David Cardoso no Pornolândia

Neste episódio Nicole Puzzi entrevista David Cardoso, ator da pornochanchada. No episódio 14 da terceira temporada de Pornolândia eles conversam sobre os trabalhos feitos na década de 70, as produções atuais de David e sobre as histórias da pornochanchada. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.

Nicole Puzzi abraçada ao amigo de pornochanchada David Cardoso

Nicole Puzzi: Ele é um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro. Eu não podia deixar ele escapar do Pornolândia. Quando visitei o Prêmio Sexy Hot, encontrei David Cardoso e tivemos uma conversa afetuosa sobre os nosso trabalhos juntos, amigos em comum e sobre o futuro. E a Xgirl de hoje é também uma homenagem para o David Cardoso, um homem que sempre amou e foi amado pelas mulheres.

O encontro com David Cardoso

Nós estamos na premiação do Sexy Hot e quem eu encontro? O meu amor, o meu David Cardoso, meu querido!!! Nossa, eu te adoro, que bom te encontrar!

David Cardoso: Eu não consigo falar depois desse beijo. Quer dizer, consigo sim. Nicole, grande profissional. Só posso dizer uma coisa para vocês: de todas as atrizes que trabalharam comigo ou eu trabalhei com elas, que foi um privilégio, a Nicole está entre as três melhores. Isso pelo profissionalismo, pelo talento, pelo carisma e pela amizade.

NP: Amizade!

David Cardoso: Nada paga, né?

O que o rei da pornochanchada anda fazendo?

NP: Nada paga. E agora vocês está fazendo um monte de coisa, toda hora estou ouvindo falar de você.

DC: Um monte de coisa não, né Nicole.

NP: Mas, você não parou!

DC: É, eu não tenho parado. Eu terminei um filme agora, você conhece, o “Sem defesa”. Vou passá-lo aqui em São Paulo para um grupo de amigos, ainda temos que combinar. E eu estou muito feliz, porque é o último filme da minha vida como produtor. Você sabe que a gente é muito infeliz nessa corrida de, como é que se diz…? De leis. Nunca procurei por lei nenhuma.

NP: Você nunca procurou por lei nenhuma.

DC: Nunca na minha vida. Sempre com dinheiro próprio ou sócios particulares. Você sabe, eram os José Emílio De morais Filho, Antônio Emílio de Morais Filho, a Família Melão. Pessoas que acreditava no nosso trabalho e que colaboravam comigo. Então, eu agradeço. Muitos já se foram, meu grandes amigos já morreram, João Herbert já morreu, Mazzaropi morreu, Anselmo Duarte morreu, Milton Moraes. É duro Nicole, eu vivo do passado. Você me desculpe, eu não queria…

Injustiçados

Nicole Puzzi entrevistando David no evento do Sexy Hot

NP: David, mas você foi uma pessoa que dá tanto prazer de a gente estar do lado, você fez muitas coisas boas. Eu sei que você foi injustiçado, mas a Pornochanchada foi injustiçada.

DC: É, todos nós sofremos naquela época de ditadura, né. Então, você sabe que tínhamos que correr à Brasília. O filme que você fez comigo não tinha nada, mas tinham quatro ou cinco cenas que eles queriam que cortassem. Então, eu tive que correr lá. Nós tínhamos uma chefe de censura que era um câncer.

NP: “Possuídas pelo Pecado”. Como que era mesmo o nome desta louca?

DC: Solange Hernandez. A dona Solange. E ela estava acima de tudo, inclusive pretendia, parece, diziam as más línguas, que ia ser mais que o ministro da Justiça que era o Ibrahim Abi-Ackel. Mas, graças a ele que eu liberei vários filmes, porque eu ia pessoalmente. A gente ai à Brasília liberar os filmes. Então, várias cenas, eu e você, tinha uma ou duas cenas que eles não queriam liberar. Mas, não era nada! Corpos colados, beijo na boca, só isso.

NP: Só!

DC: Então, ela falava “deixa o beijo na boca, tira os corpos colados”. Mas, como que corta, como que uma pessoa vai beijar a outra se o corpo não estiver junto? Então, o que nós fazíamos, você sabe disso, a gente fazia filmes com 5 minutos a mais com cenas pesadas para que a censura cortasse essas cenas que não pertenciam muito ao filme. Então, a gente chorava, aquela malandragem, eles tiravam as cenas e ficava a parte que você queria que ficasse.

A turma da pornochanchada

NP: E você trabalhou com o Mazzaropi, Mojica, todo mundo da Pornochanchada.

DC: Tony Vieira que era nosso amigo também, com Massaini, não tô falando do Aníbal, meu grande amigo. Eu trabalhei com o pai, o Oswaldo Massaini, que foi um dos maiores produtores de cinema do Brasil. Começou do nada, montou uma indústria, montou a Cinedistri, produtora, distribuidora.

NP: Que existe até hoje.

DC: E fez o quê? “O pagador de Promessas” que, na minha opinião, é o melhor filme nacional de todos os tempos.

NP: Então, e você também imita o Mazzaropi até hoje, né?

