Neste episódio, Nicole Puzzi entrevista Bräo, um ilustrador de quadrinhos. No episódio 14 da quarta temporada Pornolândia eles conversam sobre a representação feminina nos quadrinhos, sobre referências pornográficas e arte. Uma conversa artística que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Ele é um ilustrador de mão cheia! E as mulheres que ele desenha são exuberantes e deliciosas. Vamos conversar hoje com o Bräo, que vai falar de mulheres tão lindas quanto a nossa xgirl, que mais uma vez está arrasando.
O trabalho de Bräo
Bräo, que maravilha, estou adorando!
Bräo: Muito obrigado!
NP: Como é que você define o seu trabalho?
Bräo: Bom, eu sou ilustrador e estou em uma tentativa de ser quadrinista, né. Eu lancei um quadrinho autoral, foco meu trabalho no estudo da figura feminina. Mais ou menos isso!
NP: E você fez quadrinho erótico, é isso?
BR: Isso. Lancei, dois anos atrás, o “Cornucópia”, que foi meu primeiro trabalho…
Cornucópia
NP: Por que “Cornucópia”? Por que essa nome todo…?
BR: Cornucópia é um símbolo antigo, aquela cesta de vime em forma de chifre, né. Então, ela retrata, simboliza abundância. E isso é uma das coisas que tem no quadrinho, uma abundância sexual.
NP: Você é tímido?
BR: Eu sou.
NP: Eu estou vendo. Como um homem tão bonito pode ser tímido?
BR: Magina!
NP: Deixei ele mais tímido ainda! Mas, cara, olha: bonito, inteligente porque gosta de mitologia… Quando você falou cornucópia eu falei “pronto! Fechou. Bonito, inteligente, tímido e roqueiro”.
BR: Magina! Então, “Cornucópia” é uma música do Black Sabbath. Aliás, foi ouvindo essa música que eu pensei “deixa eu ver o que isso quer dizer”.
Vida pessoal de Bräo
NP: E não tem aliança na mão, né?
BR: Mas eu sou casado!
NP: É casado?
BR: Sou. Não precisa…
NP: Você tem uma filhinha de anos?
BR: Tenho, tenho.
O consumo da pornografia
NP: A gente vai falar já já. A gente vai falar da filhinha de anos. Porque antes, eu quero saber da pornografia que você consumiu ou ainda consome para a sua produção artística.
BR: Pornografia foi bem… Acho que meu pai me apresentou para a pornografia, na verdade. Meu pai era colecionador, ele sempre tentou trazer isso para os filhos dele, né.
NP: O que ele colecionava?
BR: Ah, revistas!
NP: Revista! Deve ter tido a minha revista, com certeza! Status, nunca fiz playboy!
BR: Meu pai ia gostar de você! Aliás, ele deve ser seu fã.
NP: Com certeza absoluta!
BR: Ele só não me falou. Mas assim, com a minha esposa, a gente é muito pornográfico. Os dois, né, em quatro paredes! Mas acho que é natural Pelo menos eu encaro isso como uma forma muito natural.
NP: Eu também acho e acho legal a pessoa assumir, mesmo.
BR: A gente não tem que ter vergonha de nada e não tem que ter tabu. Aliás, eu gosto de no meu trabalho explorar isso, né. Fazer com que elas estejam a vontade, que elas estejam dominando o seu corpo.
Já usou quadrinhos para chegar lá?
NP: Agora eu vou fazer uma pergunta meio safada. Você já se masturbou vendo quadrinhos eróticos?
BR: Devo ter me masturbado!
NP: Sério?
BR: Acho que sim, por que não?
NP: Não sei, não sei. Cada um é de um jeito, amor! E quais são os seus quadrinhos favoritos para essa finalidade?
BR: Para essa finalidade, deve ter sido “Druuna” quando eu era moleque. “Druuna” do Serpieri é um quadrinho lindo! Ele fazia mulheres lindas. Então, assim, eu não posso falar com certeza nenhuma, mas eu devo ter feito.
NP: Então, gente, é que ele já fez tantas, tantas, que ele já está esquecido, né?
BR: Já foi. Mas, hoje em dia eu gosto muito do trabalho do Crepax. Ele é um autor que eu…
NP: Esse é o artista que você admira?
BR: Um dos.
Referências
NP: E você usa como referência nos seus quadrinhos?
BR: É! Eu gosto dos temas que ele aborda, eu gosto do jeito que ele retrata a mulher. Eu gosto de como ele faz a história ser sobre a mulher, sobre o que está passando na cabeça dela.
