Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Alfredo Sternheim, diretor e roteirista de filmes que mudaram o cinema nacional. No episódio 22 da quinta temporada de Pornolândia eles conversam sobre as obras do Cinema Paulista, censura e rivalidade com o Cinema Novo. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Ele é um homem do cinema. Diretor, roteirista, crítico, jornalista. Alfredo Sternheim assinou grandes obras do cinema brasileiro e hoje vai conversar com a gente sobre sua vida e seu trabalho no cinema paulista. E depois veremos a estrela da noite, a nossa xgirl.
O princípio
Nicole Puzi: Alfredinho, você como um grande diretor do cinema nacional, um diretor expressivo que fez filmes maravilhosos, eu queria saber como é que você começou no cinema e como é que você descobriu o cinema.
Alfredo Sternheim: Eu, desde criança, era apaixonado por cinema. Cinema, teatro. Aos 14 anos eu fiz figuração em “Osso, Amor e Papagaio”, que foi filmado na Vera Cruz. Passei a frequentar o Cineclube depois, escrever crítica. E queria fazer cinema, eu não queria ficar só na crítica. E aí conheci o Walter Hugo Khouri, no Cineclub, que ele foi fazer uma palestra sobre cinema e eu já admirava ele como diretor, né. Aí comecei.
A importância de Khouri
NP: E quel foi a importância do Walter Hugo Khouri? Na minha carreira ele foi extremamente importante, porque eu fiz 4 filmes do Walter Hugo Khouri. E na sua carreira, como foi?
Alfredo Sternheim: Foi super importante! Eu acho que eu tive uma forte benção, porque o Khouri, mesmo aqueles que não gostam da temática dele, era um cara que conhecia a linguagem do cinema como ninguém. Eu aprendi a adequar a linguagem do cinema, as histórias ao cinema… O khouri era meticuloso com o elenco, ele, a direção do Khouri não buscava aparecer mais que os atores, que as atrizes, que a história. Não!
NP: Não!
Alfredo Sternheim: Eu me lembro que eu participei com ele em um debate, ele tinha uma habilidade verbal, uma cultura maravilhosa, que ele deu um baile em Jean-Claud Bernard. Porque ele falou assim que quem não fizer filme que retrate o Brasil, que fiquem só em seus apartamentos, que fiquei fora do país. Foi alguma coisa assim, bem fascista. O Khouri respondeu “eu posso fazer um filme brasileiro…”, ele tinha feito um filme no apartamento dele, não me lembro qual é, “…e eu posso ser muito mais brasileiro do que o cara que filma na favela”.
NP: Sim!
AS: Exatamente.
NP: É que era época de patrulhamento, né.
AS: De patrulhamento. O Cinema Novo combatia muito o cinema de São Paulo. Diziam que éramos isso, aquilo. Não fomos nós que combatemos o Cinema Novo, foi o Cinema Novo que, o Glauber e companhia que denegria o cinema de São Paulo, que eram produtos industrializados, coisa e tal.
As preferidas de Alfredo Sternheim
NP: Sobre cena de sexo, nudez. Sobre cena de sexo no cinema nacional, qual você mais gostou de dirigir e qual a cena de sexo, em todo o cinema nacional, que você achou mais bonita, mais interessante?
AS: Aí, eu… das que eu gostei de dirigir são tantas, eu gostei de tantas! Eu gostei da cena de sexo de “Lucíola” com a Rossana Ghessa, porque era um filme de época.
NP: Rossana Ghessa!
AS: Era um filme de época, então era um desafio você fazer sexo. Tinha toda… como tirar a roupa, porque as roupas eram difíceis de tirar. Eu gostei muito dessa cena de sexo. Gosto muito de uma sequência de pesadelos que eu fiz, pesadelo erótico em “Intenção e Desejo” com Sandra Graff e Luiz Carlos Braga, que foi coreografada ao som de Beethoven, A Sétima Sinfonia, com nudez e erotismo. Agora, dos filmes brasileiros em geral, eu não sei te dizer o que mais me… O que mais me marcou a memória foi “Os Cafajestes”, com a Norma Bengell em 1962.
NP: Nossa!
AS: Aquela coisa do carro é muito bonita. Tiveram muitas… Não lembro.
Anjo e pureza
NP: É que são muitas! Vem tanto na cabeça da gente. Agora eu queria falar sobre “Anjo Loiro” e “Pureza proibida”. Queria que você falasse da importância, como é que foi os atores… Tudo sobre “Anjo Loiro” e “Pureza proibida”.