DC: O Mazzaropi assim, ele se inclinava para os galãs. Isso não é meter o pau em nada, todo mundo sabe disso. Vou contar uma passagem engraçada que aconteceu com ele. Eu estava escrevendo o roteiro com ele, escrevendo é modo de falar, apenas colocava algumas cenas pela ordem, em um filme chamado “Meu Japão Brasileiro”. Eu já havia feito outro com ele em 1963 chamado “O Lamparina”. E o “Meu Japão Brasileiro” estávamos escrevendo o roteiro, eu com 18/19 anos de idade, eu tinha cabelo, não usava óculos para ler. Era um jovem, né.

NP: E lindo!

Histórias

Amigos de Pornochanchada - Nicole e David

DC: Obrigado! Saindo do Mato Grosso do Sul, Mazzaropi ao meu lado e eu escrevendo, eu perguntei a ele “Mazzaropi, você vai dar esse papel para o Adriano Stuart? Por que você não me coloca como galã nesse papel aqui?”. Ele olhou para mim e disse “Você não é galã porque não quer, dorme comigo que você vira galã da noite para o dia!”. Ele não te atacava, mas ele dava aquela cantada sutil. Infelizmente, eu não fui galã em nenhum filme dele, mas participei como técnico. Eu não tenho nada contra. Eu participei como técnico, ele foi um dos meus mentores, um dos homens mais importantes da minha vida.

Corpo definido de David Cardoso

NP: E sabe de uma coisa, você era muito bonito! Você é muito bonito. Mas, naquela época que os homens não eram definidos, você já era. Você tinha o corpo muito definido!

DC: Isso graças ao Steve Reeves, que teve o corpo mais perfeito do mundo, sem anabolizante. Era o máximo para mim! O Schwarzenegger e o Stallone ase inspiraram nele para serem o que são hoje. Apesar de talento ou não, em primeiro lugar estava um homem chamado Steve Reeves. Ele fez 30 filmes, “Hércules”, aqueles filmes da Atlanta. Então, esse foi um marco para eu me desenvolver. Nunca fumei, nunca usei drogas, só bebo.

David Cardoso na pornografia

NP: Você fez um filme pornô, não fez?

DC: Como produtor, eu fiz três. Mas, não eu transando com mulheres, isso não. Eu produzi o filme e dirigi, com outro nome, porque estava dando dinheiro. Mas, eu perdi o tesão, não porque esse cinema seja menor, mas não satisfazia o que eu almejava para o cinema brasileiro. E as Pornochanchadas que a gente fazia, que tinha história, com começo, meio e fim… Eu fiz um filme que rodei quatro países, Brasil, Argentina, Uruguai e Portugal. Então, por que você vai fazer um filme que é só de sexo em quatro países diferentes gastando dinheiro, Nicole? Então, eu procurava uma parte técnica, você sabe, os melhores diretores de fotografia, Claudio Portioli, o pequeninho lá, grande diretor. Então, trabalhamos com várias pessoas que eram os melhores técnicos dos filmes nacionais.

Ody Fraga

Entrevista com David Cardoso no Pornolândia

NP: Você trabalhou com Ody Fraga, né?

DC: Sem o Ody, eu não quero falar muito dele porque eu fico com vontade de chorar, eu perdi uma perna. Eu praticamente parei de filmar depois da morte de Ody Fraga, que era um intelectual, mas que fazia roteiros de pornochanchada para viver. Só que ele se divertia com esse trabalho, porque ele entregava para a gente o coração, a alma. Sem o Ody Fraga, hoje não existiria David Cardoso.

O primeiro filme a falar de AIDS

NP: Olha, eu também fico emocionada falando do Ody. Nossa, eu me arrependo de não ter tido um caso com Ody, juro. Porque ele era muito especial. E, David, você foi a primeira pessoa a falar sobre a AIDS em um filme.

DC: Interessante isso. Realmente. Não é do Brasil, é do mundo, eu fui o primeiro produtor, diretor e ator a fazer um filme sobre a doença. Infelizmente, o filme fracassou na bilheteria. Foi um dos argumentos que usei para que eu parasse de filmar. Depois, eu fiz mais dois filme e parei. Talvez hoje ele seria aceito, mas o que acontece, vários produtores e diretores amigos meus queriam comprar partes do filme. Como o Galante fazia, muito faziam, vendiam as partes. Eu não vendi, porque eu achei, além de passar a mensagem sobre a doença, que eu fosse ficar tetrardário com esse filme. E foi um ledo engano.

As pessoas tinham medo de entrar no cinema. Acho que eles pensavam “se alguém me vir entrando vai achar que eu tenho alguma coisa, alguma relação com a doença”. Acho que pode ter sido isso, porque o filme foi elogiado por muita gente, levei para a Argentina. E incrível, fez mais sucesso na terra do meu pai, que era argentino, do que no Brasil, do que em São Paulo.

NP: A gente viveu em uma época de muito preconceito. Nós atravessamos uma fase… Nós somos muito corajosos.

DC: Acho até que extrapolamos.

NP: Eu acho!

DC: Nós tivemos mais coragem do que as pessoas que estão fazendo os filmes do Sexy Hot, filmes explícitos, porque isso é uma continuação do que iniciamos. Mas, nós desbravamos. Essa onda erótica começou conosco.

NP: E agora eu vou chamar a nossa Xgirl especialmente para você, David.

A nossa Xgirl

Xgirl Dafny

E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Dafny, uma morena de dread linda e gostosa, que ficou nua em um ensaio sensual que revela as beleza do corpo tatuado.