A Festa Dando foi o assunto retratado no episódio 3 da temporada 5 de Pornolândia. Nicole Puzzi conversou com Marcelo D’Avila e Thiago Roberto sobre o universo LGBT, muita pegação, preconceito, censura e empoderamento. Uma conversa reveladora e divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Eles criaram uma festa onde a pegação corre solte. É uma festa para o público gay, mas sem nenhum preconceito. Se você quer se divertir, a “Festa Dando” terá todo prazer em te receber. Depois de papo atrevido e festivo, vamos ficar com a nossa xgirl.
Distribuindo
Dando. Dando. Que nome ótimo pra uma festa! Me conte sobre isso, como é essa festa? Todo mundo dá, como é que é?
Marcelo D’Avila: Devido aos últimos acontecimentos, acho que a gente vai mudar pra distribuindo, porque as pessoas estão dando bastante, hein.
NP: Aaaaa, distribuindo, hein, Thi?
Thiago Roberto: Distribuindo, dando, comendo, porque precisa da outra parte também, complementar.
NP: Também só dar, só dar, alguém tem que pegar, não é?
Thiago Roberto: É, mas esse não é o foco, quem come, né. O foco é em quem dá.
NP: Ah, tá. E é uma festa. Certo?
TR: Certo.
Perfil do público
NP: E qual o perfil do público dessa festa de vocês?
TR: Ah, a maioria é gay masculino. Bastante gay masculino, mas dá também gays, lésbicas, transexuais, mulheres cisgênero também.
NP: Vai héteros também?
TR: Olha, de vez em quando aparece um, a gente até recebe assim, aceita…
NP: Mas sai de lá hétero?
TR: Aí já são outros quinhentos.
A importância da festa
NP: Qual a importância de uma festa muito explícita? Porque ela é explícita, o nome é “Dando”. Qual a importância dessa festa para mostrar a sexualidade das pessoas?
MD: Acho que, principalmente pensando no nome “Dando”, a gente quis fazer uma festa que não fosse falocêntrica, né. Então uma festa que abordasse todos os tipos de formas de dar prazer pra si mesmo, aos outros, dar respeito.
NP: Gostei, dar respeito…
MD: Então, a sexualidade nesse sentido, ela é uma festa que preserva aí um cunho mais positivo do uso do corpo, do uso do sexo, que não tem nenhum tipo de borda. E, apesar de ser uma festa gay, não tem essa machismo impregnado no corpo do homem.
NP: Mas aí se tiver uma pessoa lá que fala “eu não quero dar pra você” ?
MD: Não é não.
NP: Não é não.
TR: Não é não. É uma regra bem clássica.
NP: Então, isso também é dando respeito?
TR: Sim, claro. Acho que a base disso é respeito.
A censura e o preconceito
NP: Agora, vocês recebem muita censura, muito preconceito? Como que é?
TR: Diretamente não. A gente recebe um pouco de preconceito da parte de alguns amigos, inclusive que a gente chama pra ir na festa. Às vezes, “ai, eu tenho medo de ir na festa, porque na festa vai ser assim ou vai ser assado”. A gente rebebe censura, porque a sociedade reprime isso que a gente faz, né.
Tipo, é muito difícil a gente encontrar um lugar pra fazer a festa. Quando a gente chega no lugar e fala de uma festa que é legal, com um público legal e vai acontecer no espaço de vocês, aí eles já perguntam “o que acontece na festa?”. Ah, na festa acontece sexo. Aí eles “ai, obrigado”. Por mais que o espaço permita fazer isso, às vezes o dono do espaço não permite.
NP: Ele não permite, né?
TR: Não permite. Isso é uma forma de censura.
Festa Dando e a questão política
NP: Agora, essa festa de vocês, “Dando”, é uma troca de ideias, existe essa troca de ideias pelos direitos ou é só diversão?
TR: Olha, Nic, eu amei essa pergunta, porque as pessoas associam a festa como “a festa de sexo”.
MD: Exclusivamente.
TR: É, exclusivamente uma festa de sexo. E a “Dando” tem esse cunho, ela tem essa influência, porque nós buscamos influências nas festas de sexo. Mas ela não é uma festa só de sexo. A gente sempre busca trabalhar com uma orientação, orientar o nosso público, a gente procura discutir formas de prevenção.
A gente acabou de fazer uma parceria com a Secretaria Municipal da Saúde, ou seja, vamos ser… somos os oradores agora da Secretaria Municipal da Saúde. A gente já tem esse grupo, a Secretaria de saúde já entendeu que essa população é mais vulnerável a ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e a gente criou uma parceria para discutir as formas de prevenção dentro da festa.
