Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Satã, produtor e ator de filmes na década de 70. No episódio 8 da sexta temporada de Pornolândia eles conversam sobre como era produzir filmes em uma época sem computadores e a trajetória de um artista nas escolas de atuação. Uma conversa saudosa que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Ele participou ativamente de produções de filme populares no Brasil nas décadas de 70 e 80. Foi o rei dos bastidores! Figurante nos filmes dos Trapalhões e ator de diversas Pornochanchadas. Hoje vamos conversar com Melquíades França Netto, mais conhecido como Satã. Um doce de pessoa, com um coração enorme, apesar da cara de mau! E fechamos a noite com a sensualidade da nossa xgirl.
Como Satã foi parar no cinema
Satã, meu amigo, que bom te receber aqui! Eu queria saber onde você nasceu e como você foi parar no cinema e depois na tv.
Satã: Eu nasci em Mateus Leme, fui criado em Belo Horizonte e depois, com a idade de 20 anos depois de servir ao exército, eu vim para São Paulo. E nessa de eu vir para São Paulo, eu fui fazer luta livre, judô, karatê… aí eu fui conhecer o cinema. E eu fui cair na mão de quem?
NP: Eu sei… Zé do Caixão!!!
Satã: Zé do Caixão! Foi lá na Mooca.
NP: Ele tinha estúdio lá, né?
Satã: Tinha! Eu fiquei com ele, mais ou menos um período de 14 anos sendo guarda-costas, secretário dele. Eu treinava o pessoal para fazer luta, para saber cair, dublê que tinha que ter.
NP: Isso era nos anos 60, não é?
Satã: Não, foi depois de 70.
NP: Ah, foi depois de 70 mesmo…
Satã: Porque eu cheguei em São Paulo era 1969.
Na frente das câmeras
NP: Ah, e aí o que aconteceu para você ir para frente das câmeras?
Satã: É muito fácil. Você convivendo com o professor, você acaba aprendendo aquilo que o professor te ensina. Ele me ensinou na frente das câmeras e por trás das câmeras. Ele falou “você vai fazer isso, isso e isso. De hoje em diante você vai ser meu guarda-costas e ator de todos os meus filmes”.
NP: Aí, você virou o ator, a estrela dos filmes dele.
Satã: O primeiro filme que nós fizemos, não sei se você lembra dele, Nelson Teixeira Mendes. O segundo foi do George Michel Serkeis, “Duas noites de núpcias”. Daí para lá, fomos esticando e esticando…
Satã, as lutas e a tv
NP: E agora, como você chegou na tv? Porque você foi para tv também…
Satã: Eu fui para a tv na época da luta livre. Eu comecei no canal 11, primeiro fui disputar na Gazeta, aí fui para o 13. Do 13 eu voltei para o antigo canal Manchete que era o 9. Depois, voltamos para o 7 e lá, eu e o Michel serdan, ficamos durante 8 anos com o programa no ar.
NP: Que programa que era?
Satã: Luta livre, Gigantes do ringue.
NP: Ah, eu me lembro, eu assistia, sim! Na Record, né?
Satã: Sim, na Record.
As mulheres de Satã
NP: Com quantas atrizes você contracenou?
Satã: Ah, foram tantas!
NP: Helena Ramos que eu sei… Vai fala aí com quais mulheres você contracenou!
Satã: A Gretchen…
NP: Ah, a Gretchen. Que filme você fez com ela? Foi aquele do Alexandre Frota?
Satã: Isso. Era “A rota do brilho”.
Inesquecível
NP: Tem algum outro trabalho que foi inesquecível para você além dos filmes?
Satã: Além dos filmes? tem. A capa e contracapa do disco do Zé Ramalho em 1981.
NP: Disco? Do LP na época, né.
Satã: Aquilo foi um sucesso, graças a Deus.
A Rua do Triunfo
NP: Eu queria que você falasse sobre a sua impressão da Boca, da Rua do Triunfo que as pessoas às vezes acham que era um lugar difícil de ser frequentado, que não havia respeito. Mas, como vocês respeitavam a nós mulheres!
Satã: ali era o lugar mais respeitável que tinha! Todo mundo respeitava todo mundo. Ali tinha de tudo, o que você quisesse encontra, era só ir ali que você encontrava! Mas, todo mundo tinha respeito um com o outro. Hoje em dia, você não pode deixar um carro aberto que alguém te leva… Naquela época, eu ia e deixava os carros tudo aberto. Os próprios vagabundos de lá tomavam conta.