NP: Olha, eu estou vendo aqui, uma deusa!
BR: Ela é a Khali, Isso, na verdade, foi um trabalho, fiz uma carta de baralho com essa ilustração e era o seis de copas. Ela está segurando seis corações.
NP: Ai, que loucura! ~abanando-se com o livro~ Agora, falando sério, estou adorando o seu trabalho.
BR: Obrigado!
NP: Eu acho muito bonito, não acho pornográfico no sentido pejorativo que alguns idiotas ainda têm. “Ah, é pornográfico”, não. Deixa disso, para, tá. Mas acho lindo mesmo, você retrata a mulher com uma beleza, com uma coisa erótica gostosa de se ver. Legal isso!
BR: Obrigado, Nicole!
Já pensou em homens?
NP: Você nunca pensou em fazer isso com homens?
BR: Ah, já, mas não foi legal. Homem não é bonito, não sei o que você veem na gente! Eu fiz, no “Cornucópia” o homem está lá também. Mas o meu estudo da figura feminina vem de uma forma bem orgânica assim. Eu não tentei começar a fazer isso. Como artista, eu procuro desenhar de tudo. E quando eu comecei estudar a figura feminina, as pessoas começaram a gostar, eu comecei a ficar bom nisso.
Dar vida a uma mulher
NP: Como você, que deu vida a tantas mulheres nos seus quadros, como você se sente dando vida mesmo a uma menina?
BR: Dá mais trabalho, né!
NP: Acho que sim!
BR: Essa me deixa mais tempo acordado!
NP: E, se amanhã a sua menina, quando ficar moça, ela quiser ser modelo desta capa?
BR: Olha, eu… a minha filha, eu quero que ela faça o que ela quiser, desde que ela seja feliz. Feliz fazendo e que ela esteja fazendo por ela. Para mim, eu aceito qualquer coisa, eu não tenho problema com isso.
NP: Sabe o que eu acho? Acho que quem assume a pornografia como algo positivo, como uma coisa não escondida, quem assume e faz e trabalha com isso tem uma noção tão grande de criar os filhos sem problemas, sem traumas, né!
BR: Eu espero assim. Em casa, eu tenho meus quadros de mulheres pela casa. E ela vê. Já me criticaram antes “ah, você vai deixar ela ver isso?”. Por que eu vou esconder o meu trabalho? Assim, ela ainda não tem idade para ver o meu trabalho erótico, ver pessoas fazendo coisas que ela não sabe o que são ainda. Mas ela já viu pessoas peladas. Ela já viu os pais pelados, ela já se viu. Então, não o porquê eu esconder isso dela e criar um tabu na cabeça dela.
Os trabalhos de Bräo
NP: Me fala dos teus trabalho além deste trabalho. Além de quadrinhos, você faz quadro também, né?
BR: Sim. Eu sou ilustrador, eu pinto também com aquarela. Procuro ser artista em tempo integral. Infelizmente, isso não dá dinheiro, eu não consigo só viver disso. Mas, eu… Não dá para ficar só em uma coisa. Quadrinho dá trabalho, leva tempo. Então, eu tenho três livros lançados: são dois sketchbooks e uma quadrinho. O sketchbook, um deles é o que você tem em mãos, que é o “Bad Women”. Esse é um livro que acompanha o meu objeto de estudo, não só o que eu faço explorando a figura feminina, explorando corpos diferentes, mas a atitude e o olhar também. Tudo isso está nesses trabalhos. Para lançar os livros eu fiz um financiamento coletivo online, porque senão eu não teria conseguido imprimir o livro nessa qualidade que ele tem.
NP: Excelente qualidade! E como que faz para as pessoas encontrarem os seus livros e seus trabalhos?
BR: Tem meu site que é brao.art.br. Mas você pode comprar meus livros, dois livros lá, um já acabou. Você acha na ugrapress.com.br.
NP: Muito obrigada! Gosto muito do seu trabalho, você é muito bom!
BR: Muito obrigado! Eu que agradeço. Obrigado mesmo pelos elogios e por me trazer aqui.
NP: Não é só elogio não, é verdade! Beijão na sua esposa e na filhinha também.
BR: Dou sim!
NP: E agora nós vamos para a nossa xgirl nada tímida!
A nossa xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Priscila Magagnin, uma morena linda e gostosa que ficou nua em um ensaio sensual selvagem para te deixar louco!