Junho é o mês de celebração do Orgulho LGBTI+! A Xplastic comemora junto todas as conquistas advindas de grandes lutas ao longo da história. Vem conhecer um pouco mais sobre a trajetória da comunidade no decorrer dos séculos.
Stonewall Inn – onde a conquista de direitos LGBTI+ começou
Escondidos, reunidos à noite em seu momento de diversão e libertinagem, mais que isso, liberdade, lésbicas, gays, travestis e transexuais eram eles mesmos em Stonewall Inn. Lugar perseguido pelas autoridades policiais que exalavam violência e intransigência. Mas, foi nesse mesmo bar que teve início a luta pelos direitos LGBTI+ que perdura até hoje.
Até o final da década de 60, a homossexualidade era perseguida e considerada ilegal nos Estados Unidos, exceto no estado e Illinois. Dessa forma, as pessoas se organizavam em guetos, sempre à espreita em uma espécie de vida clandestina para burlar as amarras sociais.
Naquela noite, dia 28 de junho de 1969, policiais invadiram Stonewall Inn, o bar mais frequentado pela população LGBTI+ em Nova York, nessas operações morais em busca de “transgressores” da lei. Mas dessa vez eles disseram não à opressão.
Eles deram uma basta. Cansados da marginalidade, da violência, do preconceito, dos esconderijos, eles ergueram a cabeça e começaram o que ficou conhecido como “A Revolta de Stonewall”. E a reação extrapolou as paredes do bar e tomou proporções jamais pensadas. Além de tomar as ruas da cidade, a população aderiu à revolta contra a polícia. Assim foi por dez dias, luta e sangue.
Uma das figuras mais importantes da Revolta de Stonewall Inn, que muitas vezes é deixada de lado pelas narrativas sobre o evento, é Marsha P Johnson. Travesti, negra e prostituta, foi ela quem deu o pontapé inicial. Teria sido ela a primeira a atirar uma pedra contra os policiais.
Ela era ativista pelos direitos das travestis e transexuais, sendo ativa na organização Sweet Transvestite Action Revolutionaries (STAR), que acolhia essas pessoas em situação de rua, posição que ela mesma se encontrava.
No ano seguinte, pessoas saíram às ruas em uma enorme passeata pedindo por direitos à comunidade, movimento que se espalhou pelo mundo todo e hoje é celebrada como “Parada do Orgulho LGBT”.
De um lugar de refúgio, tido como antro de devassos e marginais, para o mundo como forma de luta e liberdade. O início de uma longa caminhada por direitos que ainda não se concluiu.
Uma breve história da homossexualidade
Tem-se a ideia de que a homossexualidade é uma concepção moderna, um movimento recente e que se tornou moda nos últimos anos. Mas, na antiguidade, a relação entre pessoas do mesmo sexo era comum e o conceito de sujeito homossexual não existia. Os povos que viveram nos anos que antecederam a era comum não viam o sexo apenas como procriação, mas também como fonte de prazer.
Essa visão sobre as relações interpessoais está relacionada, em grande medida, com as crenças e religiões desses povos. As mitologias grega e romana, deuses hindus e babilônios tinham como temática a homo e bissexualidade, que recheavam as histórias místicas. O caso mais emblemático é a relação entre o deus dos deuses, Zeus, e Ganimedes. Apolo, deus Sol, também teve inúmeros casos amorosos com homens, além do caso entre Hermes e Afrodite que gerou Hermafrodita, a primeira menção a uma pessoa intersex.
Grécia
Na Grécia Antiga, a educação dos meninos atenienses era baseada na pederastia (relação entre um homem mais velho e um menino). Acreditava-se que a absorção dos conhecimentos filosóficos e intelectuais era passado através da relação sexual entre o mentos e o aprendiz. Dessa forma, era consentido pela própria família que a criança fosse submissa sexual até os 25 anos, idade em que se atingia a maturidade. Segundo Sócrates, um dos mais importantes filósofos gregos, o coito anal é a melhor forma de inspiração.
