1. Kathya Cegha é homem ou mulher?
Homem (com mulher)= quase hetéro.
2. Como começou a Kathya Cegha e há quanto tempo ela existe?
Começou de uma brincadeira com amigos em Brasília, cidade em que vivi por um tempo no ano de 2005, e sempre se falava pra não fazer a katiacega, em qualquer lugar que estivéssemos, e naquele momento de gíria local resolvemos fazer uma conta no orkut e eu escolhi o nome que se falava bastante na época.
3. O nome veio da Kátia cega de verdade?
O nome veio de não fazer a katiacega na balada e sim, veio da Kátia, a cantora cega.
Como essa brincadeira de tradução tosca para o termo blazé pegou, resolvi usar pra tirar sarro dos mesmos.
4. A Kathya Cegha é seu alter ego ou um personagem totalmente fictício?
Alter ego porque faz parte do universo que estou e vivo.
5. E sobre o humor, você acredita que ainda é uma tendência que personagens e personalidades homossexuais se apropriem de um humor mais ácido?
Gay sempre será motivo de risada por aqui, o riso é uma coisa séria e sem graça no Brasil. Percebo que quando posto coisas mais rígidas sobre religião, política e educação levo o nome de chata e algumas indiretas se acumulam no inbox, mas se falo dessas coisas com humor ácido além de acharem engraçado, algumas pessoas aceitam de pernas abertas os cortes profundos que a máquina do poder faz e amanhã nem lutam, porque a crítica era pra tirar risada e não fazer pensar.
6. Parece que no meio de postagens homoeróticas e festas do universo underground você aproveita desse humor para questionar diversos assuntos atuais do país, incluindo política e economia. O personagem tem um posicionamento político?
Bom, tento de forma cítrica e até bem agressiva alertar que não podemos viver enlatados, meu posicionamento é só pra mostrar que quanto mais questões você tiver…melhor.
7. É um objetivo da página disseminar esse posicionamento?
O objetivo da página é a emancipação, seja ela por qualquer descoberta própria ou influenciada.
Fazer pensar e ter conclusões, ou se identificar ao ponto de pensar no motivo da cegueira até aqui.
8. Você participou como webdrag de um movimento importante relacionado a cultura gay. Você pode contar mais sobre isso?
Sim, do QUEERING PARADIGMS 4 – Que foi um congresso realizado no Rio de Janeiro esse ano (2012), mais informações no site:
http://www.alab.org.br/pt/eventos/queering-paradigms-iv
Bom, eu participo de vários grupos fechados no facebook de discussão sobre a relação homoerótica no mundo da net e a influência que essa relação tem sobre algumas pessoas, então me convidaram junto com mais dois amigos pra participar desse evento que veio da Inglaterra e foi realizado pela primeira vez no Brasil, agora em julho.
9. Esse termo webdrag já é comum no universo gay?
Não, ainda não, a galera está se acostumando agora com o termo.
(Nota da Xplastic: Não existe ainda uma definição oficial do termo, mas webdrag é como um drag queen – artistas performáticos travestidos da internet, que não necessariamente se apresente dessa forma fora do mundo virtual)
10. Podemos considerar que esse evento, assim como a evolução da garantia de casamento entre pessoas do mesmo sexo são evidências de uma real evolução do país?
Sim com certeza, mas vivo em São Paulo e aqui é tudo mais aceitável, ainda sinto-me vulnerável em outras cidades e é fácil perceber o quanto somos pequenos para o tamanho da ignorância alheia, que destrói em segundos o trabalho de anos.
11. Um meio de comunicação que realmente consegue “atingir” a massa é a televisão. Como a Kathya Cegha se sente em relação ao que mostram na tv brasileira sobre homossexuais, drags e afins?
Essa questão é foda porque a tv mostra o que os enlatados precisam e o que um enlatado precisa é de rótulo.
Eu me sinto mal com essa tv careta e que tenta ridicularizar e diminuir pessoas o tempo todo.
12. Em relação a grande mídia de outros lugares do mundo, como a Europa? É a mesma coisa?
A Europa e alguns outros países já estão bem mais evoluídos quanto a isso. Os programas não mostram apenas beijos entre pessoas do mesmo sexo, mas ensinam como tratar uns aos outros independente de qualquer questão sexual.
O Catherine tate show é um bom exemplo de que gay não é só piada. É um programa de humor que sempre trata o tema de forma adulta.
13. Você considera que há um reflexo das religiões no que vemos na política e em toda forma de relação social?
Com certeza e muito forte, e é por isso que o mundo está em crise.
14. Estamos a alguns dias das eleições, o que tem achado das propostas dos candidatos para a defesa dos direitos homossexuais?
Acho tudo bizarro, ninguém sabe como agir, eles querem ser imparciais justamente no momento em que deveriam ser firmes. Apoiam igrejas e comunidades gays ao mesmo tempo pra garantir números, apenas isso.
15. Fora a política, você também fala bastante de moda, o tem achado dos últimos desfiles com beijo gay e travestis nas passarelas? Também vi alguns ensaios com travestis, como na última capa do mês de Setembro da revista TRIP. Isso tudo significa a maior aceitação da sociedade ou apenas um modismo?
Acho que a moda já dá seus últimos suspiros de vida e tenta de um jeito doentio controlar um mundo todo, falo muito sobre a moda sim, porém, como algo enfadonho na maioria das vezes, porque é fácil detectar grandes falhas, ela não respeita músicos, atores, artistas e gêneros…simplesmente invade tudo como lançamento pra virar a odiável palavra tendência…não sou a pessoa certa pra falar de moda, sempre acho que destruo muito o mundinho fashion e acabo atingindo até os bons.
16. Você está dando uma entrevista para um site que trabalha na maior parte do tempo com pornografia para homens. Como acha que eles vão reagir a sua participação?
Alguns vão dizer que a XPlastic está ficando boiola demais (aboilando mesmo) e os mesmos se conversassem comigo fora do personagem iriam me pedir dicas de como trabalhar melhor a língua em uma xoxota.
17. Somos amigos íntimos e particularmente acho lindo as ações que você faz de conscientização. De forma gratuita, engraçada e usando como plataforma o Facebook. A internet com a divulgação de manifestações e com os assine esse manifesto e divulgue em sua página com apenas um clique, pode melhorar o mundo?
Seria no mínimo hipocrisia de minha parte dizer que acho ridículo petições e as correntes que se formam nas redes sociais, mas precisamos ser coerentes. Tem muita coisa boa e também aquelas que colocam ainda mais rótulos nesses “enlatados” e isso entristece infelizmente. Mas acredito na forma de “propagação” pra ter efeito, seja ela construtiva ou não.
18. Existe uma ansiedade da Kathya Cegha em que as pessoas enxerguem mais o seu papel no mundo e reflitam sobre quem elas dão credibilidade?
Com certeza, tento deixar claro que é enxergando os detalhes que você vai evitar pisar no pé de quem já está ferido.
19. Se você pudesse mudar algo no país hoje, mas só pudesse mudar um item, qual seria?
Governo /Governantes/Partidos/Congresso e suas nomenclaturas = Raiz do mal.