prestando para filosofia.

Como o Heitor Werneck junta tudo?

NP: Você está me surpreendendo, porque você fez um monte de coisa que, aparentemente, não tem nada a ver com a outra. Mas, como é que você junta tudo isso?

HW: Todas são a minha vida, a vida que eu tinha no momento. E se você for ver, todos tem explicação. É terra, moda, vestir,, publicidade… Tudo tem uma coisa com vida, questionamento de vida, o que você vai comprar, o que você vai vestir, o que você vai comer, o que você vai pensar.

NP: É uma visão ampla.

HW: É!

As pessoas estão se vestindo pior

Heitor Werneck segurando garrafa de água e falando com Nicole Puzzi nos bastidores do Pornolândia
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e Heitor Werneck para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

NP: Agora eu quero te perguntar para você uma visão mais fechada. Você acha que as pessoas estão se vestindo cada vez pior?

HW: Estão. As pessoas estão em retrocesso mental e de moda então, mais ainda. Isso aparece.Você entra em uma metrô e está todo mundo de jeans e camiseta. Todo mundo. Não tem mais identidade.

NP: Nos anos 70, era o máximo jeans e camiseta.

HW: Pois é, porque estava começando a vender essa história da liberdade do jeans e da camiseta. Só que é uma prisão, porque as pessoas só se vestem com jeans e camiseta.

NP: Se tornou uma prisão, né?

HW: Se tornou uma prisão.

A expressão através da moda

NP: Mas, o que é a moda para você? Como a pessoa vai se expressar através da moda? Usando o quê? A pessoa sempre busca o mais fácil, mas uma pessoa que quer se expressar sexualmente…?

HW: sexualmente principalmente. Porque, por exemplo, a gente tem agora a liberdade do corpo. Você não precisa mais ser 20 anos corpinho e tã nã nã. Você pode ser gordinho, você pode ser magrela, você pode ser alta, você pode ter três peitos, quatro peitos, careca, vermelho, azul, amarelo, tatuado. Existe essa liberdade. Existem vários padrões, porque o mundo populou, então tem gosto para tudo, tem gente para tudo. Aí, essa pessoa que quer se expressar, por exemplo… Um gay. Por que um gay tem que se vestir igual ao ídolo dele, como sempre teve. A gente sempre tem uma referência do nosso ídolo, imita o cabelo, imita alguma coisa. Mas, a gente imita uma coisa e põe, mas hoje em dia é uma cópia. É doentio.

Falta de inteligência?

NP: Então, além da falta de personalidade, existe uma falta de inteligência, né?

HW: Por isso que eu falo que a moda é o grande retrato do retrocesso mental da população.

Heitor Werneck e a modificação corporal

Nicole Puzzi abraçada com Heitor
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e Heitor Werneck para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

NP: E a modificação e suspensão corporal, como é que se relaciona com o seu trabalho na moda?

HW: As fontes em que eu bebi foram de fetiche. A história que eu vivi foi aquela coisa européia do século XVIII, sempre foi a fonte do meu encantamento. Eu sou uma pessoa que adora Biron. Então, eu lia Biron e via todo aquel processo do gótico, do Frankenstein, Mary Shelley, de vampiros e não sei mais o quê. Aquilo tudo é a minha grande verdade. E isso eu trouxe e a gente traz para o vestir. Então, eu sempre gostei de corcelet, sempre gostei de ficar apertado, sempre gostei de pegar o meu corpo e ransformar em outra coisa. Então, eu tinha que ter cintura, eu tinha que parecer um vampiro. Eu alonguei os meus caninos em 87.

NP: Em 87? Mas, ninguém fazia isso.

HW: Ninguém fazia isso. Aí o dentista falou “não, eu não posso implantar”. E eu falei por que não? e ele “porque é contra a lei”. Aí eu falei “então espera um pouquinho”. Eu desci, fui até ali, quebrei os meus dentes e falei “pronto, agora você tem dois dentes a menos, agora você pode fazer o dente do jeito que eu quero”.

NP: Que loucura gostosa!

HW: Sério, porque eu acredito muito na modificação corporal. Depois de um tempo, eu acredito que você deve ser o que você quiser ser. Você tem a obrigação de ter a tua identidade como pessoa, como pensamento e como atitude. E a modificação corporal te dá essa liberdade total.