Roma
Em Roma, o maior império da Antiguidade, assim como a Grécia, também tinha corriqueiramente casos de pederastia. Grandes nomes da vida pública como Júlio César, Tibério, Calígula, Nero, Adriano, Heliogábalo, Galba, Caracala dentre outros tiveram a expressão da bissexualidade ou homossexualidade. Até mesmo Constantino, a primeira autoridade cristã, não via as relações entre pessoas do mesmo sexo como um problema.
Idade Média
As coisas, no entanto, começaram a mudar com o advento do cristianismo. Com os pilares da sociedade medieval, a religião se tornou algo inquestionável, inabalável e intocável. As escrituras e os ensinamentos religiosos se tornaram uma grande forma de controle social. E para se ter total controle sobre um povo, as medidas devem atingir a vida pessoal do indivíduo. Daí a importância de tornar o sexo um pecado, servindo apenas para a procriação. E o homem medieval não quer pecar. A questão da herança reforçou a ideia de casamento, sendo que as relações que não gerassem herdeiros muito mal vistas.
A inquisição, instaurada pelo Papa Gregório, perseguia homens, mulheres e crianças que “cometeram heresias”. Os homossexuais eram fortemente perseguidos e torturados, sendo que no Brasil foram registradas mais de 4 mil denúncias de sodomia e mais de 30 condenações à fogueira.
Renascimento
Mas, a partir do século XV, com o florescer do Humanismo, a cultura clássica foi resgatada, junto dela alguns valores referentes à sexualidade. Artistas consagrados como Leonardo da Vinci, Botticelli Michelangelo eram homossexuais. Com o pensamento religioso ainda arraigado e as novas religiões protestantes, o preconceito contra homossexuais permaneceu forte.
Idade Moderna
A modernidade, as novas dinâmicas sociais, as invenções técnicas e revoluções industriais mudaram completamente o modo de vida das pessoas. Algo nunca visto antes. A era do cientificismo está no auge e com ele, algumas questões se perpetraram e invadiram o meio científico. Agora, a homossexualidade era vista não como pecado, mas como doença. Homossexualismo: o sufixo ismo dá essa concepção patológica ao termo. Em tentativas de cura para pessoas LGBT, a lobotomia foi desenvolvida pelo neurocirurgião português António Egas Moniz. A técnica médica consistia em uma cirurgia cerebral, que previa um corte no cérebro (mais precisamente no córtex pré-frontal). Somente em 1990 a homossexualidade foi retirada da lista de doenças pela Organização Mundial da Saúde.
“Na medida em que o Estado foi deixando de se submeter às regras da Igreja, cujo descumprimento acarretava na condenação divina, a sociedade aos poucos foi se tornando menos homofóbica. Na medida em que a Igreja perdia suas forças, o prazer deixou de ser encarado como um pecado.”
ibdfam.org.br
O estigma do HIV para a comunidade LGBTI+
Nos anos 80, o vírus do HIV se disseminou pelo mundo mundo, tornando a AIDS uma epidemia global. O desconhecimento acerca da nova infecção que assolou a população, criou estigmas sobre a comunidade LGBT. Conhecida como a “peste gay”, despontou o primeiro caso de AIDS no Brasil na cidade de São Paulo.
A grande incidência do vírus em pessoas LGBTI+ e usuários de drogas injetáveis fez com que esses grupos fossem considerados os grandes disseminadores da infecção. Acreditava-se que o vírus estava restrito aos homossexuais. Dessa forma, o HIV e a AIDS foram janelas que refletiram ideais e questões sociais, principalmente revelando ainda mais o preconceito.
“O movimento homossexual tinha uma questão particular: a eclosão da epidemia de Aids, que afetou com mais força e primeiramente homossexuais homens, assim como bissexuais, travestis e transexuais no início da década de 1980. Homossexuais ganharam um novo estigma, como vetores de uma doença mortífera, e a pauta da liberação sexual se esvaziou frente à nova crise de saúde pública.” – Nexo Jornal
Com a luta contra à infecção e contra o preconceito, militantes de órgãos como o Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS (GAPA), Grupo Pela Vida e a Associação Interdisciplinar de AIDS foram responsáveis por desenvolver programas estaduais de combate aos vírus do HIV.
