Gabriela Masson - autora da Garota Siririca no Pornolândia

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista a Gabriela Masson, autora de histórias em quadrinhos. No episódio 10 da sexta temporada de Pornolândia eles conversam sobre o machismo no mundo dos quadrinhos, sobre a personagem Garota Siririca e claro, sobre as xoxotas. Uma conversa orgástica que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

Nicole Puzzi e Gabriela masson lendo A Garota Siririca

Nicole Puzzi: As mulheres conquistaram muitos direitos nas últimas décadas. Mas, quando o assunto é sexo e masturbação, o cenário não é tão positivo. Grande parte das mulheres não conhece o próprio corpo e tende a ter nojo de sua genitália. Hoje vamos conhecer o trabalho da Gabriela e sua personagem, a Garota Siririca, que usa o humor escrachado para desmistificar os tabus que envolvem a sexualidade feminina. E depois vamos ficar com a nossa saborosa Xgirl.

Oh, Gabi. Gabi é melhor do que Gabriela, não é?

Siririca na vida de uma mulher

Gabriela Masson: Pode ser Gabi, pode ser Gabo.

NP: Gabo, a autora da Garota Siririca! E como é que surgiu essa história da siririca na sua vida?

Gabriela Masson: Começou em 2013/2014, quando eu estava começando a fazer histórias em quadrinhos e eu também estava saindo de um relacionamento bastante abusivo, um relacionamento heterossexual. Depois que eu saí desse relacionamento eu fiquei muito deprimida e procurei algo que eu pudesse fazer por mim mesma. E eu cheguei à conclusão de que isso era a siririca, que eu não fazia até então. Isso eu estava com uns 23/24 anos.

NP: E você nunca tinha se masturbado?

GM: Então, já tinha feito algumas tentativas ao longo da minha adolescência, mas eu nunca tinha tido um orgasmo, por exemplo. E depois desse relacionamento abusivo, eu decidi que eu precisava um orgasmo. Porque, até então, eu achava que eu tinha algum problema, inclusive anatômico por não conseguir experienciar isso. Aí, eu comecei a fazer “intensivões” de siririca e eu tive esse orgasmo. Eu pensei “eu sou mó garota siririca”, fiquei meio viciada assim. E como eu estava fazendo quadrinhos neste mesmo momento, eu decidi que faria uma história sobre isso também motivada pela ausência de personagens femininas dentro dos quadrinhos brasileiros.

NP: Só tem a Turma da Mônica.

GM: É. E é difícil ter referências de histórias adultas, que é o que eu queria nos meus quadrinhos. Então, eu decidi fazer isso. Era uma história que falava tanto das minhas experiências, mas é uma ficção, e também era algo que eu gostaria de ler também.

Cheiro de buceta

Garota Siririca - história em quadrinhos

NP: Agora, vamos falar de cheiros genitais. Tem um tabu tão grande assim para os humanos, não tem? O cheiro genital é excitante, mas você vive lavando, limpando, de medo. Como você vê isso?

GM: Na verdade, esse é um tema que eu já pesquisei à respeito.

NP: Nas suas histórias?

GM: Sim! Agora, inclusive, estou fazendo uma história em quadrinhos que se chama “Sheiloca”. E no primeiro episódio eu falo especificamente dos cheiros genitais. Tem uma personagem que chama Fedora, porque ela sofre bullying com relação aos cheiros da vulva dela. Em algum momento da história eu interpreto isso “ah, se a xoxota está fedendo, é um relacionamento tóxico, a pessoa com quem você está se relacionando não vale a pena”. Mas, mais uma brincadeira de interpretar esse cheiros que as pessoas colocam um peso muito grande, um estigma negativo em cima disso. Eu quis voltar isso contra essas pessoas dizendo que na verdade a culpa é delas, a xoxota que não está aprovando esse relacionamento. Mas, o cheiro é uma coisa totalmente natural, em outras culturas ele é considerado realmente muito excitante e erótico.

O efeito Garota Siririca

NP: Eu acho que é uma coisa de pessoa para pessoa. Tem gente que tem um cheiro mis forte. Os homens também. Aliás, tem homem que é meio porco, porque acha que não tem que passar sabonete… Gente, tem que lavar, pelo amor de deus, é uma questão de saúde. Agora, você nota uma mudança de comportamento das mulheres que conheceram a Garota Siririca através de você? Existe alguma mudança nelas?

