Premiado nacional e internacionalmente, Tony de Marco é tipógrafo, fotógrafo, ilustrador e visual jockey, além de ter dirigido o premiado clipe “Chapa o Coco” do rapper Xis.
1. Tony, você já recebeu prêmios nacionais e internacionais com diversos trabalhos e já é bem reconhecido no mercado. No dia 05 de Janeiro comemoramos o dia da Primeira Tipografia Brasileira, por isso entramos em contato com você. Por que e quando você resolveu trabalhar com isso?
Desenho letras desde criança, no início eram apenas onomatopéias de HQ e logotipos para empresas inventadas. Em 1978, com uns 15 anos de idade, comecei a participar de jornaizinhos de escola. Vivi minha infância e adolescência durante a Ditadura, então aos 17, eu já militava no movimento estudantil. Desenhava títulos para jornais mimeografados, pequenos cartazes e fiquei especialista em riscar letras para faixas de protesto. Em 1989, já trabalhando como ilustrador na Folha de S. Paulo, desenhei meu primeiro alfabeto completo, chamada Sumô, a primeira fonte digital brasileira.
2. A primeira tipografia brasileira rolou em 05 de Janeiro de 1808 com a Imprensa Régia instalada no Rio de Janeiro e em seguida com o surgimento do primeiro jornal “A Gazeta do Rio de Janeiro”. Seu trabalho também teve muita relação com o jornal, você acha que de modo geral a tipografia ainda está muito relacionada a esses veículos de comunicação ou hoje o cenário está diferente?
Desenhar fontes para games, filmes e identidades corporativas são apenas algumas das possibilidades atuais. Porém, desenhar famílias para jornais e revistas ainda é o filé, pois são produtos que usam as próprias letras para entregar o conteúdo. Uma de minhas fontes mais conhecidas é a “Notícias Populares” criada para o jornal mais divertido que esta cidade já viu.
3. Você e o Claudio Rocha, outro mestre da tipografia, lançaram 12 anos atrás a revista Tupigrafia que têm ao longo desse tempo acompanhado a tipografia brasileira e servido como referência para interessados no assunto. O Brasil têm lançado grandes nomes da tipografia?
Tem muita gente boa fazendo fontes no Brasil. Boa no sentido de competente, mas também de generoso, pois trocamos muita informação. Trabalhando aqui posso citar Fabio Haag e Eduilson Coan. Fora do Brasil temos Gustavo Ferreira, Fernando Melo e Yomar Augusto.
4. Em 2012 a revista publicou a edição de n.10 e vocês buscaram apoio no Catarse, uma comunidade de crowdfunding. Como foi isso?
Já tínhamos a grana para imprimir a Tupigrafia. Usamos o crowdfunding para fazer um lançamento que permitisse ao maior número de pessoas receber a edição nova autografada, assim como as edições antigas, pôsteres, impressões em letterpress e outros brindes. Deu um trabalho louco, mas foi um sucesso.
5. Existe alguma produção brasileira ligada ao universo erótico ou pornô?
Devem ter alguns dingbats (fontes com desenhos) brazucas com este tema, mas de cabeça eu não lembro. A Tupigrafia já fez matérias sobre as letras usadas nas mitológicas HQs de Carlos Zéfiro e sobre as pinturas de Marcelo Daldoce para a Playboy. Sexo e erotismo frequentam nossas páginas, sejam em matérias sobre a revista americana Eros (dirigida por Herb Lubalin, um dos maiores graphic designers de todos os tempos) ou molecagens como escrever “buceta” e “caralho”, em corpo 6, em um type espécime da fonte Sauna.
6. Os filmes de gênero exploitation lançados entre as décadas de 30 e 70 em sua grande parte nos EUA, publicavam posters com tipografias divertidas e violentas. Existe alguma contribuição da arte tipográficas desses posters para o que vemos hoje?
Esses pôsteres são uma fonte riquíssima, pois quebravam regras e apostavam na expressividade das letras. Poucos diretores tem gosto e coragem para se preocupar com um detalhe como a letra do cartaz. Tim Burton é um deles. Hoje quase todos os pôsteres de filmes usam a fonte Trajan, o que é, com trocadilho, uma tragédia.
7. Você é bem ligado a cultura, é artista plástico, dirigiu o clipe “Chapa o Coco” ganhador do VMB de 2002 da MTV na categoria Rap. Quais são as suas influências para o processo de criação?
Um artista não deve ter medo de se misturar. A música que os outros ouvem (e não só as que você gosta), a alta moda, as periguetes, o trânsito, a natureza, a tecnologia, o artesanato de durepoxi, a prostituição, a lojinha de doces, a pixação… tudo deve ser absorvido. Eu passo dias pensando (procrastinando) e na última hora faço tudo muito rápido. Essa velocidade ajuda a cumprir prazos quando se trata de um cliente e a escapar da polícia quando se está pintando na rua.
9. Onde podemos ver seus trabalhos e te encontrar?
Minhas pinturas estão espalhadas pela cidade de São Paulo, o melhor canvas do mundo. Fotos dessas intervenções, minhas fontes e outros tipos de trabalho podem ser encontradas no www.tonydemarco.com.br
Pixotosco no Viaduto Bresser:
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