Ainda hoje, as pessoas contempladas pela sigla LGBTI+ ainda são gravemente atingidas pelo HIV. De 2007 até junho de 2018, foram notificados mais de 247 mil casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo na região sudeste o maior índice (47,4%). Segundo o ministério da Saúde, a maior porcentagem de infecção está entre os homens (68,6%). No senso que considera pessoas maiores de 13 anos e de acordo com a categoria de exposição, verificou-se que 59,4% dos casos foram decorrentes de exposição homossexual ou bissexual.
Até pouco tempo atrás, os índices de HIV e AIDS em pessoas trans eram contabilizados juntamente com homens e mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo sexo, o que não nos dá dados precisos sobre a infecção desse grupo em específico.
Sendo assim, ainda é alarmante a concentração do vírus na população LGBTI+. Mas, graças aos avanços medicinais e ao maior conhecimento sobre a infecção, há diversas formas de tratamento e prevenção, detecção e identificação do vírus, além da luta pelo combate à sorofobia principalmente entre pessoas LGBTI+.
A revolta de Ferro’s Bar
O movimento LGBTI+ também reverberou pelas cidades brasileiras como forma de autoafirmação e liberdade. Os guetos, locais de livre circulação de lésbicas, gays, transexuais e travestis são os precursores da luta por direitos da comunidade no Brasil.
Em 1978, nasceu o primeiro grupo homossexual do país, o Grupo Somos. Um ano mais tarde florescia o Grupo Lésbicas-feministas originou o GALF (Grupo Ação Lésbica Feminista), que foram responsáveis pela criação do Jornal “Chana com Chana”, que tratava de questões relativas às mulheres lésbicas. Outro jornal de circulação nacional promovido pela imprensa alternativa foi o “Lampião da Esquina” que se debruçava sobre a temática homossexual, sendo publicado de 1978 até 1981.
As ativistas e produtoras do “Chana com Chana” vendiam o jornal no Ferro’s Bar, estabelecimento muito frequentados por lésbicas e feministas. O dono do local passou a discriminar as redatoras e proibiu a venda do jornal. E no dia 29 de agosto de 1983, quando o dono tentou expulsar as mulheres do local, que sustentavam a renda do estabelecimento. A expulsão e negação do boletim lésbico foram o estopim do Levante de Ferro’s Bar.
Liderados por Rosely Roth, as mulheres desafiaram a censura em meio à Ditadura militar. Forçaram a entrada no bar, leram o manifesto dos direitos da mulher lésbica e gritaram palavras de ordem contra a repressão discriminatória. O evento contou com a presença de Eduardo Suplicy, da vereadora Irede Cardoso e de grupos homossexuais e feministas.
Além de ser a primeira revolta lésbica no Brasil, o dia 29 de agosto ficou marcado pelo apoio das feministas à questão das lésbicas e também ficou registrado como o dia do orgulho lésbico.
Operação Tarântula
Em meio aos anos de Ditadura Militar, a perseguição às pessoas LGBTI+ foi dura. Durante os anos 70 e 80 despontou uma operação policial que pretendia fazer uma “limpeza”, desinfetar as cidades do país. A Operação Tarântula foi uma caça à transexuais e travestis apoiado pela população.
Cerca de 300 mulheres trans e travestis foram perseguidas pela polícia que dizia estar “combatendo a AIDS”. A operação teve início em 27 de fevereiro de 1987 e em seu primeiro dia de atuação, prendeu 56 pessoas.
Essa caça terminou com a denúncia de grupos favoráveis aos direitos LGBT+ à Secretaria Estadual de Segurança Pública. O secretário Eduardo Muylaert pôs fim à operação que, segundo ele, era movida por questões ideológicas de uma polícia acostumada a dar porrada.
As conquistas do movimento LGBTI+ no Brasil
A luta pelos direitos dos LGBTI+ foi fortemente marcada pela violência e repressão, mas também teve suas conquistas significativas que estão fortalecendo os pilares da comunidade perante à sociedade. E quais foram essas conquistas?