Perversão?
NP: Por que que as pessoas, quando falam de gays, uma boa parte das pessoas, acham ainda que gay é perversão? Ou essa perversão está dentro delas?
TR: É isso. Você acabou de responder: perversão tá dentro delas.
MD: Ainda mais hoje em dia, né, que a gente tá vivendo um momento de ódio, em que as pessoas quando não conseguem colocar pra fora, elas espelham. Então, elas usam o outro como forma de escape do próprio ódio delas.
Inclusão na Festa Dando
NP: Como a festa de vocês “Dando”, se posiciona em relação a outros movimento LGBT, como das trans, das lésbicas, dos travestis?
MD: Bom, primeiramente, a gente reconhece o nosso privilégio neste sentido, por fazer uma festa gay, uma festa de homens cis. E nós como bichas brancas, a gente reconhece esse privilégio e, a partir disso, a gente gera uma gratuidade para corpos que também estão nesse lugar de “abjetos da sociedade”, como os corpos de outros LGBTs e outras minorias nesse sentido.
Pelo menos para as mulheres cis, trans e travestis a gente faz gratuidade dentro da festa, como uma forma de trazer esse público que, às vezes, não consegue bancar, não consegue estar lá no mesmo lugar que essas pessoas ou que esses outros corpos.
NP: Marcelo, você falou uma coisa que eu achei bastante curiosa: “Nós, bichas brancas”. Durante um tempo, a gente se referia como uma coisa assim, uma coisa pessoal assim…
MD: Pejorativa.
Identidade
NP: Pejorativa. Aí você usa isso naturalmente. Como é que é?
MD: Acho que, a partir do momento que a gente foi violentado demais pelo verbo dos outros, a gente pegou isso como mote de empoderamento, sabe? Então, essas minorias – a bicha, a sapatão, a afeminada, a passiva – todos esses corpos se empoderaram a partir disso, né.
Antigamente a gente só tinha a sigla GLS, agora a gente tem LGBT, LGBTQI+, fala-se muito de Teoria Queer. Então, todos esses corpos, que são corpos à borda da sociedade, apoderaram-se por serem esses corpos. Então, sim, eu sou passiva mesmo, sim eu sou bicha, eu sou viado. Então não tem mais esse medo de falar quem você é. Você não é só um homossexual,você é quem você quiser ser, sabe?
TR: Exatamente. Para mim, homossexual é um tipo de gênero. Gay é um estilo de vida e bicha também. Para mim, gay, que é a palavra que as pessoas mais costumam usar, está mais atrelado ao homossexual mais passivo, ele aceita melhor o que impõem pra ele, já aceita melhor essa normatividade.
A bicha, não. A bicha, que é a palavra que eu mais amo e me identifico como bicha, ela tá mais associada ao mundo marginal. Ela é mais militante, ela é mais ativa, ela tá no front, ela dá mais a cara a tapa. O gay pra mim é um estilo de vida que tá ali, pra mim é mais um perfil de consumo. A bicha pra mim é um homossexual militante, ele tá no topo mesmo.
NP: Gente, eu tô muito admirada. Vocês são muito bem resolvidos mesmo, não é?
TR: A gente é bicha.
MD: Afeminada.
NP: Afeminada, bicha…
TR: a gente é bicha bem menininha. Você também né.
NP: A eu sou meio bicha. Eu sou bicha. Nós gostamos, eu e a minha filha Dominique também, nós gostamos das mesmas coisas. Não tem coisa melhor, né?
TR: Sabe o que é rola? Cu?
NP: É, né? A bicha sempre pega a gente.
TR: Dando um desconcerto, né.
Participe da festa
NP: “Dando um desconcerto, né”. E como é que faz essas pessoas que querem participar dessa festa?
TR: Então, a gente não tem um espaço físico. A gente tem feito no Clube 380, que é um sexclub ali na Álvaro de Carvalho, 380, no centro de São Paulo. Tem as nossas @s né, que é @FestaDando o Instagram e no Facebook é Dando a festa depois da barrinha. E nas redes sociais tem o Grindr, o GROWLr, o Hornet e tem no…
MD: No whatsapp que você encontra aqui em baixo.
TR: Manda nudes.
NP: E agora nós vamos para a nossa xgirl.
A nossa Xgirl
E este episódio termina com a nerd de cabelo curto xgirl Ana, uma morena com seios naturais deliciosa que ficou nua em um ensaio que deixou bem claro que conhecimento, sexo e cerveja tem tudo a ver.