Os Satyros foram o assunto retratado no episódio 17 da temporada 5 de Pornolândia. Nicole Puzzi conversou com Rodolfo Garcia Velasquez e Ivan Cabral sobre o teatro pervertido e político, sobre como a arte pode mudar à sua volta e sobre as produções do grupo para o cinema. Uma conversa divertida que você poderá ler na transcrição a seguir, ou assistir diretamente no Canal Brasil na Globoplay.
Nicole Puzzi: Existe um espaço no centro de São Paulo onde o teatro pode viver livre. Sem medo de ser livre, pervertido e irreverente. Hoje vamos conversar com Ivan Cabral e Rodolfo Garcia Vasquez, criadores da companhia de teatro Os Satyros. E depois continuamos com a nossa teatral xgirl.
A importância dos Satyros
Meus amores!!
Rodolfo Garcia: Oi, Nicole!
Ivan Cabral: Nicole, amada!
NP: Que bom ter vocês aqui! Nossa…
Ivan Cabral: Muito bom estar aqui, obrigado!
NP: Eu queria saber sobre Os Satyros. Qual a importância dos Satyros para São Paulo, para o Brasil e para o mundo?
IC: Meu deus! Eu acho que quem deveria isso são os outros, né, da importância…
Rodolfo Garcia: É, eu acho.
IC: Mas sim, a gente tem atuado bastante nesses três lugares. São Paulo é um trabalho estratégico, praça Roosevelt e as coisas que têm acontecido por ali. É… e a gente tem sim… Moramos muito tempo fora do país e a gente tem mantido uma tradição de viagens, de temporadas fora. Então, todo ano a gente tá fazendo alguma coisa fora do Brasil.
RG: Esse ano a gente vai para a China, por exemplo.
O trabalho
NP: Levando espetáculos?
RG: Levando espetáculos.
NP: Os Satyros cresceram, né? Viraram uma coisa imensa.
RG: A gente tem muitos projetos, em várias áreas, né. Trabalhamos com adolescentes da periferia, trabalhamos com terceira idade, trabalhamos com refugiados. Temos nossos espetáculos de teatro também, temos oficinas. Então é…
IC: Centenas de pessoas trabalhando com a gente nesse momento. Só dentro das nossas peças a gente chega a ter 100 pessoas. A gente também sempre apostou em elencos muito grandes, a gente gosta de gente.
As peças de Marquês de Sade
NP: Aí você está falando de elenco e eu imediatamente tô pensando em peças de teatro de Marquês de Sade. Como é que é montar peças de Marquês de Sade?
RG: Bom, a primeira peça de Marquês de Sade que a gente fez foi em 90. E naquela época, a gente ainda estava vivendo no Brasil um processo de redemocratização e tudo. E foi um momento bastante difícil, né. Então, a gente tem feito… fizemos quatro espetáculos, né, “A filosofia na alcova”, “Juliete”, “Justine” e “127 dias de sodoma”. Então, meio que adquirimos conhecimento sobre o Marquês de Sade.
IC: Eu acho que o Sade, ele meio que faz uma seta no nosso trabalho assim, desde o início até hoje. Gosto de brincar que a gente nasceu pornográfico, os Satyros, escancarando mesmo as coisas e tentando descortinar o que é, o que eu acho que é muito velado aqui no Brasil. O que a gente percebeu desde cedo, né, a corrupção, o poder da Igreja, das religiões, as famílias ultraconservadoras.
NP: O que na verdade…
RG: Não são nada disso.
Sexo no palco
NP: Eu queria saber como é que vocês fazem para preparar os atores para as cenas de sexo no teatro, no palco e também no cinema?
RG: Bom, é um processo bastante delicado. A gente começa primeiro investigando como é a tua própria sexualidade, como você enfrenta esse desafio, como você enfrenta o seu corpo, como você enfrenta o seu desejo, o desejo do outro em relação a você.
Então, tudo isso marca muito a primeira etapa do trabalho, que é uma investigação. É tirar o Sade deste lugar, digamos assim, escandaloso, e aproximá-lo das nossas próprias experiências, nossa própria biografia. Quando está todo mundo impregnado dessa discussão, o trabalho flui de uma maneira muito mais tranquila.
IC: Então, por exemplo, em “A filosofia na alcova” tem sexo explícito, tem atores que se masturbam em cena e eles chegam a atingir o orgasmo, eles gozam para a câmera. Então, isso só foi conseguido porque a gente é muito íntimo, porque eles confiam muito na gente, esses atores trabalham conosco há muitos anos.
Então há uma confiança, o que eu acho que acaba sendo algo muito mais simples, Nicole. Você se entregar no processo de trabalho, em um ambiente que você tem absoluta certeza de que aquilo não vai ser banalizado, confia naquele processo, né.
Os Satyros e a Praça Roosevelt
NP: O que significa os Satyros para a Praça Roosevelt ou vice e versa, a Praça Roosevelt para os Satyros?
IC: Foi estratégico a gente chegar na Praça Roosevelt. A gente voltava de uma experiência na Europa, a gente ficou vivendo 7 anos com sede em Lisboa, depois em Berlim, trabalhando em diversos países pela Europa durante muitos anos.