O fetiche no Brasil

NP: Você acha que estas cenas de fetiche, o cenário de fetiche no Brasil tem semelhança com o que temos em outros países?

HW: Não! Nosso país é altamente preconceituosa, nosso país é altamente machista, é altamente retrógrado em todos os sentidos. aqui a gente começa com uma coisa que é assim, existe o BDSM e o fetiche. Eu sou super criticado pelo grupo antigo do BDSM, porque eu sou do fetiche. Enquanto que, no mundo inteiro, o BDSM é um dos fetiches.

BDSM x Fetiche

NP: Me fala só um pouquinho para a gente entender.

HW: O mundo do fetiche que é o BDSM, que não é BDSM, porque é ou Bondage, Dominação, Sadomasoquismo. Então, você pode ser um podólatra, que é um fetiche. Você pode ser um infantilista, que é um fetiche. Você pode gostar de bater, é um fetiche. Você pode gostar de couro, é outro fetiche. Aqui no Brasil existe uma diferença, existem o BDSM e o povo do fetiche. Cafonice, isso não existe no mundo inteiro.

NP: Estão institucionalizando o…

HW: Então, mas no nosso país a gente precisa. Ou você é de esquerda ou é de direita, ninguém é político.

NP: Você não pode criticar! Você não pode ver uma coisa boa aqui, mas tem outra coisa boa ali. Tem ruim lá e tem ruim aqui.

HW: Existem uma expressão esquerdopatia e eu sou a direitopatia.

NP: a gente está emburrecendo, né?

HW: Estamos emburrecendo, é um retrocesso mental.

Heitor Werneck e a festa Luxúria

Nicole Puzzi e Werneck
Bastidores do Pornolândia com Nicole Puzzi e Heitor Werneck para o Canal Brasil, produção de Luzvermelha.tv

NP: E a festa luxúria que você promove, como é que é?

HW: O luxúria e estou há 8 anos, vai fazer 9. Agora ela é uma Label mesmo. Eu sempre fiz ela para o prazer, porque assim, é um universo… Primeiro que, quem vai muito na festa, a gente chama de luxúria terapia. Isso é meio pretensioso falar, mas eu já vi várias pessoas que chegaram ali, tem um grupo que veste látex que chegou lá e nem sabia o que era látex. E eram pessoas que amavam látex, mas não tinham coragem de usar. Então, o Luxúria serviu para tirar aquilo do armário.

E eles mesmos falam “eu comecei no Luxúria” e hoje em dia está usando um salto e é hétero. Mas, ele não tinha essa coragem, mas o Luxúria incentiva ele. A gente tem pessoas ali que vieram gordas, problemáticas e já andam nuas pela festa e se acham lindas, porque tem muitas pessoas que acham lindo ser gordinho. É uma terapia mesmo aquela festa.

Perversões

NP: Então, a Luxúria e o fetiche servem de uma maneira sã, vamos dizer assim, elas servem para sanar as perversões, em sentido negativo, as perversões sexuais. A perversão só pode ser no mal sentido.

HW: Sim. Só pode ser no mal sentido, eu não gosto muito. Eu viro para alguma pessoas e falo “nos anos 50 você tomava choque elétrico. Perversão é doença psicológica. Eu acho também que o nosso país está precisando ter um negócio de saúde mental muito forte. Porque, está dando Rivotril para todo mundo, mas devia estar dando mais choque elétrico mesmo. Tinha que ter mais internação, tinha que ter mais presídio, porque a gente sofre de doença mental. E o fetiche, eu falo de coração, as pessoas que frequentam bastante o Luxúria, acalmaram e ficaram legais.

NP: Amor, comecei encantada com você no início…

HW: Ah, que bom, né, porque você sabe que é ídolo, né.

NP: Então, finalizando a nossa entrevista mais encantada ainda. Obrigada!!!

HW: Obrigado, eu gostei muito mesmo!

NP: Agora a gente vai ver o que a Sweetie Bird está aprontando. Ela está com assistente dela se lambuzando na cozinha!

Cozinha ao Ponto

E este episódio termina com a receita de sorvete de leite em pó, preparado pelas deliciosas tatuadas Sweetie Bird e Grazzie!