GM: Sim, eu acredito que exista. Desde que eu passei a fazer a Garota Siririca… Eu comecei a fazer em 2013/2014 quando teve aquela Primavera Feminista, que aconteceu em todo o Ocidente e em alguns países orientais, em que houve essa massificação do feminismo entre a juventude. E eu comecei a fazer a Garota Siririca nesse momento também e eu notei que depois que eu passei a desenhar a Garota Siririca e as meninas começaram a ler, esse tema passou a ser mais popular, familiar e mais comum para ser discutido. Existem hoje outros quadrinhos que mencionam ou tratam especificamente de masturbação.

Eu recebo muitas mensagens de leitoras falando sobre como elas passaram a se explorar mais, a tentar descobrir mais o próprio corpo, se refamiliarizar com o próprio corpo. Eu recebo também, inclusive, de pais e mães que falaram que a Garota Siririca serviu como porta para um diálogo com os filhos de maneira mais descontraída, porque a Garota Siririca é uma comédia erótica.

XXT

Nicole Puzzi, apresentadora do Pornolândia

NP: Eu estou vendo esse livro seu aqui, que se chama XXT (Xoxota). E é um livro de colorir. Você pega dois dedinhos, passa, vem com glitter e você vai colorir a xoxota.

GM: Esse é um livro de colorir xoxotas. Eu peguei várias imagens na internet sobre vulvas, redesenhei, imprimi em serigrafia o livro e fiz essa paleta de maquiagem que tem a forma de uma xoxota. A ideia é você colorir com os dedos para fazer essa analogia com a masturbação.

As mulheres fazendo quadrinhos

NP: Tem muitas mulheres atuando nos quadrinhos aqui no Brasil?

GM: Sim. Desde 2013 tem havido cada vez mais mulheres querendo fazer quadrinhos profissionalmente e se profissionalizando em quadrinhos. Agora tem dezenas de mulheres de 20 a 30/40 anos trabalhando com quadrinhos no Brasil.

NP: O mundo dos quadrinhos era muito restrito aos homens, não era?

GM: Era bastante. Até 2013 era especialmente masculino mesmo e misógino. Existiam escândalos de misoginia e machismo. Mas, com essa nova articulação de mulheres e essas novas autoras que têm uma consciência feminista, a gente tem conseguido reeducar essa cena.

NP: E eu queria saber dos seus projetos atuais, o que tem aí pela frente e fale um pouco dos seus trabalhos.

GM: Atualmente eu estou escrevendo um história que eu chamo de “Sheiloca”, eu tenho publicado nas minhas redes sociais à medida que eu produzo. É uma distopia feminista sobre um momento da história da humanidade em que só existem fêmeas e elas estão em um ponto que está havendo transformações determinantes em relação ao tema da reprodução. Eu tenho planos de continuar a Garota Siririca, eu ganhei um edital de cultura recentemente, que foi cancelado infelizmente. Mas, não desisti, eu quero continuar a produzir esses quadrinhos.

Encontre os trabalhos de Gabriela Masson

NP: E como é que faz para encontrar o seu trabalho?

GM: Todos os meus quadrinhos, os meus trabalhos eu disponibilizo online integralmente para a leitura nas minha redes sociais. Tem um site que é www.lovelove6.com e em redes sociais, Instagram e Facebook também dá para encontrar.

NP: O Instagram é Garota Siririca?

GM: O meu Instagram é @odiozinho. E tem uma loja online no meu site também e vendo em algumas lojas físicas específicas, como mandrake em Goiânia.

NP: Foi o maior prazer receber você aqui. E olha, muito sucesso para Garota Siririca, muito orgasmo.

GM: Muito obrigada, para todas nós!

NP: E agora você vai ficar com a orgástica Xgirl.

A nossa Xgirl

Xgirl Ferdinanda

E este episódio termina com a maliciosa xgirl Ferdinanda, uma morena que ficou nua em um ensaio sensual que revela as delícias de ser ela mesma.