Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Angel, uma shibarista. No episódio 13 da quinta temporada de Pornolândia elas conversam sobre as origens do shibari, seus desdobramentos e sobre o orgasmo com a prática de shibari. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Você quer incrementar a sua vida sexual? Então compre cordas., porque amarrar ou ser amarrada é uma delícia! E hoje a Angel vai nos contar tudo sobre essa arte erótica japonesa. E para encerrar essa noite, vamos ficar amarrados na nossa xgirl.
Conhecendo o shibari
Angel, como foi para você esse percurso seu de conhecer o shibari e virar shibarista?
Angel: Eu conheci o shibari assim que eu entrei no Mídia SM, porque eu comecei a aprender sobre rope bondage, outras formas de rope bondage. Aí eu conheci o shibari, mas eu ainda não praticava. Eu comecei a estudar mesmo em 2016 e eu fui bem devagarzinho.
Eu fui vendo vÍdeos, lendo coisas no google, fui lendo tudo que eu podia ler. Até que um dia eu fui no “atados no parque”, que é um evento que a gente faz ao ar livre de shibari. Na época, eu não conhecia ninguém da comunidade, fui de curiosa mesmo. E foi lá que eu comecei a praticar, foi lá que eu comecei a aprender um pouquinho e de lá para cá eu venho estudando desde então.
O tesão pelas cordas
NP: Como acontece esse tesão assim de amarrar e ser amarrada?
Angel: Eu acredito que as cordas são mais tensão da sua intenção. Depende muito do que você quer passar para a pessoa que você está amarrando ou do que você quer sentir quando você está sendo amarrada. O shibari pode ser muitas coisas, pode ser sexual, pode ser sexy sem interação sexual. Ele pode ser um coisa totalmente voltada para o acalento, para o aconchego, sem nenhum toque sexual ou sensual durante a prática. Então, depende muito do que você quer passar e do que você quer sentir.
NP: Quando a gente pensa em shibari, a gente que é leigo vamos dizer assim, a gente já pensa que que tem um fundo sexual.
Sadomasoquismo
AN: O shibari tem muito essa pegada mesmo de SM, a gente vê muito na comunidade…
NP: Muito o quê?
AN: É bem SM, que é sadomasoquismo. E é bem comum achar pessoas que tem essa pegada semi nawa, que a gente fala dentro do shibari, que é de tortura. É aquela coisa de donzela indefesa, que tem uma pegada bem sexual mesmo. Mas isso era mais antigamente. Hoje em dia, com os novos praticantes, o new school do shibari que a gente chama, está indo para outros caminhos assim, ele não é mais só sobre sexo.
Os shibaristas
NP: Em geral, o shibarista é homem? Você é shibarista e é mulher. Como que é isso, gostar de ser amarrada e de amarrar?
AN: Então, para te falar, a maioria dos shibaristas não são homens.
NP: Não??
AN: Eles são mulheres. Só que elas não aparecem tantos na mídia como os shibaristas homens. No Japão, quando o shibari surgiu, era primariamente homens amarrando mulheres. Hoje em dia isso mudou bastante. A gente vê muita mulher amarrando, nao tanto nas redes sociais, mas quando a gente viaja para conhecer.
E para mim, ser mulher e amarrar, não é algo não natural quanto as pessoas pensam. Porque o shibari não se resume a submissão, dominação. Então, para mim é bem normal amarrar homens e mulheres e pessoas não binárias, tanto faz. E trazer uma aura de conforto para essas pessoas quanto estou amarrando, eu acho que eu consigo passar uma imagem mais tranquila do que um homem quando eu tô amarrando.
A melhora do sexo
NP: E você conhece alguém que teve melhora na vida sexual depois que começou a praticar o shibari?
AN: Olha, eu conheço bastantes pessoas que melhoraram a vida em geral quando começaram a praticar o shibari, porque ele traz uma confiança muito grande, tanto quanto modelo, quanto a pessoa que tá amarrando rigger. E acaba refletindo sim na vida sexual. Não sei se todo mundo pratica o shibari junto da vida sexual, mas tem uma aura de autoconfiança, de se sentir mais poderoso que pega a gente mesmo.
Dominação e submissão
NP: Você falou sobre dominaçao e submissao.
AN: Uhum.
NP: Mas dá um ar assim de dominação você pegar e amarrar alguém, né?
AN: Realmente, tem muito isso. Têm muitas pessoas que praticam dentro dessa dinâmica…
NP: E é válido?