NP: E como você se relacionava com as atrizes com que você trabalhava? Normalmente, você fazia papel de homem violento. Mas, como era a relação, a sua proximidade com essas atrizes?
Satã: Olha, respeito em primeiro lugar. Podia ser de Pornochanchada, podia ser de Pornô, podia ser o que fosse o trabalho dela. O trabalho dela é uma coisa, fora é outra. Então, tem que respeitar, porque tudo que a gente respeita, a gente recebe respeito também.
Atuação e produção de Satã
NP: Eu queria que você me falasse como você aprendeu a atuar e a fazer produção.
Satã: Atuar vem na mente de cada um. O ator e a atriz, na mão do diretor, é um boneco. “Faz isso, faz aquilo. Não deu certo, corta, volta”. E sempre ali é uma aula. O Mojica tinha escola de ator, o Di Cavalcante Tinha escola de ator, todos tinham escola de ator. E dentro dessas escolas, não tinha um que se desse mal. Se não fosse bem em um papel, ia bem no outro. Foi onde eu fui me engajando…
NP: Aprendendo.
Satã: Aprendendo cada vez mais. E fazendo produção…. Hoje em dia é fácil, porque está todo mundo atrás do computador. Antigamente, para fazer um filme eram 30, 40, 50 pessoas indo atrás de locação. Hoje em dia não. Eu mesmo já trabalhei com 40 pessoas.
Direção de Nicole Puzzi
NP: E eu queria fazer uma pergunta agora que tem a ver comigo. Atualmente eu comecei a dirigir e eu dou uma oficina na SP Escola de teatro sobre cinema da Boca. E nessa oficina nós realizam os um curta metragem. Eu convidei você para participar desse curta. Você já sabe o nome?
Satã: Não!
NP: Agora eu vou te revelar!
Satã: Vamos nessa!
NP: “As mulheres podem, os machos somem”! Porque, foi baseado mesmo nos filmes da Rua do Triunfo. Como que foi para você participar e ser dirigido por mim?
Satã: Sabe, para mim foi um prazer! Toda vida eu fui dirigido e treinado por mulheres, sabia?
NP: Olha, que bacana!
Satã: Mesmo no vale tudo, na luta livre, a minha primeira instrutora foi uma mulher. Não importa que seja mulher, que seja criança, que seja adulto, que seja homem. Tudo vai depender do respeito que eu tenho por ele e o respeito que ele tem por mim.
Os Planos de Satã
NP: Quero saber o que você está fazendo atualmente e se tem alguns planos.
Satã: Os planos que vou continuar fazendo são as produções de show!
NP: Você faz produção de show de luta?
Satã: Sim! Eu não paro.
NP: Não para? Fazendo aquelas lutas? Você viaja o Brasil todo?
Satã: Está fora da televisão… Olha, em Peruíbe tem televisão local.
NP: Então, cada cidade que você vai tem uma televisão e vocês estão apresentando…
Satã: Tranquilo! O show não pode parar!
Último depoimento
NP: Não pode. tem mais alguma coisa que você gostaria de falar para a gente?
Satã: Eu gostaria de agradecer muito, com o apoio de vocês, a professora Kátia que está fazendo o relaxamento em mim. Ela é lá do CEU São Rafael. Eu gostaria de agradecer a você esse apoio que você está dando para o cinema nacional, que está dando para mim, que está resgatando do fundo do baú esses personagens. Não só eu, mas vários atores e atrizes. E outra, você está trazendo pro seu programa e isso vai para o Brasil todo!
NP: sabe, Satã, é do fundo do baú que saem as jóias mais preciosas! Você é uma jóia preciosa. É uma pena que as pessoas nem sempre veem isso. Então, vou continuar lutando para que reconheçam.
Satã: Luta sim que você é batalhadora! Você merece todo o apoio, não só meu, mas de todas as atrizes, de quem você precisar. Eu vou sempre lutar, porque você está sempre na nossa mente, você é sempre batalhador, uma guerreira.
NP: Obrigada!!!
Satã: Eu que agradeço!
NP: Agora você vai ficar com a nossa, não, com a sua xgirl!
A sua Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Vi, uma ruiva de atitude que vai mostrar que a nudez é também uma ato político!