Rico Vasconcelos no Pornolândia - educação sexual

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Rico Vasconcelos, infectologista. No episódio 20 da sexta temporada de Pornolândia elas conversam sobre a importância da educação sexual e sobre prevenção. Uma conversa esclarecedora que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

Nicole Puzzi, apresentadora do Ponrolândia

Nicole Puzzi: Todo mundo sabe a importância da educação para o desenvolvimento de uma país. Mas, quando o assunto é educação sexual, o monstro de todos os tabus se revela. E para iluminar a escuridão das ideias velhas, vamos conversar com o infectologista Rico Vasconcelos, que vai falar sobre a importância da educação sexual na formação do cidadão. E depois, terminamos a noite com a nossa sempre bem educada Xgirl.

O que é educação sexual?

Tem muita confusão com relação ao termo educação sexual. Então, vamos começar aprendendo o que é e o que não é educação sexual.

Rico Vasconcelos: Bom, vamos lá! É muito importante falar sobre isso que é um enorme tabu aqui no Brasil. Tudo que se refere a sexo e à sexualidade, meio que as pessoas já tem uma trava. E quando você fala de infecções sexualmente transmissíveis mais ainda. Quando eu penso em educação sexual pelo viés da infecção sexualmente transmissível, eu entendo que faz parte da educação dar uma dimensão real para as pessoas sobre quando ela corre riscos de se infectar com uma infecção sexualmente transmissível e de que forma ela pode gerenciar estes riscos. Eu gosto sempre de dizer que o que existe de mais precioso dentro da educação sexual em relação às infecções sexualmente transmissíveis é a percepção de risco.

Prevenção

NP: Qual, além da camisinha, qual a maneira de se prevenir, de se cuidar, de ter um risco menos de contrair HIV ou outra doença?

Rico Vasconcelos: A camisinha é a mais famosa e conhecida por todo mundo. A camisinha é maravilhosa para proteger não só do HIV como também de outras ISTs. Mas, a camisinha tem um problema muito grande, porque ela só funciona se você usar. Se você sabe que a camisinha protege e não está usando de maneira correta e constante… Maneira corre e constante, porque se eu não usar a camisinha durante toda a penetração, muito frequente a pessoa fala que começou sem e no meio colocou a camisinha, isso não é usar de maneira correta.

E constante, porque se você tem uma relação no meio de todas que você teve no último mês sem preservativo, você já tem uma breca na sua prevenção e ali você pode se infectar. Entra os jovens, por exemplo, o número de novos casos de infecção por HIV nos últimos 10 anos mais do que dobrou.

NP: Sério?

Rico Vasconcelos: Sim! Entre jovens de 15 a 24 anos tem uma epidemia de HIV que também explode.

A epidemia de HIV no Brasil

NP: Qual o panorama do HIV e das doenças sexualmente transmissíveis? Você disse que evoluiu muito, eu queria que você desse o panorama mesmo.

RV: A epidemia de HIV no Brasil é uma epidemia que, desde a década de 1980, só cresceu. Ela nunca diminuiu. Nós temos 40 mil novos casos de infecção em todos os anos registradas. Na última década isso se manteve estável. O gráfico que mostra novos casos está assim [faz uma linha reta com a mão no ar]. Não está assim diminuindo [faz uma curva decrescente com a mão no ar]. Você tem uma epidemia de HIV no Brasil que está avançando na estrada com o ponteiro do velocímetro parado no 120 km/h, crescendo e espalhando. O que mudou do começo apara agora? É que a gente sabe, e muito bem, como tratar uma pessoa que vive com HIV. E hoje em dia, a gente já tem ferramentas para fazer com que ninguém mais morra de AIDS. Porque, todas as pessoas que acessam o diagnóstico, o tratamento, conseguem zerar a carga viral e conseguem manter a doença controlada, são pessoas que vão ter a vida igual a que teriam se não vivessem com HIV.

HIV x Violência

Nicole Puzzi de vestido branco, cabelo preso e com a mão na cintura

NP: E com relação à morte por HIV e à morte de jovens por assassinato, pela violência, vamos dizer assim, existe uma comparação?

RV: Sim. A violência mata muito mais gente do que o HIV. Mas, uma coisa que eu acho importante a gente dizer é que a epidemia de HIV, também desde a década de 1980, ela se distribui na população brasileira de maneira completamente heterogênea. A chance de você encontrar uma pessoa vivendo com o HIV na população geral, se eu pegar toda a população do Brasil e colocar dentro de um globo de bingo e sortear uma pessoa, a chance de encontrar uma pessoa vivendo com HIV é de 0,4%. A gente tem uma prevalência de HIV, no Brasil como um todo, bem baixinha.

E essa é uma prevalência que, com o passar dos anos, não está aumentando, se mantém uma prevalência baixo no geral. Porém, se eu pegar essa população toda e falar para todo mundo sair e falar que só fiquem homens gays e bissexuais, ficou um grupo pequeno, mais ou menos 9% da população dependendo do estudo que você estiver falando, você embaralha e sorteia uma pessoa destes grupo. A chance de você encontrar uma pessoa com HIV no grupo de homens gays e bissexuais do Brasil sobe para 18%.