AN: É válido, totalmente válido. Quando o shibari se une ao BDSM, sendo praticado com consciência, eu acho que não tem problema nenhum. É totalmente válido, porque dentro das próprias práticas de BDSM tem os seus riscos, mas ele não se resume a só isso não.
Eu, normalmente quando vou amarrar as pessoas, é uma relação mais de troca. Eu estou oferecendo algo para essa pessoa e ela também tá me dando algo de volta. Entao, nao é muito assim “estou submetendo ela a algo”. Eu costumo dizer que o shibari é muito mais para o modelo do que para o rigger, porque eu estou totalmente focada em causar boas sensações naquela pessoa que eu to amarrando.
Nomenclaturas no shibari
NP: E quais são as nomenclaturas que se dá para as pessoas que amarram e para quem e amarrado?
AN: Existem uns nomes mais comuns. A pessoa que amarra é chamada de rigger.
NP: Rigger.
AN: Isso. E para a pessoa que é amarrada tem o dorei, que vem do Japão, que é escrava das cordas. Não é todo mundo que se sente confortável em usar “escrava ou escravo das cordas”. Tem o rope bunny, que é o “coelhinho das cordas”, e tem um nome que é mais neutro, que é modelo.
NP: Você é dorei ou rope bunny? Rigger você é.
AN: Rigger eu sou. Eu prefiro modelo, porque é um pouquinho mais neutro assim.
Orgasmo com as cordas
NP: Vamos pegar dois exemplos, que eu quero que você me diga se é possível ou não. É possivel uma pessoa ter orgasmo durante o shibari?
AN: Sim, é possível quando as cordas estão nas genitais, é muito comum isso de acontecer. Porque você estimula a genital pela corda, então é bem comum de acontecer.
NP: Homem e mulher, tanto faz?
AN: Olha, homem é um pouquinho mais difícil assim. As vezes que eu fui fazer, eu apanhei um pouquinho para fazer acontecer. A mulher é um pouquinho mais fácil. Mas tanto na mulher quanto no homem pode acontecer.
NP: E também dá um relax. A pessoa pode ficar mais tranquila, mais calma e dormir melhor.
AN: É bem comum. Bem comum as pessoas que eu amarro depois ficarem bem mais calmas, ficam com sono, querem ir para casa dormir. Então, é bem comum. Eu fico bem relaxada quando eu sou amarrada normalmente, bem relaxada, com o corpo bem molinho assim.
As amarrações
NP: Menina, eu preciso aprender as duas coisas. Porque assim, eu quero aprender… eu quero que você me mostre como e que são esses nós, vai que eu preciso né, para deixar alguém, né… para passar lá e ne…Entao me fala quais são as amarrações básicas.
AN: Então, comumente, quando a gente vai aprender sobre o shibari, a gente estuda sobre o risco primeiro, a gente estuda um pouquinho de anatomia, para depois passar para a corda mesmo, para o trabalho com a corda.
E para qualquer tipo de amarração você precisa de um single colum ou um double colum. Single colum é quando a gente amarra um membro só. Colum é coluna. Quando você amarra um membro só, pode ser o braço, pode ser a perna, a coxa ou a cintura, tudo. E o double colum são dois: pode ser um braço no outro, pernas unidas, coxas unidas, o braço e a coxa, aí a gente seguia por esses princípios básicos de amarrações.
NP: E como a pessoa que quer ser amarrada, sendo dorei, bunny ou modelo, ela faz para te encontrar? E como ela pode fazer curso? Porque para ser rigger tem que fazer curso.
AN: Sim, tem que estudar. Não só para ser rigger, para ser modelo também tem que estudar. É importante você ter noção do seu próprio corpo para saber o que voce pode fazer ou não dentro do shibari.
Encontre a Angel
NP: Como ela faz para te encontrar?
AN: Normalmente pelo Instagram, onde eu posto meu trabalho, normalmente. Pode ser pelo Facebook ou pelo Twitter, mas no Instagram eu sou um pouquinho mais ativa. Então, meu user lá e @angelshibari, bem simples mesmo, nada muito…
NP: Angel com e, né?
AN: Isso, Angel com e. Angel Shibari.
NP: Angel Shibari.
AN: Só, só isso.
NP: Tá certo, Angel. Adorei, viu.
AN: Eu também, Nicole, obrigada.
NP: Obrigada. E que tal nos vermos a nossa desembaraçada e sensual xgirl?
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa xgirl Juliana Santana, uma mulher negra, gorda e tatuada, ficou nua em um ensaio sensual que desafia os padrões e por isso é tão delicioso .