AS: “Anjo Loiro” foi uma ideia minha do filme, eu peguei o conto, que baseou, “O Anjo Azul”, do Henrich Mann e o Elias Curi queria fazer um filme comigo, foi meu segundo longa metragem. Ia ser a Adriana Preto que ia fazer o anjo loiro, mas aí não deu certo. Aí o Elias Curi falou que ia ter que ser a Vera Fischer, mas eu não conhecia a Vera, fiquei até meio assim, fui um pouco preconceituoso. Miss Brasil fazer cinema? Eu queria uma atriz mais… Mas foi uma delícia, a Vera foi uma atriz maravilhosa, se entregou no papel. Ela realmente não tinha experiência, foi muito bacana fazer “Anjo Loiro”.
NP: E funcionou, né. Ela tá linda! Bom, linda ela é, mas ela tá ótima nesse filme. Funcionou!
AS: Foi muito bacana, funcionou. O filme deu muito dinheiro até chegar a maldita hora que o maldito General Bandeira, eu não sei deixar de ter raiva, mandou proibir o filme em todo o território nacional.
A censura e o preconceito
NP: Censurou por quê?
AS: Ele implicou principalmente com uma cena de sexo e nudez da Vera com um jovem estreante chamado Nuno Leal Maia, que estava estreando no cinema. Ele implicou “Por que tinha que mostrar aqueles dois nus?” e eu falei “Por que eu eu não tinha que mostrar? São bonitos, bons atores e a situação exigia”. Aí, em seguinte, eu recebi o convite para fazer “Pureza Proibida”, da Rossana Ghessa, ela foi produtora e atriz do filme.
Quando a gente estava buscando o ator para ser parceiro da Rossana, o pescador, eu falei “por que não o Zózimo Bulbul?”. ‘Mas é negro!” e eu falei “E daí?”. O papel não diz que tem que ser negro, não tem conotação. Ele é bonito, bom ator. Ele era lindo na época. Conversei com ele “você sabe manejar barco de pesca?” ele “Uh, sei!”. Mentira, ele não sabia nada. Foi um barco de motorzinho, mas ele se saiu super bem. E, na época, no festival de Gramado, teve gente que “aí, você não desenvolveu o problema do negro no Brasil”. Mas quem falou que era para desenvolver o problema do negro e “por que você colocou o Zózimo Bulbul?” e eu falei “Por que não o Zózimo Bulbul?”.
NP: Era o preconceito!
AS: Exato, um preconceito às avessas.
NP: Então era um preconceito, porque não podia um negro fazendo um papel de um homem. Um homem!
As: De um homem que se apaixona por uma freira.
Projetos de Alfredo Sternheim
NP: Que se apaixona por uma mulher. Por que não? Você tem algum projeto em andamento?
AS: Projetos tem um monte! A gente não quer parar, mas está difícil. No cinema da boca, a gente tinha a função do produtor, então era só levar o papel dos produtores, ia no 4° andar, não dava descia para o 3°. Era fácil, eu ainda não me habituei às novas…
NP: É, verdade.
AS: Mas eu tenho novos projetos, inclusive em função do Memorial do Cinema Paulista, que quer entrar na produção. Então, a gente está tentando viabilizar esses projetos de longas. Eu tenhpo um suspense, dois suspenses com comédia, tenho projeto de minissérie.
NP: Você tem um projeto que é comigo, que eu sei.
AS: Sim.
Memorial da Boca do Lixo
NP: E está no Memorial do Cinema Paulista do qual eu faço parte. E no Memorial, gente, reunimos pessoas da Boca e fizemos um memorial para deixar mais forte ainda a presença da Boca, dos filmes nacionais da Boca, para ficar na memória das pessoas, né.
AS: Exato.
NP: Mas nós vamos prosseguir com o Memorial do Cinema Paulista.
AS: Vamos prosseguir.
Encontre o Alfredo
NP: Vamos prosseguir, vamos fortalecer e os cineastas que quiserem se aproximar, procurem o Alfredinho nas redes sociais. Como é que te encontra?
AS: No face pelo nome, Alfredo Sternheim. Eu vou soletrar o sobrenome que é complicado. E por email é [email protected].
NP: Tá, ok. Qualquer coisa, se ficar em dúvida, entra no meu Face e procura meus amigos.
AS: Também, verdade.
A despedida
NP: Nossa, você não sabe o prazer que eu tive. Eu te amo muito.
AS: Eu também, nossa!
NP: Tenho o maior orgulho de ter estado lá, na rua do Triunfo. Se eu começar a falar, daqui a pouco eu choro, gente!
AS: É emocionante mesmo!
NP: Eu sei que você é um intelectual.
AS: Não.
NP: Você é! Nós sabemos. Você é uma pessoa que fez muito pelo cinema nacional. Nem sempre somos reconhecidos, mas você fez muito pelo cinema nacional. Muito obrigada!
AS: Obrigada você pela chance!
NP: E agora a nossa estrela: a nossa xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa xgirl Aline Dillenburg, uma roqueira morena ficou nua em um ensaio sensual estilo Rock and Roll.