Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Débora Muniz, atriz e produtora. No episódio 1 da segunda temporada de Pornolândia elas conversam sobre o cinema e filmes da pornochanchada. Uma conversa nostálgica que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Gente, eu estou muito feliz, muito emocionada, porque eu vou conversar com uma mulher que eu amo de paixão! Ela atuou em filmes como “Senta no meu que eu entro na sua”, “Borboletas e Garanhões”, “Amor só de mãe” e o clássico “O rebuceteio”. E se tem uma atriz que podemos chamar de versátil é ela, porque ela foi do sexo explícito ao teatro, sempre com o mesmo brilho e humildade. E fez televisão também. Estou falando da Débora Muniz, uma querida musa da Pornochanchada vai conversar com a gente, mas daqui a pouco. Primeiro, a nossa Xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa começou com a maravilhosa Xgirl Jéssica Winchester, uma morena de corpo tatuado que traz a beleza de ser forte!
Teatro, cinema ou televisão?
NP: Amada, para começar eu vou direto ao ponto! Teatro, cinema ou televisão?
Débora Muniz: Ah, Nicole, é um prazer tão grande estar aqui com você. Eu queria tanto fazer o seu programa que você não tem ideia!
NP: E eu queria que você fizesse!
Débora Muniz: Ah, que bom! Cinema, teatro ou Tv? Cinema é claro! Eu sou apaixonada por cinema!!! Acho que o cinema resume toda a arte em si. O teatro eu amo também, porque eu acho que o teatro prepara você para o cinema, para a tv, para tudo! Na tv eu não fiquei muito tempo, porque eu acho que prende muito. E eu sou uma borboleta que ama a liberdade, amo voar.
Noveleiras
NP: Mas nós quase trabalhamos juntas!
Débora Muniz: Trabalhamos. Bandeirantes!!!! Cavalo Amarelo, Dercy Gonçalves…
NP: Você fez Cavalo Amarelo e eu fiz Dulcineia vai a guerra.
DM: Nossa, que foi hilário! Dercy, não sei nem na época, se foi a primeira novela dela.
NP: Foi a primeira novela dela!
DM: Foi, porque o comportamento da Dercy era ser hilário, orque ela não conseguia se segurar. A Dercy era terrível! Mas, foi divino! Foi um momento que eu gostei de fazer tv foi n Bandeirantes!
NP: Sabe o que a Dercy falou uma vez para mim?
DM: Fala
NP: Meu amor, com essa bunda você nem precisa desta cara!
DM: Ela era hilária!
Débora Muniz e Os Trapalhões
NP: E outra pessoa que nós trabalhamos em momentos diferentes foi o Mussum dos Trapalhões.
DM: Ai, você sabe que para mim acaba mexendo de uma forma tão bacana, porque eu trabalhei com o Mussum e o Zacarias no circo.
NP: Eu também!
DM: Aliás, tudo para mim começou no círculo. O teatro em si, porque as pessoas falam do terror, mas o terror começou no circo com o Dr. Jones e Frankenstein no circo do Carlito.
NP: Nossa!
DM: Foi onde eu conheci, aliás, o Mussum e o Zacarias.
Débora Muniz por trás das câmeras
NP: Vamos falar agora da sua carreira. Eu sei que você atuou atrás das câmeras. Conta esta experiência.
DM: Isso foi… Primeiro teve o teatro que teve do circo, né. E eu comecei no cinema com o Mojica, o Zé do Caixão. E o Mojica, na época, tinha um estúdio na Barão de Jaguar, eu estava vindo da Sinagoga, mas o estúdio era muito grande. Era um escolinha, uma universidade, na verdade. E o Mojica, toda vez que ele ia fazer um filme, ele perguntava quem queria fazer, aprender a parte técnica, quem quer ser continuísta, quem quer aprender produção.
NP: E aí você partiu para…
DM: Aí eu fiz bastante… Porque aí eu aprendi a ser continuista, o próximo filme do mojica eu eu fui continuista. Era bem diferente, porque hoje a gente sente a divisão, porque cada coisa dentro do set…
NP: Cada um só faz o seu!
DM: Cada um faz o seu. Na época, não! Eu tive que fazer figurino, produção de campo, tive que fazer produção de forma geral. Só que isso para mim foi maravilhoso, porque me deu uma bagagem muito grande, porque é você fazer cinema sabendo o que é fazer cinema. Não é só você estar… ou seja, curtir o tapete vermelho, estar nos holofotes. Não, é saber como se faz.
Bem mais do que nudez
NP: E falando de pornochanchada, não era só ficar pelada não, viu.
DM: Era isso, o cinema para nós era isso! Você ia para frente da câmera, mas já sabia todo o processo que acontecia por trás da câmera. Então, existia muita consciência. Eram pessoas que sabiam o que queriam. É o que eu falo, o grande valor da Boca da Rua do Triunfo, era o grande castelo de sonhos.
NP: E era uma fábrica de cineastas. E “O Rebuceteio” de Cláudio Cunha, meu amigo, um beijo. Eu o amo de paixão. Eu fiz um curta com ele agora, “As lembranças de maio”. E fala pra mim desta grande obra da Pornochanchada “O Rebuceteio” que não é tão… As pessoas ouvem o nome e já vem pensando sacanagem. Não é bem isso, é uma grande obra da Pornochanchada.
