Entrevistamos Otto Krafthaig (desenhista e roteirista) e Luca Bonano (roteirista) pra entender como misturar Filosofia com quadrinhos independentes.
Entrevista >> Draco Jürgerstern

Draco Jürgerstern

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1) Quando e como tudo isso começou?

Tudo começou na sala dos professores de uma escola pública no interior do Rio Grande do Sul. Luca Bonano, professor de filosofia e eu, Otto Krafthaig, professor de português e literatura, conversávamos sobre os personagens de HQ, os super-heróis, eu contava que torcia sempre para os vilões e achava as vilãs muito mais sexy que as mocinhas. Ao ouvir isso, o Luca acabou rindo, já que o herói com características de vilão, ou melhor, o anti-herói como protagonista é uma característica da nossa época. Ele acrescentou o fato de os heróis típicos serem babacas e fez uma brincadeira sobre esses usarem cueca sobre as calças. Muitos imitavam personagens de circo, halterofilistas. Eu disse que estava cansado de ir às bancas e não encontrar algo mais próximo da minha realidade, um personagem de carne e osso, não um playboy, um jornalista, ou um cara medroso que tira retratos para ganhar a vida. Isso tudo havia habitado minha infância e adolescência, juntamente com o Pato Donald, eu desenhava bastante esse personagem. Contudo, agora não dava mais, estava cansado deles e não queria parar de ler, muito menos de desenhar. Para isso, precisaríamos criar um personagem – dispara Bonano no meio da conversa.

O sinal tocou e o recreio acabou, mas não consegui dar aula o resto da semana, pois aquela frase do paulista (Luca Bonano nasceu em São Paulo, se apaixonou por uma gaúcha e veio morar em Campo Bom, Rio Grande do Sul) me incomodou, positivamente, o resto da semana.

A criação do personagem já havia começado sem nem eu mesmo saber. Há um tempo, escrevi um conto para uma revista independente, O Apedeuta Hermeneuta, aqui de Taquara, Rio Grande do Sul.

O personagem era um andarilho, o nome do sujeito era Draco Jürgerstern, o sobrenome é de difícil pronúncia, nada que o mercado aceitasse numa boa, entretanto, não estava nem ligando para o tal do mercado. Quem em sã consciência iria publicar uma história com um personagem com esse nome? O Apedeuta publicou, e o personagem se tornou conhecido no meio intelectual, já que os artigos e contos da revista eram escritos, em sua maioria, por professores da faculdade local.

Na semana seguinte, levei a ideia do personagem para o Luca Bonano e começamos a esboçar nossa criatura, nosso Frankenstein. Surgiu então um personagem: um professor de filosofia da Universidade de Hamburgo, Alemanha, chamado Zven Schneider, líder de uma banda de New Metal, casado com uma linda esposa bissexual, Natascha, pai de uma filha de cinco anos, Maria, e dono de um cão labrador, Odin. O que há de excepcional nisso tudo? O fato de esse pai de família embarcar em um navio cargueiro em Hamburgo e vir parar no porto de Rio Grande, dizendo ser Draco Jürgerstern, o Zaratustra da modernidade líquida, sem se lembrar da sua antiga identidade de professor e músico.

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2) Quais as suas influências?

Acho complicado isso de influência, mas sei que elas existem. Antes de dar início ao projeto Draco Jürgerstern, lia e, ainda leio, as revistas do Preacher e do Transmetropolitan, Spider Jerusalém é ótimo, um grande trabalho! Recomendo essa leitura sempre para meus alunos que curtem HQ, e muitos deles gostam. Tem um cara muito bom mesmo, conhecido já no underground, o Gabriel Renner, muito foda as tiras do Homem Parasita, esse personagem é muito bom! Sobre conteúdo, falamos muito sobre Nietzsche, afinal, sempre tentei ler Nietzsche, e o Bonano fez TCC estudando esse autor. Por fim, não podia faltar, o mestre Carlos Zéfiro. Nada que eu escreva vai servir para qualificar mais ainda o trabalho desse cara, simplesmente deve ser lido por quem curte HQ underground.

3) Como você vê o cenário para quadrinhos independentes hoje no Brasil e no mundo?

Tem muito espaço para divulgação na internet, essa ferramenta fantástica. É possível vender material pela rede. Só não faz mais quem não quer.
Fora da Internet, fica complicado, pois aí a proposta é bem mais densa, existem até alguns programas de TV entre amigos e parceiros de cerveja que divulgam alguma coisa de alguém, mas seria muito mais bacana se o espaço se abrisse mais, ninguém sai perdendo com isso, podem ter certeza, até porque tem coisa muito boa fora do tal “mercado”, sou suspeito para falar do meu personagem, por isso, deixo-o de fora e passo a me referir a outros materiais como o Banhero Selvagem, que, aliás, vocês divulgaram no site da Xplastic, o Bangolé Borogodó, lá de Brasília, o Letal Mágico, aqui dos pampas. Nossa, vou parar por aqui para não esquecer de ninguém.

4) Que outras manifestações de cultura independente você curte?

Acho bacana o grafite, as bandas independentes que cada vez mais entram em ascensão devido à Internet. Gosto muito do som da banda Tatari Gami. Os filmes pornôs independentes são presença confirmada, curti muito o último que foi ao ar no novo site da xplastic, aquele dirigido pelo Valter José. Gosto também de fanzines de poesia e prosa. Enfim, tudo que leva o nome de independente me agrada de certa forma, tem porcaria também, mas nada que se compare a grade de programação das emissoras “famosas” da TV aberta brasileira.

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5) Onde comprar? Onde encontrar na Internet?

A revista Draco Jürgerstern pode ser adquirida, fisicamente, ou digitalmente, pelo contato de e-mail [email protected]. Estamos bolando um site com material de divulgação, assim que tivermos o endereço passaremos para vocês.

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