E quando a gente retomou São Paulo, quis retomar São Paulo, a gente sempre pensou que a gente queria um lugar como a Praça Roosevelt, que naquele momento era um dos lugares mais perigosos de São Paulo, dominado pelo tráfico, pela prostituição, um terreno absolutamente árido. Mas a gente tinha certeza absoluta, absoluta mesmo, de que a gente mudaria esse panorama. Porque a gente tem certeza que o teatro, em qualquer lugar do mundo e qualquer tempo, ele pode mudar o entorno.
RG: E aí o que aconteceu de interessante foi que nós nos permitimos também ser contaminados por aquele universo da praça, né. Naquele momento tinha muito tráfico, muitos travestis fazendo prostituição, e ao invés de a gente negar aquele entorno, a gente falou “venham, venham trabalhar com a gente”.
Filosofia na alcova
NP: E assistindo também o filme “A filosofia na alcova” foi… eu acho que isso vai fazer com que a pessoa entenda a própria sexualidade dela, pare essa violência contra pessoas que pensam diferente na parte sexual.
IC: É. É importante também, no filme a gente tem a Phedra de Córdoba…
NP: Nossa, a Phedra de Córdoba, nossa!!
IC: Que foi uma grande figura que trabalhou com a gente e nos ensinou muita coisa. No filme ela participa e foi muito interessante esse processo de levar para as telas uma experiência que vinha do teatro, né. Eu acho que não só porque a gente tinha confiança absoluta no que a gente estava fazendo e nas histórias que a gente estava contando, mas sobretudo porque marcava um início… quer dizer, nosso segundo longa, a gente estreou com “Hipóteses para o amor é verdade” de 2014.
O “Filosofia na alcova” é o nosso segundo filme. A gente tem tentado priorizar o cinema, a gente acredita que o nosso futuro seja o cinema. Isso foi possível por experiências que a gente teve em televisão, então muitas vezes a gente foi contratado para escrever, dirigir, a gente fez alguma coisas aí que foram interessantes e que nos abriram as portas para a gente pensar no cinema. Então, ainda muito pequeno, passos ainda muito curtos. Mas a gente tem projetos ambiciosos e queremos conquistar coisas no cinema.
RG: No cinema.
IC: Eu acho que é um lugar que a gente ainda vai trilhar bastante.
Encontre os Satyros
NP: Ivan, eu sei que os Satyros é lá na Praça Roosevelt, mas me fala, como é que as pessoas encontram vocês?
IC: Olha, a gente é bem facinho, Nicole. A gente adora conhecer gente, a gente adora trocar, nós vivemos dentro da internet, então a gente está em todas as redes sociais que você imagina. A gente tem a nossa sede na Praça Roosevelt, nos procurem, a gente está muito aberto a esses encontro. E acho que uma boa forma de se aproximar da gente é assistindo o nosso trabalho, né.
RG: É.
IC: Então acho que… eu adoro quando eu sou procurado por alguém que viu o meu trabalho, as minhas peças e se quiser trocar comigo eu vou estar disponível.Eu acho que essa é a melhor forma.
RG: E o engraçado que a gente tem um grupo de São Paulo, que é muito fiel e tal, mas vem bastante gente de fora de São Paulo, do Brasil inteiro assistir os nossos trabalhos. Quando vêm passar o fim de semana em São Paulo, a turismo e tal, as pessoas vêm assistir a gente. Então de Goiânia, de Recife, de Manaus. A gente tem um público que tá fora da praça, de São Paulo, mas que também vem. Então é um convite para todos, todas as pessoas.
Os espetáculos
IC: A gente aposta em temporadas longas, então não tem uma peça nossa que faça menos de 100 apresentações. Então a gente está em cartaz o tempo todo, o ano todo.
NP: Em vários dias da semana, em vários horários.
IC: Em vários dias da semana, em vários horários. Então é muito, muito fácil encontrar a gente. Chegando na Praça Roosevelt a gente tem um espetáculo para você assistir, e provavelmente a gente vai estar em cena, dividindo as coisas. É um lugar bastante aberto.
Satyriana
NP: Então, para encerrar, eu queria dizer que estou me sentindo uma satyriana.
IC: Você é uma satyriana. A Nicole é a nossa rainha.
RG: Não, deusa.
IC: Deusa, claro!! Nicole é nossa deusa. E a gente ama você.
NP: Eu amo você, Ivan.
IC: Parabéns pelo sucesso, você merece muito.
NP: Obrigada, amor, obrigada! Eu te amo também, viu, Rodolfo. Adoro vocês. Assim, gente, foi amor à primeira vista.
RG: Faz tempo hein!
NP: Obrigada por tudo. Obrigada pela entrevista.
IC: Obrigada, Nicole, sucesso.
NP: E agora nós vamos assistir a nossa sexy xgirl.
A nossa Xgirl
E este episódio termina com arrebatadora xgirl Maiara Rodrigues, uma morena misteriosa que ficou nua em um ensaio naturalista que vai trazer à tona os seus instintos mais selvagens.