DM: Você sabe que na época, a gente conversou muito sobre isso, porque a gente falava “rebuceteio” em época de censura ainda, rolava muito de “o rebuceteio” é putaria. Vamos no dicionário ver o que significa, porque é uma grande confusão! Agora, cada um faça a sua confusão, com sexo ou sem sexo, brigando, sei lá o quê. E “O Rebuceteio” foi tudo de bom, porque nós filmamos dentro do teatro. O Cláudio Cunha estava em cartaz e o cenário todo era um teatro. Então, acho que ali todo mundo transpirava e respirava arte do cinema e do teatro, as duas juntas.
O terror na carreira de Débora Muniz
NP: Agora eu queria saber do terror na sua carreira, na sua vida. Você fez o premiadíssimo filme, curta né?
DM: “Amor só de mãe” do Dannison Ramalho. Você sabe que foi uma coisa maluca, porque eu havia parado de ver cinema. Eu achei que eu tinha divorciado do cinema, porque aí eu produzi. E produzir cinema no Brasil não é fácil. E foi uma coisa maluca, porque eu tive muitas decepções com pessoas, com produtores também. Fui embora para o Japão, foi a época que eu parei com tudo, fui embora, deixei a fita aqui que, inclusive eu não tenho cópia do meu filme. Quando eu voltei, o Dannison Ramalho me procurou para fazer o “Amor só de mãe”. Quando eu vi falei não e outras pessoas já tinham me feito convites e eu recusei.
Só que quando o Dannison chegou, a forma que ele chegou foi muito bacana. E quando ele me mostrou o que era o “amor só de mãe” que eu olhei o desenho, eu vi e era eu. É muito louco, gente que isso. Aí ele falou “eu vi que você trabalhou com o Mojica, tem todo uma história, mas eu gostaria muito, o personagem é forte”. Foi aí que ele falou que “amor só de mãe” na verdade era a música do Vicente Celestino, é muito forte. Os personagens de terror, os grandes vilões são os que mais ensinam. Então, eu acho que essa coisa de personagens de terror eu sou fissurada, porque eles são fortes, eles tê uma personalidade diferenciada do outros.
Débora Muniz e o sexo explícito
NP: Eu vi, recentemente, um filme de sexo explícito “Borboletas e Garanhões”.
DM: Do Alfredinho Sternheim.
NP: Ah, o Alfredinho! Eu amo tanto…
DM: Você sabe que esse é outro filme que segue essa coisa de “O Rebuceteio”, da equipe. Gente, apenas o sexo era explícito, foi cinema!
Nudez hoje x Nudez nos anos 70
NP: Débora, você ficaria nua hoje? E, qual a diferença em ficar nua nos anos 70, para mim foi muito fácil, e ficar nua hoje?
DM: Ficaria sim, porque não?
NP: Eu também!
DM: Eu continuo a mesma Débora. O mesmo conceito que eu tinha quando eu resolvi fazer sexo explícito de quem é o roteiro, de quem é a produção, por que? Para mim, ficar nua hoje seria a mesma coisa. Por que eu vou ficar nua? A pergunta seria a mesma. E a diferença? Gente, nenhuma! É um personagem que eu vou viver? Eu tenho que estar inteira! Então, eu costumo dizer que no cinema a gente não tem como interpretar um personagem, você tem que se doar ao personagem. Então, se eu sou inteira… Na época, quando eu tirei a primeira vez, eu desmaiei, tá! Foi só uma vez! Mas, também eu era novinha e não tinha nem ideia. Você acha que é liberal, você acha que pode tudo…
NP: Você tinha 19 anos?
DM: 18. Eu tinha acabado de completar 18.
NP: Eu entrei com 17 e não desmaiei não!
DM: Não, eu fui assim porque, sabe aquela coisa? Ah, a Débora faz tudo, a Débora é tudo! Só que era uma coisa que aparentava, só que no interior, na formação de pai cheio de cabresto, não. Então, quando eu tirei a roupa e vi todo aquele pessoal eu “ai”. Só que continuou, filmou, filmou, corta. Débora? Que Débora nada, tava desmaiada.
NP: Ah, essas histórias da Pornochanchada!
DM: Esse choque foi tão grande que depois daquilo tudo ficou tão natural!
NP: As pessoas criticam nos outros aquilo que levam lá dentro.
DM: Aquilo que elas gostariam de ser e fazer!
Hipocrisia
NP: Então, eu acho que assim, tem muita mulher no Brasil e homem também que são extremamente liberados sexualmente. Mas, nos outros, eles criticam como se fossem membros do Estado Islâmico!
DM: Exatamente!
NP: É hipocrisia total!
DM: Se você for ver, no nosso caso, na Boca do cinema, que eram todas prostitutas.
NP: Sim, eles falavam! Éramos vistas como prostitutas e a maioria não era.
DM: Exatamente! A maioria não era e eu pergunto: o que tem ser prostituta?
NP: Prostituta para mim é quem faz filho em moedinha. Sabe o que é filho em moedinha?
DM: Não, conta!
NP: Mulher que fica grávida para segurar o marido.
DM: Hoje está cheio! Ou aquela que tem sua família também, que tem seu esposo e tem tudo, e vai lá fora e faz as coisas também.
NP: Cada uma faz o que quiser.
DM: Você quer pior que prostituição da mente? Não fui! Fiz cinema por prazer, porque amei fazer, porque amo fazer e continuo amando fazer!
NP: Você é das minhas, cara! Débora, estou muito feliz de ver que você é a mesma pessoa, cheia de energia, que sua carreira está ótima, super ativa. Fico muito feliz!
DM: Que bom estar com você!
NP: E agora a gente vai para uma gostosa na cozinha, Sweet Bird!
Cozinha ao Ponto
E este episódio termina com a receita de peito de frango recheado, preparado pelas deliciosas tatuadas Sweetie Bird e Grazzie!