Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Rita Wu, pesquisadora de biotecnologia. No episódio 2 da terceira temporada de Pornolândia elas conversam sobre a tecnologia atrelada ao sexo e sexualidade, falam sobre ferormônios, troca de genes e próteses sexuais. Uma conversa tecnológica que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Filha de pais chineses, bailarina na infância e arquiteta de formação. Rita Wu é acriadora da página Technoporn e dedica boa parte de seu tempo na pesquisa sobre o corpo, desejo e relacionamentos mediados pela tecnologia. Hoje vamos conversar sobre como o corpo pode ser hackeado, como criar próteses que aumentam o desempenho sexual e discutir o futuro da pornografia com a popularização da realidade virtual. E no final, aquele encontro gostoso com a nossa xgirl.
Design de relacionamentos
Gente, ela é gatinha! Sério, olha. Se eu pegasse mulher eu ia tentar a sorte. Rita Wu, você é muito bonita!
Rita Wu: Muito obrigada!
NP: Agora, você vai ter que me explicar. Eu não sei o que é design de relacionamento.
Rita Wu: Esse projeto começou com uma tentativa de entender o porquê de relacionamento que tinham tudo para dar certo estavam dando errado. Então, seria uma forma de projetar, progra,ar os relacionamentos a partir de uma pessoa que está externa a ele, distante e dasafetada, para ajudar as pessoas a terem relacionamentos melhores. Seria eu, enquanto designer e arquiteta, projetando o relacionamento de outra pessoa.
NP: Eu preciso disso, gente! Todos os meus relacionamentos deram errado.
RW: Então, é interessante, porque é uma visão de quem está externo, de quem está desafetados e quem consegue enxergar diversas coisas que, quem está dentro do relacionamento, não consegue, não teria como. Era um projeto artístico, conceitual, mas que me ajudou a pensar em outras coisas.
Rita Wu explica: biohacker
NP: O que é biohacker? As suas atividades ou atividades de biohacker, como podem interfirir na vida sexual das pessoas?
RW: Biohacker é um hacker que utiliza a biologia para hacker coisas ou até seres vivos. Essa ideia do hacker de disfuncionalizar a função original ou de dar outro uso para objetos, enfim, principalmente para coisas, meio que surgiu essa ideia de utilizar a biologia ou de desfuncionalizar, dar um outro uso para os seres vivos. De fato, isso tem ajudado em muitas coisas assim, principalmente na área da saúde. Mas, tavez em ralação à sexualidade, é como poder, por exemplo, fazer crescer próteses para as pessoas, com células.
NP: Próteses?
RW: Por exemplo, prótese peniana.
NP: Sei! Ah, gente, porque prótese peniana vou te contar, viu! Mas, fazer um novo?
RW: Com células!
NP: Com células. Que interessante, tem muito homem que está precisando.
RW: É. Então, aconteceu um primeiro transplante até, principalmente em soldados né, que perderam seus membros. E, recentemente, aconteceu esse primeiro transplante de um órgão sexual. Essa é uma das formas que o biohacker poderia auxiliar na sexualidade. Mas, por exemplo, no meu caso, eu utilizo bactérias para produzir ferormônios. Produzir sinteticamente ferormônios.
NP: Ah, eu preciso disso, preciso atrair mais uns machos. Eu que estou com uma certa idadezinha assim, aí uso uns ferormônios de menininha nova!
RW: É, pode ajudar!
Implantes sexuais
NP: Mas eu gosto de ter essa idade! Eu estou com uma curiosidade. Implantes com finalidade sexual: quais você conhece, quais você acha mais interessante e como funciona?
RW: Na verdade, eu não conheço muitos implantes sexuais que estão dentro do corpo, a não ser essas próteses sexuais que eu falei. Conheço algumas pessoas que têm implantes, inclusive, tenho três amigos que têm o chip de RFID.
NP: Chip…?
RW: RFID. De rádio frequência, alguma coisa que você conseguiria… É um chip programável que você consegue ligar e desligar o que você quiser. Aí, você programar ele, no caso, para abrir a porta. Deixar “abrir” ou “fechar”, ou ligar o carro, ou sei lá, disparar uma arma.
NP: Eu já estava pensando em sexo. Você faz isso assim e abre a perna da mulher! Cabeça suja.
RW: Com certeza vai ter isso!
A página Technoporn de Rita Wu
NP: Como surgiu a sua página no Facebook? Como é mesmo nome?
RW: Technoporn.
NP: Technoporn. Olha! Como é que surgiu?
RW: Então, surgiu muito pelo meu interesse, de dois anos para cá, em biotecnologia. Então, ano passado eu estava fazendo um curso muito bacana chamado biohack academy. Durante as aulas, eu ficava pensando muito essa relação de biotecnologia e sexualidade. A partir do momento que você, por exemplo, vai modificar algum organismo, fazer alguma coisa transgênica, você está introduzindo genes novos naquele organismo. Quando a gente pensa em sexo, biologicamente falando, para que serve o sexo? Exatamente para essa troca de material genético.
Então, quando a gente faz isso em laboratório, a gente pode dizer que é um ato sexual ou um ato tecnossexual. Então, eu ficava muito com essas questões na cabeça e eu tinha muitos links, muitas coisas que eu estava pesquisando que eu queria compartilhar com as pessoas. Então, eu criei esse grupo no Facebook justamente para poder compartilhar links de artigos, vídeos, notícias. Enfim, tudo que era relacionado a sexo, sexualidade, tecnologia, relações mediadas, biotecnologia e saber como as pessoas estavam vendo essas questões, sexualidade artificial, sexo com robôs, enfim. A página surgiu com um post de vídeo que fala exatamente disso, dessa fascinação tecnossexual que acontece dentro dos laboratórios de biotecnologia.
Pessoas assexuadas e a tecnologia
NP: Eu sou meio analfabeta em tecnologia sexual. Posso entender muito de sexo, mas tecnologia sexual… gente, está me surpreendendo! Agora, falando em sexo, vamos falar sobre pessoas assexuadas. Como é tratado esse tema ou as pessoas assexuadas no Technoporn?
RW: Esse não é um tema muito frequente, mas de fato acho que a tecnologia possa ajudar essas pessoas que não queiram uma relação sexual padrão, normativa. Então, pessoas poderiam ter outros tipos de relacionamentos sexuais ou desenvolver a sua sexualidade de uma forma completamente diferente. Talvez, ainda a gente não tenha expandido o nosso campo em relação a sexualidade e muito é como era no começo.
Eu acredito que com a tecnologia a gente possa expandir o nosso campo da sexualidade, entender melhor o que é o sexo, o que seria uma pessoa assexuada se ela só não faz o sexo padrão como a gente entende ou se ela poderia estimular a sua sexualidade ou gozar de uma outra forma. Seja gozando com objetos, seja gozando na rede, gozando de uma outra forma. Então, acredito que a tecnologia possa auxiliar essas pessoas que talvez não queiram um sexo padrão com um outro ser humano.
NP: Obrigada, Rita! Adorei falar com você, acho que foi bastante esclarecedor.
RW: Obrigada você! Eu que agradeço.
NP: Agora a gente vai ver a nossa xgirl!
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Mel Fire, uma ruiva de olhos verdes maravilhosa, que ficou nua em um ensaio com sensualidade e literatura, que vai instigar seus pensamentos mais subjetivos!