Neste episódio Nicole Puzzi entrevista Chico César, cantor e compositor paraibano. No episódio 1 da quarta temporada de Pornolândia eles conversam sobre a paixão, sobre as composições de Chico e sobre o livro “Versos pornográficos” que expõe os desejos mais íntimos do paraibano. Uma conversa lírica que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Reencontro
Nicole Puzzi: Ele conquistou o Brasil cantando “Mama África”. Mas nos anos 80, andava pelas ruas de João Pessoa recitando o poema da “Buceta Cabeluda” de Bráulio Tavares. Nossa entrevistado de hoje é o meu querido Chico César, que veio fazer o esquenta desta noite. E depois, nós vamos fechar com a nossa lírica e erótica xgirl.
Chico César começa o programa cantando a música “Caracajus”, de sua própria autoria.
NP: Cara, estou encantada, sério.
Chico César: E aí!
NP: Quanto tempo a gente não se vê, né.
Chico César: Muito, Nicole! Saudades.
NP: Mais do que a gente deveria ficar longe. Muito mais tempo do que a gente devia ficar longe. A gente devia ter mantido…
CC: A gente manteve…
NP: Manteve…
CC: No outro plano.
NP: No coração.
CC: E agora se encontrou de novo.
NP: Nossa… Cara, você não sabe, você é mágico para mim. Sua voz é mágica para mim. Tuas letras são mágicas, não só para mim, acho que para muita gente. Muita gente! Ai, me arrepiei.
CC: Ôh! ~beija a mão de Nicole~
Caracajus
NP: Me fala um pouco dessa música, ela é muito sensual.
CC: Essa canção se chama “Caracajus”. Eu estava muito mobilizado assim de sentimentos, desejos por uma moça, uma atriz linda paraibana, chamada Bárbara Santos. E eu estava lá na condição de gestor público de cultura naquele momento. E Eu estava apaixonado por ela, cheio de vontade. Só que eu estava, no momento que eu escrevi essa canção, em Caracas e ela em Aracajú. E eu quis juntar nós dois numa coisa ali de muito movimento, de erotismo, de se pegar, de se amar. Depois eu acabei me casando com ela, mas ali não…
NP: Essa é tua esposa.
CC: É. Mas ali a gente ainda estava começando. Aí, eu juntei as duas capitais: Caracas e Aracajú em uma só, um só lugar.
NP: Caracaju.
CC: Caracajus.
Versos pornográficos
NP: Me fala um pouquinho sobre esse seu livro “Versos pornográficos”.
CC: Então, esse livro, assim como essa canção, assim como todas as canções “Estado de Poesia”, aquilo nasceu nas minhas horas vagas do tempo que eu era gestor na Paraíba. As minhas noites eram muito livres e eu ficava escrevendo, compondo e tal. E muito do meu pensamento tinha muito disso, de uma liberdade que passava pelo corpo, pela manifestação da vida. E eu acho que o sexo é a mais pura manifestação da vitalidade, o desejo, o que vai no íntimo de cada pessoa, em direção ao mundo, em direção à outra pessoa.
E eu escrevi esses versos, à princípio, para mim, para ficarem ali guardados. Mas aí apareceu um convite e foram editados.
NP: Posso dar uma opinião simples e singela sobre seu livro?
CC: Pode!
NP: É um livro que seduz, é um livro que quando você lê você se excita. Mas, ao mesmo tempo, não há o lado ruim da coisa, ao mesmo tempo dá vontade de ser safada, ao mesmo tempo dá vontade de ser sublime. É muito gostoso.
CC: Ah, que bom!
NP: Eu gostei muito. Eu vou ler um trecho. Posso?
CC: Por favor!
Um trecho
NP: “Ereto agora
O cetro em ti poria
Como se fora pura e puta poesia
Recitar e excitar
Até que esporraria
Tudo em teus grandes lábios de veludo
Depois ao cubo
Ao cu iria
Titilando as tetas de biquinhos duros como setas
Aí meu amor em ti
Eu de mim me acabaria”
Aqui cara… ~mostrando a pele arrepiada~ Agora eu não sei se é de emoção ou de tesão, porque é muito gostoso.
CC: Que delícia!
NP: Eu amei. Me fala dessa poesia que eu li.
CC: Na verdade, esses poemas todos, eles são um conjunto. Eu imaginei uma leitura imaginária para esses poemas, tanto que eu começo o livro dizendo “ó…”, me dirigindo ao leito “Ó, cara leitora” tal. Homens podem ler, devem ler e tudo, mas é coisa de um homem hétero para todas as mulheres. É muito desse negócio do desejo de homem. Algumas amigas minhas, por exemplo, lésbicas, para quem eu dei o livro, elas dizem: “ah, Chico, tem muito pau, muito cacete, muito senta no meu colo e tal”.
NP: Gente, eu não acho ruim, eu gosto.
CC: Aí, elas não se identificam tanto.
NP: Sim, dá para entender.
CC: Mas isso vem de mim, eu sou um homem, eu tenho pau, cacete, é isso mesmo. Então, assim, para outras pessoas não. Outras pessoas que talvez tenham uma coisa mais de voyeur, mirando o desejo do outro, elas também se mobilizam, também se excitam. Mas algumas pessoas se sentiram um pouco excluídas desse desejo tão hétero, de um homem por uma mulher.
Estado de Poesia
NP: E aí você está fazendo… olha… esse aqui é seu novo CD?
CC: É. É o CD “Estado de poesia”, que a gente está na estrada com ele e agora ele vai virar DVD. Já gravamos, em recife e vai sair agora em maio… final de abril, começo de maio DVD “Estado de poesia” para todo mundo.
NP: Eu vou ler uma poesia, não é sua, mas eu sei que é uma das suas poesias preferidas. Depois que eu sei que é do Bráulio Tavares.
CC: Conterrâneo da Paraíba, Bráulio Tavares.
NP: Posso ir?
CC: Pode, por favor!
NP:
A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.
CC: Não é lindo?
NP: Eu acho.
CC: Maravilhoso.
NP: Eu acho. Acho que é uma exaltação, uma coisa super linda que você faz só para quem você ama.
CC: Exatamente. E em um mundo tão fálico, o poeta se debruçar sobre a vagina, sobre o órgão sexual feminino e compor uma ode tão bonita. Eu sou um admirador, um fã da obra de Bráulio Tavares, entre outras coisas, por causa desse poema.
NP: Obrigada, amor!
CC: Obrigado, querida!
CC: Vida longa! E eu vou te levar lá em casa para conhecer Bárbara, para a gente fazer um Sarau .
NP: Nossa, vamos, me convida sim. Estou convidada.
CC: Está tudo certo.
NP: Nossa, amei. Amei demais te ver.
CC: Obrigado!
NP: E agora, nó vamos docemente para a nossa xgirl.
A nossa Xgirl
E o programa terminou com a maravilhosa Xgirl Isabella Martins, uma loira linda e gostosa, que ficou nua em um ensaio sensual bem selvagem para demonstrar os seus instintos sacanas.