HIV e os grupos sociais

NP: Nossa!

RV: De 0,45 para 18%. Esse número de 18% é resultado de um estudo realizado em 2016 em 12 cidades do Brasil. São Paulo foi a que bateu o recorde de prevalência de HIV entre homens gays e bissexuais. Chegou a 25%. Então, um a cada quatro homens gays na cidade de São Paulo já vivem com HIV. Isso é completamente assustador, principalmente quando você fala de mortes por AIDS, voltando à sua pergunta. Se fala muito de mortes por LGBT+ fobia no Brasil. Sempre tem mais de um por dia, a cada hora morre uma trans. O número de pessoas que morrem por AIDS nesse grupo LGBT+ é mais do que 10 vezes maior do que o número de mortes por violência.

NP: Por violência contra….

RV: Por LGBT+ fobia. É mais do que 10 vezes maior.

NP: Meu deus, sério?

RV: O que mais mata homens gays, bissexuais e mulheres trans no Brasil é a AIDS.

PrEP e PEP

Nicole Puzzi sentada em um sofá verde e o rosto apoiado em sua mão. - educação sexual

NP: Agora tem uma designação interessante: PrEP. Eu queria que você me falasse o que é PrEP e PEP.

RV: Chegamos aí. PrEP e PEp são estratégias que dão remédio para a pessoa que não vive com HIV para protegê-la desta infecção. PrEP vem da sigla do inglês “profilaxia pré exposição” que é um medicamente que você toma diariamente para não pegar a infecção por HIV, como se fosse uma pílula anticoncepcional. E a PEP vem da sigla “Pós exposição”, que eu coloco o remédio no sangue de maneira emergencial depois que eu já transei.

A PrEP e a PEP chegam como estratégias adicionais de prevenção. Ninguém que chega buscando PrEP ou PEP é orientado pela gente, profissionais da saúde, que pode jogar a camisinha para o alto.

Uma pessoa que sempre usa camisinha, então um risco bem baixinho de se infectar, se algum dia ele transa sem, o risco subiu, a percepção tem que subir também. E, ela tem que entender também, dentro do cardápio de prevenção, o que ela tem que usar. Neste exemplo que eu acabei de dar, ela tinha que usar a PEP. Aconteceu de transar sem camisinha ou a camisinha estourou, as pessoas adoram falar isto. “A camisinha estourou”, mas a camisinha estava no bolso, não foi usada e chega e fala que a camisinha estourou. Essa pessoa tem que tomar PEP.

Desculpa para não usar camisinha

Nicole Puzzi apresentadora do Pornolândia na entrevista com Rico Vasconcelos - educação sexual

NP: Eu falo que as pessoas… Agora eu vou pegar você! As pessoas inventam desculpa para não usarem camisinha.

RV: Eu não julgo.

NP: Você não julga, mas a verdade é essa!

RV: Eu não vou falar para a pessoa “ah, seu sem vergonha”. Eu falo “que bom que você veio aqui”. Se transou sem camisinha, você pode usar PEP. Já se é uma pessoa que fala que transa toda semana com uma pessoa sem camisinha, essa é uma pessoa que talvez caiba na vida dela uma PrEP.

NP: Você usa camisinha sempre?

RV: Eu? Na minha vida?

NP: É!

RV: Eu tento e eu tomo PrEP.

NP: Olha, vou te falar uma coisa, eu adorei você aqui no programa!

RV: Que bom!

Encontre Rico Vasconcelos

Rico Vasconcelos e Nicole Puzzi - educação sexual

NP: Adorei a tua postura, adorei mesmo. Eu acho que é um assunto muito importante para se falar. Às vezes a gente fica meio assim de conversar a respeito, mas é extremamente importante! Principalmente em um programa sobre sexo! Vamos fazer sexo, mas vamos tomar cuidado! E queria saber como é que a gente faz para te encontrar nas redes sociais, se você publicou algum livro. Como a gente faz?

RV: Eu tenho uma coluna que eu escrevo no UOL toda semana sobre este assunto. Sobre infecções sexualmente transmissíveis e prevenção dentro da parte do UOL de saúde que chama Viva Bem. Rico Vasconcelos e vocÊ vai encontrar a coluninha. Toda sexta-feira tem um texto novo lá. Quem gosta do assunto e quer ler mais, é só assinar lá que recebe toda semana.

NP: E você tem rede social?

RV: Tenho, mas não uso profissionalmente.

NP: Está ok. Goste muito, obrigada!

RV: Eu que agradeço o convite.

NP: E agora nós vamos para a nossa exuberante Xgirl.

A nossa Xgirl

Xgirl Millene

E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Millene, uma morena de cabeça raspada e corpo tatuado que ficou nua em um ensaio sensual hardcore!