filme "party girls hard" dirigido por May Medeiros

Os setores sociais sempre foram comandados pelos homens. Está aí o primeiro erro de todo o processo de construção do que entendemos hoje de mundo: uma única perspectiva é sempre empobrecedora. E grande parte do que conhecemos foi negada a mais da metade da população mundial, apenas por serem mulheres. Isso não é diferente na pornografia. E nesse contexto nasce a vontade de serem protagonistas: as mulheres fazendo pornô.

Mulheres fazendo pornô

A indústria pornográfica tradicional

Críticas e mais críticas recheiam o mercado pornô tradicional. É chamado tradicional, porque conserva as estruturas que estamos acostumados a ver. Dessa forma, esse tal pornô reforça estigmas sociais e estruturais, isto é, reafirma as relações de poder. Isso tudo por conta da ainda supremacia dos homens no comando das produções pornográficas.

O sexo nessas produções está dentro da dinâmica de dominação masculina e submissão feminina no contexto do patriarcado, como criticou a feminista Andrea Dworkin. O grande problema dessa configuração narrativa é que se privilegia o prazer masculino em detrimento do prazer da mulher, uma vez que se prioriza alinhamentos para estimular a imaginação do macho.


Por conta dessas condições, é possível identificar sem dificuldade os fingidos gemidos e os orgasmos falsos, percebe-se rapidamente que muitas atrizes não sentem prazer e, às vezes, estão até incomodadas naquela situação. Essas produções dificultam a identificação e a fantasia da tão complexa mulher, que quer algo além de alguns segundos de oral e dois minutos de metida. Homem, você precisa se esforçar mais!

Mulheres fazendo pornô

Em meio a todas essas críticas e considerações, e incômodos, e vontade de fazer melhor, que mulheres buscaram seu protagonismo. Nesse contexto raso das produções tradicionais da indústria pornô, mulheres não só questionaram essas narrativas, mas propuseram novas soluções, novas perspectivas e novos caminhos para os filmes pornográficos.

Mulheres fazendo pornô: filme "girls party hard" dirigido por May Medeiros

Ser protagonista é colocar seu ponto de vista em pauta. Assim o pornô feito por mulheres se desenha: elas querem mostrar o que pensam da pornografia, o que realmente as excitam, trazer naturalidade e verdade nas histórias. Além disso, elas têm maior preocupação com a estética e com o conteúdo para que a produção tenha mais qualidade. E diferente do que a indústria tradicional do pornô propõe, essas produções são feitas para agradar a todos.

É claro que continuam taxadas pelas velhas impressões. Sim, as mulheres veem pornografia e também se masturbam. E, não, não querem ver apenas o sexo meigo e fofo como pensam, querem coerência e contexto. As mulheres são mais complexas, tanto em sua condição física, quanto da condição psicológica. Essas produções simplistas não as convencem. Hormônios à flor da pele, elas querem mais!

Mel Fire no filme "Brancas como leite" um pornô feito por mulheres

Elas comandam

Além da atuação, as mulheres estão por trás das câmeras. É aí que a mágica acontece. Elas foram conquistando e ocupando espaços que antes não eram delas. Agora, essas mulheres reconfiguram a indústria pornográfica para levar o prazer para além!

Giovanna e Emme White no filme "Quer sorvete?" produzido por May Medeiros

Ah, e são diversas as mulheres que mandam muito na produção, roteirização e direção dos filmes pornôs contemporâneos. Filmes esses que vieram questionar os tabus da sexualidade feminina e as relações de poder que comentamos antes. Elas mostram o que as mulheres querem ver, querem captar o seu verdadeiro gemido e seu profundo orgasmo!

Para começar, trago a diretora, produtora e roteirista Erika Lust que tem por objetivo instigar o prazer feminino. E para isso, Lust se vale de histórias reais, pessoas comuns e com laços que os ligam de forma a mostrar nos detalhes essa conexão que torna a produção mais verdadeira. Não obstante, Erika ressalta que a sexualidade feminina só vai se libertar dos tabus se eles foram discutidos.

Erika Lust, um exemplo de protagonismo feminino no pornô
Erika Lust. Imagem retirada do Google.

Além dela, outras diretoras e produtoras contribuem para o desenvolvimento de um conteúdo pornográfico diferenciado. Candida Royalle que nos deixou seu pioneirismo na abordagem dos interesses da mulher; Ovidie por tratar humoristicamente os tabus sexuais; Ana Span também defende em seus filmes o ponto de vista feminino do sexo, bem como Pierre Roshan que abusa do erotismo em sua forma particular e Murielle Scherrepor por mostrar intimidade em filmes explícitos.

A inovação do pornô feito por mulheres

Mel Fire no filme "Brancas como leite", uma produção pornográfica feita por mulheres

Ao evocar essas figuras da cinematografia pornográfica, podemos perceber o caráter inovador do pornô feito por mulheres. É novo, não só porque desconsidera as estruturas previstas socialmente, mas também por conta das perspectivas artísticas e estéticas propostas. Cada detalhe pensado para trazer conexão, identidade, muito tesão e prazer são significativos para a originalidade dessas narrativas que estão revolucionando a indústria.

E tudo isso não é apenas uma demanda das mulheres! O mercado pornô clama por mudanças. As pessoas querem ver coisas novas, já que as produções se tornaram cada vez mais parecidas e rasas. Muitos homens também buscam novas formas de prazer, com conteúdo mais relevante e interessante. É a autorregulação do mercado com as tendências sociais!

"Party Girls hard"

Origem do mundo

E ao final deste texto, quero expor o caráter político do sexo. Por muito tempo, o sexo esteve relacionado à imoralidade e ao pecado, principalmente pelas instituições conservadoras, como a Igreja. Ainda hoje, em alguns lugares do mundo é proibido transar antes do casamento, a homossexualidade é crime e o prazer das mulheres não é valorizado.

Fazer sexo é um ato político. É resistência. Por isso venho ressaltar a importância do pornô feito pelas mulheres, que vem destronar a pornografia tradicional estigmatizada e elevar o essencial prazer feminino.

afinal, a origem do mundo é uma buceta!

Quadro "A Origem do Mundo" de Gustave Coubert.
A Origem do Mundo – Gustave Courbet

Aqui na Xplastic a equipe é majoritariamente feminina! As mulheres estão no comando. E lá vai um pornô feito pela produtora e roteirista May Medeiros e pela diretora de arte Dolores Haze, as nossas power girls. Vem conferir um pedacinho!