Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Hanna Korich, documentarista. No episódio 13 da primeira temporada de Pornolândia elas conversam sobre o documentário “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes”, sobre feminismo e homossexualidade. Uma conversa esclarecedora que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Ariella foi o meu maior momento dentro do cinema nacional. Foi um filme que todos os meus fãs assistiram, todos os fãs de Nicole Puzzi assistiram. E eu devo isso a Cassandra Rios que escreveu “A Paranóica” que, consequentemente, foi adaptada para o cinema. E ela só queria uma atriz para fazer a Ariella: eu! Então, eu tenho muito amor pela Cassandra Rios, acho que ela foi bastante injustiçada. Mas, eu fiquei feliz este ano, porque tem uma pessoa que eu conhecia agora no ano passado que é a Hanna Korich. E ela é diretora de um filme sobre a Cassandra Rios, “Cassandra: A Safo de Perdizes”. E para homenagear a Cassandra, para homenagear a Hanna, nós vamos ter um ensaio com duas mocinhas maravilhosas. Então, vocês vão ver as duas Xgirls e depois eu vou esse papo que eu queria há muito tempo com a Hanna.
As nossas Xgirls
Conheça todas as nossas Xgirls.
O interesse de Hanna Korich por Cassandra Rios
NP: Olha, eu tenho o maior prazer em te receber aqui. Mas, eu queria que a gente começasse a falando da Cassandra. Você conheceu a Cassandra pessoalmente? Po que você se interessou na obra da Cassandra Rios?
Hanna Korich: Pois é, Nicole, eu fico me perguntando por que é que eu não conheci a Cassandra Rios pessoalmente.
NP: Eu conheci!
Hanna Korich: Eu tenho inveja de você por causa disso. E me interesse mais pela obra da Cassandra porque eu sou uma lésbica cinquentona e gosto de livros, gosto de ler. Eu comecei a ler os livros da Cassandra e fiquei fascinada com a ousadia dela, né. Como que uma mulher na década de 40 aborda personagens abertamente homossexuais nas letras brasileira? Isso é de uma coragem, de uma ousadia que se a gente for ver hoje o que acontece na literatura lésbica, é quase nada perto da ousadia que a Cassandra teve na década de 40. E eu resolvi fazer este trabalho, esse documentário, porque eu percebi que as mulheres brasileira com menos de 40 anos, especialmente as lésbicas, não conheciam a Cassandra.
[Insert do documentário Cassandra Rios: A safo de Perdizes]Feminismo e lesbianidade
NP: Feminismo e lesbianidade. Eu aprendi hoje que é muito mais educado falar lesbianidade e homossexualidade ao invés de homossexualismo.
HK: E é muito mais bonito! O “ade” é uma coisa aberta.
NP: E dá uma ideia de cidadania. Gostei bastante, aprendi com ela. O feminismo, as pessoas confundem, acham que é feminista então é lésbica.
HK: Uma idiotice, um equívoco, uma ignorância, né. Porque, você pode ter uma feminista que é lésbica e você pode ter uma feminista que é heterossexual. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A questão do feminismo é que são mulheres que, politicamente, dentre outras coisas, defendem que não existe esta questão de que o homem é superior à mulher, de que o homem tem que ganhar mais do que uma mulher, ou de que o homem é melhor do que a mulher, de que a mulher tem que ser submissa ao homem. Isso é um equívoco!
Hanna Korich, uma militante cultural
NP: Você é feminista?
HK: De certa forma eu sou. Eu sou militante, mas eu faço uma militância cultural. Eu tenho uma editora, que é a editora Malagueta, que é uma editora lésbica da América Latina. Malagueta que publica livros escritos por lésbicas para lésbicas.
NP: A Laura Bacellar, sua companheira de…?
HK: 10 anos.
NP: Ela é uma intelectual?
HK: Ela é uma intelectual.
A importância da Editora Malagueta segundo Hanna Korich
NP: E ela que montou a editora Malagueta que eu acho extremamente importante, porque quando uma jovem está perdida, sem saber porque ela gosta de mulher, isso ainda existe.
HK: Muito!
NP: Por que ela gosta mais de mulher do que homem? E mesmo aquelas que iniciam a vida sexual com mulher de uma maneira meio louca…
HK: Tumultuada.
NP: Essa é a palavra.
HK: Angustiante! Acha que é uma transviada, acha que é uma criminosa.
NP: Ou acha que é só sacanagem. E ela começa a negar que ela tem aquele desejo, então vai fazer na sacanagem. Eu acho que a editora Malagueta contribui muito para isso.
HK: Eu acho. Eu acho, não, eu tenho absoluta certeza. Ela tem a oportunidade de perceber que, mais do que tudo, ela é um ser humano. Ela é um ser humano que paga impostos, que pode brigar com a namorada, que pode brigar com o pai, que pode brigar com a mãe e que é homossexual. A única “diferença” é que a orientação sexual dela é para pessoas do mesmo sexo, só isso. E os livros trazem conhecimento e ampliam o seu universo. E, de uma forma ou de outra, faz com que você se aceite como homossexual. Isso é fundamental!
Despedida
NP: Eu quero que você volte ao nosso programa! Você promete?
HK: Volto, claro, quando você quiser!
NP: Nossa, gostei muito de falar com você!
HK: Eu também gostei muito!
NP: A gente tem uma amizade muito boa.
HK: Foi muito bom ter você no meu filme!
NP: Obrigada! Sweetie, é com você agora.
Cozinha ao Ponto
E este episódio termina com a receita de Batata com bacon, preparado pela deliciosa tatuada Sweetie Bird!