Casamento
Em 2011, no mês de maio, o Supremo Tribunal Federal reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo como uma entidade familiar. Mais tarde, o Conselho Nacional de Justiça proibiu que os cartórios recusassem a realizar casamentos homoafetivos em todo o Brasil.
Nome social
Desde 2016, é permitido que pessoas utilizem o nome social para identificação. O Supremo Tribunal de Justiça decidiu que pessoas transexuais podem mudar o nome em seus documentos civis sem passar pela transição ou cirurgia. Essa é uma antiga demanda do movimento LGBT+, porque o processo de transição é perigoso e lento.
Adoção
Em 2008, o Conselho Nacional de Justiça modificou a identificação no registro geral de “pai e mãe” para filiação, o que permitiu a adoção de crianças por casais homoafetivos. A primeira adoção de uma criança nessas condições, foi em 2005.
Mudança de sexo oferecida pelo SUS
O Sistema único de Saúde passou a oferecer a cirurgia de mudança de sexo para homens e mulheres em 2008 e 2013 respectivamente. o governo também disponibiliza assistência ambulatorial com psicólogos e outros profissionais para auxiliar no processo de redesignação sexual. E, a partir de 2015, o SUS passou a realizar fertilização para casais homossexuais.
Criminalização da homotransfobia
No dia 13 de junho de 2019, a discriminação de pessoas LGBT+ foi criminalizada pela justiça brasileira, sendo a questão enquadrada na Lei contra o Racismo. Trata-se de uma medida punitiva contra a intolerância, discriminação e preconceito, prevendo reclusão de até três anos e pagamento de multa. O projeto também pune quem se recusar a oferecer emprego por conta de gênero e orientação sexual, impedir acesso ou atendimento de pessoas LGBT+ em estabelecimentos comerciais ou locais públicos.
Presença nas mídias
Cada vez mais as pessoas LGBT+ têm sido representadas nas mídias e ganhado voz nas produções audiovisuais. A publicidade, filmes, novelas, noticiários e livros têm abordado com mais frequência as figuras de gays, lésbicas, trans e travestis.
Presença em órgãos públicos
Clodovil Hernandez foi o primeiro gay assumido eleito deputado federal. Jean Wyllys, também como deputado federal, foi eleito em 2010 e é ativista pelos direitos LGBTI+. Em 2018, Erica Malunguinho foi a primeira mulher trans a compor a Assembleia Legislativa Paulista.
Conclusão e novos desafios
O mundo muda, as pessoas mudam, as lutas são novas, as conquistas e desafios são novos. A comunidade LGBT+ teve sua existência marcada pela perseguição e violência, repressão de sua sexualidade e sua liberdade ferida. A luta por direitos nasceu existência, pela afirmação do próprio eu, pela vontade de ser simplesmente quem se é.
As conquistas chegam e com elas novas questões e desafios surgem, porque diante de todo movimento há oposição. Hoje, grupos conservadores atuam de forma contrária à manutenção destes direitos da comunidade LGBTI+. Mas, juntos, com muita força, luta, respeito e empatia é possível caminhar a lugares nunca antes visitados. E, a passos lentos, vamos criando um caminho. E tudo isso para garantir direito individual à expressão da sexualidade e liberdade.
Por outro lado, pela grande demanda da comunidade LGBT+ que tem ganhado força, empresas e marcas têm se apropriado da luta para ganhar adeptos e aumentar os lucros. Trata-se do pink washing, um novo desafio a ser enfrentado pelos LGBT+. Isso, porque o pink money, que é o potencial de consumo LGBT+ é muito alto, o que chama atenção das organizações.
Apesar das grandes conquistas citadas acima, há muito o que mudar. O Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTI+ no mundo, apesar de estar no topo em consumo de pornografia Trans e lésbica.
A Xplastic repudia qualquer tipo de preconceito, intolerância e desrespeito. Sendo uma produtora alternativa de pornografia, a temática LGBT se faz muito presente nas produções audiovisuais. Para você orgulhar esse dia em um estilo ativista e ao mesmo tempo delicioso, vem conferir alguns vídeos!