João Brasil fala para Sweetie Bird sobre o funk batidão ser parte de nossa cultura musical.
Nunca entendi a graça do funk. Achava baixo, vulgar e repetitivo. Isto é, até ouvir o DJ set live do João Brasil. Com mash-ups que misturam sons tão ímpares quanto Roberto Carlos e ACDC, Tom Jobim e Bonde do Tigrão, e abusam do uso de batidas nacionais, eu finalmente consegui engolir que, sim, o batidão é parte da nossa cultura musical. E é divertido, burlesco e político, se assim quisermos. Leia a entrevista com o músico que leva o país no nome, mora em Londres e se formou em música na universidade de Berklee.

Entrevista feita pela @sweetiebird com o DJ e Produtor musical João Brasil

Foto: Bárbara Magri

Foto: Bárbara Magri

 João, você mora em Londres. Como rolam os show no Brasil?

Eu sempre venho pra cá nas férias, então acaba rolando a turnê.

De onde veio o nome João Brasil?

Eu compus Baranga, que acabou indo pra internet, e não tinha um nome artístico. Peguei o sobrenome da minha mãe, que é Brasil. Foi o Alexandre Matias, do Trabalho Sujo, que divulgou e legitimou o nome em 2007.

De onde veio a inspiração para fazer os mash-ups?

Eu já tinha um disco, o Canções, e começaram a me chamar para tocar como DJ nas festas de amigos, na Calzone e na Dancing Cheetah. Eu comecei a discotecar, e como era o único músico entre eles, quis começar a fazer minhas produções próprias.

De onde vem a influência do funk nas músicas que você produz?

Eu sou do Rio de Janeiro, e sempre ouvi de tudo, nas boates tocava tudo o que você pode imaginar. Sempre teve funk. Eu morava na Gávea, e a gente ia pras festas. No começo o funk não era tão pornô, era mais leve, até meio político. O primeiro que eu ouvi foi o Rap do Pirão, em que se pregava a paz nos bailes. Só depois que o funk foi virando tamborzão, sacanagen, e eu não pude tirar isso da minha música. Eu amo o funk.

Qual a sua formação?

Sempre fui músico. Estudei publicidade e depois fui estudar música. Desde pequeno tocava bateria e tinha banda.

Você não abre mão do funk. Que influência tem a pornografia sobre o seu trabalho?

Da pornografia vem o bom humor do funk. Enxergo o pornô como uma coisa alegre, pra cima. Por mais pesado ou fetichista que seja, o cara pode estar lá todo amarrado e amordaçado, a pornografia se expressa com o humor e a expressão da verdade. É algo verdadeiro.

Em Vitória, você falou que seu filme favorito era “Ganhei na Loteria e Fui Transar em Bora Bora 2”. Do que mais gosta no pornô?

Fui Transar em Bora Bora é realmente muito bom. Gosto também da chanchada, é divertido e engraçado. Via na TV, tarde da noite, e as trilhas são incríveis. Vejo como uma coisa maior que só a sacanagem, era tudo muito experimental, como o Homem de Itu. Das atrizes, gosto da Naomi Russel, da Sasha Grey. Eu assisto pornografia na internet, no XVideos. A qualidade é melhor, em geral.

E no pornô brasileiro?

Eu gosto, mas tem algumas coisas que me incomodam. Por exemplo, não gosto de pornô com camisinha. As produções estão melhorando, e estamos chegando lá. Tem muito brasileiro indo participar de produções estrangeiras e muito gringo vindo produzir coisas aqui. Aos pouco vai se misturando. Das atrizes? Gosto da Mônica Mattos e da Vivi Fernandes.

Qual foi a pior coisa que você já viu em uma produção pornô?

Meus amigos fizeram uma compilação com as coisas mais trash que encontraram nos filmes pornôs. Tinha uma cena como um cara e uma mulher comendo um bode. O cara tava sempre de peru mole, e a mulher mijava no bode e trepava no chifres dele. Eu vi aquilo e ficava pensando… quem é a pessoa que compra e assiste a isso.

Você toca muito fora do Brasil. Os gringos conseguem entender o contexto da sua música?

Os gringos, eles não entendem as letras, mas sacam a agressividade e o humor. Essas coisas costumam passar apesar da barreira da linguagem. É um pouco como no hip-hop. Rola uma anarquia na pista, parece que perdem o pudor. A musica brasileira é boa pra isso. Bota um pouco de desconforto neles, e acabam se liberando de uma maneira única.

Você usa muita coisa do Mr. Catra nas suas músicas. Como foi tocar com ele?

Foi muito louco. Fui chamado pra tocar na festa da premiação da Multishow em 2009. Falaram “João, sem muito funk”. O empresário do Catra falou que ele queria dar uma canja comigo. Pra mim o Catra é o maior nome do funk brasileiro porque ele consegue se comunicar com todo mundo. Eu já conhecia o Catra, ele era vocal de banada de hardcore antes de cantar funk. Eu comecei a ir nos shows dele quando ele abria o Erótica, no cinemão do Rio. Eu ia tanto, e ficava todo dia lá na frente, tipo fan boy mesmo, que ele me chamou pro palco.

Então a música “Pau molão” aconteceu mesmo? O quanto dela é auto-biográfica?

Isso aconteceu, é 100% real. É a única música minha que não tem nenhuma viagem. Subi no palco e o negócio não subia. O Mr. Catra transformava aquele lugar numa loucura. Ele é absurdo, só dava ele, não tinha mais ninguém. O Catra é foda.

 

O que você acha de projetos que juntam a estética do cabaré ao funk, como as festas da Apavoramento no Rio de Janeiro?

Acho que o que eles estão fazendo é legal. Dá para desenvolver essa mistura. A Gaiola das Popozudas é um show erótico e tem todos os elementos de sensualidade, sem a mulher ficar pelada.

Foto: Divulgação por Caroline G.

Foto: Divulgação por Caroline G.